sexta-feira, 27 de junho de 2008


A Suprema Corte norte-americana reafirmou ontem que a segunda emenda da Constituição garante sim o direito ao porte de armas para os cidadãos americanos. A questão do porte de armas pode parecer sem importância, lateral, mas, em seu simbolismo, é a mais importante de todas. Numa democracia liberal de verdade, os cidadãos vigiam o governo, e não o contrário. De um lado temos Estados Unidos e Suíça. De outro quase o restante do mundo.

Ps. Não achei a foto do Globo de hoje. Foi de lá mesmo que soube da bandeira.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Amigos, este blog ainda não acabou. Estou sem tempo, apenas. Mas podem se acalmar, não estou trabalhando nem nada. É que decidi ser desorganizado e esse negócio de desorganização requer muito planejamento. Enfim, tem outras coisitas também. Mas só apareci aqui pra anunciar que acabei com o concurso dos mortos. É que me enjoei de ler sobre políticos indonésios. Não agüento mais. Fiz até uma faxina aí. Abraços e até a próxima.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

É curisoso como os extremos muitas vezes estão mais próximos uns dos outros que do meio-termo. É mais ou menos como uma ferradura, onde as pontas quase se tocam (a imagem não é minha, mas não sei de quem é), eqüidistantes do centro.
Henrique Raposo escreveu domingo último na Atlântico uma série de posts sobre o livro Identidade e violência de Amartya Sen. O título dos posts: “Multiculturalismo, ou como a esquerda "multiculturalista" é igual à direita nacionalista”
Alguns trechos:
“Sen é particularmente crítico em relação às políticas multiculturalistas da Grã-Bretanha. O exemplo paradigmático (destacado ao longo do livro) é o seguinte: as crianças muçulmanas que nascem no Reino Unido frequentam escolas de fé (faith schools) patrocinadas pelo Estado. Ou seja, Londres financia e legitima um ensino baseado na exclusividade da fé. Se nasceu muçulmana, criança x vai para uma escola exclusiva para muçulmanos; a criança é educada no culto da «aceitação acrítica da fé em detrimento de uma ponderação crítica» (p.212). Herder, o primeiro dos românticos germânicos, sentir-se-ia em casa neste “progressismo” multiculturalista: um «homem isolado» é sempre «uma flor roubada às suas raízes, arrancado ao tronco a que pertence», dizia Herder. Esta sempre foi a base da direita nacionalista na crítica à sociedade liberal. Hoje é a base da esquerda multiculturalista (não confundir com multicultural ou cosmopolita) na crítica, claro, à sociedade liberal.”
“Como aponta Sen, os “progressistas” multiculturalistas, ao fazerem uma defesa dogmática da preservação/diversidade cultural, acabam por cair no reaccionarismo cultural contrário à liberdade de escolha individual: «será que então, em prol da diversidade cultural, devemos apoiar o conservadorismo cultural e pedir às pessoas que mantenham o seu próprio passado cultural e não adoptar outros estilos de vida, mesmo quando tenham boas razões para isso?» (...)Sen joga com um exemplo simples: uma jovem muçulmana pretender sair com um rapaz inglês (coisa normal numa sociedade cosmopolita), mas esse intento é travado pelos guardiões da comunidade e pelos pais da rapariga. Ora, é «precisamente a proibição dos pais, que contribui para o monoculturalismo plural, que parece receber a defesa mais clara e visível dos alegados multiculturalistas, com base na importância de honrar as culturas tradicionais, como se a liberdade da jovem não tivesse qualquer relevância» (p. 206). Os multiculturalistas afirmam que todas as culturas são autênticas nos seus próprios termos e que ninguém tem o direito de integrar membros de outras culturas nas regras das sociedades liberais. Para os multiculturalistas, os direitos da rapariga são inferiores aos direitos da comunidade.”
O rapaz ainda escreveu hoje esta coluna no Expresso: http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/339548 . Segue outro trechinho fantástico:

“O preço da comida aumenta porque - felizmente - os chineses já comem um bife ao jantar. O preço da gasolina aumenta porque a rapaziada indiana - felizmente - já tem um carro para namoros intercastas. Os europeus, porém, ainda não conseguem encaixar estes factos e, por isso, recorrem à falácia da 'especulação'; procuram um bode expiatório para um 'Mal', quando deviam perceber que esta crise resulta de um 'Bem' (milhões a sair da miséria). A Europa precisa de uma nova narrativa, de uma nova 'lente' analítica. E a 'lente' mais adequada para corrigir a miopia europeia é a seguinte: vivemos num mundo pós-europeu e pós-atlântico, onde a Europa e o Atlântico Norte perderam a sua velha centralidade. O resto do mundo já não é o condomínio privado do Ocidente. Os 'outros' já não querem ser pobres, puros e espirituais. Habituem-se.”

domingo, 8 de junho de 2008

Laicismo! Quanta imbecilidade se diz em seu nome!
É uma lei da natureza já observada e comprovada: se algum grupo defende uma posição contrária a dos religiosos, então esse grupo lembrará que o Estado é laico, se colocará na posição dos que trazem o progresso e seus opositores serão os obscurantistas. Se, por exemplo, os psicopatas se unirem politicamente para que o assassinato seja legalizado, eles dirão que esta interdição do assassinato está ligada a crenças religiosas, mas que aqueles que não estão ligados a tais crenças deveriam ter o direito de assassinar e que é muito errado que o Estado proíbam a todos matar, ou seja, imponham a todos crenças religiosas que deveriam ser unicamente de cunho pessoal. Enfim, o estado é laico ou não é?
A resposta é simples, o laicismo não implica que o estado contrarie sistematicamente todas as opiniões do cristianismo ou de outro grupo religioso, pode coincidir sem problema algum. E, caso coincida, pode impô-la pela força.
Só que se os psicopatas se unissem pela legalização do assassinato, com certeza grupos religiosos se insurgiriam, contrários aos psicopatas. Então os psicopatas diriam: “Estão vendo? Novamente os religiosos se unem politicamente! Não sabem eles que o estado é laico?” E, se por acaso, houver um deputado eleito democraticamente ligado a algum grupo religioso e que se posicione politicamente contra a legalização dos assassinatos e faça acordos políticos nessa direção, então os psicopatas arrancarão cabelos e farão protestos pelo que eles consideram claramente um atentado ao laicismo de estado.
E não há atentado algum. Então agora qualquer grupo pode se unir politicamente, menos os religiosos? Eu, hein? Que preconceito é esse? O laicismo está intimamente ligado com o direito de possuir uma religião e de poder manifestá-la publicamente. Um estado que proibia as manifestações religiosas não é laico, mas ateu.
Laicismo consiste apenas nisso: 1) O estado não declara religião, os cidadãos são livres para escolher (ou não escolher) qualquer religião, sem qualquer tipo de perseguição ou favorecimento. 2) As leis votadas pelo congresso não podem ser barradas pelo judiciário por contrariarem uma determinada religião.
Tudo o que ultrapasse isso é obscurantismo anti-religioso.

sábado, 7 de junho de 2008

Muitos professores alegam que, por não ser possível a neutralidade, a ideologização do ensino é inevitável, sentindo-se à vontade para fazer pregações contra o capitalismo, os americanos ou os judeus a seus inocentes e inexperientes alunos. É como alguém que, por acreditar que a santidade não é possível, resolvesse ser a encarnação do demônio. Ou como um aluno que, ao perceber que sabe todas as questões numa prova,com exceção de uma, a entregasse completamente em branco. Ou, para recorrer a um exemplo filosófico histórico, é como alguém que se recusasse a fugir de um perigo porque não tem asas, quando as pernas eram mais que suficiente. Desde quando a intangibilidade da perfeição foi desculpa para a avacalhação total?

terça-feira, 3 de junho de 2008

...E o Vento Levou foi indicado a 19 prêmios cinematográficos. Cidadão Kane foi lembrado 14 vezes. Casablanca 10. A felicidade não se compra 9. Era uma vez no Oeste 5. Luzes da Cidade 1.

A explosão de festivais cinematográficos começou mais ou menos nos anos sessenta e só piora a cada década. Imagino que os diretores e atores depois de fazer um filme que obteve sucesso de crítica deva passar cerca de seis meses sem poder trabalhar, apenas indo a premiações. O Senhor dos Anéis: o Retorno do Rei concorreu a 183 prêmios. O segredo de Brokeback Mountain 144. O Gladiador 129. Onde os fracos não têm vez 124. O aviador 113. Crash e Sobre Meninos e Lobos 105.

Mesmo filmes meias-bocas são abarrotados de prêmios hoje em dia. O Jardineiro fiel concorreu a 63 prêmios. Longe dela 56.O último rei da Escócia 55. Diários de Motocicleta 52. O diabo veste Prada 35. Once 32. XXY 27

É isso mesmo, XXY concorreu a mais prêmios que... E o Vento Levou. E, sim, O Jardineiro Fiel concorreu a mais prêmios que... E o Vento Levou, Cidadão Kane, Casablanca, A Felicidade não se Compra, Era uma vez no Oeste e Luzes da Cidade juntos.

Acho que foi o Paulo Francis que num certo texto falava de uma outra pessoa que não me lembro quem é, conversando com uma outra pessoa que acho que era o Paulo Francis, mas não posso dar certeza... Enfim, a idéia do incógnita era que os idiotas sempre existiram, mas, por alguma razão, eles perderam a vergonha no século XX. Provavelmente por descobrirem que eram a maioria. Só isso explica essa explosão de festivais de cinema premiando filmes cada vez mais medíocres. Todo mundo quer dar opinião, ser crítico. Pior que isso só o fato de todo mundo querer ser artista, cineasta.

Sempre que alguém fosse nomear algum filme a algum prêmio eles deveriam parar para pensar “se o nomearmos será a quinta nomeação deste filme. O mesmo número de Era uma vez no Oeste. Este filme merece isto?” Como Era uma vez no Oeste é o melhor filme de todos os tempos, está claro que o máximo de nomeações que um filme teria seria quatro.

Como um filme igual ou melhor que Luzes da Cidade surge uma vez a cada cinco anos (sendo excessivamente bondoso), quase todos os festivais de cinema do mundo acabariam. Sobraria um único, que distribuiria uns dois prêmios por década.

Mas infelizmente não é isso que ocorrerá. No fim do Século XX os idiotas construíram para si um mega-fone gigante e indestrutível, também conhecido como Internet. Qualquer idiota, por exemplo, pode construir um blog e colocar ao lado uma listinha com os dez últimos filmes que ele viu, dando notas ridículas, tipo 7.9, como se tal precisão fosse possível ou desejável. Pior ainda são essas “premiações” bloguísticas de fim de ano com melhores livros, filmes, discos, blogs, posts, fontes, etc.

Idiotas, calem a boca, pelo amor de Deus!

Este breve intróito é só um pedido de desculpas a todos aqueles que por alguma razão (provavelmente por serem tão idiotas quanto, ou, se isso fosse possível, ainda mais idiotas que eu) perdem tempo lendo este blog.

E também é um pedido de desculpas pela, eu iria dizer crise, mas “crise” dá a idéia de um período anormal, então prefiro dizer, pela minha costumeira prepotência e maluquice que me fará cometer um ato ridículo, deveras embaraçoso mesmo. Estou anunciando aqui que abrirei o concurso “O morto do mês”. Todo mês escolherei um morto para escrever sobre, o morto campeão que levará o prêmio de morto do mês. Se você quiser concorrer, basta morrer e já estará participando. Desnecessário dizer (então porque está dizendo, retardado?), os critérios são completamente arbitrários, não possuem fundamento algum.
Não sei porque estou fazendo isso. Achei que ia ser legal escrever sobre meus contemporâneos e aprender assim um pouquinho do nosso tempo. Mas comecei a escrever sobre o morto do mês de maio (na verdade a morta, fica a dica) e estou vendo que não é tão legal assim. Na verdade só tenho curiosidade com estatística mesmo. Quando chegar no morto número cem, quero saber quantos eram homens, quantas mulheres, quantos heteros, quantos homossexuais, quantos brancos, negros, transparentes, quantos americanos, europeus, alienígenas, e assim dar números estatísticos redondos e bastante bonitos.
Então, fiquem atentos, em breve haverá textos gigantes sobre personalidades defuntas para vocês prontamente não lerem aqui no blog.
Ps. Sempre quis começar um texto usando reticências e que isso não fosse nenhum recurso estilístico aviadado, mas simples decorrência do uso correto da língua