terça-feira, 30 de junho de 2009

Tenho uma teoria. Na verdade acabei de inventar, analisando as reações aos últimos acontecimentos de Honduras. É o seguinte: ocorre algo agora, por exemplo, a deposição do presidente de Honduras, e rapidamente se formará dois grupos: os bem-pensantes que analisarão o caso como se ele ocorresse há quarenta anos atrás e um grupinho desprezado e amaldiçoado que terá uma versão mais atual dos fatos. Daqui a quarenta anos ocorrerá algo novo e os bem-pensantes de então analisarão esse caso futuro com as teorias daquele grupinho antes amaldiçoado mas que então será bem-aceito e haverá um novo grupinho com idéias mais interessantes, mas desprezados. Por essa razão, Chamberlain pensou que Adolf Hitler era Guilherme II e crê-se hoje que os verdadeiros inimigos da democracia latino-americana são as Forças Armadas, não esse movimento esquerdista-patético liderado por Chávez e Evo.

Sim, sou mais um bocó que não saberia distinguir Honduras de Costa Rica num mapa e que fica dando palpite azedo. Mas, vão por mim, América Latina é tudo a mesma e aborrecida coisa. Aposto com quem quiser que, não havendo envolvimento estrangeiro na questão, a democracia hondurenha sairá fortalecida desse impasse.

Segue um link detalhando o caso: http://faustasblog.com/?p=13712 . Um pequeno resumo: Zelaya queria fazer um referendo para permitir sua própria reeleição. Foi declarado inconstitucional pelo judiciário. Levou adiante seu projeto. Mas quem vai imprimir as cédulas? A Suprema Corte avisou que, como o referendo era ilegal, era também ilegal a impressão das cédulas. A Venezuela de Chávez imprimiu as cédulas. As cédulas vieram à Honduras. Zelaya ordena ao exército a distribuição das cédulas. A Suprema Corte ordena o contrário. Apoiadores do presidente distribuem as cédulas. O parlamento faz uma lei proibindo a realização de referendos 180 dias antes de uma eleição, como era o caso. Entra-se com um pedido de Impeachment e logo depois Zelaya é deposto. E o mais importante: os militares seguiram ordens do Congresso e da Suprema Corte, não resolveram por si sós depor o presidente. Logo depois o congresso nomeou outro presidente. O povo hondurenho apoiou as medidas.

Só não vê quem está cegado pelo debate intelectual do século passado. O verdadeiro infrator da ordem é Zelaya.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Quando um líder político cai e outro sobe em seu lugar, deve-se reconhecer o novo presidente ou não? Segundo o mundo moderno a resposta é: depende. Depende, se o político que caiu é nosso amigo, então não se deve reconhecer. Se o político que surgiu é nosso amigo então tudo bem. Assim, Lula apóia o ditador iraniano logo de cara, não se importando muito se a eleição foi fraudada ou não. Ao mesmo tempo diz não reconhecer o novo governo de Honduras. Mesmo Obama, meu Deus!, fez o mesmo caminho. Cadê o povo que fala que cada país deve cuidar de seus próprios problemas? Que intervenção estrangeira (ainda que seja apenas um “tsc tsc tsc”) é o maior crime, não, “maior” é pouco, é o único crime possível?

Para nos orientarmos em questões internacionais basta olharmos para Chávez e seguir o caminho contrário. Ele está sempre errado. É muito fácil e cômodo. Se há algo positivo em sua eternização no poder é essa comodidade. Se ele está tão nervoso com o golpe, então o golpe é bom. E então analizamos os fatos e vemos que nosso guia fuincionou outra vez. O presidente de Honduras estava organizando um pebliscito declarado ilegal pelo legislativo e executivo. Não arredou o pé, queria porque queria. As Forças Armadas então o levou para fora do país. Não dá nem pra falar em golpe, pois poucas horas depois já havia um presidente legítimo, escolhido pelo legislativo. Mais, a ação ocorreu dentro da Constituição de Honduras; foi uma ação extrema, porém democrática. É claro, tudo pode degringolar. Mas se não houvesse intervenção, então tudo degringolaria com certeza, a exemplo do que ocorre na Venezuela ou Bolívia.

A única coisa que me espanta é saber que ainda há homens com coragem no mundo. Ainda que sejam uns hodurenhos um tanto irrelevantes, dá certa esperança.

domingo, 28 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 2008



Acho meio bizarro esse ser o primeiro álbum desta banda. Ao mesmo tempo em que as músicas são bastante complexas, elas são tocadas e cantadas com toda a naturalidade do mundo. Parece requerer uma banda muito entrosada para isso. Em várias passagens os músicos todos ou quase todos cantam, dando a impressão de ser um coral de igreja. A comparação é boa, pois a banda passa um clima de cidade do interior norte-americana coberta de neve e que tem no coral da igreja a grande atividade. Apesar das guitarras elétricas aparecerem aqui e ali, o álbum tem um quê de intemporal. Parece uma mistura de rock com músicas dos séculos passados. Eles mesmos descrevem suas músicas como “jams pops com harmonia barroca”. Talvez o rock esteja fazendo as pazes com a tradição musical e cada vez mais é incorporado por esta. Talvez não. Não sei se o álbum aponta para o passado ou para o futuro. Sei que gosto muito dele.

sábado, 27 de junho de 2009

Michael Jackson foi uma espécie de Stevie Wonder dos anos oitenta. Tinhas umas músicas bregas misturadas com umas músicas legais. Mas as músicas bregas do Stevie me parecem mais aceitáveis e as mais legais do Wonder são mais legais que a do Michael. Sei lá, nunca curti muito o Michael não. Mas para não dizerem que eu não falo de atualidades, vou comentar aqui o fim da exigência de diploma para jornalistas. É claro que sou a favor. Os jornais que contratem quem quiserem para escrever e as pessoas que comprem os jornais com os jornalistas quem mais forem do seu agrado – com diploma ou sem. De qualquer outro modo é uma afronta à liberdade de expressão. “Ah, mas então o que eu vou fazer com meu diploma de jornalismo?” Que tal enfiar no [censurado]? Se a faculdade de jornalismo vale para alguma coisa, é claro que as empresas preferirão contratar jornalistas formados. Mas se a faculdade de jornalismo é tão ruim a ponto de não haver diferença entre um jornalista diplomado e outro sem, então é óbvio que não faz sentido instituir uma lei que obrigue as empresas a contratar apenas jornalistas diplomados. Se concordamos que não há relação entre ser bom jornalista e ter mais de um metro e oitenta de altura, por que exigiríamos jornalistas com mais de um metro e oitenta de altura? Se não há relação entre ser bom jornalista e ter um diploma, por que exigiríamos o diploma? “Ah! Mas você só fala isso porque não é jornalista?” Que nada! Não vejo problema com algo parecido na filosofia. Que seja desnecessário qualquer diploma pra dar aula em faculdades ou escolas. O único critério justo é se a pessoa sabe mesmo filosofia ou não. Seria ótimo, aliás. Desse modo, o autodidata Olavo de Carvalho poderia dar aulas de filosofia nas faculdades e, não tenho dúvida, seria bem melhor do que a maioria dos atuais professores diplomados em filosofia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1971





São quase setenta e quatro minutos de músicas em sete faixas. Estamos em setenta e um, não dá para dizer que o progressivo não passou por aqui. As músicas têm um caráter experimental evidente, os solos de guitarra são abundantes. Mas eu te garanto: é legal. É rock. Nada de firula, “Tago Mago é uma raridade do começo dos anos setenta, um álbum duplo sem uma nota desperdiçada” (Ned Raggett). A extensão das músicas consegue criar um clima ensolarado, forte, algo violento. As batidas são fortes, contagiosamente dançantes. Há nelas um prenúncio do que seria a música eletrônica (especialmente em “Halleluhwah”). Há um claro elemento sexual nos ritmos e nos vocais, em especial na faixa “Oh Yeah”, onde os sons parecem descrever primeiramente um bom amasso, depois sexo e depois gozo. Apesar de grandes, as canções não se perdem em momento algum, qualquer uma delas poderia tocar numa boa estação de rock.

Quer dizer... Originalmente esse é um álbum duplo. O que acabo de descrever aqui foi o primeiro álbum, porque no segundo... Bem, no segundo tudo o que posso dizer é que os caras exageraram no ácido. Com exceção da última faixa, o que há ali é barulho. Mas a primeira metade é tão boa que perdôo a maluquice da segunda parte.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1974




Brian Eno é, sem dúvida, um dos personagens mais importantes e mais influentes da música pop. Vemo-lo no começo de carreira como membro da banda Roxy Music. Entusiasta da então nascente música eletrônica, Eno era o responsável pelos teclados, sintetizadores e pelo acabamento final das canções do grupo. Hoje em dia ele ainda grava seus álbuns e é, talvez mais do que nunca, uma influência decisiva para boa parte das bandas alternativas. Deve-se confessar, contudo, que sua influência é nefasta. Eno é fundador de todo um gênero musical: a música ambiente. Isso mesmo que você leu. Um de seus álbuns chama-se Music for Airports. É, portanto, uma espécie de pai de bandas e artistas que nunca consegui entender como se pode gostar sinceramente deles. Além de pioneiro da música eletrônica e criador de todo um gênero musical, Eno elevou a arte de produção de álbuns a patamares nunca antes vistos. Vários artistas o procuraram com a intenção de gravar um “álbum Eno”. Já trabalhou com David Bowie, David Byrne, U2 e outros.

Here Come the Warm Jets é seu primeiro álbum solo. É sem dúvida um álbum de rock. Mas vemos aqui o Eno eletrônico e experimental do Roxy Music, e também o Eno futuro produtor. É um rock de estúdio, podemos chamar assim. Um pai ou avô do OK Computer. Mas o Eno ambiente está longe daqui, graças a Deus. Pode ouvir sem medo. É um álbum muito bom e criativo, Eno mostra que sabe cantar com vontade e alegria, os efeitos eletrônicos não são datados e enriquece suas canções – que já seriam ótimas sem tais - com toda espécie de detalhes. Eno pode ser bem estranho às vezes, mas é, sem dúvida genial. Esse álbum foi gravado em 73/74, tem efeitos eletrônicos, é experimental, em algumas músicas ele abusa mesmo da estranheza, mas em momento algum o álbum é datado. E, bizarramente, é um álbum muito fácil de gostar e apreciar. Todas as músicas são boas e tem seu charme. Eno sabia o que estava fazendo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

É claro que Lula continua falando merda. Eu é que já não tenho saco para acompanhá-lo. Se querem mesmo saber da última, procure a declaração dele em que compara os protestos no Irã ao xororô depois de um Flamengo x Vasco. Ao invés disso, vou citar Nietzsche:

“Mas o que Heráclito queria evitar, também nós queremos evitar: o ruído e charlatanismo democrático dos efésios, a sua politicagem, as notícias do “Império” (quero dizer a Pérsia, já se entende), porque nós, os filósofos, necessitamos de algum descanso. Nós veneramos tudo o que é tranqüilo, frio, nobre, longínquo, passado, tudo aquilo cujo aspecto não obrigue a alma a defender-se e guarnecer-se, tudo aquilo a que se pode falar, sem elevar a voz.”

Sim! É isso mesmo Nietzsche. Tenho que concordar com você dessa vez. Aliás, para ser completamente sincero, um dos motivos que não gosto muito de você é que você vive elevando o seu próprio tom de voz. Seus defensores então! Gritam no megafone. Mas não ligue para mim, Nietzsche. Continue, por favor:

“Basta ouvir o timbre de uma voz: cada espírito tem o seu timbre. (...) Vede este outro que fala rouco: será por ter constipado o cérebro à força de pensar?”

Mas deixemos de lado o Lula. No fim, ele é apenas o presidente do Brasil, que importância verdadeira pode ter? Realmente assustador é o discurso do presidente norte-americano. Vejam só o que Obama disse sobre os protestos no Irã:

“ ”

Saudades de Bush.

Into the Wild 3.5/5

Há dois elementos heterogêneos no personagem central que aparecem permanentemente unidos. Um deles é interessante, o outro, ruim. Um deles impulsiona o lado bom do filme, o outro o mau.

Como nas piadas, começo pela notícia boa. O que há de interessante na figura de Cristopher McCandless é o seu lado profético, seu desejo de vazio, de paisagens inumanas, sua busca pelo Alaska, pelo seu deserto. No filme há uma metáfora para caracterizá-lo: ele era como um cristal; sua pureza (e, portanto, sua beleza, seu interesse) e sua fragilidade tinham a mesma causa, brotavam como que da essência dele. Ele é forte, decidido, grandioso, sério, sonhador. Há uma força interior que o motiva, que o impulsiona, muito maior que a minha ou da maioria das pessoas. Tudo isso o levará a uma pequena, mas verdadeira tragédia.

Mas como ignorar o lado bobo de Cristopher McCandless? Esse lado pode ser resumido numa única sentença: ele viveu no fim do século XX. Ele viveu após os hippies, os esportes radicais, o desejo pelo contato excitante com a natureza. Apesar de haver uma força que o impele e que ele não pode controlar, ele próprio não é forte o bastante. Ele está abaixo dessa força, ele não a compreende, ele está desorientado. McCandless deixa o lar após descobrir uma grande falha de seu pai. Só alguém com uma grande força moral poderia fazer isso. Em choque começa a percorrer os EUA e passa a desejar o Alaska, um lugar grande e vazio, sem ninguém por perto. Nessa busca, porém, encontra várias pessoas, e quase todas elas não são melhores que seu pai. A única exceção, me parece, é o velho do final. Não obstante, faz amizade com elas, demonstra interesse. Em nenhum momento vê-se um julgamento, nem mesmo interior, nada. Cadê a severidade inicial? É um profeta sem um Deus, sem uma causa. A humanidade não lhe irrita o suficiente, nem tem um espírito metafísico, nem crê em um deus que o permitirá amar a humanidade, que o permitirá voltar do deserto como um santo e não como um simples misantropo. Pelo contrário, o deserto parece ser seu fim, não um instrumento purificador. No fim das contas, parece apenas que ele é alguém que gosta de estar em contato com a natureza e que foi para o Alaska por diversão e, talvez, maltratar um pouco a família. Nada contra, mas é um motivo meio bobo para um filme, não?

Sejamos justos, em nenhum momento confundimos Cristopher com os hippies e desajustados que ele encontra pelo caminho. Ele parece sempre superior a eles. Ele os escuta, ouve seus conselhos. Mas o que ele tem para dizer aos hippies, aos desajustados? Nada. Em que consiste essa superioridade? Não se sabe. Que mensagem ele quer nos dizer? Não se ouve. Ele parece simpatizar com essas pessoas. Por que ele é tão severo com sua família e tão amigo dessas pessoas? Cristopher não tem a universalidade do profeta, condena as ações desigualmente e seu critério é apenas o tanto que tais ações lhe afetem. Se não o afetar, ele não está nem aí. Enfim, ele é uma pessoa comum, com seu egoísmo comum. Não é um profeta.

Assim vemos Cristopher trabalhar duro como peão numa fazenda para ganhar um dinheirinho e, quando o consegue, simplesmente o dispensa. Uau!, pensamos, que força! que vontade! que personalidade! Mas logo à frente o vemos num caiaque desafiando a correnteza de um rio. Dá a louca nele: quero conhecer o México. Ele vai. Mas o que faz lá? Não se sabe, foi ver a paisagem, decerto. Depois vemos ele no Alaska. Há de fato espiritualidade ali? Vemos ele passar dificuldades, fome, morrer. É sem dúvida alguém com uma grande disciplina, uma grande força de vontade. Mas em nenhum momento aparece Javé, em nenhum momento uma voz lhe pergunta: “O que você está fazendo aqui, Elias?” Há uma pretensão em fazer daquilo uma jornada espiritual, mas o que nos é mostrado não passa de um passeio turístico mal-sucedido.

domingo, 14 de junho de 2009

Lembram-se daquele povo que se alimentava de luz? Por onde anda agora? Ah! seus céticos! Eu acredito, é claro. Há tanta coisa esquisita no mundo. Mais uma não me espantaria. E depois eles eram sempre tão magros, deve ser verdade. Porque luz não engorda, vocês sabem, luz é light. Será que é gostoso comer luz? Deve ser quentinho, ao menos. Talvez caramelada ou com sal, ou salpicada de uvas passas, ou misturada com rum branco, gelo e limão (alguns filisteus misturam com vodka, não entendem nada), luz defumada fatiadinha com queijo provolone, champignon e salaminho numa pizza, salada de fruta e luz, bolinho de luz (a especialidade da vovó). Eu sempre filava o sanduíche de luz, aspargo, alface e maionese que um colega meu trazia para o recreio. Mas o tradicional mesmo é o suco de luz com clorofila. Eu prefiro a luz incandescente, acho o gosto da fosforescente meio artificial, sei lá. Não se come luz no Ramadã. Uma pena, pois isto impediu os mulçumanos de serem fosôfagos. Uma coisa boa da fosofagia é que é fácil. Se você estiver com fome, basta ir até o quintal de sua casa, deitar no chão, abrir a boca e comer o sol. E o melhor de tudo é poder pegar um bronze enquanto almoça.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 2005



Uma vez, pesquisando coisas sobre o Animal Collective na internet, descobri que o Panda Bear, um dos líderes da banda, era formado em religião. Estranho, não, um roqueiro formado em religião? Qual foi então minha reação? Surpresa? Espanto? Nada disso, foi um eu já sabia! Ouvindo esse álbum, relacionava-os com místicos medievais dizendo “Eu quero tudo! Eu gosto de tudo! EU AMO TUDO! Eu quero mais tudo!” As músicas são de uma energia e alegria impressionantes, e há vários momentos em que eles parecem querer colocar todos os sons possíveis, tudo de uma vez, numa explosão um tanto mística. Talvez o álbum todo possa ser sintetizado numa frase gritada em The Purple Bottle: Silence is a bore! Não é à toa que a capa desse álbum contém um tanto de crianças. À sua maneira, esse álbum é também uma criança sempre correndo, sempre fazendo algo, agitada de uma maneira incompreensível e inacreditável. Se você olhar a estrutura do álbum verá lá, são nove músicas, mas a terceira, a quinta, a sétima e a oitava faixas são como intervalos. Não que sejam más músicas (pelo contrário, são prazerosas como uma boa dormida), mas são intervalos em que se descansa, como crianças que dormem logo que ficam quietas. É que o corpo não agüenta tanta alegria, tanta emoção, tanta novidade... é preciso descansar também, dormir; por que amanhã tem mais.

É comum ouvirmos grandes álbuns com músicas melancólicas ou mesmo depressivas. Há também várias grandes bandas agitadas, com som animado. Alguns outros são mesmo histéricos. Mas verdadeiramente feliz? Só conheço o Animal Collective, nesse álbum e no posterior, o também ótimo Strawberry Jam. Nesse ele canta o amor, no outro a infância. Mas a comparação com a criançada ainda se mantém, pois o amor deixa todo mundo meio criança, não? É como se descobríssemos o mundo de novo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1985




“Inclassificável”; eita palavrinha para aparecer em resenhas de álbuns. Mas creio que se houvesse uma lei que permitiria o seu uso apenas uma única vez em resenhas, ela seria usada para caracterizar o Sr. Waits.

Por que convenhamos... o que é isso? Isso não é rock, não é jazz, não é tango, não é folk, não é blues. Talvez o mais próximo de uma classificação possível seja “música de bêbado”. Parece que estamos num filme antigo, em techinocolor ou preto em branco e entramos numa taberna. Há uma briga ao fundo, na sinuca, e, ao lado, um bando de marinheiros canta músicas; as felizes são cantadas em coro, as tristes por um único marinheiro, e as músicas que eles cantam são as desse álbum. E de que ano é isso? O título do post indica a data certa, mas se não o soubessemos como advinhar? Não há nenhuma dica... poderia ser de 65, 85, 2009, poderia ser de 2085 e há algumas músicas que, se transferidas para uma versão acústica, poderiam passar tranqüliamente por uma coletânea de canções búlgaras do século XVII. De certo modo é como se o álbum tivesse criado uma nova categoria de música que não foi seguida por ninguém mais, toda uma infinidade de sons a percorrer e que nunca serão percorridos. O mais legal é que, apesar de toda esquisitice, o álbum é bem acessível. Dá até para dizer que as músicas foram feitas para se cantar junto.

A maioria das músicas desse álbum é genial, mas vou ter que destacar uma em especial, que é uma de minhas preferidas de todos os tempos: Tango till they’re sore.
Há uma certa idiotia geral contaminando cada pedaço do espaço público no Brasil. É tanta idiotia que, sinceramente, não consigo acompanhar. Não tenho nem a velocidade nem a força necessária.

Isso é bem exemplificado pelas últimas falas do infeliz Minc. Tudo começou quando esse boçal subiu num caminhão para discursar e chamou os agricultores brasileiros de “vigaristas”. Isso gerou uma onda de protestos da chamada bancada ruralista no congresso. A isso ele respondeu:

“O fato de os ruralistas estarem preocupados com a minha permanência do ministério me faz achar que estou no caminho certo”

E logo depois zurrou isso:

“Que me conste, o Brasil é comandado pelo presidente Lula, e não pelos ruralistas. Alias, se tivesse sendo comandado pelos ruralistas, não ia ter Bolsa Família, ia ter Bolsa Latifundiário”

Minc é simplesmente um sem-noção, um cego, alguém que entendeu tudo errado a vida inteira e agora está velho demais para mudar ou mesmo reconhecer o erro. Ao comprar briga com um setor de vital importância para a economia do Brasil, e comprar briga não contra um comportamento desse setor, mas contra a natureza mesmo desse setor composto por “vigaristas”, por bússolas que apontam para o sul, egoístas interesseiros e, vileza das vilezas!, não apoiadores do programa bolsa-família e do governo Lula, Minc apenas demonstra como a cegueira ideológica pode fazer alguém ultrapassar os limites da estupidez humana, tornando-se assim uma espécie de super-idiota, alguém cuja burrice só pode ser explicada por super-poderes ao contrário.

Vejam, o debate entre agricultores e ecologistas sobre a limitação do que pode ser desmatado na Amazônia e sobre que condições isso deve ser feito é um debate seriíssimo, dificílimo e importantíssimo tanto para a agricultura, economia e ecologia do país. Merecia, portanto, um defensor do lado do meio ambiente mais preparado.

Quando se desqualifica o adversário, como fez Minc, dizendo que a contrariedade de tal setor é sinal de acerto, você está negando o debate. Você está dizendo, com todas as letras e acentos, “Eu estou certo, vocês estão errado. Calem-se e cumpram minhas ordens.” O viés autoritário é expresso pelo “o Brasil é comandado por Lula”. Não é não. O Brasil é presidido por Lula, o que é bem diferente. Quem governa o Brasil são as leis. Isso aqui ainda é uma democracia, senhor-tão-amigo-da-natureza-que-virei-uma-anta.

Isso é péssimo, pois o assunto merecia uma discussão melhor. E é péssimo para a própria causa de Minc, pois o senado aprovou a regularização das terras, ao contrário que queria o Minc. É o que acontece quando se é um idiota completo, um estúpido de primeira grandeza: perde-se, perde-se e perde-se. Se não se entende como funciona o jogo, se não se sai de sua ideologiazinha em que se auto-diviniza e se demoniza os adversários, em direção a complexidade da realidade, ao fato dos dois lados possuírem suas razões, que o assunto deve ser devidamente discutido e analisado, é óbvio que o sonhador seguirá seu caminho distraído até bater com o nariz num poste ou despencar num abismo.

E o elogio a quem merece, ainda que elogiar político é pedir pra queimar a língua. Num governo de idiotas, para idiotas e pelos idiotas, o simples bom senso brilha como o Sol. Se hoje a decisão de quem botar na presidência do país coubesse apenas a mim, seríamos governados pela senadora Kátia Abreu dos Democratas. Não acompanho assim o noticiário, mas ela sempre parece estar no lugar certo, com o discurso certo. Não foi diferente agora. Num discurso que vi pela tv ela nos disse que se Minc saísse do governo não se sentiria falta dele, mas que se o setor agropecuário abandonasse o país estaríamos todos lascados.

Eis o simples bom-senso que no meio de tanta idiotice fica até parecendo algo genial. Eis uma pessoa que entendeu o papel do político numa democracia-liberal. Sua função é a de representante, não a de comandante, como imagina o pobre do Minc. Não é que Minc ou Kátia Abreu sejam menos importantes que o setor agropecuário ou qualquer outro agrupamento social. É simplesmente que a importância que Minc e Kátia Abreu possuem derivam única e exclusivamente do setor agropecuário ou de um outro grupo social. Sem a importância do representado por trás, eles não são mais que simples cidadãos, ou, se com algum poder, tiranos. Portanto, um ataque contra a natureza de um grupo social da importância dos agropecuários é simplesmente uma má compreensão do papel do político, do papel do povo, do papel da democracia.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Arg... A última idiotice proferida por esse ser lulesco que governa o país (sério mesmo, acho que faríamos mais negócio se uma lula de verdade governasse esse país) não é só uma palhaçada, uma estupidez, mas é mesmo algo nojento, repugnante. Ainda bem que o Reinaldo já tratou do tema, porque essa declaração é daquelas que se ficamos muito tempo debruçados sobre ela, escrevendo um texto sobre, o fedor desprendido de sua podridão moral seria capaz de fazer qualquer um ter uma crise convulsiva seguida de vômito e paralisia das funções vitais. Segue texto do Reinaldo de Azevedo:



“ 'Um país que acha petróleo a 6 mil metros de profundidade pode achar um avião a 2 mil'.

"Quem disse a pérola acima? Luiz Inácio Lula da Silva, ele mesmo, lá da cidade da Guatemala. Como se vê, aproveita-se de uma tragédia para fazer uma peroração nacionalista.

"Daqui a pouco, Lula vai se jactar do fato de que nenhum outro país gasta tanto dinheiro como o Brasil para combater a dengue. Não sei se vocês atentam para a ironia da coisa. Ele já se orgulha de o Bolsa Família crescer em vez de diminuir. Assim, quanto mais dengue e mais miséria, mais Lula estufa o peito. Eis um homem que vê nas tragédias uma janela de oportunidades. Santo Deus!

" 'Ah, mas a sua popularidade é de 180% segundo o Instituto DataEstupidus…' E daí? Isso não faz de um erro um acerto. A frase é de um oportunismo asqueroso e vulgar.

" Assim como ele gosta de sujar a mão de óleo em plataforma da Petrobras, deveria ir lá imprimir as digitais nos destroços: 'Nunca antes nestepaiz se cuidou tão bem de uma tragédia aérea'.

"Se Lula não existisse, não precisaria ser inventado".

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Vamos ao trabalho. Isso não tem fim. Todo dia aparece petista dizendo abobrinha. Ocorreu hoje no Piauí. Uma barragem se rompeu e destruiu um vilarejo matando sete pessoas. O governador Wellington Dias, do PT, colocou a culpa no aquecimento global. “Não pode ser normal chover 149 milímetros em algumas horas quando a média anual nessa região é de 700 milímetros” disse o infeliz.

Meu Deus, que preguiça. Mas isso tem que ser combatido, pois é uma idiotice freqüentemente proferida.

Quem fala uma merda dessa, assim para todo mundo ouvir, não é apenas um idiota, mas sofre de algum tipo de perturbação mental e de charlatanismo congênito e incurável. Daqui a pouco aparecerá alguém dizendo algo como “Os mais velhos hão de lembrar, na década de 70, antes do aquecimento global, a temperatura era sempre constante. Fazia vinte e cinco graus todos os dias, todas as horas, a todo momento. Mais ainda, caia uma chuvinha fina, constante e eterna, pois a chuva também era sempre constante e média. Foi o Aquecimento Global que inventou as variações de temperatura! Depois esses malditos-capitalistas-que-querem-destruir-o-mundo inventou que havia variação de temperatura desde sempre. Livros como “Vidas Secas” e “O Quinze” são farsas montadas na década de noventa, pois não havia antes da década de 70 fenômenos como a seca! Não havia irregularidades climáticas! Também é farsa a tese de que a Terra passou por períodos conhecidos como era do gelo! Dançando na chuva é uma montagem mal-feita! Todo mundo sabe disso!”

Na boa, vão catar coquinho.

Qualquer ser minimamente inteligente sabe que irregularidades no clima sempre existiram. Assim sendo, uma pessoa séria e que acredite na tese do aquecimento global antropogênico, deverá sempre se perguntar diante de um evento climático anormal, como, por exemplo, essas chuvas da região norte-nordeste: será que este é um evento causado pelo aquecimento global ou será que não tem nenhuma relação?

Bem, assim seria o caso se o aquecimento global antropogênico fosse uma tese científica. Mas o aquecimento global antropogênico não é uma tese científica. É uma tese meramente política. Chega-se a essa conclusão ao observar casos como esses. Se a tese do aquecimento global antropogênico fosse científica, quando um político qualquer falasse uma merda dessas, a comunidade científica iria chiar: “Por acaso, doutor Wellington, o senhor é um cientista e a gente não sabia? Mostre-nos seus artigos científicos. Como chegou a essa conclusão, assim, de maneira tão inequívoca, de que essas chuvas tem como causa o aquecimento global?”

É engraçado, quando digo que não creio na tese do aquecimento global antropogênico, as pessoas me olham estranho, como se eu fosse um inimigo da humanidade e comentam invariavelmente “Você está falando merda. Você não é cientista. Com que autoridade pode criticá-la?.”Deixo para lá o fato de que vários cientistas negam o aquecimento global antropogênico. O que acho engraçado é que eu não posso dar minha singela opinião sobre a farsa do aquecimento global numa mesa de bar, mas um idiota como esse governador retapanguas do Piauí fala uma merda dessas na imprensa, depois de uma tragédia, e não aparece ninguém para perguntar: “você por acaso é um cientista? Então cale essa maldita boca!”

E os cientistas não aparecem por uma única razão. É do interesse deles que suas teses caiam assim no gosto popular a ponto de idiotas depravados acharem super cool e intelectual praticarem essa meteorologia selvagem. E é do interesse deles porque não estão interessados na verdade nem na ciência, pois, se estivessem, essa meteorologia selvagem seria prejudicial a suas teses. É do interesse deles, pois isso convém ao seu projeto político.

Enquanto isso a diretora da Empergi nos informa que a represa tinha “seis fissuras em suas paredes que todos os anos eram preenchidas com concreto”.

O aquecimento global é bom porque isenta os políticos da responsabilidade, mas é melhor ainda porque transfere essa mesma responsabilidade para algo intangível. Afinal de contas, o que o governador do Piauí pode fazer quanto ao aquecimento global, não é mesmo? Já quanto às fissuras na parede de uma represa... Essas coisas concretas, antigamente, eram o trabalho e a preocupação dos políticos. Hoje em dia eles existem para palpitar sobre coisas que estão completamente além de sua capacidade.

Melhores Álbuns - 1970




Ah! O álcool! Esse grande benfeitor, esse grande amigo da humanidade. Bebendo-o abaixamos nossas exigências, tanto em relação ao outros como com nós mesmos, e isso permite uma socialização melhor, mais azeitada, maior diversão. Este álbum é o Velvet durante uma boa noite de biritinha. Lembro-me que talvez a maior decepção musical que tive foi ao ouvir o primeiro disco do Velvet, aquele da famosa capa com a banana de 67. Esperava muito e no entanto achei-o sem sal, chato, construído a base da inteligência fria, sem emoção alguma para ser uma boa banda de rock. É até hoje minha impressão dessa banda tão aclamada por todos. Esse álbum, no entanto, me faz ver que o errado na história sou eu e não o mundo (o que é um fato bem estranho e peculiar, não acham?). Uma banda capaz de fabricar essa maravilha não pode ser ruim como acho. Mas talvez seja só umas biritinhas a mais que eles tomaram. Na verdade havia uma intenção declarada de fazer um álbum carregado de sucessos radiofônicos (daí seu título). Conseguiram. Em suma, é um álbum feliz, sem grandes expectativas e pretensões intelectuais, provando que poderiam fazer muito bem o que a malta queria, sem se venderem no processo. Destaque para as três canções iniciais: Who loves the sun, Sweet Jane e Rock & Roll, e também para a última: Oh! Sweet Nuthin.