sábado, 26 de setembro de 2009

Sunset Blvd (1950)

Cotação: \/\/\/\/\

Pontos fortes
: Roteiro, humor, personagens malucos, clima ainda mais maluco, cenas impactantes

Ponto fraco
: Final exagerado demais

Sobre as cenas impactantes (com spoillers): Há uma clara preferência do diretor pelas cenas impactantes e aquela extensão do final foi só para fazer a cena final, claro. É uma cena clássica, mas é meio teatral demais, não? Até mesmo para o clima de loucura do filme todo.

Les 400 coups (1959)


Cotação
: \/\/\/\/

Pontos fortes (sem spoillers): realismo com que trata a fase ali dos 11-13 anos. Impressionante as cenas nos colégios. Me senti de volta a esse período.

Ponto fracos
(sem spoillers): O fim dramático demais e um clima por demais existencial

Pontos fracos
(com spoillers): Seria um filme excelente se concentrássemos ali no começo até o meio. O problema é que tudo começa a degringolar demais, as coisas dão errado demais. Talvez se tivesse um toque de comédia, poderíamos suportar o que vai acontecendo. Sem essa comédia o clima é de pesadelo, irreal demais. De certo modo, se o começo retrata a pré-adolescência de maneira real, o fim trata mais da imaginação dramática das crianças, causada pela sensação de incapacidade e de falta de proteção.

Mas a verdade é que, desde o começo, há um sinal claro de que tudo iria ruir. É aquela cena em que o menino pega a mãe beijando um amante. Se ele se importasse com aquilo, ou se ao menos ele usasse aquilo contra a mãe, conseguindo alguns favores. Seria mais humano. Mas o clima existencialista demais não o deixa. Ele dá de ombros, como se visse a mãe na feira comprando legumes.

Notorious (1946)

Cotação: \/\/\/\/\/

Pontos fortes
(sem spoillers): Quando se vê os filmes do Hitchcok, é comum ter a sensação que-que-é-isso-que-está-acontecendo-na-minha-frente-caralho!!! que só o bom cinema pode proporcionar. Há vários momentos assim no filme. É também uma bela história de amor. Surpreendente e verossímel. E o filme também me deu uma saudade danada do Rio (o filme se passa lá), especialmente da Cinelândia.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O mundo não aceita Zelaya fora do poder e Honduras não aceita Zelaya no poder. Como isso acabará? Ora, com mortes. Muitas mortes.

Civilização é coisa do passado.

sábado, 19 de setembro de 2009

12 angry men (1957)


Cotação: \/\/\/\/\/


Resenha sem spoillers:
Pontos positivos: Roteiro, atuação, envolvente.

Resenha dos pontos positivos (com spoillers):

Não apostava muito nesse filme. Ele se passa quase todo dentro duma sala, isso não é cinema. Doze homens julgam um caso de homicídio. É muito personagem. E, dito assim, a história não promete.
Não promete, mas cumpre. É um filme fantástico, com cenas marcantes e tudo. Como aquela em que Henri Fonda mostra a faca que comprou ou quando ele imita o velho deficiente andando pelo seu apartamento. E principalmente aquela em que o outro lá rasga a foto de seu filho.
Tendo a ser favorável à pena de morte para casos de homicídios. É algo que nunca parei para estudar, mas tendo a achar, por mais bizarro que isso possa parecer, que a pena de morte para casos de homicídios é o único meio de valorizarmos radicalmente (que é como deve ser valorizada) a vida humana. Este filme, no entanto, é um libelo contra a pena de morte. Seu principal argumento é: vejam como os seres humanos baseiam seus julgamentos. Queremos crer num júri imparcial e preocupado, mas as pessoas reais que comporão os júris reais não são assim. Estão preocupadas com o jogo de baiseball que ocorrerão logo mais, condenam por preconceito, vão na onda da multidão, trazem traumas no inconsciente que podem condenar ou libertar um réu completamente alheio a esses traumas. É um argumento poderoso. Quando o filme começa não há como duvidar da culpa do réu. Essa também é uma das forças do roteiro. Há um caso claro que aos poucos vai sendo obscurecido por Fonda. Há um júri convencido da culpa que aos poucos vai se “desconvencendo”. Quando o filme começa, por exemplo, ninguém pode acreditar que dois daqueles personagens se “desconvencerão”. Mas se “desconvencem”. E é real. É muito bom o filme.

Resenha dos pontos negativos (com spoillers):
Há um episódio clássico do South Park onde nos é apresentada a “Defesa Chewbacca”. Funciona assim, há um julgamento e é a vez do advogado falar. Ele pede pela prova 1. Trata-se de um quadro didático coberto. Ele tira o pano, vemos nele o Chewbacca. O advogado começa: “este é o Chewbacca...” e vai descrevendo o monstro, tal tamanho, veio de tal planeta, etc. No fim ele diz “Vocês devem estar pensando, por que esse advogado idiota está falando do Chewbacca? O que isso tem a ver com o caso? Nada, é claro. Mas lembre-se, vocês estão aqui para discutir se o réu é culpado ou não, e não para discutir se o advogado é um idiota ou não. Se condenarem meu cliente, o condenarão só porque ele tem um advogado ineficiente, e não porque ele é de fato culpado. Mas isso não só é um absurdo, mas desumano”. O advogado ganhava todas as causas. É assim com o filme. Fonda mostra que péssimo trabalho fez o advogado do cliente. Que se ele tivesse um advogado melhor, ele poderia ter rebatido melhor as acusações. Mas isso não é provar que alguém é inocente, nem mesmo anular as provas da acusação.

Detalhe importante: Se o filme tem um defeito tão grave e ainda assim ganhou uma nota boa, vocês podem imaginar como os pontos positivos são fortes.

Conselho não-cinematográfico para vida: Se você for réu num julgamento e Henri Fonda estiver no júri, contrate o pior advogado que seu dinheiro possa comprar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Dr. Strangelove: or how i learned stop worrying and love the bomb


Cotação \/\/\/\/

Pontos positivos, sem spoilers :
Peter Sellers, especialmente como dr. Strangelove, alguma das piadas, roteiro envolvente, diversão.

Ponto negativo seguido de toda uma discussão pseudo e afetada, sem spoiler:

Já se disse (não lembro quem) que vivemos uma época especialmente cômica. Nossos melhores escritores e cineastas têm, ao menos, uma forte veia cômica. Conseqüência natural da diminuição do homem.

Ao mesmo tempo, porém, recusamo-nos a aceitar isso. A comédia quase sempre tem um lugar discreto no cânone.

Por que valoriza-se mais o drama e a tragédia que a comédia? Por que isso ocorre, mesmo em nossa época essencialmente cômica? Por que, entre os autores do cânone, há pouco espaço para os cômicos?

Cr5eio que vários fatores dão a resposta. Mas uma dessas respostas me interessa em especial aqui. É difícil introduzir os tais “ossos” universais na comédia. É bem mais comum fazer comédia com a sua época ou seus conterrâneos. Temas universais não são cômicos. Logo, falta a comédia esse caráter universal e atemporal tão almejado pelos artistas.

Esse é o principal defeito de Dr. Strangelove. Ele envelheceu mal. Ainda continua engraçado, mas apenas porque a guerra fria não está tão distante de nós. Fora desse contexto o filme perde sua força. E depois desses quarenta e tantos anos, ele já perdeu algo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Melhores Álbuns - 1973



Já disse por aqui que Stevie Wonder possui ótimas canções e outras um tanto breguetes (pelo menos para esses ouvidos rockeiros formados nos anos noventa), meio música de motel. Nesse álbum, não podia deixar de ser, há das duas espécies. Mas tudo se integra tão perfeitamente no álbum que já não sei mais quais são as partes boas e quais as bregas. Enfim, foi um álbum que me ajudou a rever alguns conceitos sobre o que é bom e o que não é. Recomendo.

domingo, 13 de setembro de 2009

A sombra de uma dúvida (1943)




Cotação: \/\/\/\/\/

Resenha sem spoiler:
Pontos positivos: enredo, personagens, simplicidade, riqueza de detalhes, modo como mistura humor e tensão, diversão.

Dica de internet:
Procurando uma foto do filme, encontrei esse blog com esse post: http://hal0000.blogspot.com/2009/06/shadow-of-doubt-1943.html
Aí está uma resenha (com spoilers) do filme que eu jamais saberia fazer. Ele fala lá sobre outros filmes também. Vale a pena uma olhadinha.

Comentário sociológico desimportante e bobo:
Ver filmes antigos, anteriores aos anos 60, é observar como ficamos um tanto bocós. Primeiro os cigarros, charutos e cachimbos. As pessoas fumavam o tempo todo, um na cara do outro e ninguém parecia incomodado. Eu lembro que quando era criança era assim também. Ninguém ficava reclamando do cigarro. Mas a propaganda anti-tabagista é tão forte que provocou uma repulsa nas pessoas. Eu mesmo já sofro um pouco com isso. Não era assim, antigamente. Esse nojinho é algo totalmente novo. Outro ponto é quando o tio Charlie chega em Santa Rosa distribuindo presentes. Ele é o vilão da história, mas naquele momento ele está sendo falsamente amável. Para o menino, um revólver de brinquedo. Para a dona da casa, pele. Todos adoram e comentam sobre a prodigalidade e bondade do tio Charlie. Bons tempos não voltam mais.

A mensagem do filme também é algo que já não podemos encontrar facilmente. O mundo é um lugar perigoso e a ingenuidade, muitas vezes, contribui para o perigo e ajuda o mal. Não se pode ignorar o mal e fingir que não há nada de errado com o mundo. Tudo isso vemos hoje em dia, é verdade. Mas os filmes atuais apresentam como solução o: não sejamos ingênuos! Sejamos cínicos! Só que o cinismo não detém o mal também. Ás vezes é preciso lutar. O filme é de 1943, mas passa em 1941, um ano depois e um ano antes de Pearl Harbor.

sábado, 12 de setembro de 2009

Depois que comecei a ver filmes via internet, sinto quase nenhuma vontade de ir ao cinema. Talvez vá nos novos de Tarantino e Lars von Trier. Talvez não. Antigamente via um filme por semana. E se não havia nada, ia mesmo assim, ver algum filme independente australiano, ou coisa que o valha. Não vale a pena. Na net os clássicos estão a nossa mão e são, quase sempre, bem melhores que os tais filmes independentes.

Então fico me perguntando por que alguém vê os filmes atuais se eles são as porcarias que são? Dou uma olhada na minha lista dos últimos filmes que vi. Tem lá um filme de 2008 que vi com meu irmão que o pegou na locadora e, depois desse, o mais recente é de 1989 que vi com um amigo meu. Os dois têm as notas mais baixas do conjunto. Coincidência?

Mas ver filmes antigos é como ler livros antigos. É muito difícil arrumar alguém com quem comentá-los. Se as pessoas já o viram, viram há tanto tempo que não dá para conversar direito. Eis o porquê das pessoas gostarem tanto de ver os filmes mais novos.

Contudo, ainda são uma porcaria. Mas conversar sobre filmes é algo legal. Eis um verdadeiro dilema.

Talvez você, meu caro leitor, minha nobre leitora, não conheçam o Criticker. Este site funciona da seguinte maneira: você vai dando notas para os filmes que vocês já viram, e quando você menos espera, ele começa a tentar acertar a nota que você dará para um filme. É muito prático, nem tanto preciso, mas todavia interessante.

E o melhor de tudo: não precisamos mais ir ao cinema para comentar os filmes em cartazes! Vejam vocês as minhas notas para todos os filmes que estão passando agora (lembrando que a nota máxima é 5):


Up - altas aventuras 4,5
Amantes 4
Horas de verão 4
Arraste-me para o inferno 3,5
Almoço em agosto 3,5
Bem-vindo 3,5
Uma prova de amor 3
A partida: 3
Gomorra 3
À deriva 3
Harry Potter e o enigma do príncipe 3
Se beber, não case 3
A onda: 2,5
Tinha que ser você 2,5
A órfã: 2,5
Brüno: 2,5
Era do gelo 3: 2,5
A pedra mágica: 2,5
A garota de Mônaco 2
High School Band: 2
O sequestro do metro 123: 1,5
A verdade nua e crua: 1,5
Falando grego 1
Gigante: 1
Força G : 1

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Stalker (1979)



Tinha a intenção de ir resenhando todos os filmes que vi recentemente. Mas como não fazia isso de imediato, as idéias embotavam, a inspiração sumia e acabava enrolando mais ainda e, o pior, não resenhava os filmes que via depois destes, pois, organizado que sou, queria resenhar aqueles primeiros. Resultado: não resenharei nem aqueles nem estes. Para o erro não se repetir vou tentar resenhar os filmes na medida que os vejo. Eis o primeiro:

Stalker (1979)

Cotação: \/\/\/\

Resenha sem spoiler:
Pontos positivos: Profundidade filosófica, atuação de Kaidanovsky como o Stalker, trabalho de arte e final.
Pontos negativos: Frieza, lento demais, (desnecessariamente) longo.

Resenha longa e com spoiler:
O que mais impressiona em Stalker é a profundidade filosófica. Para dizer tudo de uma vez, não conheço filme mais profundo. Como Tarkovsky gostava de dizer, é um filme sobre fé. Há três personagens principais: o Escritor (representando, de algum modo, as artes e filosofia), o Professor (um cientista) e o Stalker (representando a religião). O que realmente me impressionou é que nenhum deles é raso, todos têm seus pontos muito bem defendidos. Um exemplo: o Stalker começa a explicar ao Escritor e ao Professor as armadilhas mortais da Zona. Então alguém pergunta se o critério para a Zona não os matar é serem boas pessoas. E a resposta de Stalker é algo como: isso é um mistério, creio que não seja exatamente esse o critério, ela parece antes ter preferência pelos infelizes. Fino, muito fino. Só por aí já dá para termos noção de que não estamos diante de qualquer coisa. Como ele consegue fazer tudo parecer sobrenatural, quando nenhum milagre ocorre, é outro ponto a ser destacado.

Mas toda essa profundidade é equilibrada por uma frieza absurda. É, de algum modo, um filme anti-envolvente. Não é nem mesmo que o diretor não esteja interessado se estamos nos envolvendo com o filme, ele deseja justamente o contrário. Enfim, o filme é como ler um tratado de Aristóteles, a Crítica da Razão Pura, Frege ou algum outro autor filosófico sóbrio e árido. Essa frieza só não é glacial pela atuação apaixonada de Kaidanovsky como Stalker. Sua cena final é marcante.

Exemplos dessa frieza: durante quase todo filme, vemos os três andarem pela zona e escaparem das supostas armadilhas do território. Mas em nenhum momento essas armadilhas são explicadas, nem mesmo o que elas representam, com agem. É tudo abstrato demais. Vemos, por exemplo, os três diante de um túnel sombrio. Eles supostamente tiram na sorte quem o atravessará primeiro. O escolhido é o Escritor. Quanto tempo ele demora até chegar do outro lado? Não contei, mas imagino que uns cinco minutos. Por cinco minutos os vemos lentamente andando pelo túnel. Era intenção do diretor fazer essa cena tensa? Assustadora? Não creio e se foi, falhou completamente. Ela é só chata. Desconfio que a real intenção de Tarkovsky era dar alguns minutos de folga para o telespectador, para que ele pudesse desligar um pouco do filme. Quem já tentou ler uma árida obra filosófica sabe o quanto essas pausas são necessárias. Depois que eles conseguem passar, o Stalker fica felizão, pois ali era o ponto mais mortal da zona a ponto do túnel ter sido batizado como “máquina de triturar carne”. Mas ficamos sabendo disso depois, ou seja, durante a cena não há tensão. Isso é durante o filme todo. Lentamente os 3 escapam das armadilhas das quais nunca sabemos a natureza e seu significado. Dava, ao menos, para o diretor encurtar tudo isso, tirar alguma seqüência, porque, afinal de contas, o filme tem mais de duas horas e meia.

O final, no entanto, compensa tamanha chatice. Se não fosse por ele, a nota desse filme seria beeeeem mais baixa. É ali que o debate filosófico mais intenso ocorre e o filme se justifica. O diálogo fala por si e é irretocável.

Comentário sintético porra-louca: É um bom filme, vale a pena. Mas seria melhor se o Steven Spielberg de Indiana Jones contribuísse com alguma ação nas armadilhas da Zona.

Recomendação:

Assistam num dia em que estiverem especialmente pacientes e filosóficos.