sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

É meu dever registrar aqui um momento histórico da televisão brasileira. Aconteceu agora a pouco, na chamada do jornal Hoje:

"29 de fevereiro! Estamos num ano bissexto. O que muda na vida de quem nasceu hoje."

A propósito, quando será que veremos um ano bissexto sem uma matéria sobre as pessoas que nasceram nesse dia e as piadinhas de praxe "Então a senhora está fazendo hoje 15 aninhos?".

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

"O tempo cura tudo". Eles estão certos. Cura mesmo. O que você sente hoje é tão insignificante que nem você mesmo, daqui uns 2 meses, irá se importar.
Aviso: falarei um monte de Sangue Negro e Juno. Se você ainda não viu esses filmes e planeja vê-los, esteja avisado.

Reinaldo de Azevedo, José Wilker, Pedro Marques Lopes e até o safado do Matheus deram para elogiar o Juno. Todos elogiam o roteiro, que acabou por ganhar o Oscar. Que é algo inteligente, não há dúvidas. Mas será que é tão bom assim? José Wilker falou de frases que se guardam para citar depois. Mentira... Desafio a citar uma que tenha marcado o filme assim.O roteiro tem piadas legais, wits e tal, mas para se fazer um roteiro bom só com wits tem que ser um Oscar Wilde. Caso contrário fica parecendo mais ou menos com uma animada conversa entre amigos. É legal, divertidíssimo e vale a pena ver, mas também não é para emoldurar e por numa parede, registrar para toda a eternidade. A propósito, minha nota para Juno é 7.7.
Por outro lado, dos filmes que concorreram ao Oscar, o que possui mais frases marcantes é Sangue Negro, de cujo roteiro ninguém disse nada: “I´m a false prophet and God is a superstition.” “Bastard in a basket!” “I hate most people. With the eyes of my I look people and I see nothing worth like”. “I´ve abandoned my boy!” “IIIIIIIIIIII am the third revelation!” “DRRAAAIIIINAGE! Drainage, Eli, you boy. Drained dry. I´m so sorry." Mas, talvez por não serem engraçadinhas, talvez por não serem poéticas o bastante, poucas pessoas se deram conta disso.

Uma missioneira na Playboy

Letícia, ex do Richarlyson, pousou para a Playboy esses dias. Vejam parte da entrevista (quer ver as fotos, né seu safado? Procura no Google que não vou ficar ajudando homem a bater punheta não):

“Como foi a primeira vez?
Ai, foi engraçado [risos]. Foi no carro, depois de irmos ao McDonald´s com uns amigos. Nós já éramos tão próximos que todos sabiam que estávamos namorando, menos a gente!
Espera... vocês transaram dentro do carro?
Não [risos]! Foi o primeiro beijo!
OK. E a primeira transa?
Ah... não vou falar da minha intimidade.”

A mulher mostra a periquita pro Brasil inteiro e vem me falar de preservação de intimidade! Mas o melhor tá no final:

“O fato de você posar para a playboy contribuiu para isso [o término do namoro]?
Sim. No começo ele disse que a decisão seria minha. Depois falou que não queria que a mãe dos filhos dele aparecesse nua numa revista. Mas eu decidi aproveitar a oportunidade que Deus colocou em minha vida.”

Ou seja, terminaram por questões religiosas. Ela não pode evitar o chamado de Deus e sacrificou o seu namoro em nome de algo maior.
Ontem vi Pesona do Bergman. Dizem que ele é o cineasta que melhor entendeu a alma das mulheres. Deve ser mesmo, não entendi patavinas do filme.
Querem saber? Timinho. O Botafogo é timeco e essa final de taça Guanabara comprova isso. Sou cruzeirense, então sou neutro o bastante para falar disso. Analisando o jogo vejo que o único erro do árbitro foi o de não ter expulsado, em certo momento, um jogador do Botafogo. No entanto, os jogadores do Botafogo se sentiram prejudicados e perderam a cabeça. Depois do pênalti teve dois de seus jogadores expulsos e, como já disse, só não teve o terceiro porque o árbitro ficou com dó. O pior é que não foram só os jogadores a perderem a cabeça, mas também o técnico e até o diretor, presidente, sei lá eu. Choravam que o Botafogo é sempre prejudicado pela arbitragem, que estão cansados. Coitadinho do Botafogo, clube que só foi campeão brasileiro por conta do juiz e que ano passado mesmo eliminou roubado o galo (sou cruzeirense, se lembram?) na Copa do Brasil. Mas sabem como é, time pequeno não perde uma chance de se fazer de vítima e assim justificar sua pequenez. Vide o galo (sou cruzeirense, se lembram?). O que faria um time grande? Com certeza não seria se descabelar. Pegaria a bola no fundo da rede e diria “vamos ganhar dessa merda de time e da arbitragem”. Claro, poderiam perder do mesmo jeito. Mas pelo menos teriam uma chance.

domingo, 24 de fevereiro de 2008


Descobri hoje que Quimby, o prefeito de Springfield, é representado como um democrata. Nunca tinha pensado em qual partido ele era filiado, mas não é que ele tem mesmo uma cara de democrata? Não me pergunte o que é "cara de democrata", mas que ele tem ele tem. Achei tão legal que resolvi compartilhar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

E para fechar essa pequena série sobre Fidel Castro, este artigo de Armando Cavallares:

O gulag de Fidel

Como milhares de cubanos, fui preso na calada da noite. A polícia de Fidel Castro invadiu a casa de meus pais, apontou uma arma para a minha cabeça e me levou embora. Era o ano de 1960 e eu tinha 22 anos.
A notícia de que o ditador cubano está gravemente doente faz com que eu me recorde de meus anos de prisão. Acredito que todos aqueles que foram prisioneiros políticos, como eu, conhecem o legado de Castro melhor que ninguém. Por 22 anos, estive preso nesse vasto sistema carcerário, confinado a uma ilha-gulag, por crimes que não cometi.
Como a maioria dos cubanos em 1959, aclamei a vitória de Castro sobre Fulgencio Batista, um ditador que mantinha relações amigáveis com os EUA. Castro se arvorou inimigo de todas as ditaduras. Ostentando uma cruz no pescoço, ele jurou que as eleições em Cuba seriam livres e justas. Porém, como provaram as cinco décadas de poder ininterrupto, ele enganou a todos e substituiu a ditadura de Batista por sua própria versão, mais sanguinária.
Quando, em 1959, apareceu no programa "Encontro com a Imprensa", Castro respondeu a Lawrence Spivak: "Democracia é de fato meu ideal... Não sou comunista... Não tenho dúvidas se devo escolher entre democracia e comunismo." Quando Castro começou a deixar mais clara sua simpatia ao comunismo, comecei a me pronunciar publicamente contra essa mudança ideológica entre as pessoas do meu trabalho no banco dos correios.
Na época, o governo havia distribuído cartazes com o slogan: "Se Fidel é comunista, ponha-me na lista. Ele está certo." A frase era onipresente, seja em quadros de funcionários, seja sob a forma de adesivos. Quando funcionários do banco mandaram que eu afixasse o slogan em minha mesa de trabalho, recusei. Quando perguntaram se eu tinha algo contra Fidel, respondi que, se ele era comunista, eu tinha sim. Eu não queria me tornar um símbolo de dissidência política. A decisão havia sido tomada naquele dia.
Treze dias depois da minha prisão, fui oficialmente acusado de ameaçar a segurança nacional, mesmo sem nenhuma evidência contra mim. O sistema jurídico sob o governo de Fidel Castro era uma zombaria do estado de direito; membros do tribunal eram apparatchiks do Partido Comunista que sentavam-se colocando as botas em cima das mesas, fumavam charutos e liam revistas em quadrinhos. A presença deles era só formalidade; o veredito já estava pronto. Não me permitiram advogado.
Sentenciaram-me a 30 anos de prisão como "conspirador potencial". Dois homens na mesma sala do tribunal, falsamente acusados de terem atirado em um porta-voz do governo, foram executados no paredão. Quando o advogado deles (com quem se encontraram apenas minutos antes) rogou ao promotor que a sentença fosse mudada, foi-lhe respondido que eram ordens, pouco importasse os motivos, como medida de profilaxia social.
Na prisão, quando os guardas sentiam ganas de nos castigar, eles nos colocavam em gaiolas e andavam em volta atirando baldes de urina e excrementos para dentro, até que ficássemos encharcados. Também costumavam praticar tiro ao alvo nos prisioneiros. De fato, foi dessa forma que morreram assassinados Alfredo Carrión e Diosdado Aquit . Muitos dos homens que Castro prendeu, torturou e matou tinham sido seus companheiros na derrubada de Batista. Mas a maioria deles eram inocentes eliminados na psicótica busca de Ernesto "Che" Guevara por aqueles que ele e Castro chamavam "o novo homem".
Sem freios, a ditadura de Castro deixou impressa sua marca de crueldade. Um prisioneiro do meu bloco, Julio Tan, recusou-se uma vez a obedecer à ordem de capinar o terreno. O guarda que dera a ordem espetou-o com a baioneta, outro o atingiu com uma enxada e logo Tan foi assolado por um grupo grande deles, espancado e deixado sangrando até a morte em questão de minutos. Um amigo, Pedro Luis Boitel, líder estudantil e corajoso oponente de Batista, iniciou uma greve de fome no ano de 1972, em protesto contra os maus-tratos. No 49º dia de sua greve, Castro ordenou pessoalmente que lhe tirassem a água. Boitel morreu de sede em uma terrível agonia, 5 dias depois.
O terror era a arma primeira de Castro. As táticas usadas contra os inimigos incluíam o uso de drogas, para que os prisioneiros perdessem toda noção de tempo e espaço, e torturas dos mais variados tipos envolvendo fobias a animais, como répteis e ratos: consistiam, por exemplo, em vendar os olhos dos prisioneiros, pendurá-los pelos pés e baixá-los a fossos onde lhes diziam haver crocodilos. Ou então, usavam-se cães de guarda com os dentes removidos: eles eram colocados atrás dos prisioneiros com as mãos atadas até que os cães os atacassem, geralmente atingindo primeiro seus genitais. Tudo isso está extensivamente documentado por uma delegação da ONU, cujas evidências encontram-se em Genebra.
O legado de Castro terá sido muito semelhante ao de Stálin na Rússia, Pol Pot e Ieng Sari no Camboja, Hitler na Alemanha. Serão as memórias do número desconhecido de vítimas, campos de concentração, torturas, assassinatos, exílio, famílias destruídas, mortes, lágrimas, sangue. Castro passará à história como um dos ditadores mais cruéis – um carrasco de seu próprio povo.
No entanto, esse legado macabro não deixará de fora o padrão de duplicidade de governos estrangeiros, intelectuais e jornalistas que, enquanto lutam ferozmente contra as violações dos direitos humanos quando vindas de ditaduras de direita, aplaudem Castro. Até o dia de hoje, muitos desses intelectuais trabalham como apologistas e cúmplices na subjugação do povo cubano. Rafael Correa, o recém-eleito presidente do Equador, declrarou que não há ditadura em Cuba. Evo Morales, presidente da Bolívia, considera Castro seu mentor e já mostrou que pretende silenciar a bala os críticos de seu governo. A Venezuela, que já foi uma democracia, é a nova Cuba, com uma população cada vez maior de prisioneiros políticos.
Fidel Castro fez cerco a Cuba e a fechou, no final da década de 1960, segundo sua adesão ideológica aos sistemas de governo mais assassinos que a humanidade já sofreu. Hoje, os caudilhos da América Latina expressam abertamente seus ideais comunistas. "Sou da linha Trotskista: revolução permanente", declarou o presidente Hugo Chávez em janeiro deste ano.
Há portanto algo que podemos aprender com Fidel Castro: o impulso totalitário sobrevive até mesmo a seus mais endurecidos – e destrutivos – praticantes.

Armando Valladares, ex-embaixador da Comissão de Direitos Humanos da ONU, é presidente da Human Rights Foundation em Nova York e autor de Contra toda a esperança, disponível em www.cubdest.org/libros/LivroValladares.doc, onde narra seus 22 anos nas prisões castristas.
Publicado por Portafolio.com.co
Tradução Norma Braga

Sangue Negro - 9.0

Quando se passa pela sala de TV aqui de casa e há alguém vendo um filme, se este alguém colocoar suavemente o punho fechado sobre o lado esquerdo do peito, pode saber, trata-se de um filme bónito e do bem. Neste aqui deve-se colocar a mão na boca, olhos esbugalhados. Eta filme mal e bom da porra, sô! Meu favorito para o Oscar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lula sobre Fidel:

"O grande mito continua. O Fidel é o único mito vivo na história da humanidade. Acho que ele construiu isso às custas de muita competência, muito caráter, muita força de vontade e também de muita divergência, de muita polêmica."

Não, querido presidente, as pessoas civilizadas odeiam o Fidel não por ele ser uma pessoa polêmica, uma pessoa divergente. Odeiam-no porque ele matou de nove a dezessete mil pessoas e mantém onze milhões de prisioneiros. Triste época a nossa em que assassinatos em massa é uma mera polêmica e não gostar de tiranos é uma questão de opinião. E depois dizem que o totalitarismo foi enterrado com Stálin.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Para construir o seu sistema totalitário de governo, Lênin e Stálin criaram um código penal tão amplo que era possível prender qualquer um. Por exemplo, o parágrafo sexto do artigo 58 previa o crime de espionagem não-demonstrada. Até vejo a cena: “eu não posso ser preso, nada foi demonstrado contra mim”. “Pois então! É por isso mesmo que você está sendo preso”. Já o parágrafo oitavo previa o crime de terror. Deixemos Soljenítsin falar: “O terror era entendido de um modo particularmente extensivo: não significava simplesmente colocar bombas debaixo do carro dos governadores; mas, por exemplo, esbofetear o seu médico pessoal, se este era do Partido, do Komsomol ou ainda um miliciano ativista, isso já era terror”. Havia ainda o artigo 19 que previa que a preparação ou a intenção de um crime deveria ser punida com o mesmo rigor de um crime cometido de fato. E assim: “Não só uma ameaça direta proferida numa cervejaria (“Ainda lhe quebro a cara”) dirigida a um ativista mas uma observação feita por uma rabugenta vendedora no mercado (“Ora, vá para o inferno!”) eram qualificadas como IT, intenções terroristas, e davam fundamento à aplicação do artigo com toda a severidade”. Soljenítsin está consciente da inverossimilhança e acrescenta uma nota “Isto tem o ar de um exagero, de uma anedota, mas não fomos nós que inventamos tal anedota; estivemos presos com pessoas dessas.”


Com este instrumento foram possíveis os expurgos que a cada momento se virava contra alguma classe: em 1922 os revolucionários não comunistas, em 1927 os clérigos, em 1930 os industriários e os engenheiros, de 1930 a 32 os camponeses, em 1936-38 os comunistas mais antigos em 1945 os soldados soviéticos que foram prisioneiros de guerra dos alemães ou japoneses e por fim, em 1948 os próprios proletários.


Ouvimos aqui Krilenko, procurador da União Soviética, dizer: “Um tribunal revolucionário é um órgão de luta da classe operária contra os seus inimigos” e deve atuar “tendo em vista os interesses da Revolução... levando em conta os resultados mais desejáveis para as massas operárias e camponesas” e “Sejam quais forem as qualidades individuais (do réu), só lhe pode ser aplicado um método de avaliação: o critério do interesse da classe”.
Isto aí pode parecer muito específico, ocorrido lá na União Soviética, no começo do século, algo que está morto e enterrado, mas não é bem assim. Observamos no discurso de qualquer esquerdista, mesmo nos mais moderados, esta ânsia por culpas coletivas: “A violência é culpa da classe média”, “A AIDS e a gravidez da adolescência é culpa dos católicos”, “As mulheres que morrem tentando abortar são culpa dos homens”, “A desigualdade racial é culpa dos brancos”. Parece ser algo que faz parte mesmo da natureza da esquerda, como uma coceirinha que fica ali, esperando apenas um momento de distração de maior convicção ou de maior apoio popular. É claro, se você é a encarnação do progresso, qualquer um que fica no meio do seu caminho é um câncer a ser removido.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Primeiro foi Kim Jong II, que em 1994 substituiu Kim II-Sung, seu pai, no governo da Coréia do Norte. Agora é a vez de Raul Castro substituir Fidel Castro, seu irmão, no governo de Cuba. Eis que a tal revolução que iria implantar a igualdade entre os homens termina por reinstaurar os princípios do governo hereditário anteriores a 1789.

Ah, sim, o reacionário sou eu.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

(A ler com a voz do Chorão, do Charlie Brown Jr)

- Um monte de buceta-neve (risadas do Chorão).
Se você ainda não percebeu, este blog está temporariamente insano.
Ó Deus, me dê apenas mais cinco minutinhos!
Ponto final cor de chumbo.
Você está procurando pessoas mortas.
Desisti de fazer resenha de todo filme que visse. Estou pensando só em colocar a nota dos filmes aí do lado e pronto.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A preferência da crítica e do público por Public Enemy em detrimento do De La Soul é um dos fatos que mostra como o mundo é paioso. Quando escutei pela primeira vez “Fight the power” gostei bastante, porque, no meu inglês tosco, achei que “fight the power” era algo como “lute pelo poder” e não “lute contra o poder”. Ainda bem que o americano negro médio é mais inteligente e prefere Obama a Public Enemy.

Bem, já que aqui falo do Public Enemy e mais abaixo falo de opiniões politicamente incorretas, aproveito para juntar os dois temas. Em 1989, Griffin, um dos integrantes do Public Enemy, disse que os judeus eram os responsáveis pela maior parte das merdas que acontecem no mundo. Chuck D o expulsou imediatamente. Ah, ta bom que um grupo tão “politizado” quanto era o Public Enemy não conhecia essas opiniões de Griffin... Por que ele o expulsou então? Ora, para ajudar a limpar a imagem da banda. Como uma banda que se empenhava tanto no combate ao racismo poderia permitir dentro de seu próprio grupo um... racista? Mas depois de alguns anos o readmitiu no grupo. Normal, ué. Se o cara fazia um bom trabalho, era responsável e não fosse insuportável lidar com ele no dia a dia, porque expulsá-lo? Por que ele tem umas opiniões estúpidas? Bem, se este fosse um critério para se desfazer de um membro da banda garanto que só ouviríamos artistas em carreiras solos. Este é um dos maiores males do politicamente correto: querer transformar simples opiniões estúpidas (isto é, as opiniões que os ditos bem-pensantes entendem como estúpidas) em um traço indesculpável de caráter, ou melhor (ou pior?), em crime previsto no código penal. Tudo isso, é claro, pelo amor à liberdade.

Onde os fracos não têm vez (2007) - 8.6

Talvez tenha esperado muito do filme. É um bom filme de perseguição, envolvente e surpreendente também. Vale a pena mesmo pela atuação de Javier Bardem. O cara conseguiu ser uma das personagens mais assustadoras e temíveis do cinema utilizando o penteado do Beiçola! Realmente um feito incrível. Mas me decepcionei um pouco com o fator polêmica do filme. O tal monólogo inicial de Ed Tom Bell não tem nada demais. É no máximo bobo. Cinema é mesmo uma arte limitada, como já disse em outro post aí. Talvez a novidade seja um personagem do bem com idéias conservadoras demais para nosso mundinho politicamente correto. Como se quase todas as pessoas mais velhas que conhecemos não fosse exatamente assim: boas e com idéias conservadoras demais. Mas vivemos em tempos em que se um personagem tem idéias conservadoras demais então só pode ser um hipócrita filho da puta. Tudo, claro, pelo amor à liberdade de pensamento.
Uma nova lei foi aprovada em São Paulo proibindo que se fume cigarros, charutos e cachimbos em restaurantes e bares. Fiquei sabendo disto pelo Jornal da Globo, onde os repórteres entrevistaram um fumante que diz algo como: “Este aqui é um bar temático cubano, e o charuto faz parte da tradição de Cuba, as pessoas que vêm para cá já sabem disto e ou são fumantes ou não se importam. Esta lei não faz sentido”. A que o Estado responde algo como: “Errado. Os clientes fumantes, os não fumantes e os proprietários de bares e restaurantes não entendem nada sobre o que eles querem, com o que eles se importam ou não se importam. É o Estado, este gigante moral, preocupado com o bem-estar de nossos cidadãos-crianças, que deve decidir sobre tais assuntos.”

Como já disse alguém em algum blog de que não me lembro: não sou fumante, mas toda vez que vejo esta histeria anti-tabagista penso em começar a fumar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O gângster (2007) - 7.9

Nada demais, o mesmo filme de gângster de sempre. Mas eu gosto. Quando você sair do cinema, pensará que está dentro do filme, a qualquer momento seu celular tocará e você terá que voar num jatinho particular rumo a Miami, para resolver uns probleminhas. Eu sou muito criança ou isso acontece com todo mundo?

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Deixem-me falar mais um pouquinho do “Arquipélago Gulag”. É que tem uma parte que me lembrou o Brasil. É do capítulo “A lei-criança” e fala sobre processos que ocorreram no início da Revolução Russa. Eis:



“Este processo, um dos primeiros e dos mais precoces, tratou da liberdade de expressão. No seu número de 24 de março de 1918, este conhecido jornal dos “professores” inseriu um artigo de Sávinkov, “Em viagem”. Com muito gosto teriam detido o próprio Sávinkov, mas ele estava em viagem, o maldito, e onde encontrá-lo? Assim, fecharam o jornal e levaram ao banco dos réus o velho redator P. V. Iégorov, convidando-o a explicar-se: como se atrevera? Já tinham decorrido quatro meses da Nova Era, já era hora de se acostumar!
Iégorov, ingenuamente, justificou-se dizendo que o artigo era da autoria de “um destacado líder político, cujas opiniões tinham um interesse geral, independentemente de a redação as compartilhar ou não”. Além disso, não via qualquer calúnia nas afirmações de Sávinkov segundo as quais “não se devia esquecer que Lênin, Natanson e Cia. tinham regressado à Rússia através de Berlim, ou seja, que as autoridades alemãs colaboraram com eles para o regresso à pátria”, porque na realidade assim fora: a Alemanha do Kaiser, em guerra, ajudou Lênin a regressar.
Krilenko [procurador e autor da compilação de processos do início da Revolução Russa da qual Soljenítsin extrai informações para esta parte de seu livro] exclama que não pretende acusá-lo por calúnia (e por que não?...), o jornal é processado por tentativa de influir nos espíritos! (Mas acaso um jornal pode ousar ter tais objetivos?!)”



Não lembra a perseguição que sofre a mídia dita oposicionista no Brasil? Procure na internet críticas contra a Veja e a Globo, por exemplo, e o que encontrará pode se dividir em dois grupos: 1) A Globo, a editora Abril, o Roberto Marinho têm ligações com a CIA, com a oligarquia brasileira, com grupos racistas da África do Sul (juro que vi isso em algum lugar...). 2) Tais veículos não publicam tais e tais fatos. Eles escolhem a informação a ser publicada.

Ou seja: 1) a Mídia possui desejos escusos e 2) Ela te manipula para realizá-los. Mas onde estão as acusações de calúnia? Não há. Ninguém as acusa de serem mentirosas. Hoje em dia ninguém duvida do mensalão, que o dossiê contra Alckimin era fajuto, nada disso. O que se critica é que a mídia não publique as falcatruas da oposição. O que se quer é que toda vez que a Veja publicar uma denúncia contra o Governo ela deva procurar algo para a oposição também! Melhor, ela tem de publicar denúncias contra todos os governos do Brasil, e quiçá, de toda história universal, para assim não ser injusta com ninguém, não sugerir que haja um governo que seja mais corrupto que outro. Não, porque sugerir que o governo de A é mais corrupto que o de B é ser parcial. Quer dizer, a menos que você seja um de nós, aí pode dizer a merda que quiser. Nunca vi ninguém reclamar das denúncias da Carta Capital“mas por que vocês não publicam as falcatruas do PT?”

O que os opositores da Veja e da Globo não podem suportar é que estes veículos possam influir nos espíritos. Logo gritam Manipulação! Manipulação! Já se o veículo midiático for de esquerda então trata-se de pura e desinteressada educação, algo nobre, louvável. O caso do tratamento da mídia ao caso do Dossiê da eleição de 2006 é emblemático. Qual a crítica que a Globo recebeu? Ela inventou a notícia? Ela manipulou dados? Não, ela publicou uma foto. Mas a foto era montagem? Não, era real! Era a foto com o dinheiro apreendido no caso. Mas por que ela não deveria mostrar? Para não influir nos espíritos, ora essa.

Resta apenas perguntar com um ar apatetado: “Mas acaso um jornal pode ousar a ter tais objetivos?”.

Em tempo, não estou sugerindo que o Brasil e a URSS sejam a mesma coisa. Lá o jornal foi fechado e o editor foi preso. Aqui nem mesmo se abriu um processo. Mas tentativas de intimidação existiram. Jornalistas da Veja foram detidos. E o pior, se fossem presos seriam com o aplauso de nossos intelectuais.
E isso é muito triste. Vamos chorar
Agrrrrrrrrrrrrrrrr
Pipipipipipipipi
Unhééééé Unhéé Unhéé Unhéé
Até mais. Obrigado.

Idiocracia (2006) - 6.2

Do criador do desenho Beavis and Butthead. Eis aí um especialista em idiotice. Alguém deveria citar a famosa passagem de Nietzsche pro camarada: "quando se olha muito tempo para o abismo/ o abismo olha para você". Um pouco inferior ao desenho, achei. Mas tem umas piadas engraçadas. Se você não tiver nada para fazer, vale a pena.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O mundo é mesmo um lugar surpreendente, estranho e indeterminado. Para o bem e para o mal. Por exemplo, semana passada comecei a ler “O espião que saiu do frio” de John Le Carré. Parei mais ou menos na página 60. Ele começa com Leamas esperando um agente seu retornar da Berlim Oriental. Ele está nove horas atrasado. Um outro espião americano (Leamas era inglês) tenta convencê-lo ir dormir, mas ele permanece. De repente fica sabendo que a maioria dos seus agentes foram mortos por um contra-espião oriental, cujo nome esqueci. De vivo só esse que está por atravessar a fronteira. Tensão. Um carro chega, é a mulher do tal espião, mas nada dele. Ela Consegue atravessar. Leamas conversa com a mulher. Ele deve estar vindo, mas está com alguns problemas. Quando ele volta o espião americano que o acompanhava foi dormir. De repente chega o espião desejado, de bicicleta. Consegue atravessar a fronteira, mas aí chega o tal contra-espião assassino e atira nesta antes dele conseguir fugir. Fim do primeiro capítulo. Meio cinematográfico esse finalzinho, mas confesso ter gostado. Tinha vida, vários pequenos detalhes acontecendo ao mesmo tempo. Depois dessas dez primeiras páginas, porém, o enredo torna-se esquemático. O autor pensa: agora Leamas começa a decair e ele decai. Ele torna-se amargo e rude, mas não nos é apresentado nenhum exemplo de sua amargura ou rudeza, simplesmente somos informados que ele agora é alguém amargo. Depois o autor pensa: agora ele vai trabalhar numa biblioteca e conhece uma garota e ele escreve umas cinco páginas em que acontece apenas isso. E no momento em que a garota aparece você tem certeza que ela irá para a cama com Leamas (por que outro motivo ela apareceria na história?). E depois ele conhece um agente oriental, e mais nada. Depois parei. E qual a acusação que se faz a um livro assim? Artificialidade.
A vida não é assim, com esses conceitos gerais de amargura, com essas conquistas fáceis de funcionárias da biblioteca. A vida e uma boa história tem milhares de detalhezinhos.
Aí comecei a ler “Arquipélago Gulag” de Soljenítsin. Que diferença! Eis a vida real penetrando em todas as páginas. “Claro, trata-se de uma história real” você diz. O começo do livro: “No presente livro não há personagens imaginárias, nem acontecimentos imaginários. Pessoas e lugares são mencionados pelos seus próprios nomes. Quando os mencionarmos por iniciais, isso deve-se a considerações de ordem pessoal. Se não forem referidos de maneira alguma, isso se deve simplesmente ao fato de a memória humana não ter retido os seus nomes. Mas tudo se passou exatamente assim”. E a dedicatória é essa: “Dedico esse livro a todos aqueles a quem a vida não bastou para o relatar. Que eles me perdoem por não ter visto tudo, não ter recordado tudo, não ter percebido tudo”. Sim, são histórias reais, mas é preciso saber olhar para a realidade para contar uma boa história, e Soljenítsin consegue te deixar interessado por uma matéria fecal repugnante, revoltante. Chamam a atenção os detalhes. Por exemplo, ele narra como alguns guardas prenderam alguns dos pacientes de um hospital e, sem demonstrar necas de qualquer tipo de consideração, iniciam a revista quebrando frascos de remédio e abrindo os curativos dos pacientes. Os detalhes estão por toda parte e se de início eles nos prende e chama a atenção, quando se chega ao meio do livro já achamos todos aqueles absurdos um tanto comuns. Nossa mente funciona de um jeito que ela tende a normalizar o que está a nossa volta. É preciso um constante exercício para percebemos esses detalhes. É preciso deixá-los sempre nos surpreender. Soljenítsin percebe a selvageria da realidade, por isso escreve tão bem, por isso nos comove página após página, por isso ele toma cuidado com os detalhes, por isso ele atinge o essencial. O terceiro capítulo deste livro inicia-se assim: “Se os intelectuais de Tchekhov, sempre fazendo conjecturas sobre o que seria a vida dentro de vinte, trinta ou quarenta anos, tivessem respondido que na Rússia se torturariam os acusados durante a instrução do processo, que se lhes apertaria o crânio com um anel de ferro(1), que se submergiria uma pessoa num banho de ácidos (2), que se ataria um homem nu para o expor às formigas e aos percevejos, que se lhe introduziria uma baioneta em brasa pelo orifício anal (“a marca secreta”), que se lhe comprimiriam lentamente com uma bota os órgão sexuais e que, como tratamento mais suaves, se torturaria alguém durante uma semana, sem o deixar dormir, nem lhe dar de beber, espancando-o até deixar-lhe o corpo em carne viva – nem uma só dessas peças teria chegado até o fim e todos os seus heróis teriam ido parar no manicômio
(1) Como aconteceu ao Doutor S., segundo testemunho de A. P. K...va.
(2) Como aconteceu a H. S. T...e.”

Pois é, o mundo é absolutamente incerto e, como li nas costas um livro do Pychon, ele é dividido entre os apocalípticos e os ingênuos. O que será de nós daqui vinte, trinta, quarenta anos? Não ouso arriscar. O futebol e a vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Para o bem e para o mal.
Um pequeno apêndice: lembrei-me de um artigo que li há tempos no “Mídia sem máscara”. Seu autor falava que há anos não lia mais ficção pois esta nunca poderia competir com a realidade. Quando li isto pensei “idiota”. Ele contava, para ilustrar, o seguinte exemplo: Em determinado ano houve uma grande fome na China de Mao. Como ele não podia por a culpa em si mesmo, a pôs nos pássaros, que estariam comendo os grãos necessários. Por isso deu à população a seguinte missão: perseguir os pássaros armados de paus e panelas e, avançando para cima deles não os deixar pousarem até que caíssem, mortos de cansado. O plano foi um sucesso e milhões dos tais pássaros comedores de grãos foram mortos. O único porém é que, obviamente, não foram apenas eles que morreram, mas todos os tipos de pássaros, inclusive aqueles que comiam larvas, insetos e outras pragas. O resultado foi cinco anos de colheitas piores ainda, de fomes mais negras e mortes mais numerosas. Que escritor teria uma imaginação tão poderosa para inventar tais fatos? Nenhum, é preciso admitir. Quanto mais leio o Arquipélago, mais este articulista me parece sensato.