terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Provavelmente um post despedida de 2008! Ano que vem tem mais!

007 - Quantum of Solace (2008) - 7.1
Desligando dos clichês de filme de ação (o filme começa com uma perseguição de carros, segue com uma perseguição de barcos e quando você acha que acabou... uma perseguição de aviões!) dá pra se divertir tranqüilamente. Gosto da cena do Bond bêbado.

O banheiro do papa (2007) - 0.9
Lembraa de O Poder e a Glória de Greene. É tipo isso, mas se o Greene fosse ateu e retardado. Não, se ele fosse anencéfalo. Cara, é muito ruim. Só não ganha 0.0 por conta do inicio. Aliás é tão comum isso né? Filmes com um início decente, ao menos. Tais diretores deveria fazer curtas com um monte de cenas iniciais, seriam muito melhores. Meu Deus, mas que final foi esse? Caramba, um dos finais mais involuntariamente engraçados da história do cinema.
Queime depois de ler (2008) - 9.0
Que fazer se você produziu um filme que vence todo tipo de festival? Os irmãos Cohen apostaram numa comédia simples, sem pretensão. Achei melhor que o premiado. Diversão garantida.
Vicky Cristina Barcelona (2008) - 8.0
Filme bonito e pá. Na hora de dar a nota tava com a beleza nos meus olhos, sei lá. Porque esse filme é um filme bunda. Ô filme bunda. Moral do filme: cada um é cada um. Poxa, Allen, você consegue mais hein? Um dosp iores dele. Hoje daria uns 7.
3:10 to Yuma (2007) - 6.6
Aprendi uma palavra nova em inglês com o filme. Um crítico disse que o final dele é ludicrious. Concordo, é mesmo. Ele disse outras coisas, que o filme é fiel ao original, mas sem a intimidade do primeiro fica inverossímel. Nunca vi o original, mas concordo.
Sombras (1959) - 8.6
É divertido. O filme é improvisado, parece. O roteiro, tudo. E, por incrivel que pareça não é artificial. Cenas improisadas quase sempre são artificiais. Enfim, essa improvisação dá vida ao filme e você se diverte e pá. Gostei. Hoje talvez desse só uns 8, mas me diverti.
A banda (2007) - 9.0
Taí um filme subestimado. Demorei pra ver pois tenho preconceito com filme com mulçumanos. Já repararam que 90% dos filmes cults atuais se passam no oriente médio ou região ou tem vários mulçumanos, ou ao menos um mulçumano, ou ao menos uma citação do Alcorão, ou alguém comendo Tâmaras secas ou pelo menos um quibe? Mas esse filme é o contrário disso. É uma banda egípcia em Israel, mas poderia ser uma banda nordestina no Rio. Talvez haja alguma mensagem política escondida. Mas gosto de pensá-lo justamente com um filme anti-político. Eu gostei. E o filme nem pertuba com música árabe ruim.
O labirinto do fauno (2006) - 1.5
Dois filmes em um. Os dois ruins. Tem um filme de conto de fadas que ganha nota 6. Tem o filme político que ganha 0. Média 3. Mas o filme político ocupa mais tempo que o de conto de fadas, então vai para 1,5. Hoje daria 0,75 pela mistura bizarra, indigesta e sem sentido. Filme ruim da porra (desculpem-me ladys, não consegui segurar e minha tecla “delete” tá emperrada). Não, é sério.
Hiroshima, meu amor (1959) - 8.4
Esperava mais, pra falar verdade. O Começo é muito bom e e tal. Mas depois fica meio cansativo. E o filme só tem 90 minutos. Enfim, é muito francês pro meu gosto, um casal falando sem parar, falando e falando. Como diria Lulu meu primo, é o filme de pessoas peladas conversando e comendo maçã.
Star Wars: The Clone Wars (2008) - 1.5
É tipo esses desenhos que passam de manhã. Só que grande, muito grande. E é desenho em que os personagens diz “oi, tudo bem?” trocando apertos de mão. Desenhos em que os personagens falam “oi, tudo bem?” trocando apertos de mão não prestam.

domingo, 16 de novembro de 2008

Estou indo para Curitiba. Os posts tendem a ficar mais escassos que o normal. Se é que existirão. Nessas horas é bom lembrar de Deus, Cristo, Maria, a patota toda, que é para pegar força e não fazer bobagem. Um mês passa rápido. Au revoir.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Está bem, deixando de ser pelinha um pouco, traduzo trechos de um texto de Thomas Friedman (seguindo a dica do reinaldão). Eis o lado bom da vitória de Obama (O original e completo está aqui: http://www.nytimes.com/2008/11/09/opinion/09friedman.html?_r=1&oref=slogin )
Mostrem-me o dim-dim
(...)
Para todos estes europeus, canadenses, japoneses, russos, iranianos, indianos, africanos e latino-americanos que estão enviando e-mails a seus amigos norte-americanos sobre a alegria de ter a “América de volta”, agora que Obama venceu, eu só digo uma coisa: “Mostrem-me a bufunfa!”.
Não me mostrem apenas o amor. Não me mostrem apenas sorrisos. Seus amores são inconstantes e, como eu dizia, durará apenas até o primeiro ataque aéreo de Obama contra uma posição da Al Qaeda no Paquistão. Não, não não, mostrem-me o faz-me-rir. Mostrem-me que vocês estão prontos para apoiarem Obama, que não são aproveitadores –que são apoiadores das caras e difíceis iniciativas da administração Obama de manter o mundo estável e livre no momento em que teremos menos fontes.
(…)
O presidente Bush, por ser tão facilmente demonizável, tornou fácil a tarefa de aproveitar do poderio americano – e os americanos pagaram o preço. Não será fácil fazer isto com Obama.
Assim, para todos de além-mar digo: obrigado por seus aplausos ao nosso novo presidente. Estou extasiado que todos vocês sintam que a “América está de volta”. Se vocês querem, porém, que Obama obtenha sucesso, não nos mostrem apenas amor, mostrem-nos o tutu. Mostrem-nos as tropas. Mostrem-nos os esforços diplomáticos. Mostrem-nos parceria econômica. Mostrem-nos algo mais que um belo sorriso. Porque a liberdade não é de graça e suas desculpas para fazerem menos do que são capazes está indo embora em janeiro“.
Ah, mas é que eu não consigo deixar de ser pelinha. Olha isso: http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPE4A901O20081110

Fiquei imaginando meu filho estudando na aula de história que Laura Bush disse "bom dia" ao casal Obama quando já era de tarde. Afinal de contas, se foi uma "visita histórica", deveria ser estudada nas aulas de História.

Tudo bem, estou sendo meio pelinha mesmo, o acontecimento tem lá seu interesse e importância. Mas que há exageros... Visita histórica à Casa Branca?! Acho que quando Obama for ao toilette pela primeira vez na Casa branca e fazer o tal número 2, leremos no jornal a manchete "Cagada histórica na Casa Branca", e embaixo uma matéria com fotos e comparações. Enfim.E vejam que o artigo não é de agência meia-boca não, mas da Reuters Brasil.

Ps. Estou meio bebo, perdoem erros e linguagem chula. Prometo, isso não voltará a ocorrer! Mais uma vez e me demito.

Ps2 Tentei justificar qualquer coisa de vergonhoso pelo ps e acabou que o ps foi mais vergonhoso que o post em si. Ia falar que todas essas justificações são ainda mais vergonhosas, mas achei meio vergonhoso dizer algo assim. Por isso termino num mui envergonhado ponto final.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Nunca vi nada igual. O Jornal da Globo terminou com a canção Beautiful Day do U2 e com imagens do candidato democrata, vencedor desta noite. Em vários jornais, antes durante e depois das eleições, jornalistas comentavam as votações não sem antes dar uma pequena demonstraçãozinha de “ei, eu sou Obama também!”. Vários repórteres brasileiros nos EUA disseram ter sentido algo diferente no ar, que as pessoas estavam mais felizes, que havia um clima leve. Vi uma repórter falar que sentiu esse clima no Brasil! Ouvi várias vezes algo como “aqui nesta reunião democrata está um clima festivo, alegre, descontraído, Confesso que me senti emocionado”. Os jornalistas pareciam todos darem as notícias de dedinhos levantados dançando uma marchinha carnavalesca imaginária. E os comentários? Esta foi a última batalha da Guerra de Secessão, agora os EUA viraram a página e começará a escrever uma nova história, as pessoas serão mais felizes, nunca mais teremos novas guerras, Obama é o cara que prefere ajudar países pobres a fazer guerras. É um fenômeno interessante. Não deixa de ter seu lado bonito. Mas também é bem triste. Triste porque é inevitável pensar na frustração de amanhã. Já escrevi aqui, preferia McCain, mas acho Obama um bom candidato. Mas para impedir tal frustração, “bom” não basta. Obama teria que ser o melhor presidente dos EUA de todos os tempos. E mesmo assim fico me perguntando se isso bastaria ou se seria necessário algo ainda maior. Reinaldo de Azevedo mais uma vez foi certeiro. Agora começa uma nova etapa: Obama não é mais um mito, um deus, um ideal. Ele agora é um pobre coitado feito de carne, osso e algumas idéias. Enquanto todos festejavam uma nova era (A queda de Roma, A conquista da Constantinopla, a Revolução Francesa e agora a eleição de Obama), a bolsa voltou a dar sinais de queda. Dow Jones caiu cinco por cento. Nasdaq cinco e meio. É a realidade, sempre muito comezinha, mesquinha, pequena a dar de ombros para a nossa euforia. E como prevê um post um pouco mais antigo do blog da Atlântico, quando esta festa acabar e a ressaca acenar, seremos nós McCainistas que defenderão Obama de muito de seus apoiadores atuais.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma das características mais irritantes da esquerda é a crença inabalável de que representam o futuro. Eles, os progressistas. Nós, os reacionários.
Ontem uma analista política falava na Record News. Não sei o nome dela, mas já havia visto seu rosto antes (acho que no Jornal da Globo). Mulher de meia idade, rosto redondo, pele bonita, cabelos castanho-aloirados cortados na altura do pescoço. Termina suas frases sempre num sorriso largo e simpático. Muito simpática ela. Não gosto de falar mal de pessoas simpáticas. A não ser, talvez, pelas costas. Então prossigamos.
O tema era a eleição nos Estados Unidos e ela falava de Obama. Obama tem idéias mais avançadas que McCain. Ela não especifica que idéias são essas e muito menos porque seriam mais avançadas. Para quê, não é mesmo? Não está claro para todos? Ele é democrata, McCain é republicano, isso- basta.
Em seguida ela diz, Obama está mais à esquerda de McCain. Mas devemos tomar cuidado ao dizer isso, pois o candidato mais progressista na eleição norte-americana ainda seria bem conservador aos olhos do eleitorado brasileiro.
A mulher é das analistas políticas mais importantes do país, vive aparecendo na TV, e, caramba!, não consegue somar dois e dois. Se ela é das melhores, imaginem o restante... Isso deve explicar porque muitos analistas políticos estão com Lula. A mulher não consegue ver a conclusão absurda a que os lugares-comuns da esquerda levam: se a esquerda é mais avançada que a direita e os EUA (e por que não dizer tudo? toda Europa ocidental) estão à direita do Brasil, podemos concluir que somos mais avançados que eles. Somos os EUA amanhã.
E depois a direita que é pessimista.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Rhobidelo VI - capítulo I

A conquista do deserto de Toias exigiu de minha parte medidas severas.

Transformei meu imenso Salão Principal em campo executório. Os inimigos capturados eram levados até lá, posto de joelhos, de frente a parede. Um tiro na nunca, seus corpos caiam desmontados, seus sangues e miolos decoravam as paredes, que nunca, por ordem minha, eram limpas. O fedor terrível, as moscas e outros insetos tornaram marcas características daquele salão. Era ali que recebia os líderes de estado e dava minhas festas à corte (que costumavam ocorrer durante as execuções).

Havia um único meio de um militar capturado não terminar morto. Deveria pedir clemência e jurar se tornar um súdito meu e nunca desobedecer a uma lei qualquer. A magnanimidade deve ser uma característica de todo aquele que se julga digno do nome de Imperador.

No começo, claro, muitos pediram clemência, se arriscaram numa travessia do deserto e voltaram às suas cidades que julgavam inconquistáveis. À medida, porém, que tais cidades foram caindo, esses traidores nojentos eram identificados. Sua pena era a morte perpétua.

Cada traidor era levado a uma cela individual, na qual toda luz era vedada. Amarrados firmemente a uma cama, seus corpos eram imobilizados. Um aparelho era colocado em suas bocas, impedido-os que se mordessem ou gritassem. Um médico aplicava uma injeção com soro em seu braço, lhe dava as costas e saiam da cela. Era a última vez que viam um ser humano, que viam qualquer coisa, aliás. O soro era potente e os jovens saudáveis demoravam em média vinte e cinco anos para morrer.

O líder de meus capatazes era Winkmol. Negro, mais de um metro e oitenta de altura, cento e trinta quilos de músculos e barriga. Homossexual ativo tinha permissão minha de violentar a quem quisesse e conseguisse. Era embaraçoso quando suas presas eram homens importantes, exigindo punições. Mas soube contornar bem essas situações. Esse fato, é claro, logo se tornou conhecido por todos de meu reino e espalhou com ele boatos que me eram muito úteis.

Rhobidelo VI - capítulo II

Depois de trinta anos de guerra, finalmente, Toias era todo meu. Toda aquela sangueira precisava terminar, era o que eu desejava; mas não sabia como. Primeiramente suspendi as execuções em meu palácio e ordenei a limpeza do Salão Principal. O sangue, porém, já havia se agarrado de tal modo às paredes de meu palácio que mesmo meus melhores químicos não sabiam o que fazer. Então mandei fechar aquele salão e construir outro, ainda maior. Mas alguns nobres me interpelaram para que não fechasse assim aquele salão de tão boas recordações, que ao menos se desse uma festa de despedida.

Ordenei então a última execução pública e os mortos perpétuos foram convocados para o papel de vítimas finais. A marquesa de Ceceri pediu a palavra e lamentou que as execuções estivessem suspensas, pois era de sua opinião que a alegria de beber e comer luxuosamente eram mais bem percebidas se o sofrimento alheio estivesse posto em contraste. Todos concordaram. Concedi então que os próprios nobres matassem os mortos. Os nobres avançaram contra os indefesos, torturando-os de todos os modos imagináveis, mas estes estavam já tão insensíveis que quase não ofereciam resistência. A alegria deu lugar a certa frustração e tédio. A festa estava fracassando, pensava, quando um de meus mensageiros chegou ao castelo e requisitou minha presença. A pena para quem requisitasse a presença do Imperador desnecessariamente era a morte e pensei que ele seria um bom substituto aos mortos. Mas as notícias que ele trazia eram, de fato, importantes. Ciate, a principal cidade-oásis do deserto de Toias, havia se rebelado. Dei minhas ordens e o despachei.

- Senhores nobres, trago boas novas! – disse eu ao voltar ao Salão Principal - Ciate se rebelou, em breve teremos mais execuções!

Rhobidelo VI - capítulo III

Vinte dias depois tudo era como antes. Os mortos não adentraram na vida eterna, mas voltaram à morte perpétua, sem demonstrarem alívio ou desespero. Os longos e delicados vestidos de nossas damas deslizavam no chão imundo de meu salão. Em breve a primeira leva de condenados chegaria.

Teuro, minha sobrinha participava de sua primeira festa na alta-sociedade. Era toda alegria e ansiedade. Repetia vezes sem conta que estava louca para ver as execuções, pois achava, há menos de um mês, que nunca as veria. Ela era o centro da festa, radiava a todos com sua animação.

Os condenados chegaram. Silêncio de expectativa se fez, como sempre. Esperavam pela minha ordem. Eu estava velho e cansado. Não pude ou não quis dar as ordens. Por quinze minutos o silêncio se prolongou. Então um dos condenados começou a ter um ataque e caiu no chão se debatendo. Foi Winkmol, o capataz, que perguntou:

- Vossa majestade me ordena iniciar?

- Faça o que quiser.

Como de hábito, Winkmol era o primeiro da fila da esquerda. Atirou na nuca de seu condenado e este ao cair no chão produziu um baque que era como se ordenasse o segundo disparo no condenado ao lado e este condenado, por sua vez, ao cair no chão, ordenava o terceiro disparo, e assim sucessivamente. Teuro dava seus gritinhos adolescentes de satisfação provocando risadas gerais, anulando assim o efeito de meu silêncio.

Rhobidelo VI - capítulo IV

- Serão enterrados em Toias, e nós dois participaremos da marcha fúnebre. – Disse eu a Winkmol.

Eram vinte e oito os mortos. Três carroças os levavam. Iam além deles e de nós um séqüito de soldados e um agrimensor. Cavalgávamos rumo a Inoxildtai, uma das primeiras a serem conquistadas, a mais segura das cidades do deserto. A viagem durou cinco dias e cinco noites.

Winkmol viajava a meu lado, fiz questão. Estava tenso, suava, olhava para os lados, para trás. Não nos dissemos uma palavra.

Por ordem minha paramos no portão da cidade. Winkmol ainda viu uma das carroças caminhar a oeste da cidade e se perder na direção do deserto. Descemos todos. Novamente o silêncio nos envolveu. Depois de 30 minutos a carroça voltava. Desceram todos dela, entre eles o agrimensor. Este me deu um sinal com a cabeça, como a dizer, trabalho feito. Fui, então ter com Winkmol, aproximando-me excessivamente deste e falando em seu ouvido (também sou um homem alto):

- Você fez o que quis com os condenados, agora carregue os mortos, suporte o peso deles. A cinco quilômetros a oeste está hasteada uma bandeira de meu reino. Enterre os mortos lá.

Afastei-me. Os lençóis das carroças foram retirados e uma pá lhe foi entregue. Sabiamente Winkmol começou pelo mais pesado, carregando em seu ombro um homem com mais de oitenta quilos. A cavalo, eu e mais ninguém o acompanhei em sua caminhada. Fazia muito calor e Winkmol caiu desmaiado no segundo dia, quando carregava o vigésimo morto. Faltava ainda um quilômetro e meio para chegarmos à bandeira. Desci de meu cavalo e arrastei Winkmol com meus próprios braços até lá e enterrei-o ainda vivo. Foi realmente cansativo. Sentei ao lado da cova recém-fechada por mim e apreciei o deserto conquistado, o sol a pino, o suor que grudava em minhas roupas. Acabei com a água de meu cantil. Esqueci-me completamente de tudo por não sei quanto tempo, até que um de meus soldados apareceu montado, no horizonte. Rapidamente desceu de seu cavalo, se apresentou e se curvou ao longe. Ordenei-lhe com gestos para que se aproximasse.

- Bom soldado, bom soldado. Receberá cinco mil ducados - dizia eu enquanto subia no cavalo que o trouxe.

Voltei a galope. Chegando, ordenei que alguns dos soldados ficassem e terminassem o enterro. Aos demais que voltassem comigo à capital.

- Não sei o que me deu. Temos uma guerra a ganhar e eu aqui perdendo tempo.

Todos riram de minha observação. Voltei com os soldados, cantando com eles.



sábado, 25 de outubro de 2008

O site da The Economist está realizando uma pesquisa entre seus leitores no mundo inteiro: se pudessem, em quem votaria nas eleições norte-ameircanas? A exemplo da eleição americana, quem forma a maioria num país leva todos os votos deste. Claro, Obama ganha de lavada: 8993 votos de colégios eleitorais mundiais contra apenas 278 do republicano. Claro, as deformações que são intrínsecas a tais tipos de pesquisa são óbvias para qualquer um. Mas há um ponto interessante, em que países McCain ganha de Obama? Macedônia, Geórgia, Argélia, Namíbia, República Democrática do Congo, Argélia, Sudão; e agora vem o mais interessante, os dois países em que McCain ganha com maior margem: Cuba, com 59%, e Iraque com massacrantes 75%. Eu diria que tais dados (desaprovação da política republicana em âmbito mundial e aprovação nos locais em que ela ocorreu) é um belo retrato da política externa americana atual.

Mais rankings

“Há por aí uma cambada de caras-de-pau que tem a ousadia de chamar esse verdadeiro pandemônio econômico em que vivemos de “Modelo Neoliberal”. E pior: há quem acredite nisso. Eu, que me satisfaço com pouco, ficarei contente no dia que o Brasil alcançar o estágio de país capitalista.”

Assim João Luiz Mauad abre seu último texto no Mídia Sem Máscara. Aqui: http://www.midiasemmascara.org/?p=321#more-321

Exagero retórico? Bem, para provar o que diz, João Luiz Mauad recorre ao último ranking do Banco Mundial acerca do ambiente para negócios entre os países. A posição do Brasil? Centésima vigésima quinta. Estamos atrás não só de antigos países comunistas (Rússia, Bósnia, Albânia), como de atuais países comunistas (China, Vietnã), assim como de gigantes do capitalismo (Butão, Paraguai, Etiópia, Uganda, Suazilândia) Eis a posição brasileira em cada critério avaliado: começar um novo negócio, centésima vigésima sétima posição; permissões para construção, centésima oitava posição; contratação de funcionários, centésima vigésima primeira posição; registro de propriedade, centésima décima primeira posição; crédito, octogésima quarta posição; proteção para os investidores, septuagésima posição; taxas, centésima quadragésima quinta posição; facilidade de negociar com o exterior, nonagésima segunda posição; fazer-cumprir contratos, centésima posição; e por fim, fechar um negócio, centésima vigésima sétima posição.

O texto de Mauad ainda vale a pena pela embasbacante história da ex-brasileira empresa H2Ocean.
O ranking se encontra aqui: http://www.doingbusiness.org/economyrankings/

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Essa é para quem acredita que vivemos numa democracia firme e consolidada. A ONG Reporters sans frontière publica anualmente um ranking de liberdade de imprensa entre os países. Qual a posição do Brasil? Octogésimo segundo lugar. Empatados com República Dominicana e Tonga. Atrás de gigantes como Guiné-Bissau, Albânia, Zâmbia, Qatar, Equador, Butão, Haiti, Tanzânia, Emirados Árabes Unidos e outros. E o que faz o governo brasileiro para mudar a situação? Esta lei estúpida e absurda que regula a propaganda eleitoral, seja na Internet, televisão ou jornal. Descerá bem mais no próximo ano por conta disso, não há dúvida (os dados do ranking não cobrem essa lei). O que mais assusta, porém, é a passividade do povo. Nenhuma reação. O que mostra bem que não valorizamos a democracia e os seus princípios. Só mais um dado: a Reporters sans frontière faz esse ranking desde 2002. E em 2002, último ano do governo FHC, o Brasil se encontrava na qüinquagésima quarta posição. Ruim, sem dúvida. Mas a melhor desde então.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Bujis Kelon, capítulo I

Em Bujis Kelon ninguém morre. Quer dizer, ninguém morre à nossa maneira. Ao invés disso as pessoas se tornam uma espécie de zumbis, animais em decomposição andando por aí com pedaços de carnes pútridas caindo no chão, deixando uma gosminha de lesma por onde passam. A consciência, no entanto, continua trabalhando normalmente. Esses zumbis são bastante nojentos e fedidos. Concordam comigo os “vivos” daquele mundo. Para evitar a convivência com esses seres monstruosos, convencionou-se enviá-los todos a Jomki, uma região onde eles ficaram agrupados até as décadas de 20 e 30 do século XIX, antes da expansão capitalista, quando o governo de Ruosi Esodi resolveu invadir aquela região e expulsar os zumbis aos mares. Um erro trágico.
Os zumbis perderam a guerra e deixaram-se levar, boiando, pela maré. Apesar de não poderem propriamente morrer, eles têm uma fortíssima necessidade psicológica de comer e respirar. Há histórias de zumbis que não sabiam nadar e vivem desde então um agonizante afogamento eterno. Sorte um pouco melhor tiveram aqueles que boiaram perdidos na imensidão do mar por décadas. Quase duzentos anos depois dos acontecimentos aqui narrados, encontra-se ainda quem esteve a deriva por todo este tempo. Os zumbis se alimentam de coisas em putrefação e cocôs, o que os tornam mais nojentos, não só pelo bafo, mas porque, desajeitados que são, deixam cair aquelas porqueiras nas roupas, nas barbas (depois de algum tempo, mesmo as mulheres zumbis são barbadas) e cabelos (a cabeleira dos zumbis é enorme, muitas vezes ultrapassando a altura do morto-vivo). Imaginem-se conversando com alguém com a boca suja de cocô. Então.
Nos primeiros anos que se seguiram a expulsão dos zumbis, tudo normal. Entre 1826 e 1839, Fursai du Magajhaun deu pela primeira vez a volta ao mundo à procura de novas terras e não encontrou nada além de pequenas ilhas desabitadas, a maior delas com dez quilômetros quadrados. Encontra-se no diário de bordo dessas viagens as primeiras descrições da assombrosa paisagem, comum desde então: cabeças de zumbis boiando na água, observando os barcos passarem, gritando com ressentimento e ódio contra os vivos insensíveis e insensatos.
Em 1847 Fursai du Magajhaun e sua tripulação embarcaram em sua segunda viagem marítima pelo mundo e nunca mais voltaram. Em 1849 um navio atracou no porto de Nastin e dois meses depois um outro no porto de Jonbia, ambos com marcas de tiros de canhão, ambos contando a mesma história: foram abalroados em alto mar por navios carregados de zumbis e, por sorte, não foram lançados ao mar. A partir de então tais histórias tornam-se comuns e várias embarcações nunca retornaram a um porto.
Em 1860 uma esquadra de navios de zumbis atacou o porto de Oshuen e roubou várias embarcações. Isso se tornou prática comum a partir de então e em 1917 todos os países já haviam desistido de suas esquadras.
O que ocorreu foi o seguinte: assim que o primeiro grupo de zumbis encontrou uma ilha, lá se instalou e começou a construir navios. Depois de feitas algumas embarcações, eles partiram em alto mar e recolhiam os pobres zumbis que por lá boiavam. Eles voltavam a ilha, faziam mais navios, voltavam ao mar, traziam mais zumbis e assim o número de zumbis na ilha crescia exponencialmente. Exploraram um pouco a região marítima, ocuparam todas as ilhas conhecidas, mas a madeira ia ficando cada vez mais escassa. Seria preciso agora conservar as árvores ainda existentes e esperarem as mudas crescerem novamente, o que demoraria cerca de trinta anos. Eles decidiram que esperar por aquele tempo todo era um absurdo, havia zumbis esperando por eles. Logo surgiu a idéia de roubarem os navios dos vivos. Como entre os mortos havia todo tipo de profissional, não foi difícil a criação de canhões e outras armadilhas para a tomada dos navios.
Por volta de 1925 os zumbis foram vistos no continente, recolhendo madeira. Depois de algumas escaramuças os zumbis prometeram deixar a terra dos vivos em paz, desde que o governo dos vivos se comprometesse na fabricação perpétua de navios que seriam doados aos mortos-vivos. E assim vem sendo feito até os dias de hoje.

Bujis Kelon, capítulo II

Não há nada mais temível que a morte Kelon Bujiusnu. Nada pode ser mais tão traumático. Imagine, você é um velho e sofre um enfarte. Depois de um tempo a dor passa. Médico, velho, parentes olham um para o outro “será que morri?”. Ninguém sabe. Apenas depois de uma doze horas de extrema ansiedade o corpo começa dar alguns sinais, ainda assim discretos, como o empalidecer da pele e o enrijecimento das juntas. De repente, percebe-se: “estou morto, não consigo mais cruzar as pernas”. É um horror. Então a família chora unida. Uma pequena festa é dada, o morto se despede dos amigos, dos filhos, da mulher e se vai.
A morte Kelon Bujiusnu, claro, proporcionou várias cenas e histórias famosas de mulheres, pais, mães, irmãos e mesmo amigos ou simples admiradores que acompanharam seu objetos de adoração a Jomki. Isto representa um sacrifício, pois a morte, depois de um tempo, torna-se altamente contagiosa. O principal meio de contágio é o visco que se solta da pele dos mortos, o que só ocorre depois de um mês do falecimento. Porém, os vivos não demoram nem mesmo uma semana para morrer em Jomki. Por alguma razão, os zumbis matavam todos aqueles que pisavam em Jomki. A principal suspeita é que não queria que os vivos voltassem às suas terras e contassem o que haviam visto ali. Muitos afirmam que o desejo de desvendar tal mistério foi o principal motivo da invasão de Ruosi Esodi. Em toda a história apenas o poeta Dastu conseguiu voltar vivo de Jomki e conta o que viu em seu mais famoso poema, muito belo e famoso por sinal, mas que não matou a curiosidade de quem achava que havia alguma coisa de mais misteriosa e sinistra em Jomki.
Quer dizer, assim era a morte Kelon Bujiusnu até 1821, ano da invasão do Ruosi Esodi. Depois disso a situação piorou. E muito. Enquanto as tropas Krotasocan (isto é, as tropas de Ruosi Esodi) marchavam em direção a Jomki, os novos mortos eram recolhidos num campo de concentração, localizado numa parte erma do país. Este campo de concentração existe até hoje e concentram-se nela os mortos Krotasocan de 1821 até 1838, sendo a maior parte composta de militares que morreram na invasão, também conhecida como a Primeira Guerra de Jomki. Há também outros campos de concentração de zumbis espalhados ao redor do mundo, com destaque para os campos de Osdoa, país que não permite que se atire os mortos ao mar. É bem provável que fale de Osdoa algum outro dia, quando relatar a Segunda e a Terceira guerra de Jomki.
Bastou, porém, cinco anos de ocupação do Jomki para o primeiro campo de concentração estar completamente lotado. Os mortos passaram então a ser jogados no mar. Eram levados em navios prisões e atirados no meio do oceano. Houve uma grande revolta da população mundial que amava seus entes queridos e se chocavam em vê-los sofrendo algo tão bárbaro. Mais que isso, temiam os vivos o seu futuro próximo e inevitável. Porém, não havia jeito, era preciso se livrar dos mortos e todas as terras já estavam ocupadas.
Por essa razão as cenas ternamente melancólicas dos enterros antigos com reuniões familiares e amigos homenageando aquele que se ia, cenas estas inspiradoras de vários dos belos poemas daquele mundo, foram substituídos por outras um tanto sórdidas e simplesmente revoltantes. Agentes do governo, vestidos com uma roupa protetora que lembra as roupas dos apicultores, invadiam as casas e retiravam a força os mortos dos familiares. Em outras, o morto implorava a família que o escondesse, mas esta o negava, ou então concordavam apenas por pouco tempo, antes de traí-lo. De qualquer modo o cheiro dos mortos-vivos os denunciava.
No meio da década de 50, com o recrudescimento dos ataques dos zumbis-piratas, o governo precisou achar um novo meio de atirar seus mortos ao mar. A solução criada foi a construção de uma catapulta gigante que atirava o morto a cerca de três quilômetros da costa. No entanto os zumbis voltavam, quer por saudade dos familiares, quer por rejeitar o mar como lar, quer por achar muito divertido aquele vôo de três quilômetros. Decidiu-se então que os mortos que voltassem tomariam uma sessão de cem chicotadas nas costas e, se novamente repetida a peraltice, seriam cortados os braços e as pernas do zumbi, fazendo com que estes se afundassem ao mar como pedras. Alguns zumbis não acreditaram no cumprimento das ameaças e voltaram a costa pela terceira vez; todos eles estão no fundo do mar agora.
Com a invenção dos aviões e helicópteros no século seguinte as catapultas foram deixadas de lado, muito embora alguns milionários excêntricos paguem uma pequena fortuna por esse tipo de viagem.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O simplório religioso comete um erro quando olha para dentro de si mesmo e conclui que é impossível ser bom sem a crença num sobrenatural a vigiar-nos.

O intelectual ateu comete o mesmo erro quando olha para dentro de si mesmo e conclui que é possível a todos ser bom sem necessidade alguma de um sobrenatural a vigiar-nos.

O intelectual ateu não só desacredita de Deus, mas crê que Ele é um mal a ser extirpado, um erro a ser esclarecido. O intelectual ateu deseja substituir a religião por uma moral – sem nunca, porém, especificar que moral é essa.

O intelectual ateu é apenas anti-religião, ele queria voltar ao ano 0, voltar à época em que não havia religião. Ele não é pós-religião, não é alguém que deseja pensar como seria o mundo depois da religião. Em suma, ele não deseja ultrapassar a religião, evoluir a algo superior, ele deseja aniquilá-la, deseja voltar a antes dela.

Então volto à questão: que moral, você, intelectual ateu, deseja colocar no lugar da religião?

Há muitas morais, dirá talvez o intelectual ateu, que cada um escolha a que convém. Convém então perguntar: e não podemos escolher a moral religiosa? Por que todas são permissíveis e só essa é vedada?

Mas isso ainda não chega ao fundo da questão. E o fundo da questão é que a religião e a moral, tal qual o intelectual ateu a compreende, não são a mesma coisa. O intelectual ateu pensa a moral como uma moral-filosófica. Mas a religião não é uma moral-filosófica. Ela é de um lado um pensamento filosófico-metafísico e de outro uma doutrina moral-prática.

E chegando ao fundo da questão chegamos também ao fundo do problema: a dificuldade de se substituir uma religião por uma moral não é porque haveria uma infinidade de morais possíveis, mas antes porque não há alternativa alguma. Não há uma moral-prática além da moral cristã no ocidente.

O que quero dizer com isso de moral-prática? É bem simples. A moral filosófica são essas abstrações acerca do que é o Bem e do que é o Mal. A moral-prática é a que vigora entre o povo, a moral concreta. E não há uma moral-prática ou uma moral concreta no ocidente além da moral cristã.

O intelectual ateu trocou a religião por uma moral abstrata e crê que seria possível converter todo o mundo a sua moral abstrata. Mas perdido em suas abstrações crê que todo o mundo são seus alunos ou companheiros intelectuais dispostos a gastar tempo (meses, anos) pensando sobre essas questões. Esquece, porém, que o todo mundo concreto é composto majoritariamente pela balconista Maria, pelo motorista José, pelo delegado Matias, enfim, por pessoas que bocejam se percebem dois substantivos abstratos empregados num único período.

E é por isso que todos esses ofensores contemporâneos da religião não apontam para o futuro, mas para o passado.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O PT não pára de nos surpreender. Negativamente, é claro. Numa chamada da propaganda política de Marta Suplicy pelo segundo turno da eleição da cidade de São Paulo, faz-se a pergunta: Kassab é casado? Ele tem filhos? Como em ambos os casos a resposta é “não”, cabe perguntar: meu Deus, mas que raios de perguntas são essas? A única resposta possível é a insinuação de que a sexualidade do conservador Kassab não é tão conservadora assim. E vejam bem, não estamos falando de qualquer candidato petista, mas de uma figura nacional que se tornou conhecida justamente por ser uma suposta defensora dos homossexuais. Incrível, é baixo demais! Desde o primeiro mandato concordava com Mainardi, o PT é só a pior parte do PMDB. Mas vejo que me enganei, fui por demais bondoso. O PT é a pior parte do PP, do PRB. Cruzes, como são nojentos... Seguem abaixo partes de um texto que o sempre excelente Reinaldo Azevedo trata sobre o assunto chamado O dever da resistência:

“Não! Kassab, acreditem, não está sendo pessoalmente atingido. Mas todos os gays do país estão. Marta quer lhes cassar a cidadania com uma campanha covarde e homofóbica, que nem mesmo ousa dizer seu nome. Justo ela, que iniciou a sua carreira política fazendo proselitismo entre os homossexuais. Mais uma farsa se revela — ou uma “bravata”, para usar expressão do presidente Lula: os gays serviram para dar visibilidade a Marta Suplicy. Agora, se preciso, ela os manda para a fogueira para conquistar os votos evangélicos. Foram usados e agora são jogados fora. No PT, vale tudo para se eleger. Sempre valeu.
No dia 10 de julho de 2006, o jornal O Globo registrava uma fala emblemática. Indagaram a Marco Aurélio Top Top Garcia, então presidente interino do PT, se não era constrangedor para Lula dividir o palanque com mensaleiros. Sabem o que ele respondeu? “Constrangedor é não ter voto”. É o vale-tudo.
Vão silenciar?
Imaginem se um partido considerado “de direita” pela imprensa fizesse com um petista o que a campanha do PT fez ontem com o dito “conservador” Kassab? Vocês já imaginaram a reação da imprensa e das falanges do politicamente correto? Maria Rita Kehl escreveria, claro, um artigo indignadíssimo, mostrando quão suja pode ser a direita... Mas, desta feita, o silêncio deve gritar a pusilanimidade dessa gente. Porque eles não só tem o monopólio da representação de supostas minorias, como também reivindicam o direito de discriminá-las se isso for útil à sua causa.”

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Os EUA são mesmo um país sortudo. Por exemplo, Obama. É claro que torço pro McCain. Mas fico pensando, e se Obama fosse brasileiro? Não tenho muitas dúvidas, seria filiado ao PSDB. E o pior, se me fosse perguntado assim, de supetão, preferiria Obama a Serra. O pior candidato americano é melhor que nosso melhor.

Sarah Palin, todos sabem, é um fenômeno de popularidade. Ninguém nunca tinha ouvido falar dela há alguns meses. Alguns discursos, entrevista e pronto. Fala-se mais dela que do próprio McCain. Não sem razão os eleitores democratas começaram a revirar a vida da moça. Muito bem feito, aplaudo. Sujeito é presunçoso o bastante para querer representar todo um país? Tem mais é que ter sua vida devassada mesmo. Mas aí vejo na Internet chamadas para os “terríveis segredos de Palin”. O que temos? Parece que ela defendia a construção de uma ponte inútil. Teve outro denunciando que ela aprovou uma lei má, muito má, permitindo um certo tipo de caça a lobos.

Meu Deus, os EUA é mesmo um país muito sortudo. Viram a vida da mulher de ponta cabeça e acham isso? Caracólis... Inveja.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Um post do Atlântico. Link: http://atlantico.blogs.sapo.pt/1997850.html. Experimentem trocar “PCP” por “PC do B” e “Portugal” por “Brasil”. Segue:

Hoje, no Público, Vasco Pulido Valente põe o dedo na ferida. Diz ele que a existência do PCP, com toda a sua cegueira e fanatismo ideológicos, é uma demonstração do "atraso cultural, político e económico do país". É que, ao contrário do que querem fazer crer todos os que apontam para o PCP como um parceiro natural das forças democráticas portuguesas, "não há na Europa nenhuma instituição remotamente parecida com o PCP". Depois anda tudo espantado e horrorizado como se a Sarah Palin viesse de outro planeta, ou como se Sarkozy fosse um bicho exótico.
A ansiada "modernidade" ainda não chegou a Portugal. A prova é o PCP - e o facto de o PCP não nos espantar nem horrorizar.

domingo, 28 de setembro de 2008

Vira e mexe surgem os números da pesquisa eleitoral norte-americana. Obama 48% e McCain 45%? Ou é o contrário? Who cares? Todos sabem que quem leva mesmo é quem consegue maior número no colégio eleitoral. A maioria total dos votos é um bom indicador, mas está longe de ser infalível. Por três vezes um candidato menos votado obteve maioria dos votos no colégio eleitoral: 1876, 1888 e 2000. Curiosamente, em todas as três ocasiões, os republicanos bateram os democratas. Vejam só: em 1888, benjamim Harrison bateu Groover Cleveland por 233 a 168 votos eleitorais e ainda assim, na soma geral, conseguiu 47,8% dos votos, contra 48,6% do democrata. Nas eleições de 1960, John Kennedy bateu Nixon por 49,7% a 49,6%. Apertadíssimo, não? Não pelo colégio eleitoral, onde Kennedy conseguiu ampla margem de vantagem 303 x 219. Então vamos o que interessa. Vejam o mapa aqui: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/McCainObamaMatchupTWINtop.png . Os dados representam a média das últimas três pesquisas eleitorais. O vermelho escuro representa os estados em que McCain tem vantagem de mais de 10%. Os vermelhos intermediários, estados onde McCain tem vantagem de 4-10%. Nos rosas claros, a vantagem de McCain é 1-4%. Os estados Azuis-escuros representam os estados em que Obama leva por mais de 10%. Nos azuis intermediários, Obama leva por 4-10%. Nos azuis clarinhos, 1-4%. Os cinzas são os estados absolutamente empatados.

Então a eleição encontra-se assim: considerando apenas os estados em que a diferença percentual seja maior que de 4%, Obama ganha por 202 a 178 (Obama: Califórnia 55, Washington 11, Oregon 7, Havaí 4, Novo México 5, Iowa 7, Illinois 21, Maine 4, Vermont 3, Delaware 3, Massachusetts 12,Connecticut 7, Rhode Island 4, Nova Iorque 31, Nova Jersey 15, Maryland 10, D.C.3 x McCain: Alasca 3, Idaho 4, Montana 3, Wyoming 3, Utah 5, Arizona 10, Dakota do Norte 3, Dakota do Sul 3, Nebraska 5, Kansas 6, Oklahoma 7, Texas 34, Arkansas 6, Lousiana 9, Mississipi 6, Alabama 9, Geórgia 15, Carolina do Sul 8, Tennessee 11, Carolina do Norte 15, Kentucky 8, West Virginia 5)

Se acrescentarmos a esses números os estados em que a diferença é pequena (1-4%), Obama ainda assim mantém a vantagem: 273 x 247 (Obama: Colorado 9, Minnesota 10, Pensilvânia 21, Michigan 17, Wisconsin 10, New Hampshire 4 x McCain: Missouri 11, Flórida 27, Indiana 11, Ohio 20)


Ainda que McCain leve os dois estados empatados, Obama vence: 273 x 265 (Nevada 5 e Virgínia 13).

Portanto, para Obama vencer, basta manter os estados em que ele possui maioria. Para McCain vencer, ele deve manter os estados em que possui maioria, vencer os dois estados empatados e ainda conquistar um estado obamista com cinco ou mais votos no colégio eleitoral.

A vantagem de Obama é real, mas está longe de ser sólida. Se observarmos os estados indecisos, com diferença de 4 pontos percentuais ou menos, quase todos valem muitos votos. Por exemplo, se McCain conseguir conquistar o precioso estado da Pensilvânia, então basta que ele também vença em Nevada, podendo até entregar Virgínia a Obama.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Chega a ser engraçado todos esses brasileiros e europeus se perguntando em voz alta “Estarão os Estados Unidos preparados para elegerem um presidente negro?” Porra, é claro que estão! Obama está hoje na frente das pesquisas e se perder, perderá por pouco. Um elemento qualquer poderia mudar a história. Então antes de fazer anti-americanismo barato, pergunte: cadê o candidato negro do Brasil? E o candidato negro francês? Cadê o turco com chances de governar a Alemanha? E o candidato indiano na Grã Bretanha? Cadê o brasileiro em Portugal? Estarão os Estados Unidos preparados para terem uma vice-presidente mulher?

João Pereira Coutinho: E o Brasil? Seria capaz de eleger um negro?
Diogo Mainardi:O Brasil seria capaz de eleger uma anta.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lembra, sete anos atrás, quando as torres caíram, e o mundo se preocupava com a ameaça terrorista, quando intelectuais profetizavam o fim do Império Americano, como, por exemplo, Denys Arcand no filme “Invasões Bárbaras”? Então, o britânico Rod Liddle nos conta como tudo terminou num texto deliciosamente virulento. O original está aqui: http://www.spectator.co.uk/the-magazine/features/2075071/have-we-ever-faced-an-enemy-more-stupid-than-muslim-terrorists.thtml


Já encaramos um inimigo mais estúpido que os terroristas mulçumanos?
Rod Liddle
Quarta-Feira, 10 de Setembro de 2008
Esses adolescentes imbecis e narcisistas não deveriam nos amedontrar, diz Rod Liddle. O julgamento do caso do avião mostrou, de novo, que aqueles que desejam nos matar com refrigerante e peróxido são um bando de covardes.


Não será a hora dos terroristas mulçumanos repensarem sua estratégia de gravar vídeos de martírios gloriosos antes de suas explosões falharem? Não seria um pouco menos embaraçoso para todos os envolvidos? Vez após vez vemos esses imbecis em nossos telejornais prometendo todo tipo de amputações e misérias, o fogo virtuoso e limpo de Alá caindo sobre nós, lixo kafir imperialista decadente, pedaços de corpos espalhado pelas ruas, etc. E então eles esquecem de levar um cigarro mais suave para o aeroporto, ou o detonador não funciona, ou eles são presos comprando 5.00 garrafas de peróxido de hidrogênio no salão de beleza local e alguém acha aquilo suspeito (quão loiro você deseja ficar, Mohammed?). Ou eles não acham um lugar para estacionar, ou não conseguem acender a espoleta em seus sapatos ou eles de repente começam a cantar um heeby-jeebies num ônibus e fogem.
Nós, como uma nação, já encaramos um inimigo mais covarde ou burro? O IRA, ao menos, tinha um tiquinho de visão estratégica e tinha o bom gosto e senso de não se jactar de suas atrocidades antes, num filme – eles se jactavam sobre elas depois, com uma vaga insinuação de um pedido de desculpas. Eles também sabiam como construir explosivos, como fazê-los explodir e matar pessoas inocentes – o crédito a quem é devido. E apesar de todo desespero, por um momento os argentinos em cima do Goose Green foram perigosos. Mas e esses, nossos carrascos atuais, as pessoas com a tarefa de nos levar ao abismo? Se o evangelho dos cristãos e mulçumanos estiverem corretos e realmente houver uma luta final e sangrenta num lugar chamado Armageddon -, bem, pelo menos ela será breve e com poucas perdas para o nosso lado. Quem você queria como aliados, lutando do seu lado, neste terrível dia do Juízo Final – a coleção de adolescentes imbecis e narcisistas da Al-Qaeda ou o exército israelense?
‘Não mexam com os mulçumanos’ era o grito de guerra da mensagem sedenta de sangue no vídeo gravado pelo quarterwit[1] Tanvir Hussain pouco antes de ser preso por fazer parte de um plano de detonação de explosivos a bordo de um avião, tudo isso que você deve ter lido em seu jornal semana passada. “E por que não, Tanvir?” nós deveríamos ter perguntado gentilmente. “Porque, vamos encarar isso, porra, você é absolutamente inútil nesse negócio de chacinar as baratas infiéis ocidentais. Você não conseguiria estourar um balão. Mexer com você? Mexer com você? Qual seria o problema?”
Tem havido uma enormidade de operações terroristas mulçumanas antes de estes doutores tentarem explodir o aeroporto de Glasgow ano passado e terminarem pondo fogo em si mesmos, não machucando absolutamente ninguém além deles mesmos, e sendo socorridos pelos guardas de segurança itinerante. Estes foram os médicos, lembrem, que não conseguiram achar um bom lugar para estacionar: a vontade de Alá barrada pelas regras de estacionamento do concílio local. (Bem, pensando nisto, talvez estejamos todos do lado de Alá, e estes soldados do lado oposto). Eu já estava preocupado, antes disso, sobre o QI médio dos operários da Al-Qaeda; isso, porém, me fez questionar seriamente o nível dos candidatos que têm permissão de praticar medicina nesse país. Eu não me importo se meu clínico geral é um psicopata jihadista, mas eu gostaria que ele tivesse um QI maior que minha taxa de colesterol; ele pelo menos deveria ser capaz de estacionar.
É um pouco como quando aquela terrível mulher de Liverpool foi presa pelas autoridades sudanesas por ter permitido sua turma chamar um urso de pelúcia de Mohammed. Você se lembrará dela e das caras negociações envolvendo sua extradição de uma prisão em Cartum. Deus nos ajude, muitos de nós deve ter pensado na hora – todos os professores serão estúpidos assim? No que se tornarão nossas pobres crianças? Talvez devêssemos ensiná-las em casa. A mulher de Liverpool provavelmente voltou ao sistema de educação britânico, deveríamos libertar nossas crianças.
Mais ou menos há um mês, um cara mulçumano com geléia verde em suas orelhas foi preso em West Country sob a acusação de terrorismo. Na televisão o policial falou sobre seu prisioneiro com considerável reserva e simpatia, sugerindo que ele era um tapado, um idiota,um cretino comum. Um homem simples manipulado por fontes inteligentes e malignas. Eles o interrogaram, eles tinham a medida do homem. Mas eles podem ter perdido o ponto de que, presos, eles eram iguais a outros terroristas mulçumanos – que todos eles são, francamente, uma sura curta do Corão completo. E, Deus me perdoe, o mesmo pensamento me ocorreu ano passado quando as forças aliadas anunciaram, em tons encolerizados, que os últimos insurgentes mulçumanos que tinham se explodido no Iraque sofriam de síndrome de down. Quão baixo a Al-Qaeda irá descer, aqueles fulminados? Bem, hum, você está certo que esses jihadistas suicidas não estão, em termos estritamente intelectuais, próximos do normal? Porra, pelo menos suas bombas explodiram, você poderá dizer. A evidência sugere que para lunáticos fundamentalistas, eles tinham um QI levemente acima da média.
Não é só o Qi, claro. Ultimamente a covardia tem sido demonstrada por aqueles, nos é dito, que desejam nos matar em nome de Alá. Observem os casos de Abdulla Ahmed Ali, Assad Sarwar e o já mencionado gênio Tanvir Hussain – os “bombeiros líquidos” convencidos de conspirarem para cometerem um assassinato em massa com suas garrafas de refrigerantes ineptamente construídas e peróxido de hidrogênio. Eles não vociferaram para o juiz e o júri que aquela era uma corte que eles não reconheciam, que Alá seria seu juiz e que eles estavam completa, incontestavelmente justificados no que faziam. Não, ao invés disso, eles sussurraram que queriam apenas fazer esplosõezinhas em algum lugar, sem ferir ninguém – e de fato ninguém foi ferido – apenas para ganhar atenção pública.
Em outras palavras, a coragem de suas convicções desertou deles. Eles mentem para se livrarem de alguns anos na cadeia. Esses pronunciamentos gravados, que eu mencionei antes, foram partes de uma mesma coisa: eles não são psicopatas, são oficiais de relações públicas de Ummah, que desejavam não fazer nada além de chamar a atenção para as injustiças perpetradas pelas hordas de infiéis. Esta defesa, que eles ainda mantêm, é ainda mais patética que sua manifesta incompetência. Queremos matar vocês todos, eles dizem em seus vídeos – e então, na corte, que nada!, era apenas uma piada. Só estávamos brincando. Nós não queríamos dizer isto.
Quão patético – e quão verdadeiramente narcisistas. Eles fazem parte da cultura do respeito; eles pedem nosso respeito e pensam que tem direito a isto e quando isto não é distribuído na quantidade que eles pediram, eles optam por uma tentativa inepta de carnificina. Eu sei que ataques suicidas ocorrem em outros lugares do globo, mas há algo muito britânico, muito atual, acerca da mentalidade de Ali, Sarwar e Hussain; uma juventude indulgente que todavia sente que lhe foi negado o respeito que eles almejam e então eles reagem com a petulância de um retardado irremediavelmente adolescente. Mas então eles não conseguem cumprir suas ameaças porque eles são muito burros e não, se eles forem honestos, se esforçaram o bastante.
Há algo de insípido e vazio sobre todas essas ameaças de mulçumanos crescidos por aqui; a confusão, mal-compreensão política, o gemido de reclamação adolescente, a insistência de que eles têm sido enormemente ultrajados e, portanto, tem o dever de algum tipo de vingança primitiva, caso eles conseguissem simplesmente sair da sala de bate-papo da Internet e parar de usar sua vídeo-gravadora. Os meninos brancos – lixo absoluto, além da redenção – que mataram a pobre garota gótica Sophie Lancaster chutando-a até a morte fizeram vídeos parecidos em que se vangloriavam antes de cometer seus crimes – um filme pago pela autoridade local que estupidamente pensou que era um bom jeito deles canalizarem suas energias deslocadas.
Tenho defendido que o Islã é grandemente culpado pela depravação que periodicamente é desatada sobre nós na forma de bombas – que é o credo, mais que o individuo, que é o principal culpado. E vocês tem dito que o Islã é, a esse respeito, um credo extremamente cooperativo. Mas há algo a ser dito também pelo argumento de que esses rapazes – são sempre rapazes – são simplesmente um lado diferente da moeda dos estripadores, salteadores e gangues de jovens, britânicos modernos: auto-indulgentes, sempre pedindo respeito e compensação, não merecedor de ambos.
[1] NT Wit é inteligente, halfwit é imbecil e quarterwit é alguém que tem de dar tudo de si duas vezes para ser um halfwit.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Concordo

"Hoje até eles dizem: Ah, o Lula tudo bem, mas o PT é que não sei das quantas... Eles estão brincando com a nossa inteligência" Luíz Inácio Lula da Silva.
Pequeno experimento:
No quadrinho de busca do Orkut digite “Bush”.
Depois de 15 referências negativas ao atual presidente dos EUA e uma neutra: (“Seria Bush um dos reféns CS” [Counter-Strike]), finalmente aparece uma referência positiva, a comunidade “Bush: eu faria o mesmo”.
Agora digitem “Osama”. Temos quatro comunidades-piadas e uma elogiosa. Nenhuma negativa.

Quando um jornalista ou intelectual fala sobre Bush é para dar cacetadas. Não raro pergunta-se se Bush seria o pior presidente dos EUA de todos os tempos. Talvez o pior chefe político de todos os tempos. Montagem de Bush com um bigodinho a la Hitler ou com uma suástica já são lugares-comuns.

Por quê?

Invariavelmente chegamos às guerras. Antes de mais nada, lembremos que ele não foi o primeiro político a criar uma guerra, não é mesmo? Por que então ele seria o pior?

A guerra no Afeganistão só foi contestada por países atrasados e antiamericanos por natureza. A crítica de Michael Moore, por exemplo, é que Bush demorou muito para fazer a guerra no Afeganistão. Não é para menos. Terroristas assassinos provocaram a morte de mais de três mil civis americanos sem motivo aparente e chefes políticos estrangeiros os escondiam e dificultavam a investigação. Se isso não é razão para guerra, então nada mais é. A Primeira Guerra Mundial, maior conflito bélico de então, começou devido a dificuldades de investigação semelhante – só que os assassinados, no caso, eram apenas duas pessoas.

Então vem a guerra no Iraque. É uma guerra polêmica, sem dúvidas. Há bons argumentos a favor e contra. Este não é o ponto. O ponto é que esta está longe de ser a única guerra polêmica da história. Por que Bush seria o pior? A invasão da baía dos porcos é ainda mais polêmica. John Kennedy era então o presidente, talvez o mais popular presidente norte-americano. A guerra do Vietnã é outra guerra polêmica, mais polêmica ainda, pois mais sangrenta. Lyndon Johnson foi o presidente que a iniciou efetivamente. Sem dúvida uma figura polêmica. Mas ninguém o comparou a Hitler e outras bobagens. Talvez tenha sido poupado por ser democrata. Nixon foi o presidente que finalizou a guerra do Vietnã e disputa com Bush o título de mais impopular da história. Putin invadiu a Geórgia e a notícia não vale um minuto no Jornal Nacional.

Mas aqui vem o principal: Bush não invadiu o Iraque sozinho. Tinha maciços apoios parlamentar e popular, e, principalmente, a seu lado estavam o trabalhista Tony Blair,além dos chefes de estado da Coréia do Sul, Romênia, Albânia, El Salvador, Austrália, Bulgária, Mongólia, Azerbaijão, Tonga, Dinamarca, Armênia, Macedônia, Ucrânia, Bósnia e Herzegovina, Estônia, República Tcheca, Cazaquistão, Moldávia, Noruega, Letônia, Singapura, Geórgia, Eslováquia, Lituânia, Itália, Japão, Portugal, Holanda, Nicarágua, Espanha, Honduras, República Dominicana, Filipinas, Tailândia, Hungria, Nova Zelândia e Islândia. Ufa! Quantos países apoiaram a ação “unilateral” de George W. Bush, não?

Nunca vi o Tony Blair com bigodinho de Hitler.

Você, que odeia o Bush, que o considera um dos piores presidentes da história dos EUA e do mundo, me explica, por quê?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Na capa dO Globo de hoje, lemos “Blitz some e acidentes aumentam”. Na matéria lemos “Três meses após entrada em vigor da Lei Seca, número de vítimas de acidentes volta a subir” E depois O SAMU “prestou 198 atendimentos (uma média diária de 6,6) 30 dias antes da proibição da bebida. No primeiro mês da Lei Seca (...) o número caiu para 156. (...) Agora, num período de 25 dias (...) já foram registrados 170 atendimentos (uma média de diária 6,8, mais do que antes da Lei Seca)”.

U-au! Que coisa, hein? Como é que alguém poderia imaginar algo assim?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sobre o décimo segundo episódio da quinta temporada de South Park, na qual o já referido desenho só é citado no título

John Steinbeck, em seu A leste do Éden, nos apresenta uma grande idéia: quando pequenos, todas as histórias que nos são contadas tentado nos educar, edificar, nos ensinar a distinguir o certo do errado. Os adultos estão o tempo todo a nos tentar educar e mostrarem a si mesmos como exemplos. Isso acaba por causar um efeito colateral danoso: crescemos acreditando que somos a fonte do mal no mundo, pois apenas nós fazemos o mal, enquanto o bem transborda dos outros.

Quando entramos na escola. porém, isso muda. De repente nos damos conta “Sim, eu sou o gordinho da turma. Mas quem são meus amigos? O Tapado, o Esqueleto, o Feijão, o Cabeçudo, o ET, o Pinóquio e o Dumbo”. Descobrimos de repente que não somos a fonte do mal e temos prazer em descobrir o mal no outro. Pode ser cruel, e o é, mas é humano. E é libertador também, finalmente podemos ser nós mesmos, ter amigos por quem somos, aceitamos os outros com seus defeitos e não precisamos mais ser as abstrações das idéias de bem e perfeição.

Por essa razão, se toda essa paranóia do politicamente correto quanto ao preconceito entre os adultos é, no mínimo, polêmica, entre as crianças isso é extremamente prejudicial. Numa escola em que a maioria dos alunos são brancos, um aluno negro fatalmente receberá os apelidos de Fumaça, Carvão, Grafite ou o já referido Feijão. A ânsia de descobrir o mal em todos mais a inocência das crianças fazem com que elas não percebam a diferença entre o mal e o simplesmente incomum. Por exemplo, numa escola em Belo Horizonte é capaz de alguém ser zoado apenas por ser de Santa Catarina. E se numa aula de geografia ou português descobrirem que quem nasce em Santa Catarina é um barriga-verde, então o menino terá que ouvir piadinhas do tipo “ah! Vai comer alface pra ficar com a barriga mais verde”.

Quando se diz aos meninos que não se deve zoar com seu coleguinha por ter uma cor de pele mais escura, eles provavelmente perguntarão “por quê?”. É que a zombaria é um elemento de socialização, de participação, não há uma maldade verdadeira. E os adultos dirão que a cor de pele não importa, o que importa é o que há no interior das pessoas. E as crianças ficarão sem entender a relação. O que tem a ver a zombaria com o que importa e o que não importa? Por um acaso então quando zoamos o Pinóquio por ser narigudo, o nariz dele importa em alguma coisa? Esses adultos, viu?, não entendem nada mesmo. E é cansativo para as crianças terem de ficar lhes explicando tudo o tempo todo (sim, já li O Pequeno Príncipe e gostei). Criança só não zoa um tipo de defeito: o sério. Se tiverem algum amiguinho com um defeito físico grave, então provavelmente o pouparão. E quando proibimos as crianças de zoarem da pele escura do Feijão, ainda que convencidas de que “a pele não importa, o que importa é o interior”, elas carregarão consigo uma impressão de que a cor da pele é um assunto grave, um tabu, algo sagrado ou terrível demais. Enfim, estaremos dando uma importância desmesurada a algo trivial. Criaremos adultos politicamente corretos e inconscientemente preconceituosos.

domingo, 14 de setembro de 2008

Em que se termina com um funk católico, tão bom quanto um funk carioca legítimo

Casamento gay? Deixem os viadinhos se casarem, que que tem? Mania besta de se meter na vida dos outros. Só não entendo o seguinte. Os gays não podem simplesmente entrar num cartório e passar os bens para o nome dos dois, não? Se não puderem é mesmo um absurdo, mas se puderem, porra, que viadagem essa dos viadinhos quererem se casar, não? Enfim, o mais bizarro, porém, é gente sugerindo que os gays teriam direito de casar na Igreja (de véu e grinalda, será?). Foi malz aí, mas tem direito não. O laicismo diz que a religião não pode mandar na política, mas diz também que a política não pode mandar na religião. E esse negócio de Igreja x camisinha, hein? Não sei em qual blog li que um dos sinais da decadência do ocidente é que quando o papa chega num país, toda a pauta jornalística gira em torno da questão dos contraceptivos. São dois mil anos de teologia, filosofia, conhecimento, história, tanto como dominante como dominado, dois mil anos de casos terríveis, heróicos, polêmicos, sacros e tudo o que consegue passar nas desgramas das cabeças dos jornalistas é se os moleques tão liberados para usar camisinha numa trepada ocasional ou não. Eu se fosse o papa não respondia, começava a fazer piadinha. Tipo, o jornalista pergunta, ele aperta o “play” de um gravador previamente posicionado, começa o pancadão, e ele gritando em alemão “Mete! Mete! Mas tira a camisinha! Mete! Mete! Mas tira camisinha! Vaaaaaaai! Mete! Mete!...”

sábado, 13 de setembro de 2008

Comentários sobre a eleição para prefeito de Belo Horizonte

Lacerda: Apoiado pelo PSDB e pelo PT ao mesmo tempo, num espetacular golpe de marketing de Aécio Neves (o político da conciliação, da união, etc.), deve se eleger ainda no primeiro turno. Uma pena. Ou para ser mais claro, uma merda. Representa o que o Brasil tem de pior, aquilo que nunca nos permitirá ser uma democracia plena e consolidada, a crença de que é possível liberdade sem oposição, a tentativa de alcançar o consenso, o medo do confronto, a idéia de que oposição atrapalha. Crença essa que vê com desconfiança toda fiscalização e que só pode terminar na corrupção endêmica que assola o país.

Jô Morais: Faz parte de um partido que ainda não assimilou as críticas que Kruschev fez a Stalin, representa o que o mundo tem de pior. Eu sei que na prefeitura essas questões ideológicas têm importância reduzida, mas é bom não ficar dando poder a essa gente, né? Ou você votaria num candidato a prefeito do partido nazista?

Leonardo Quintão: Eis o bravo que lutará contra a união para lá de suspeita que caracteriza a candidatura de Lacerda, sem se aliar às ideologias assassinas do oriente. Votaria nele, se não fosse um probleminha: ele é do PMDB, o partido das uniões suspeitas. È um partido que pode fazer aliança com o DEM numa cidade e na vizinha com o PC do B e ninguém nem levantará a sobrancelha. É até engraçado que tenham ficado de fora dessa superaliança. A candidatura do Quintão é apenas um lamento por terem ficado de fora da boquinha. Brasil é isso. Oposição não é quem não concorda com o governo, é quem fica de fora da boquinha.

Outros: candidato que não alcança 5% das intenções de voto é ridículo, apenas isso. Não vale um comentário num blog sem importância.

Sugestão de voto: Nulo. Se Jô Morais crescer e representar perigo, vote no concorrente.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Trabalho pesado

Um texto numa língua estrangeira, sobre um tema nunca antes estudado, parágrafos longos, sem um único substantivo concreto, sem nenhuma palavra cujo referente seja algo para qual pudéssemos apontar e dizer “é isso aqui ó”, breves referências a outras teses, e mais outra, e mais outra, numa única linha três tese citadas, cada tese correspondendo a um livro, a um semestre de estudo, uma tese de um autor estudado cinco anos atrás, uma outra que irresponsável e imperdoavelmente ainda não estudamos e que temos de inferir ou imaginar, ou pior, uma tese que já estudamos mas não compreendemos e que temos de supor, levantar hipóteses de interpretação, hipóteses que vão sendo derrubadas uma depois da outra, orações cujo sentido não se apreende na primeira tentativa, é necessário lê-las e relê-las e de novo e de novo até que o sentido se torne mais ou menos claro, até que percebamos que o significado completo de tudo aquilo depende da compreensão de uma outra teoria, que desconhecíamos completamente. As costas se adensam, os músculos se tornam tão rígidos que uma boa machadada nada poderia fazer além de nos tirar pequenas lascas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O filósofo


Ou será o homem comum?

Goodbye, Heidegger! Até um dia, quem sabe.

Levantei-me de minha cama, de onde, mãos cruzadas sob a nuca, observava o teto de meu quarto. Andei até a sala, onde Tiago, meu apêmate, mexia em seu notebook. Esparramei-me nas almofadas do canto da sala. “Cara, a preguiça hoje está foda”.
O candidato do PV sujou com seus santinhos toda a minha rua. Assim, até eu sou ecologista.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eu tinha fome, a décima sexta hora já passara e estava quase sem dinheiro. Havia comido apenas porcaria aquela semana e estava cansado da idéia de massa. Entrei num supermercado e comprei uma goiaba e uma pêra dura. Um real e oitenta e quatro centavos. Coloquei ambas em minha mochila e saí do supermercado. Foi só então que me deparei com a seguinte questão: onde as comeria? Não havia praças por perto e, mesmo se houvesse, chovera há algumas horas e estava tudo molhado. Andei a esmo um pouco, cerca de dez minutos e desisti de encontrar um lugar. Tirei a goiaba da mochila e a mordi, sem lavar, claro. Comia andando, me desviando dos pedestres apressados do centro da cidade. Estava boa. Goiabas são subvalorizadas, eu gosto delas. São como morangos sem-educação em formato de tomate e consistência de pêra. Por falar em pêra, a minha estava ótima, bem docinha. Tinha tanta fome que quase comi o centro dela também. Acabou, pensei, e joguei o resto no lixo. De repente vejo um jovem cego de bengala, levando pelo braço uma outra jovem cega que também levava pelo braço outra jovem cega. Encarei-os para ver se queriam ajuda. Ignoraram-me. Prossegui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Este último texto me cansou. Não o revisei direito, provavelmente está uma porcaria ainda maior que o usual. Não traduzirei mais nada com uma periodicidade.

Estava pensando comentar um por um os filmes aí do lado, mas fiquei com preguiça também. Comento então só o Labirinto do Fauno. Ganha seis pelo conto de fadas, ganha zero pelo lado político. Média: três. Menos meio ponto porque a parte política é maior que a parte dos contos de fadas. Menos um ponto pela combinação estaparfúdilíssima de contos de fada e filme político.

Meu Deus, não se fazem filmes políticos com clichês! Isso irrita profundamente. Outro que vi pela metade, que também tem pretensões políticas e é recheado de clichês é Sombras de Goya. O que me irrita são os vilões malvadões. O labirinto do fauno fez os republicanos parecerem, como já li em algum lugar que não me lembro mais, um grupo de escoteiros perdidos na floresta. É claro, alguém dirá, é um filme de conto de fadas, o bom versus o mau. Bem, então que seja conto de fadas, não política, isso aí foi só doutrinação ideológica de baixa qualidade. Também, isso que dá! Onde já se viu conto de fadas republicano? Contos de fadas são monarquistas, sempre.

Quando via essas coisas lembrei de uma passagem de “Amor e Exílio”, biografia da infância e juventude de Isaac Singer. O escritor polonês e judeu fugia para Nova Iorque, se não me engano em 1935. Com Hitler já no poder da Alemanha, a rota de Singer incluía uma arriscada travessia pelas terras do ditador nazista. Ele, é claro, tremia de medo. Lá fora o sol apareceu fora de época e as crianças aproveitavam para brincar, correr atrás do trem, casais de namorados passeavam de mãos dadas e donas-de-casa gordas conversavam na rua, vigiando de longe as crianças. Parecia inacreditável a Singer que aquela fosse a Alemanha nazista. Já em Arquipélago Gulag, Soljenitsin viaja, num certo momento, de um gulag a outro num trem de passageiros comuns, acompanhado de um vigia, sem mais nenhum companheiro de prisão. O guarda o vigiava de longe e ele aproveitava a pequena e falsa sensação de liberdade que isso dava. De repente um passageiro muito simpático começa a puxar papo com ele. Soljenitsin aproveita, relaxa, sente-se bem depois de muito tempo. Lá pelas tantas, o assunto escasseando, o passageiro começa a reclamar de seu trabalho: ele era um guarda de um campo de concentração e vituperava contra os prisioneiros que sempre estavam pedindo por água e para irem ao banheiro – dramas esses vividos e relatados minuciosamente pelo próprio autor páginas antes.

Se não era isso, era algo perto disso. Mas se querem escrever uma arte engajada, política, aprendam com passagens como essas. O mal não se é assim tão facilmente reconhecível na política como é nos contos de fadas. Dizer isso é meio idiota, eu sei. Mas não estou tão certo que Benício Del Toro e muitos outros o saibam.

Eita, olha o tamanho do texto! e isso porque estava com preguiças. Sem mais.

domingo, 7 de setembro de 2008

Segue o texto prometido. Divirtam-se. Nunca li o tal James Wood, mas a discussão sobre a obra dele é bem interessante. O original está aqui: http://www.thesmartset.com/article/article08190802.aspx


A Verdade Dói
A novela está mudando. James Wood nem tanto
Por Morgan Méis
How Fiction Works não é, na verdade, sobre como a ficção funciona[1]. Ser obcecado com os mecanismos das palavras e sentenças, ver a literatura como um sistema fechado e com regras internas, é ser um formalista, e James Wood, apesar de toda sua formalidade, não é um formalista. Ele admite isso. No prefácio de How Fiction Works, “quando falo sobre o estilo indireto livre, estou falando, na verdade, sobre ponto de vista e quando estou falando sobre ponto de vista, estou falando, na verdade, de personagem e quando estou falando de personagem, estou falando, na verdade, sobre o real, que é o centro de minhas pesquisas.” Para James Wood, ficção é sobre o mundo, não sobre si mesma.

Wood chama seu livro de How Fiction Works por dois motivos. O primeiro é que ele é um filho de uma puta pretensioso, um dos melhores no seu campo, e está preparado para fazer afirmações sérias. Ele está cheio de confiança e tem toda razão. Ninguém mais está escrevendo sobre literatura com algo que lembra a sua energia. A segunda razão é que ele realmente está usando a palavra “Works” num sentido secundário do termo. Ele não está usando a palavra no sentido de “operar” ou “funcionar”. Ele não está seriamente interessado na técnica. Ao invés disso, ele está usando “Works” no sentido de “Querida, esse vestido realmente ficou bem em você” ou “Eu não sabia o que fazer com essa poltrona, mas ela realmente fica bem nesta varanda”. ”Works” Aqui significa algo como “combinar” ou “competente”. A maior pista – além daquilo que Woods escreve em seu livro – de que este é o real significado de “Works” é o título na capa. Não é How Fiction Works, mas How Fiction Works. Já aí, com esta ênfase, Wood está nos dizendo que ele está procurando por outra coisa que a mera técnica. Ele está atrás de metafísica, de um argumento sobre a natureza da realidade e sobre o significado do que é próprio do humano[2]. Isto é com o que Wood realmente deseja e a literatura está num local especial para entregar tais bens. Para colocar isso de maneira mais direta, literatura tem uma relação especial com a verdade.

O argumento histórico não será encontrado em How Fiction Works mas ele esboça a idéia básica em vários outros lugares. Pensando em como a novela se formou, Wood foca na idéia que a experiência humana mudou profundamente em algum lugar no meio do século XIX. Ele crê que esta mudança deve ser entendida em termos da transformação dos modos religiosos de pensar para a auto-concepção secular da mente moderna. Em sua introdução para o The Broken Estate, Wood escreve:

“Estará claro que creio que distinções entre crença literária e crença religiosa são importantes, e é porque acredito nesta importância que sou atraído por escritores que lutam contra essas distinções. Por volta do meio do século XIX, estas distinções se tornaram muito difícil de manter, e temos vivido na sombra dessa confusão desde então. Isto foi quando o velho estado ruiu. Eu definiria o velho estado como a suposição que religião foi um conjunto de afirmações divinas e com pretensão de verdade, e o Evangelho como as narrativas onde o sobrenatural é narrado; ficção pode ser sobrenatural também, mas ficção será sempre ficcional, ela não tem a mesma pretensão de verdade que a narrativa evangélica.“


Esta é uma história que, por agora, é familiar para a maioria de nós. A especificidade de Wood é o quão ele é sensível às implicações dessa transformação, o quão profundamente ele é capaz de entender os custos e as oportunidades de uma mudança histórica. Wood tem visto, tão profundamente como ninguém, que o colapso da concepção especificamente religiosa de verdade tornou possível para a novela ser sobre a verdade de um jeito novo e diferente. A própria verdade mudou quando Deus morreu.
Sempre que um crítico começa a cantar sobre a verdade é fácil ficar desconfiado. Talvez eles não estão dizendo nada com substância. Eles estão usando a palavra “verdade” como um gambito desesperado, batendo com ela nas cabeças de nós todos. Algumas vezes é exatamente isso o que os críticos estão fazendo. Mas não Wood. Ele está dizendo algo mais substancial.
A novela, ele diz, está na posição certa para tomar vantagem das mudanças na consciência humana que ocorreram no meio do século XIX. A novela está na posição para nos mostrar o que nós nos tornamos depois que a experiência foi transformada. Ela nos deu uma imagem de nós mesmos como sujeitos individuais finitos e complicados apenas vagamente consciente do porquê nós fazemos as coisas grandes, trágicas e simplesmente mundanas que fazemos.
Isto é o que Wood quer dizer por “realismo”. O debate burro sobre o realismo geralmente contrapõe a escrita que aponta por uma correspondência direta entre a palavra escrita e os fatos do mundo real com a escrita em que todo tipo de coisa fantástica e impossível acontece. Mas não é disso que Wood está falando. Wood deseja que a literatura seja “real” na maneira que ela retrata a estrutura “real” e os sentimentos de ser um ser humano, de ter subjetividade. Este tipo de realismo é livre para retratar eventos absurdos e impossíveis a medida em que eles permanecem verdadeiros na tarefa de retratar como nós experimentamos o mundo. Os grandes mistérios do universo, para Wood, migraram do reino dos enigmas teológicos para os enigmas das motivações humanas e do auto-entendimento. O fato de que somos um quebra-cabeça para nós mesmos e para os outros é uma verdade. Revelar como este quebra-cabeça opera, sem tentar resolvê-lo, é a tarefa que apenas a ficção é capaz de completar. Levou algum tempo para a ficção se dar conta disto. Foi quando do surgimento dos termos e do modo que as nuança, a complicação, a coisa que é a alma humana, foi espelhada estruturalmente pela nuança e complicação inerentes da ficção ela mesma, especialmente em sua forma de novela.
Wood dá ao Le Neveu de Rameau de Diderot a honra de ocupar um lugar no desenvolvimento histórico da ficção. Com o Le Neveu de Rameau, somos apresentados a um personagem que não mais, como na literatura dos séculos anteriores, representa uma consciência unitária que pode facilmente ser compreendida. Ao invés disso, temos um personagem repleto de contradições internas e uma certa “incognoscibilidade” em connstrução. Le Neveu de Rameau é escrito como um diálogo entre um sobrinho e um personagem nomeado “Diderot”. Através do curso do diálogo, Rameau se revela quase bestialmente instável, ressentido e ainda assim desejoso de receber um elogio honesto de seu tio músico, Rameau, e ao mesmo tempo extremamente cínico em relação ao mundo social que ele vê como um jogo. Wood, como Hegel antes dele e Lionel Trilling em seu clássico livro Sincerity and Authenticity, vê uma forma de consciência emergindo da obra de Diderot que podemos distinguir como distintamente moderna. “Deste personagem”, Wood escreve, “flui muito do brilho e acuidade psicológica de Stendhal, Dostoievski, Hamsun, Conrad, Svevo, do Invisible Man e Wittgenstein’s Nephew de Ralph Ellison.
O realismo de Le Neveu de Rameau é um realismo que retrata “como a vida é”. Realismo, para Wood, não é uma coisa direta. É tão curvo quanto a viga da humanidade. É, em alguns aspectos, misterioso e nunca será completamente distorcido. Por que fazemos o que fazemos? Nós simplesmente não sabemos bem o porquê. Certamente não sabemos tudo sobre isto[3]. O projeto de modernidade, aos olhos de Wood, é revelar os contornos e o formato, o “sentimento” específico deste mistério essencial. Ele até mesmo pega emprestado um conceito do filósofo medieval Duns Scotus, haecceitas, para explicar o que ele quer dizer. “Por haecceitas quero dizer qualquer detalhe que puxa a abstração em sua direção e pareça matar esta abstração com um sopro de palpabilidade, qualquer detalhe que chama nossa atenção por sua concretude”.
A capacidade da novela moderna de transmitir um sentido de haecceitas constitui um realismo verdadeiro. Isso é o “realmente real” de Wood. Algo muito finamente granulado para ser capturado numa categoria ou axioma, isto só pode ser capturado pela literatura por transmitir de maneira apropriada um tal realismo. E isto é porque Wood pode equivaler realismo e verdade. “Então vamos recolocar a sempre problemática palavra ‘realismo’ com a muito mais problemática palavra ‘verdade’... Uma vez que compreendemos o termo “realismo”, poderemos dizer que a “Metamofose” de Kafka ou a “fome” de Hamsun ou o “fim de jogo” de Beckett não são " representações de atividades tipicamente humanas, mas são, todavia, textos terrivelmente humanos.
Para Wood, é isso que a novela deveria ser. Verdade.

Contudo, apesar de toda confiança de Wood, ele ficou longamente incomodado por uma dúvida prolongada sobre a saúde e o bem-estar da novela. Esta dúvida vem à tona, por exemplo, quando Wood escreve sobre Saul Bellow, que Wood toma como um defensor do realismo real da novela. Wood escreve:
“Com o risco de soar apocalíptico, podemos dizer que Bellow estendeu o tempo de vida da novela. Ele suspendeu a execução do realismo, puxou seu pescoço da lâmina da pós-modernidade; e ele fez isto ao ressuscitar o realismo com a técnica modernista. “
Bellow certamente é um brilhante escritor, exatamente pelas razões apontadas por Wood, mas que Deus me amaldiçoe se esse sentimento não soa como a última resistência, uma ação reacionária se opondo ao inevitável.
Agora, como todos os teóricos do declínio, Wood pode dizer simplesmente “Certamente, reconheço que a novela está num ponto difícil e que muito do trabalho sendo produzido não cai sob a categoria de verdade que eu penso que a novela deveria aspirar. Mas o que eu posso fazer? Fatos são fatos. Algumas vezes o mundo não segue do modo que gostaríamos que ele seguisse.” Usando essa lógica, Wood ainda poderia aplicar este critério normativo enquanto reconhece que este é um critério que cai, cada vez mais, em ouvidos moucos, tanto entre os leitores como entre os escritores.
Mas há ainda outra possibilidade enterrada em algum lugar da análise de Wood que forneceria um ponto de partida normativo inteiramente diferente. Escrevendo sobre Tchekhov, Wood diz:
“No mundo de Tcheckov, nossa vidas interiores passam em sua própria velocidade. Elas não são bem calendariáveis. Elas vivem em seu próprio almanaque, e em suas histórias a vida interior livre bate contra a vida exterior como dois sistemas de tempo diferentes, como os calendários julianos e gregorianos. Isto era o que Tcheckov queria dizer por ‘vida’. Esta foi a sua revolução”.
Num sentido mais amplo, esta foi a revolução que afetou toda literatura no fim da era moderna para Wood, e isto torna o tipo de escrita Tcheckoviana uma escrita que captura a verdade da “vida”. A questão é se é assim que a vida é ou tem que ser ou deveria ser.
Mesmo Lionel Trilling, que concorda com Wood sobre a importância de Le neveu de Rameau de Diderot ao retratar uma forma de subjetividade nova e pós-religiosa, não cai na armadilha do fim da história. O livro de Trilling, Sincerity and Authenticity, avança sob a afirmação de que “agora e então, é possível observar a vida moral no processo de auto-revisão”. A implicação implícita é que a vida moral ou o “realmente real” de Wood é sempre um processo de auto-revisão. Portanto, deve-se assumir que a relação especial da novela com a verdade é, por definição, uma relação temporária, sempre sujeita a mudanças na relação entre o homem e o mundo.
Quando isto se tornar patente, Wood terá de permitir que a possibilidade dessa “vivicidade”, a coisa que ele deseja que a literatura revele, esteja sempre mudando. De fato, ele é obrigado a considerar esta possibilidade porque parte do todo de seu argumento é que a vida só pode tornar aquilo que se tornou com a morte de Deus. Então por que insistir que a literatura deveria se manter trabalhando para revelar uma manifestação histórica em particular se os homens não estão experimentando o mundo mais dessa maneira?
A questão então se torna como lidar com o “realismo histérico” (um termo que Wood cunhou num ensaio agora famoso sobre escritores contemporâneos que tendem a uma história com abundância de eventos miraculosos e entrelaçados – uma narrativa como uma transversal cortando todo o globo. Pense, por exemplo, nas primeiras páginas de Midnight’s Children de Rushdie). Esta forma de literatura pós-moderna não diz nada de verdadeiro sobre nossa condição atual? Wood pensa que não. Ele considera tal escrita falsa, que estamos sendo enganados ao pensar que Rushdie, Wallace, DeLillo ou Pychon estão nos dizendo algo real sobre nós. Esses escritores estão apaixonados por seus próprios sinos e assobios mas eles apenas arranham a superfície da experiência real. Eles substituem a atividade delirante de um maníaco pelo retrato substancial de como as pessoas agem e sentem quando se envolvem na questão essencial de entrar em contato com o mundo e com todos os temas humanos em seu interior. Em suma, Wood pensa que os realistas histéricos não estão nos dizendo nada de interessante sobre nós – eles estão simplesmente fugindo dos mistérios.
Porém, os realistas histéricos estão, no mínimo, nos dizendo que vivemos mais numa era de subjetividade histérica que numa era de calendários imprecisos. E uma simples olhada no mundo a nossa volta nos revelará que eles têm razão.
Ao esboçar os contornos das formas da consciência humana que está emergindo atualmente e são delineadas pelo que podemos chamar de globalização, é difícil não achar que Wood prefere simplesmente fingir que não é assim. Ele não está interessado em descobrir o que os realistas histéricos estão tentado nos dizer sobre nós mesmos. Ele está apenas interessados em envergonhá-los levando-os de volta ao coração dos séculos XIX e XX, de volta ao reino das complicadas formas de subjetividade que Tcheckov ou Bellow podem ter explorados.Ele não está interessado na idéia de que os tempos estão, mais uma vez, mudando. Suspeito, porém, que esta falta de interesse demonstra não um real comprometimento com um fim da história, da quasi hegeliana história da consciência humana, mas uma simples inclinação de alguém que ama prescrever o que os outros devem amar. James Wood é um prisioneiro do que ele entende por certo.
Talvez seja injusto pedir a Wood que abandone esta prisão, uma vez que ele cresce quando confinado. E mesmo que sua crítica se prove fútil para resistir às transformações da história, não há nenhuma vergonha em defender algo bom pelo máximo de tempo que conseguir.
Mas se o Sr. Wood desejar trocar suas prescrições pela arte de descrever, um exemplo útil pode ser encontrado no tratado de Edmund Wilson sobre o que ele chamou de literatura imaginativa de 1870 até 1930, o livro Axel’s Castle.
Escrevendo sobre essa literatura de um modo que soa bem woodsiano, Wilson diz,
“Estes livros revelam novas descobertas artísticas, metafísicas, psicológicas; eles mapeiam os labirintos da consciência humana de um modo nunca visto antes, eles nos fazem conceber o mundo de uma nova maneira.” Mas rapidamente Wilson deixa isto de lado. Ele reconhece que estes mapas estão envelhecendo porque os labirintos da consciência humana são eles mesmos sujeitos a transformações e devem ser re-mapeados novamente e novamente. “Portanto, creio que o tempo passou para esses escritores, que dominaram largamente o mundo literário na década de 20-30, e embora devemos continuar a admirá-los como mestres, eles não nos servirão mais como guias... E quem, daqui em diante, se contentar em habitar um canto, ainda que decorado com alguns objetos de sua própria escolha, na casa fechada de um desses escritores, acabará por se tornar consciente de falta de ventilação”. Brilhante como Wood é em revelar a profundidade da literatura dos últimos 150 anos, eu acho, lendo seu trabalho sobre nós, agora, hoje, que estou começando a me tornar consciente de uma falta de ventilação. Seria interessante ver Wood saindo e se permitisse respirar um pouquinho.

[1] No original: “How Fiction Works isn't actually about how fiction works” Como no começo do artigo o autor discute o real significado do título em inglês e como tal livro, até onde sei, não possui tradução para o português, achei por bem deixar o nome no original.
[2] “Human ‘self’” no original.
[3] No original: “We certainly don't know it all the way down”

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Já tenho um texto para traduzir esse fim de semana e, pasmem!, não é sobre política, mas literatura. Só que estou sem meu super dicionário aqui em BH e não sou assim tão destemido. Então, esperem. Terça ou quarta o traduzo. Até lá, ou antes disso.

domingo, 31 de agosto de 2008

Sim, o Ipatinga ainda é o lanterna do brasileirão. Sim, mal passamos do meio da competição. Mas no domingo passado, ao ganhar de 1x0 do Goiás, o Ipatinga já alcançou o seu objeitvo neste brasileirão: ultrapassou a pontuação do América-RN de 2007 e já não corre mais o risco de ter a pior participação da história dos brasileirões depois da implantação da fórmula dos pontos corridos. Parabéns!
Quinta-feira última estava na rodoviária do Rio de Janeiro. Com algum tempo para gastar, visitei as bancas de revista do lugar. Uma das chamadas de capa da Piauí me chamou a atenção. Dizia: “Viva o comunismo!”. Abri, procurei no índice, fui às páginas indicadas. Não li a matéria toda, só dei uma passada de olho, mas não havia ironia ali. A matéria de fato era pró-comunista. Como disse, não li muita coisa, mas li um pequeno texto ao pé de uma ilustração que ocupava uma folha inteira; o texto dizia algo como “Se o comunismo estiver errado, então a sociedade humana não é melhor do que a das abelhas ou formigas. Seria a vitória dos pequenos prazeres, dos filhinhos e filhinhas de papai, do hedonismo barato”. Algo assim.
É curioso porque quando se lê o que vai acima, tem-se a seguinte sensação: já vi isso antes. Sim, claro, são os teólogos do século XIX, em diante, desesperados diante das evidências de que já não temos mais razões para crermos em Deus. Então apelaram para a moral; “se Deus não existir, então tudo é permitido”. É o tipo de argumento que só faz sentido para o crente; ateus e agnósticos dão de ombros. O que eles poderiam discutir é: tudo é mesmo permitido? É o que fazemos diante dessa argumentação – uma vez que o comunismo já provou ser um sistema economicamente ineficaz e eticamente desumano, resta a pergunta: isto é a vitória do hedonismo barato? Não valemos mais que formigas?
O argumento desse escritor é um bom representante da divinização da política. O sujeito procura no Estado os elementos que apontariam o fim último do homem, não o encontra e então lamenta: sem determinações morais do estado o homem não vale nada, da mesma maneira que para nossos bisavôs sem Deus o homem não valia nada.
Sou um meio-termo entre libertário e conservador. Como todo libertário acho que o estado deve ser o menor possível, tanto no campo da moral como no campo econômico. Mas deixo o libertarianismo de lado e começo pelo mais difícil. Sou conservador porque creio que a parte que o estado se faz mais necessária é a moral. Por exemplo, todo Estado necessita regular os assassinatos. E já que a intervenção moral se faz necessária, fica a questão: que moral? E a resposta democrática é: a tradição. No caso brasileiro, especialmente a tradição católica. Toda outra opção seria a tirania de valores de minorias sobre os valores da maioria.
Meu lado libertário é mais fácil de defender, porque, no fundo, não há ninguém que não seja um libertário. Mesmo um comunista. Apesar de achar que o estado tem mais obrigações morais que econômicas, me incomoda muito mais, e não só a mim como a todo mundo, quando o prolongamento indevido do estado ocorre no campo da moral. Muito mais que quando ocorre na economia. Quando ocorre nessa última é um erro, no primeiro é um mal. Uma sucessão de erros econômicos até pode motivar alguém a mudar de país, mas basta uma arbitrariedade moral indevida para nos motivar a tanto.
Por exemplo, se alguém respondesse ao escritor da Piauí dizendo que a solução seria um estado religioso, o escritor arregalaria os olhos e diria algo como “mas isso seria um retrocesso!” Responderíamos, “ Como se o comunismo não fosse!” Então ele se desesperaria e diria, “Não, não, tudo menos isso, um estado religioso não! O hedonismo barato antes disso!” É que é fácil agüentar as imposições morais com as quais concordamos. Difícil é suportar uma que não nos é simpática; quando isso ocorre todo mundo é libertário.
Em tempo, o capitalismo democrático não é a vitória do hedonismo barato, da falta de valores morais. É antes o reconhecimento de que valores são tão importantes que não cabe ao estado impor seus valores à população, e nem mesmo cabe à maioria da população impor seus valores ao restante, mas antes, que cada um tem o direito de escolher seus valores e dar uma banana aos valores da maioria e do estado. Somos sim, melhores que as formigas, pois ainda temos valores. Como disse, no capitalismo democrático os valores são determinados pelo indivíduo. Se o autor da Piauí não os achou, é que por um vício de pensamento da nossa era, procurou os valores no lugar errado.
Assim sendo, quando abandonamos as abstrações teóricas e nos voltamos para a realidade, vemos que capitalismo e moral não só são compatíveis, mas que a sociedade capitalista resulta sempre uma sociedade mais moral que a comunista. É que a sociedade comunista, ao tentar, pela força, impor valores alheios à moral do povo e destruir os valores antigos, acaba apenas por destruir verdadeiramente os velhos valores e fazer com que o povo finja os novos, sem incorporá-los. Porque valores não são impostos pela força, ou são reconhecidos como legítimos ou não são. Enquanto isto, a democracia, ao aceitar os valores da maioria num campo mínimo e os valores dos indivíduos no restante, acaba por resultar num regime não só menos tirânico, mas também mais moral.
Meu pai fez feira hoje. Ele trouxe para casa uma fruta exótica, cujo nome ele perguntou para o vendedor, mas não se lembra mais.

Ela é assim. Quatro folhas secas de coloração verde-amarronzada e clara, um pouco menores que um dedão, fecham como numa pirâmide egípcia, não tão regular assim, claro, o pequeno fruto no seu interior. As folhas são finas e secas, mas não quebram fácil. Contudo, ao rasgá-las escuta-se o barulho de folhas quebrando, só que elas estão rasgando, na verdade. As folhas têm cheiro de chá, de mate talvez. Ao abri-las, encontramos, no interior vazio das folhas em pirâmide, o fruto que mede a metade da metade de um polegar. É amarelo alaranjado, como uma manga muito madura, quase podre. Seu formato é tão circular que temos a impressão que o fruto não é sólido, mas antes uma gota de néctar a flutuar em gravidade zero. O fruto sua, e ao encostarmos nele, nossa mão mela um pouco. Seu gosto é de pêssego e de ameixa amarela. Não sei se foi a safra, mas há algo de verde ou imaturo no gosto. Sua textura é daquelas uvas grandes, mais duras, o cheiro lembra o gosto. Come-se numa bocada só. No interior há pequenas sementes, como de tomate ou de goiaba, não, menores ainda, bem menores, sementes comestíveis, uma pequena irregularidade na uniformidade que caracteriza o gosto, a textura e a cor da fruta.

Alguém aí sabe o nome disso?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Tomem aí o Manual de Etiqueta Contemporâneo:
Um dos ítem da lista:
"06. Regata
Sabe por que não fabricam calças com um buraco nos fundilhos? E por que não vendem meias que deixem de fora as suas frieiras? Porque não faz sentido usar uma roupa que deixa expostas justamente as piores partes do corpo. Parece que essa questão elementar passou despercebida pelo inventor das camisas regata. A obra desse gênio, é evidente, não seria tão nefasta se ele simplesmente tivesse tido o bom senso de deixar claro que a regata deveria se restringir ao vestuário feminino, de preferência prevendo em lei punições severas a quem enxergasse na peça uma oportunidade de exibir seus piores pêlos e odores em locais públicos, freqüentados por famílias ordeiras e pagadoras de impostos.
A justificativa é sempre o calor, é claro. Parece que é uma utopia delirante esperar que alguém sobreviva ao verão usando uma desumana e opressiva camiseta de manga curta. "

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Peggy Noonan no The Wall Street Journal. Link: http://online.wsj.com/article/SB121935481067161515.html?mod=todays_columnists

Tradução das duas primeiras partes (de um total de três) do texto:



“Agora Eles Estão Prestando Atenção

Por que há uma disputa real agora, com John McCain subindo nas pesquisas e Barack Obama caindo? Há muitas respostas, mas creio que uma é a essencial: o povo americano começou a prestar atenção.
É difícil para nossa classe política lembrar que o Sr. Obama se tornou famoso na América apenas a partir do inverno de 08. A América o conheceu há apenas seis meses! A classe política entrevistou-o, ou leu a entrevista, já em 2003 ou 04, quando ele era uma estrela nascente. Eles o conhecem. Todo o restante ainda o observa.
E isto é o que eles vêem:
Um homem atraente, inteligente, interessante, mas – é difícil categorizá-lo. Ele é o General Obama? Não, nenhum passado militar. O Brilhante Empresário Obama? Não, nunca trabalhou no mercado. Obama é um Nome Famoso? Não, é um nome novo, incomum. Um Governador do Sul De Há Muito Tempo Obama? Não. Ele foi um líder comunitário (o que é isso?), depois advogado (uuu), um legislador estadual (igual um primo meu), e então um senador dos E.U.A. (por menos de quatro anos!).
Não há nenhuma categoria pré-existente para ele!
Adicione a isto as roupas e a fúria de Jeremiah Wright, boatos de segredos mulçumanos, o queridinho da mídia e, esta semana, o aborto.
Isto foi como o soar de sinos que o levou a uma reconstrução. Sua singularidade, que uma vez foi o seu grande poder, é agora um grande problema.
A ainda por cima há o Sr. McCain e – bem, nós o conhecemos. Ele é o John McCain Prisioneiro De Guerra, Senador, Cuidadosamente Irritante.
* * *
O debate Rick Warren importa. Por quê? Ele ocorreu no exato momento em que a América estava começando a prestar atenção. E isto foi o que pareceu lá pelo fim da noite: Sr. McCain, normal. Sr. Obama, não normal. Você já viu essa discussão antes. Sr. McCain foi direto e claro. Sr. Obama cuidadoso e assustado demais. Na questão sobre o aborto em particular, Sr. McCain pareceu o bom e velho conservador, que é algo que todos entendemos, quer gostemos ou não, e o sr. Obama pareceu ou radical ou velhaco. Ele é “a favor… de limites” nos abortos em gestação já avançada, embora alguns considerem esses limites “inadequados”. (Na semana passada muita análise legal sobre emanações de penumbras enquanto a viabilidade de Roe v. Wade[1] prossegue).
Enquanto assistia, pensava: Que tal “Deixem o bebê viver”? Não analisem. Apenas “Deixem o bebê viver”.
Quanto a questão sobre quando a vida humana começa, a resposta está, sim, dentro da capacidade do Sr. Obama[2], oh, continuemos só mais um pouquinho. Você sabe por que eles chamam isto de “controle de natalidade”? Porque isto significa deter um nascimento que ocorrerá nove meses depois. Nós sabemos quando a vida começa. Todo mundo que já comprou um pacote de camisinhas sabe quando a vida começa.
Ponhamos isto de outro modo, com a concepção algo começa. O que você acha que é? Um carro? Um Buick 1948?
Se você deseja argumentar que o aborto legal é moralmente defensável, compre isto e prossiga, mas as respostas do Sr. Obama aqui pareceram-me estranhas e perturbadoras.
O discurso do Sr. Obama na próxima convenção será bom. Todos os discursos de Obama são bons. Não tão interessante quanto ele próprio – ele é mais comovente ao vivo que se suas palavras estivesses apenas escritas. Mas o seu discurso será bom, e caso não seja, as pessoas ainda ficarão com a impressão que deve ter sido, porque a mídia dirá que foi, porque eles esperam que sejam, e o que eles esperam é o que a maioria deles verá.
O Sr. Obama irá tão fundo quanto diz[3]? Durantes as campanhas das primárias, os republicanos diziam “Eu farei assim”. O Sr. Obama tem uma tendência maior a dizer “Eu me sinto assim”. Os republicanos diziam para suas bases: “Se conseguirmos passar este projeto de lei, a que os democratas se opõem irresponsavelmente, resolveremos o problema.” Os democratas estão mais inclinados a “Se construirmos uma nova atitude de esperança e respeito pelo mundo, nós tornaremos os mares mais amplos e os peixes mais numerosos”. O Sr. Obama será mais específico em seus programas? E seus planos específicos serão baseados em alguma filosofia política?
Eu suspeito que estejam todos enganados quanto aos discursos das convenções. Todos esperam que o Sr. Obama finalmente desperte, mas seria o discurso de McCain que eu assistiria.
Ele é que está com a oportunidade real, porque ninguém espera nada dele. Ele nunca foi especialmente bom com discursos. (O número de homens que, estando no topo do partido republicano, não gostava de discursar, incluindo aqui os Bushes e o Sr. McCain, é impressionante, é mesmo algo que entra em conflito com os requerimentos pressupostos da Era da Mídia. O primeiro Bush via discursos como Showbizz, parte da parafernália do presidente, e as tentativas do segundo passam a sensação de que as palavras não são amigas dele.)
Mas o Sr. McCain providenciou, em 2004, um dos momentos mais excitantes e, com certeza, um dos mais desafiadores da Convenção republicana, quando ele olhou para Michael Moore na apresentação para a imprensa e disse “Nossa escolha não foi entre um benigno status quo e o derramamento de sangue, foi entre uma guerra e uma ameaça ainda maior. Não deixem que ninguém diga o contrário... principalmente um nada ingênuo cineasta que nos faria acreditar que o Iraque de Saddam foi um oásis de paz”. Isto desconcertou a todos. E o sorriso que ele deu ao Sr. Moore foi um de pura e prazerosa malícia. Quando o Sr. McCain entra no jogo, ele entra no jogo.[4]

[1] Caso ocorrido em 1973 e que permitiu a legalização do aborto nos EUA.
[2] No debate perguntam a Obama quando ele acha que a vida começa e ele responde algo como “isto está acima da minha capacidade”. Tal resposta teve um forte impacto negativo na imagem do candidato. Todos nós sabemos o que significa “esta questão está acima de minha capacidade”. Significa algo como “não cabe discutir aqui esta questão, ela é complicada demais para o vulgo. Ela está acima da capacidade do vulgo”. No Brasil aceitamos isso, e é bom provável que tal fosse a resposta de um candidato pró-aborto. Tal candidato diria isto e nós o entenderíamos o real significado e engoliríamos. Nos EUA não. Lá é uma democracia e nenhuma questão está acima da capacidade do vulgo.
[3] Will Mr. Obama dig deep as to meaning? As to political predicates?
[4] A autora continua no parágrafo seguinte: “Look for a certain populist stance. He signaled it this week in Politico. He called lobbyists "birds of prey" in pursuit of "their share of the spoils." Great stuff. (Boy, will he have trouble staffing his White House.)” Mas não sei o que isto está fazendo aí nem a quem se refere o tal “he”.