quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

FHC aumentava o salário mínimo de ano em ano. Lula continuou isso. Serra agora também aumentou o salário mínimo. Isso é uma boa mostra de que não há direita no Brasil. Ninguém aparece para reclamar. Faço eu então.

Não nego que haja boa intenção nisso tudo. É a boa intenção nascida da ignorância de que fala Burke.

Defende-se o aumento do salário mínimo como uma forma de combate à crise. Como? é o que queria saber.

Primeiro: um dos efeitos mais nefastos da crise é o desemprego. E não vejo como o aumento do custo do emprego servirá para baixar esse índice.

Segundo: aumento de salário não cria riqueza, apenas a distribui. A distribuição pode ocorrer de vários modos: do empregador ao empregado (nos casos onde não há demissões), de empregado a empregado (nos casos onde alguns trabalhadores são demitidos para contenção de gastos) e do empregado ao empregador (nos casos onde postos de trabalho são fechados).

Analisemos o caso majoritário: o empregador aceita o aumento do salário. Há então uma distribuição de renda do empregador ao empregado. À primeira vista, ótimo. O empregador é mais rico e, portanto, tal parece justo. Além disso, o empregado, por ser mais pobre, tende a gastar todo o salário, enquanto o empregador rico, tende a acumular. Assim a distribuição estimularia os gastos e conseqüentemente o comércio. Nada melhor para sairmos da crise. Certo?

Bem, não totalmente. Para haver crescimento de fato não basta um crescimento dos gastos, é preciso que este seja acompanhado por um crescimento da produção de bens. E para que a produção de bens cresça, vejam só, é necessário aquilo que de início nos parecia tão injusto e injustificável: que o empregador rico acumule dinheiro enquanto este falta aos pobres. Só pela poupança o empregador conseguirá acumular dinheiro o bastante para investimentos reais que criem bens e empregos.

E o que ocorre quando há um aumento de gasto mas não um aumento de produção, em outras palavras, quando há um aumento da procura mas não da demanda? Essa é fácil: inflação.

Além disso, há uma perversidade no aumento de salário de setores privados por lei.

Imagine: você é um empregado que ganha cinco mil pilas e resolve pedir uma aumento de, digamos, 15%. O seu chefe, ao ouvir sua proposta, tem duas escolhas básicas: aceitar ou não. Caso ele não aceite, você então tem duas opções: não aceita a recusa e se demite ou se conforma.

Agora imagine que você é um trabalhador que ganha um salário mínimo. Você ouve na televisão que o governo aumentará seu salário e você até faz um churrasquinho para comemorar. Mas ao chegar no trabalho seu patrão te dá a triste notícia: você está demitido. Seu patrão não aceitou o aumento. Bem, nesse caso você não tem a liberdade do primeiro empregado de enfiar o rabo entre as pernas e aceitar o salário antigo. Você está demitido, pronto e acabou. O governo decidiu que você não pode trabalhar pelo salário antigo. O problema fica ainda mais grave quando lembramos que o assalariado é mais pobre que o empregado comum e, portanto, precisa mais desesperadamente do seu salário.

Trabalhei até 2003 fazendo cadastros de moradores de áreas invadidas pela prefeitura de Belo Horizonte. Os moradores mais pobres dessas áreas eram invariavelmente aqueles que, não tendo um emprego fixo, tinha de viver de bico. Quase sempre ficavam fora de casa o dia inteiro e ganhavam bem menos que um salário. Com que alegria aceitariam um salário que lhes pagassem 70% do salário mínimo atual! Mas o governo-papai deve saber o que é melhor a essas pessoas.

Um exemplo típico são as empregadas domésticas. Minha família as mantinha até uns dez anos atrás. Depois disso houve uma época que sempre apareciam mulheres oferecendo serviço de empregadas domésticas sem necessidade de assinar carteira. Mas todos sabemos os riscos de tal empreendimento. Passamos, como quase todo mundo, a contratar diaristas.

Se este é também o seu caso, se você também demitiu empregadas domésticas por conta do aumento de salário mínimo, dobre a língua quando for falar o chavão “mas o valor é irrisório, não justifica demissão. Esses empresários, viu!”.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Piada interna

Eu pensando sozinho diante da massa ao molho branco que ficou 14 horas fora da geladeira:

“Olha, se fosse eu, eu comia. Como eu sou eu, comerei”.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Eu disse que não prometia

Sempre que vejo jornais estrangeiros tendenciosos à causa palestina fico fulo. O único povo que pode falar mal de Israel é o brasileiro. Explico.

Se o país A lança mais de mil foguetes em direção ao vizinho B, a única pergunta que uma pessoa racional poderia fazer é: e B, não reage? O que impressiona em Israel é sua paciência digna de um santo. Israel tomou mais de mil foguetes e só depois foi reagir. Algo inédito na história. Todos os israelenses deveriam é ganhar prêmio Nobel da Paz. E vejam, são os cristãos que devem dar outra face; a justiça do antigo testamento é olho por olho dente por dente.

E daí, depois de tanto foguete, Israel resolve fazer uma excursãozinha para acabar com essa palhaçada (mesmo a paciência de um santo tem limites). O que o Hamas faz para se proteger? Se esconde atrás de crianças. Vejam bem, um mafioso faz reféns para conseguir o que quer. Mas é preciso ser um mafioso muito do filho da puta para fazer crianças de reféns. Lamento, mas não há nenhuma justificação para se fazer crianças reféns além de uma filhadaputagem congênita, o máximo desprezo pela vida alheia. Se, por um acaso, me visse na suprema infelicidade de ser governado por um bando de facínoras que fazem crianças de refém, o que eu mais desejaria é que meu país fosse conquistado por uma potência estrangeira civilizada. É o caso de Israel, esse país que, como disse acima, é o amante supremo da paz.

O país A lança um foguete no país B. Troque A e B por qualquer país que você imaginar e teremos uma guerra. Há apenas duas exceções. Uma é Israel. A outra é o Brasil; mais, não atacaríamos o agressor nem depois de dez mil foguetes. Daí nosso privilégio de podermos condenar Israel. Se, sei lá, a Bolívia começar a lançar foguetes em nós, não reagiríamos também. Israel não reage por amor à paz. Nós não reagimos por preguiça e covardia. O presidente Lula apareceria na TV e diria algo como “O governo boliviano foi escolhido democraticamente e é soberano. Tem todo direito de tacar foguetes em quem quiser. Nós entendemos e simpatizamos com esse ataque contra a potência imperialista da América do Sul” E, claro, a mídia nacional elogiaria o tal discurso como visionário, imparcial, coisa-bonita-de-se-ver-mesmo, o presidente Lula seria visto não só como um amigo da paz, mas como alguém capaz, compreensível com os mais fracos. Nós, o povo, aliviados de não termos de ir a guerra, decretaríamos por conta própria um feriado nacional em homenagem a Lula.

Eu exagero? Basta olhar para os morros do Brasil. Por lá comanda criminosos que nem “escolhidos democraticamente” foram. Experimente sugerir numa conversa de bar entre pessoas educadas que o governo brasileiro tem a obrigação de subir nas favelas e acabar com essa situação à bala? Será rotulado de fascista. O povo brasileiro acha que parte da população favelada tem todo o direito de interferir tiranicamente na vida da outra parte da população favelada (estipulando, por exemplo, o horário em que podem perambular pelas vielas ou em que vielas podem ou não perambular), assassinar vários outros favelados e ocasionalmente uma ou outra pessoa do asfalto. Mas por que nós temos tão estranha opinião? Por covardia, meus caros. Sabemos que uma atuação da polícia causaria mortes e violência. Então não queremos[1]. Preferimos que nossa liberdade e ordem sejam aviltadas por criminosos.
[1] Lembrei agora do seguinte episódio, que cito de cabeça, provavelmente com algumas confusões. Logo depois do golpe de 64, um diplomata americano dizia ao governo dos Estados Unidos que tal golpe seria vencedor. É que o povo brasileiro é por demais covarde e aceitaria pacificamente quem quer que tomasse o poder, fosse democratas, militares, fascistas ou comunistas. E não é verdade?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Botocúndia

Lula bate novo recorde de popularidade. José Sarney é eleito presidente do senado. Seu concorrente era tão ruim quanto. O PMDB conquistou também a câmara dos deputados. A alternativa era tão ruim ou pior.

Acho que já disse isso aqui. Falo de novo. Quer entender o Brasil? Não precisa de ler todos esses livros de sociologia ou ciência política. Se quiser mesmo entender o Brasil, a melhor fonte é o norte-americano médio. Isso, aquele que pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires.

- Americano Médio, o que você pensa do Brasil?

- É uma daquelas republiquetas bananeiras, não?

- Obrigado, Americano Médio.