quarta-feira, 29 de abril de 2009

Melhores Álbuns - 1983


A Música eletrônica se divide em dois tipos. De um lado, a temos tal como é concebida hoje em dia: música-para-dançar-doidão. De outro, temos a música eletrônica tal como concebida em seu início, em suas variantes música-para-robô e trilha-sonora-do-apocalipse. Mão raro essas duas variantes são encontradas unidas em algo como música-para-replicantes. Não gosto de dançar, de ficar doidão, nem da estética Blade Runner.Por essas razões não gosto de música eletrônica.


Mas de vez em quando surge algo que foge a esses estereótipos. Uma música eletrônica agradavelmente humana, quentinha, amiga. Quase sempre feita por pessoas que não são da música eletrônica mesmo, mas do rock. O New Order está mais para banda eletrônica que rockeira, mas eles tem um passado no rock, como todos devem saber. Esse tipo de música eletrônica-rockeira começa a ser bem feita mais ou menos nessa época e esse álbum é um de seus melhores exemplares. Se é verdade que ás vezes não gosto de certas partes dele, do que gosto, gosto muito. Melhores músicas: Age of consent, The Village, Your Silent face e Leave me Alone.

Melhores Álbuns - 2000


Imaginem que você faz parte da banda mais elogiada da atualidade, que seu ultimo álbum está na lista dos melhores de todos os tempos de quase todos os críticos, e todas essas coisas. O que você faria em seguida? Que tal recomeçar do zero? Por exemplo, imagine que sua banda é reconhecida por suas letras inteligentes. Então por que não começar seu próximo álbum com uma faixa em que praticamente uma única frase é repetida a exaustão? E logo depois poderíamos fazer uma faixa com vocais distorcidos. E uma terceira faixa com uns dois minutos de música instrumental, com vocal só no final e mesmo assim falando nada com nada? E a capa dessa banda reconhecida pelas letras inteligentes poderiam também vir sem as letras impressas, né? E também, já que nossa banda é reconhecida pela excelência dos músicos, por que não fazer um álbum eletrônico? Maluquice, né? O famoso tiro no pé. Foi o que o Radiohead fez. Só que Radiohead é Radiohead. E nessa de reinventar tudo fizeram não só o melhor disco do ano, mas um dos melhores álbuns.

Lembro-me da época em que foi lançado. As resenhas eram engraçadas. Invariavelmente havia referências astronômicas. É como um cérebro anuviado tentando se recuperar de uma abdução alienígena (pitchfork). É como passear pelos anéis de saturno. É como ver o por do sol em marte com sua namorada alienígena. Dá para entender. O Radiohead não apenas se reinveintaram, mas reinventaram também a própria música pop. A música desse álbum não parece com nada que tenha sido feito antes, aqui, nesse planeta. As letras reforçam a estranheza, o sentimento de recomeço, de perdido, de auto-alienação. Pessoas acordando e chupando limões. Eu não estou aqui, isto não está acontecendo. Os dinossauros perambulam pela terra. Estamos perdidos no mar. A casa está pegando fogo, pegue o dinheiro e corra! Corte a criança ao meio! As luzes estão todas acesas, mas não há ninguém em casa. Eu acho que você está louco, talvez. E termina assim ó (e o que dizer de um álbum que termina assim!): I will see you in the neeeeeeeeeext liiiiiiiiife...

(Um comentário final aleatório. Por que a banda mudou o Idioteque? Aquelas batidonas originais eram tão mais legais.)

domingo, 26 de abril de 2009

O futebol como o esporte do menino criado com vó

Conheço um pobre menino, hoje com uns quinze anos, que é criado pela mãe, pela tia e pela avó. Surpreendentemente não é gay, mas, com certeza, ninguém passa por uma experiência assim impune. Foi através desse menino que entendi a expressão “menino criado com vó”, que não sei se é mineira ou brasileira. Elas (especialmente a tia e a avó, claro) criaram o menino todo errado. Deixam-no fazer o que não pode e não o deixam fazer o que pode. Por exemplo, se o menino volta todo molhado e sujo de barro porque não pararam de jogar bola na chuva, o pobre coitado é castigado. Se reclama que não gosta da salada, então deixam passar e o menino come lá o arroz, feijão e carne. Tudo errado.

O futebol é assim, um menino criado com vó. O Cruzeiro x Atlético-MG de hoje só veio provar isso. Originalmente nem ia comentar o jogo. A idéia veio no primeiro gol do Cruzeiro, mais propriamente na comemoração. Mas porra, o Cruzeiro foi marcando um gol atrás do outro e o jogo terminou 5x0. Pela segunda vez. Já está ficando sem graça, sério. É tipo Cruzeiro x América, você zoa os americanos por educação, porque seria muito triste para alguém perder um clássico de goleada e não ser nem zoado. Então zoemos os atleticanos por educação. Fregueses! Já são onze jogos sem perder! Pior, dez vitórias e um empate! E sabe o que é pior? Que vocês não nos conseguirão vencer no próximo jogo. Era obrigação moral suas, vencer o próximo jogo. Mas nem isso. São doze partidas invictas com certeza. E, além de tudo, há sempre a possibilidade de editar meus posts. Qualquer coisa apago essa última parte. Pronto, voltemos ao ponto.

O ponto é que o futebol vem se tornado um menino criado com vó. Vocês vêem a comemoração de Kléber. Ele marca o gol e comemora imitando uma galinha, depois faz um sinal de menino chorando, porque o atleticano é um menino chorão. É punido com cartão amarelo. Depois é o Ramires que é expulso. O que ele fez? Um jogador atleticano genérico entra no Ramires e enquanto ambos vão indo para o chão, o jogador atleticano aproveita para deixar as marcas da chuteira na perna do Ramires, e Ramires revida dando coices. E ambos são expulsos. Para completar, temos um lance que o juiz queria dar um cartão amarelo para mais um jogador genérico do Atlético-MG. O jogador dá as costas pro juiz. Ele chama o jogador pra tomar o cartão amarelo e o jogador vira, fala alguma coisa em óbvio desrespeito ao árbitro, e vira de novo, o árbitro contenta em dar o amarelo com ele virando novamente as costas e segue o jogo.

Vejam, não sou nenhum atleticano chorão. O árbitro fez o que qualquer árbitro faria. Não estou xingando o árbitro, mas o sistema de leis que ele aplica. Não faz sentido expulsar alguém pela comemoração. Se ainda fosse a comemoração do quinto gol, podia até ser algo polêmico. Mas até então era o primeiro gol, no primeiro tempo do primeiro jogo. Os atleticanos que respondessem na bola. Agora juiz é a tia do recreio que fica falando para os meninos maneirarem na brincadeira antes que alguém machuque? Coisa de tia ou avó criando o filho dos outros.

Depois, que coisa mais normal do que revidar uma entrada maldosa? Se fosse árbitro, sempre puniria apenas quem descambou o negócio para violência. E se eu fosse técnico, faria o contrário. Colocaria o maior cabeça-de-bagre marcando o craque adversário. Objetivo do cabeça-de-bagre do meu time: ser expulso com o craque adversário. Cuspiria na mão e passaria no jogador. Entraria dando chutinhos, especialmente em lances mortos, com o árbitro desatento. E o mais importante, se o jogador adversário fizesse uma falta no cabeça-de-bagre, então ele levantaria como se tivesse recebido a maior humilhação da vida e brigaria com o adversário como se estivesse disposto a um duelo de morte com tamanho filho da puta. O juiz, confuso, expulsaria ambos. Metade do bicho para o cabeça-de-bagre, diretores. Isso não faz o menor sentido. É o tipo de punição que uma tia solteirona irritada daria para uma briga entre sobrinhos. Não tem nada a ver com justiça, nem com justiça esportiva.

Por fim, a decisão do juiz é irrevogável e tem de ser respeitada. Alguém me explica esse alvoroço em cima do juiz reclamando da marcação de um penalty ? Para mim deveria ser expulso qualquer jogador que viesse para cima do árbitro numa hora dessas. Ainda que fosse perguntar as horas, porra, vai perguntar as horas em outra hora que na marcação do penalty. Devia ser igual rugby, o jogador não poderia nem olhar para os olhos do árbitro. Mandou virar de frente então é para virar de frente. É cabeça baixa e sim senhor. Mas menino criado com vó é assim mesmo, se a maioria das represálias que sofre é injusta, e ele sabe que é injusta, o menino acaba por não respeitar nenhuma autoridade que venha lhe dar as represálias justas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Melhores Álbuns - 1981



1981 é um ano bem desgraçado pra música. Não conheço um álbum bom. De todos os álbuns listados, este é o que gosto menos. Para dizer a verdade, não gosto dele. Para ser sincero mesmo, eu trapaceei aqui. Porque o álbum Sorry Ma, forgot to take out the rash! de 81, quando o The Replacements ainda eram bem punks (e já disse, o punk só tem sentido no seu contexto, e em 81 esse contexto já quase não existia mais), me parece tão ruim quanto os outros álbuns deste ano. Mas ele tem uma vantagem e tanto. Em 2008 ele foi relançado numa versão com mais 13 músicas, e essas 13 músicas.. essas 13 músicas!... Bem para ser sincero não são assim algo de outro mundo, mas são melhores que qualquer coisa desse ano que eu conheça.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

“O que mais faltou à filosofia foi a precisão”, assim Bergson abre seu O pensamento e o Movente. E essa imprecisão se espalhou por todos os lados. Quando o ministro Joaquim Barbosa acusa Gilmar Mendes de não ouvir a voz das ruas, o que ele quer dizer? Certamente ele não crê que o asfalto é agora um ser inteligente, capaz de um discurso articulado e com sabedoria suficiente para dar conselhos ao presidente do Supremo Tribunal Federal. Portanto, é necessário interpretar o caso. Ora, visto que a maior parte da população brasileira não é nem a favor nem contrária ao ministro Gilmar Mendes, pela simples razão de desconhecê-lo completamente, essa hipótese também deve ser descartada. Na verdade, o que o ministro Joaquim Barbosa quis dizer foi que o ministro Gilmar Mendes não ouvia nem o próprio Joaquim Barbosa nem todos aqueles que têm a mesma posição de Joaquim Barbosa.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Melhores Álbuns - 2001


Zé Pangó: “Salvadores do rock! Que exagero! Não há nada de novo ali. A simplicidade rítmica é dos anos 80, as guitarras são do punk a la Wire, Television, a pose é do Velvet, o vocal é do Iggy Pop.

Eu, o sábio: Pfff. Pode-se fazer algo completamente novo a partir de elementos velhos – principalmente a partir de bons velhos elementos como é o caso. E há algo de essencial e infalsificavelmente novo nesse álbum. Algo ocorreu depois do lançamento desse álbum. Bandas novas começaram a surgir de todo lugar: Interpol, Arcade Fire (Canadá), The Hives (Suécia), The Vines (Austrália) e continuam surgindo até hoje, como Artic Monkeys (Inglaterra) e The Fratellis (Escócia), todas pesadamente influenciadas por esse álbum. Uma renovação no mundo do rock nessas proporções ocorrera pela última vez só ali por 87-88 quando Sonic Youth e Pixies enterravam a última revolução rockeira datada de 77. A diferença é que, se Sonic Youth e Pixies lançaram excelentes discos, o sucesso comercial desse novo rock só ocorreu em 91, com o Nevermind do Nirvana. Já agora, o sucesso foi instantâneo, o primeiro álbum desse novo tipo de rock estoura e chega às paradas de sucesso e entre as mais vendidas. Bem, há algo quando uma banda consegue revolucionar tudo e ainda conquistar um grande número de fãs imediatamente. Com todos esses velhos e bons elementos, o Strokes conseguiu encontrar a maneira certa de expressar a vida dos jovens do começo do milênio. Consegue entender agora por que o rótulo de “salvadores do rock” não era um simples exagero?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Aqui Voegelin nos mostra como destruir a ética kantiana usando um parágrafo:

“Nas éticas clássicas e cristãs, a primeira das virtudes morais é a sophia ou prudentia, porque, sem uma compreensão adequada da estrutura da realidade, incluindo a conditio humana, torna-se praticamente impossível a ação moral com a coordenação racional dos meios e dos fins. No mundo de sonho gnóstico, por outro lado, o não-reconhecimento da realidade constitui o primeiro princípio. Em conseqüência, tipos de ação que seriam considerados moralmente insanos no mundo real, pelos efeitos reais que deles resultam, serão consideradas morais no mundo de fantasia, porque visam um efeito inteiramente diverso. O hiato entre o efeito desejado e o efeito real será imputado não à imoralidade gnóstica de ignorar a estrutura da realidade, mas à imoralidade de alguma outra pessoa ou sociedade que não se comporta como deveria comportar-se de acordo com a concepção fantasiosa da relação de causa e efeito. A interpretação da insanidade moral como moralidade, e das virtudes da sophia e da prudentia como imoralidade, leva a uma confusão difícil de desfazer. A tarefa é dificultada pela presteza dos sonhadores em estigmatizar como imoral a tentativa de obter um esclarecimento crítico. Na verdade, praticamente todos os grandes pensadores políticos que reconheceram a estrutura da realidade – de Maquiavel a nossos dias – foram caracterizados como imorais pelos intelectuais gnósticos, para não falar da brincadeira de salão dos liberais que criticam Platão e Aristóteles como fascistas. Por conseguinte, a dificuldade teórica é agravada por problemas pessoais. E não há dúvida de que o contínuo bombardeio de vituperação gnóstica contra a ciência política no sentido crítico afetou seriamente a qualidade do debate público acerca dos problemas políticos contemporâneos.”

No parágrafo seguinte, Voegelin completa um post anterior meu. Se naquela passagem ele criticava a política atual dos EUA, agora ele critica a política atual do resto do mundo:

“A identificação de sonho e realidade como uma questão de princípio produz efeitos práticos que podem parecer estranhos, mas nunca surpreendentes. Proíbe-se a exploração crítica da relação de causa e efeito na história: consequentemente, torna-se impossível a coordenação racional de meios e fins na política. As sociedades gnósticas e seus líderes reconhecem os perigos a sua existência quando eles surgem, mas tais perigos não são enfrentados por meio das ações apropriadas no mundo da realidade. São, isto sim, enfrentados mediante operações mágicas no mundo da fantasia, tais como desaprovação, condenação moral, declarações de intenção, resoluções, apelos à opinião da humanidade, caracterização dos inimigos como agressores, abolição da guerra, propaganda em favor da paz mundial e do governo mundial, etc. A corrupção moral e intelectual que se expressa no somatório dessas operações mágicas pode impregnar uma sociedade da atmosfera estranha e fantasmagórica de um manicômio, como experimentamos na crise ocidental de nossos dias.”

Engraçado, né? Bem, se você ler dois parágrafos adiante, talvez não seja tão engraçado assim.

“A política gnóstica é autodestrutiva no sentido de que as medidas que visam estabelecer a paz aumentam as perturbações que conduzem à guerra. A mecânica dessa autodestruição foi indicada acima, quando se descreveram as operações mágicas no mundo da fantasia. Se uma perturbação incipiente do equilíbrio não for contrabalançada pela ação política adequada no mundo da realidade, e se, pelo contrário, for enfrentada por meios de feitiços, tal perturbação pode atingir tais proporções que o recurso à guerra se torna inevitável. O exemplo óbvio é a ascensão do movimento nacional-socialista ao poder, primeiramente na Alemanha e depois em escala continental, enquanto o coro gnóstico proclamava sua indignação moral diante de feitos tão bárbaros e reacionários num mundo progressista – sem, contudo, levantar um dedo para reprimir a força ascendente por meio de um pequeno esforço político no momento oportuno. A pré-história da Segunda Guerra Mundial suscita a séria questão de saber se o sonho gnóstico não corroeu tão profundamente a sociedade ocidental a ponto de tornar impossível a política racional, deixando a guerra como único instrumento para ajustar as perturbações no equilíbrio das forças existenciais."

domingo, 19 de abril de 2009

Melhores Albuns - 1977/78



1977. O ano que mudou a história do rock. Vocês todos já ouviram falar disso. Progresivo, cabeçudo, firulento; punk, simples, direto. Enquanto todo mundo vibrava com o punk recém criado, Elvis Costello pegou sua guitarra e fez seu primeiro álbum My aim is true. O que era aquilo? Certamente era novo, não-progresivo. Alguns rotularam-no punk. Mas ele não era tão simples assim, a música era feliz, as letras inteligentes, com um certo toque nerd, o som relativamente elaborado. Dois anos depois o punk já tinha enchido e não fazia mais sentido. Deixou um filhotinho, o pós-punk que também não sobreviveu mais que seis anos. Hoje em dia o punk e o pós-punk são bem datados. Uma boa prova? Todos que apresentam o punk a alguém que não o conhecia faz como eu: “Progresivo, cabeçudo, firulento; punk, simples, direto.” Sem seu contexto, o punk não faz muito sentido. Enquanto isso, Elvis Costello, com seu visual retrô e referências constantes aos anos 50, continua influenciando gerações. Seu som continua novo e é um dos criadores do rock alternativo a la Pixies e Weezer. Poucos meses depois do Punk estourar, Elvis costello já o tinha incoporado e o ultrapassado. Tentem resisitr a perolas como Blame it on cain, Sneaking Feelings, (The angels wanna wear my) red shoes e Radio Sweetheart.

Um ano depois foi a vez do This year’s Model, título perfeito para o melhor do ano. A pegada rock, as letras sarcásticas, continua tudo lá. Há mais tristeza e crueza no som e não tem aquela pegada pop do primeiro. O lado nerd é mais acentuado - "I don't go out much at night. I don't go out much at all. Did you think you were the only one who was waiting for a call" - e sua ligação com o rock alternativo mais evidente. Copiando um aí, nesse álbum Elvis cotello mostra ser o “geek mais zangado da história”. Ao que saiba, esses são os dois albuns mais roqueiros do moço. Depois ele caminha para o New Wave e outras esquisitices dos anos 80. Não conheço muito dessa fase, mas sei que há boas coisas ali. No entanto, para mim, o bom Elvis é o Elvis novo.

Ps. Roubei um pouco aqui. O disco sorteado foi o This Year’s Model, mas como achei difícil falar dele sem citar o anterior, resolvi falar dos dois ao mesmo tempo.




quinta-feira, 16 de abril de 2009

Voegelin escreveu isso em 1952, mas bem que poderia ser sobre Bush:

“A nossa própria política exterior foi um fator de agravamento da desordem internacional através do seu propósito, sincero mas ingênuo, de curar os males do mundo pela disseminação das instituições representativas, no sentido elementar, em áreas em que as condições existenciais necessárias ao seu funcionamento não se faziam presentes. Esse provincianismo, persistente mesmo face às suas conseqüências, é, em si mesmo, um problema interessante para o cientista. As estranhas políticas das potências democráticas ocidentais, que levaram a guerras contínuas, não podem ser explicadas pelas fraquezas dos estadistas considerados individualmente – embora tais fraquezas sejam demasiado evidentes. Elas são, antes, sintomáticas de uma resistência geral a encarar a realidade, fortemente enraizadas nos sentimentos e opiniões das grandes massas das nossas sociedades ocidentais contemporâneas.”

Essa é a crítica conservadora standard às guerras do governo Bush e, claro, compartilho desse ponto de vista. No entanto, sempre evitei criticar o governo Bush durante sua existência. A razão é simples. Há dois problemas mundiais sérios na contemporaneidade: o terrorismo islâmico e a construção de bombas atômicas por países não-confiáveis. Bush tratou do primeiro problema de maneira errada, mas ao menos tratou do problema. Enquanto isso França e Alemanha criticavam os EUA. Mas o que eles fizeram quanto a esse problema? Nada. Que soluções apontaram? Nenhuma. Agem como se o problema não fosse deles também. Quanto ao segundo problema, os EUA, mais por pressão externa que qualquer outra coisa, não entraram em guerra contra Irã e Coréia do Norte, ficaram só na base das negociações diplomáticas, como queriam franceses e alemães. Falando mais claramente, o problema da construção de bombas atômicas por países não-confiáveis não foi tratado mal, ele simplesmente não foi tratado. O resultado disso todo mundo pode ver. As soluções apontadas por França, Alemanha e também pelos brasileiros, são ainda mais infantis e irresponsáveis que a de Bush. Vivemos num mundo tal que um político que comete um erro denunciado há mais de 50 anos atrás como ingênuo e estranhamente persistente, um político sabidamente medíocre era, para usar uma expressão corrente em Belo Horizonte, “o melhor que tava tendo”, unicamente pelo fato de que, ao menos, ele fazia alguma coisa, enquanto todo o ocidente simplesmente renunciava à sua obrigação moral de ser também um mantenedor da ordem internacional.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Melhores Álbuns - 1972


1972 foi ano de grandes discos de rock, como o Exile on the main street e o The Rise and fall of Ziggt Stardust, e eu, roqueiro que sou, escolhi o folk solitário, sossegado e até com um certo toque hippie de Nick Drake. Por quê? Não sei explicar ao certo, mas escolher outro seria falso. Já faz tempo que tenho essa pequena maravilha (não tem nem meia hora de duração) comigo e a escuto constantemente. Dando uma de farmacêutico, digo que é ótimo para se acalmar e, em momentos de depressão, faz a alma entrar num estado de melancolia saudável. Adoro o clima do álbum que entendo ser da harmonia e do equilíbrio de alguém melancólico mas feliz (O fato de Nick Drake ter se matado dois anos e meio depois de gravar esse disco deve bastar para mostrar que estou errado; mas enfim, é como entendo o álbum). É por isso que escuto tanto o álbum, gosto de estar Pink Moon (ui). Além disso o disco abre com a faixa homônima que é simplesmente perfeita e o filho da mãe do Nick Drake sabe tocar violão como ninguém.

sábado, 11 de abril de 2009

Melhores Álbuns - 1994


Às vezes uma capa diz muito. Olhe para isso acima. Não é pior que muita capa de bandinha independente de hardcore goiano? Esse é o sétimo disco da banda. Até aqui eram desconhecidos do público americano e mundial, idolatrado apenas pelo seus conterrâneos de Ohio. Como a grande maioria das pessoas, descobri a banda por esse álbum. Eles certamente poderiam fazer uma capinha melhor e um álbum mais produzido. A primeira vez que ouvi pensei ‘que desperdício!’. Parecia-me uma coleção de grande músicas inacabadas. Que custava ficar mais um mês no estúdio arredondando tudo? Concordava então com a opinião de Robert Christgau, que deu apenas um B- para o álbum: “Na maioria dessas 20 faixas em 36 minutos, as melodias emergem se você insistir nelas, mas elas são avacalhadas por múltiplas irritâncias. As letras são deliberadamente obscuras, as estruturas deliberadamente reduzidas, os vocais uma coleção de anglofilia-no-banheiro (...) algumas gravações não são apenas os primeiros takes, mas a primeira vez que tocam a música.” Depois de escutar algumas vezes, porém, percebe-se a besteira de Christgau. O álbum é perfeito, grandioso a sua maneira. Percebe-se que qualquer acréscimo seria um fru-fru desnecessário, mera retórica, uma tentativa de nos engabelar. A essência da música está ali e não são os adornos que a melhorariam. Mais uma vez, honestidade e pretensão. Sim, pretensão. Guided by Voices não me engana, por trás de toda essa displicência há a pretensão de fazer a música mal-gravada e mal-tocada mais genial da história do rock. E as bandas punk que me perdoem, mas eles conseguiram.

Ps. 1994 foi o ano de mais difícil escolha. Concorriam com esse o Crocked Rain Croocked Rain do Pavement e o Blue Álbum do Weezer. A decisão foi por um nariz. Talvez mude de idéia algum dia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Voegelin e o Nilo

Voegelin nos fala das antigas sociedades do Oriente Médio, de como suas simbolizações cosmológicas e seus interesses por astronomia os levaram a uma divisão quartenária do céu e da terra debaixo dele (Leste, Oeste, Norte, Sul ou os proclamados Imperadores dos quatro cantos do mundo) e então se pergunta sobre a exceção do Egito e sua preferência por construções binárias (Norte-Sul, Paraíso-Terra, pares de deuses). Por que os egípcios constituiriam exceção? Voegelin chega à conclusão de que a culpa era do rio Nilo, aquele rio imenso atravessando e alimentando o deserto desde o começo dos tempos. O Nilo era uma experiência tão imponente que desbotava outros tipos de experiência (mesmo a do Deus-Sol) e todos só conseguiam pensar em termos de contra-corrente x seguindo o fluxo. Não me parece muito preciso esse raciocínio, mas é poético que só.

sábado, 4 de abril de 2009

O Globo de sexta-feira última, primeira página, foto de costas da rainha Elizabeth II abraçando a primeira dama norte-americana. Legenda: “A rainha Elizabetth II e Michelle Obama trocam o protocolo pelo abraço, num gesto sem precedente”. O título: “Nova Era”. Ah, vocês, meus contemporâneos, se contentam com tão pouco, se deixam enganar tão facilmente...