sexta-feira, 30 de maio de 2008

É curioso que tantos defendam o aborto ou as pesquisas com células-troncos utilizando o argumento que não se sabe ao certo quando a vida começa, quando, na realidade, qualquer pessoa minimamente decente seria contrário ao aborto ou às pesquisas justamente porque ninguém sabe ao certo quando a vida começa.
Ontem, numa festa, fui interpelado por um leitor dessa joça aqui:

- Aí, eu leio seu blog. Você lê Olavo de Carvalho?

Tomei um susto “Quê? Você lê meu blog? Hã? Olavo de Carvalho?” Muita informação de uma vez, pifei. Respondi qualquer coisa ou não respondi, na verdade não me lembro. Depois de umas biritas queria conversar com o tal “leitor dessa joça aqui” mas ele conversava com uma amiga? namorada? parente? E logo depois ele não estava mais na festa.

Uma das razões de meu vacilo foi a maldade da pergunta, “hein, seu olavete?”. A verdade é que lia o Olavão uns dois anos atrás. Mas aí descobri o Reinaldão e acabei largando o dito cujo. Hoje em dia leio um ou outro artigo que ele escreve no Mídia sem Máscara.

Ambos concordam em muitos pontos e meio que concordo com o Olavo na medida em que este concorda com o Reinaldo. O Problema do Olavo já foi revelado num post antigo do Alexandre Soares Silva: ele é meio como um mendigo louco e descabelado e gritando “os monstros estão chegando! Os monstros estão chegando!” E ele está tão desesperado e desejoso de alertar a todos que acaba por ter o efeito contrário, todo mundo aponta o dedo para ele e ri. O problema é que os monstros estão chegando mesmo. Mas enfim, creio que o Reinaldo tenha uma leitura mais sensata e penteada do que é a tal revolução gramsciana tupiniquim.

Mas o ponto principal de minhas reservas ao Olavão é o seu tom autoritário. Enquanto no Reinaldão só com muita má-vontade e malícia alguém poderia suspeitar de sua fé na democracia, no caso de Olavão é como se a democracia fosse legal, mas de importância menor. E em vários momentos ele parece flertar com um pensamento não-democrático.

Dificilmente você encontrará um true olavete, porque as idéias dele são muito específicas. Lembrei-me agora de meu orientador, especialista em Leibniz, que diz que o sujeito mais maluco para quem já deu aula foi um que dizia ter as mesmas idéias que Leibniz. É isso, ser o Leibniz ou o Olavão já é ser doidão, mas ser igual ao Leibniz ou Olavão é ser doidão ao extremo.

Tentei agora linkar 3 textos recentes do Olavão que seriam legais e pá, mas verdade é que sempre há algum parágrafo estranho. Então deixo vocês com este teste antigo:

http://www.electoralcompass.com/

Quem ficou mais próximo de mim foi o Giuliani, sou um pouco mais conservador que ele e um pouco mais de direita que o McCain.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Uma das heranças totalitárias que a esquerda democrática recebeu da esquerda tout court é a crença inabalável de que eles representam o futuro. Se você está do lado certo da história, sabe o caminho em que ela deve percorrer, claro, você tem direito de usar alguns truques sujos, até mesmo o dever de usá-los, pois nisso está sua superioridade moral. Com os outros, porém, tais truques sujos seriam provas cabais da inferioridade moral deles. É por isso que os esquerdistas arrancarão o cabelo com uma eleição do Maluf, mas se alguém tocar na questão da corrupção do governo Lula, então dirão que todos governantes roubam, que Lula rouba, mas distribui renda. Justamente o ponto mais controverso do comunismo, a idéia de um fim da história, é das teorias mais resistentes a cair. Não à toa eles são os progressistas e nós os reacionários. Observem um esquerdista falar da atual configuração política da América Latina. Os olhos brilham, até baba, o povo finalmente evoluiu! Aprendeu a votar! Entendeu o futuro! Rompeu com o passado, com o que estava aí há quintos anos, a mesmice! Curioso, muito curioso, é que nos países desenvolvidos cada vez mais é a direita que avança. Que aquecimento global que nada! Pessimismo é achar que a América Latina é o futuro dos atrasados europeus e norte-americanos.

domingo, 25 de maio de 2008

Awanndito

Awanndito, ou simplesmente Dito, é o nome da planta e da droga produzida por suas folhas. Trata-se de uma planta natural de Chenes que possui um caule pequeno e folhas grandes e verde-escuras, que se posicionam como pétalas de uma flor. O tamanho de uma folha madura de Dito varia de 30 a 70 centímetros de comprimento e 12 a 25 de largura.

O preparo da droga é bastante simples: uma folha é arrancada da planta e partida latitudinalmente. Os dois pedaços são enrolados e assim é feito o cigarro de Dito. Quando aceso ele se consome em menos de um minuto e o fumante deve se concentrar exclusivamente na tarefa.

Os efeitos positivos da droga são uma sensação de rejuvenescimento do corpo, sente-se mais forte, confiante, os reflexos e as percepções são aguçadas, não se sente cansaço e as dores são amenizadas. Os efeitos se fazem mais presente na primeira meia hora depois do uso, durando ainda, em média, por mais três horas. Tais efeitos fizeram a droga muito popular pelos guerreiros chenesinos que sempre a utilizavam antes da batalha. O famoso quadro “Algumas horas antes de nossa era” do pintor itosano Hewyeulg retrata guerreiros chenesinos fumando seus Ditos antes da decisiva batalha da Grande Guerra de Chenes. Hoje em dia ela é ainda procurada por soldados, brigões, atletas (embora para tais o uso seja considerado doping) e principalmente velhos em busca de uma sensação de bem-estar já esquecida ou como estimulante sexual.

Como efeitos colaterais a droga ainda provoca um amarelamento do olho e aumento de apetite. Também são conhecidos o gosto ruim e algo ardido da fumaça, assim como uma irritação que freqüentemente ocorre nos lábios de quem a usa, provocando pequenas feridas e bolhas. Depois que os efeitos passam o usuário sente-se cansado e com sono - os guerreiros chenesinos sabiam disso e levavam cigarros já prontos para fumarem durante a batalha. Não é recomendável o uso para os velhos, existindo casos de ataques cardíacos e mortes provocados pela planta. Para os jovens não há contra-indicações, não casam danos à saúde e não vicia.

domingo, 18 de maio de 2008

Tudo começou há algumas semanas quando Rogério e eu discutíamos sobre a possibilidade de se fazer um bom filme político. Eu defendia que não visto ser impossível dar uma parada no filme, reler passagens, voltar atrás e essas coisas que fazemos quando lemos. Assim, não há espaço para divagações teóricas, no máximo um aforismo em uma ou outra cena, ou seja, não há espaço para teoria política em filmes, mas no máximo panfletagens. Rogério discordava e citava exemplos de filmes que haviam discutindo profundamente um tema teórico, entre eles, “A chinesa” de Godard. Como nunca tinha visto nem esse nem nenhum dos filmes citados, suspendi o juízo.

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro passou o filme “A chinesa”, sexta-feira última às 18:30, e eu o assisti. Realmente um bom filme, mas não excelente. Trata-se da história de um pequeno grupo de estudantes altamente influenciados por Mao discutindo teoria marxista e planejando ataques terroristas.

Godard então lança mão de um artifício para possibilitar uma discussão teórica mais profunda: ele simplesmente descarta uma história. Os acontecimentos do filme são basicamente o rompimento de um dos estudantes com o grupo e uma discussão entre uma das alunas com um professor também marxista. Isso possibilita o autor a se concentrar na teoria e expor as nuances do pensamento esquerdista.

Por outro lado, para evitar que o filme se tornasse uma mera filmagem de uma mesa redonda discutindo Marx e Mao, Godard utiliza alguns elementos estéticos que, ignorante que sou no assunto, não sei definir melhor do que o bom uso de cores, alguns truques com o movimento e os vários closes nos belos rostos dos atores e atrizes franceses. É interessante, há várias passagens que julgaria digna de um estudante calouro de cinema cheio de idéias esdrúxulas. De fato, o filme se parece em vários momentos com filmes amadores feito por estudantes, mas o uso de equipamentos de filmagem modernos e os belos rostos disfarçam isso muito bem e até mesmo tornam belas essas estranhas cenas.

Em verdade, é apenas a beleza de tais cenas que salva o filme. Não conheço muito bem teoria marxista, mas creio que não há nenhuma tese nova apresentada no filme. Godard não se tornou uma referência do pensamento marxista, me parece. Não sei se era essa a sua intenção. Mas se não era, então para que fazer da teoria o ponto principal do filme? É provável que a intenção fosse mera propaganda mesmo. E por isso o filme envelhece muito mal, pois a teoria marxista tem cada vez mais o aspecto de uma teoria esdrúxula e ultrapassada, possuindo mero interesse histórico. É chegada a época em que os economistas estudarão o marxismo do mesmo modo com que se estuda a economia da Idade Média.

Mas a parte teórica do filme também nos diverte um pouquinho, pois em 1967 ainda não existia o politicamente correto e a teoria marxista era forte o bastante para dar de ombros ao senso comum. Assim podemos ver estudantes discutindo possíveis atos terroristas como se fossem simples teoria, como se discutissem a validade da crítica da Bachelard à epistemologia cartesiana. Eis uma das mais perigosas heranças marxistas: discutir política como se fosse simples teoria[1]. E principalmente, a parte teórica do filme nos diverte por um motivo que o sempre excelente Thomas Sowell comenta de leve em seu último artigo publicado pelo Mídia Sem Máscara: o comunismo é uma teoria emocionalmente gratificante[2]. Creio ser impossível um filme liberal nos moldes de Godard. Quem é que se interessaria por jovens economistas discutindo sobre a relação entre inflação e aumento da taxa de juros, ainda que eles tivessem rostos bonitos? Por outro lado, sempre há algum interesse em jovens discutindo sobre luta armada e violência. Aliás, esse apelo à emoção do comunismo é a grande chave para entender o fanatismo de seus seguidores a ponto de não raramente compararmos tais com religiosos.

E por fim, há a questão dos jovens de rosto bonito. Godard parece não se incomodar de utilizá-los. Mas algum comunista poderia sugerir “que diabos de comunista é este que filma jovens universitários de belos rostos? O comunismo é a ditadura do proletariado, cadê os operários de rostos disformes neste filme?” Tudo depende do grau de raiva que o comunista tem com o universo. Alguns podem suportar certos tipos de desigualdade fundada na natureza, como a desigualdade da beleza. Outros não, e se deixarmo-los às soltas, certamente farão uma lei que dará a todos oportunidade de uma cirurgia plástica, ou algo assim. Embora seja fácil ver o ridículo do último tipo de comunista, o primeiro não difere muito e não é difícil perceber que uma sociedade complexa só pode sobreviver baseada na desigualdade e na hierarquia.



[1] Quem gosta de teoria sabe o prazer que é afrontar o senso comum com teorias esdrúxulas nascidas de axiomas por todos aceites e fazer carinha de “o que posso fazer, não sou eu, mas o logos quem diz”. Eu também tenho minhas teorias polêmicas que começo agora a narrá-las. Sou a favor da descriminalização do racismo e da proibição da comercialização de anticoncepcionais.

Sou a favor da descriminalização do racismo por um motivo muito simples: sou contrário a todos os chamados crimes de consciência; o estado não tem o direito de dizer aos seus cidadãos o que pensar, não importa se você ou mesmo a maioria da população acha determinada idéia uma simples idiotice. E mais, o sujeito não tem só o direito de ter as suas opiniões como de expressá-las e, em determinado âmbito, por em prática. Quem já não viveu a situação de numa rodinha de conversas alguém dizer algo como “não namoraria uma negra(o)” e então todos ficarem meio sem graça com a fala do indivíduo? Ela é racista dirá alguns. Não sei se o é, mas se for, paciência. Por um acaso agora obrigaremos as pessoas a se casarem com outras de determinada raça? Pior, prenderemos alguém porque seus padrões estéticos não se encaixam com o padrão politicamente correto? Mais que isso, se alguém possui uma loja e decide não contratar empregados negros ou mesmo decide não vender para clientes negros, o que nós podemos e devemos fazer além de lamentar a atitude do infeliz, torcer para que seu negócio vá à falência e participar de boicotes a tal loja? Mas se o negócio é dele, ninguém tem nada a ver com os modos com que ele o gere e não se deveria ter nenhuma legislação sobre esse ponto. Além disso, xingamentos racistas podem muito bem ser tratado como um xingamento qualquer e classificado pelo crime de calúnia, difamação ou ofensa pessoal. Por que alguém que xinga um negro de “macaco” deve ser penalizado diferentemente de um outro alguém que xinga uma mulher gorda de “baleia”? Para finalizar este ponto lembro agora o caso da Matilde Ribeiro que ocupou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial no governo Lula e que disse a frase ultra-racista “"[a] reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, […] é natural”. Fiquei espantado por ela não ter sido demitida de suas funções por tal barbaridade. Que a frase é racista não há dúvidas, mas convenhamos, quem é que acha justo que ela fosse presa só por ter dito essa bobagem? Agora imaginem se uma branca de direita dissesse que os brancos têm o direito de não quererem conviver com os negros? A mulher seria linchada em praça pública e as mesmas pessoas que criticaram o ardor popular por justiça imediata no caso Isabella seriam as primeiras a aplaudir tal execução.

Quanto a camisinha o raciocínio também é simples. Escolhemos ter menos filhos por puro egoísmo babaca, mas a realidade inegável é que deveríamos ter tantos filhos quanto fosse biologicamente possível. Para comprovar tal teoria basta pensar, por exemplo, que sua família poderia ter tido um filho a menos, ou seja, seu irmão caçula ou até mesmo você nunca teria existido. Não é um egoísmo tremendo dizer que sua vida seria melhor sem seu irmão caçula porque o naco da sua parte na herança seria maior e porque você não teria que dividir o quarto com ele? É claro, o governo não tem nenhum compromisso moral com seres humanos que ainda não existem e não sei se podemos reprovar eticamente alguém que use camisinha. Mas, parece-me, a reprovação metafísica é inevitável. E se o governo tem algum compromisso metafísico, como quer qualquer um que tenha a mais leve preocupação ecológica, esta deveria ser a primeira medida de caráter metafísico.

Mas apesar de estar sinceramente convencido de ambas as teorias, jamais faria uma revolução ou mataria alguém para implantá-las.

[2] Cito o homem quase na íntegra (quem quiser mais artigos do sujeito procure no www.midiasemmascara.com.br):
Algumas pessoas pensam que a razão de o público não entender tantos assuntos é porque esses assuntos são excessivamente complexos para muitos eleitores. Mas, será isso verdade?
Será que há uma explicação terrivelmente complexa para toda a comoção dos políticos e da mídia a respeito dos altos preços da gasolina?
Será que há algo complexo a respeito do fato de que dois países – Índia e China – experimentando altas taxas de crescimento econômico e com a população somada de 8 vezes a dos EUA estejam criando uma demanda crescente sobre as reservas mundiais de petróleo?
O problema não é que o mecanismo da oferta e procura seja uma explicação complexa. O problema é que o mecanismo da oferta e procura não é uma explicação emocionalmente gratificante. Para isso, você precisa de melodrama, heróis e vilões.
É claro que muitos preferem culpar o presidente Bush. Outros preferem culpar as companhias petrolíferas, que há muito tempo têm sido os vilões da esquerda.
[...]
O que dizer desses lucros “obscenos” das companhias petrolíferas sobre os quais ouvimos tão freqüentemente?
Um economista perguntaria: “Obsceno comparado com o quê?”. Comparado com os investimentos feitos? Comparado com os novos investimentos necessários para encontrar, extrair e processar novas reservas?”
Fazer tais perguntas é uma das muitas razões pelas quais os economistas nunca foram muito populares. Eles frustram o desejo das pessoas por explicações emocionalmente gratificantes.
Se a “ganância” corporativa é uma explicação para os altos preços da gasolina, por que os impostos governamentais não são um sinal de uma “ganância” ainda maior por parte dos políticos – uma vez que impostos afetam mais os preços da gasolina que os lucros das companhias petrolíferas?
Qualquer que seja o mérito ou demérito da proposta do senador John McCain de suspender temporariamente os impostos federais sobre a gasolina, ela certamente faria o preço baixar mais do que se confiscássemos todo o lucro das companhias petrolíferas.
Mas isso não seria emocionalmente gratificante.
O senador Barack Obama entende claramente as necessidades emocionais das pessoas e como saciá-las. Ele deseja elevar os impostos sobre as companhias petrolíferas.
Como isso nos dará mais petróleo ou menor preço da gasolina é um problema que pode ser deixado para os economistas discutirem. O problema de um político é como ganhar mais votos – e uma das formas mais efetivas de fazer isso é ser um herói que nos salvará dos vilões.
Você já ouviu falar sobre a cavalaria salvando o mocinho. Mas você nunca ouviu contar sobre economistas salvando alguém.
Enquanto os economistas falam sobre oferta e procura, os políticos falam sobre compaixão, “mudança” e em estar do lado dos anjos – e contra perfurarmos nosso próprio poço de petróleo.
Vocês já viram os economistas merecerem o tipo ovação popular que Barack Obama tem tido – ou mesmo a que Hillary Clinton e John McCain têm tido?
Se você quer ovação popular, não se preocupe em estudar economia. Isso só lhe atrapalhará. Diga às pessoas o que elas desejam ouvir – e elas não querem ouvir nada a respeito de oferta e procura.
Não, o mecanismo da oferta e procura não é excessivamente “complexo”. Ele só não é emocionalmente gratificante.

sábado, 17 de maio de 2008

Descobri dias desses o endereço da página que contém textos antigos de Mainardi, texto de antes da era Lula, quando ele ainda não se dedicava quase que exclusivamente à política e, Deus meu!, como são bons. Eis a página: http://veja.abril.com.br/240402/mainardi.html . Esses números aí (240402) indicam a data do artigo 24-04-02. Assim, para ver um outro artigo basta mudar a data para sete dias depois (310402) ou sete dias antes (170402). Escolhi esse artigo como link por alguns motivos:

1) Homenagem ao único leitor dessa página que, como Mainardi, venera o João Gilberto.
2) Demonstrar que até um gênio como Mainardi é humano e pode ser muito burraldo às vezes.
3)O palpite absurdo e non-sense e completamente azarão que acabou por se concretizar alguns anos depois pintando essa coluna com as cores sombrias de uma má premonição.

terça-feira, 13 de maio de 2008

OK, eu sou mesmo um crianção. Tem coisas que só um adulto pode suportar. Papo de adulto, por exemplo. Mais uma vez arrisco perder algumas amizades, mas sinto que se não disser o que direi então serão eles que perderão um amigo. Já até vislumbro a cena:

- E aí João Paulo, como está o Rio de Janeiro?
(Começa a tremer e a me coçar) – Está bem.
-Está gostando então?
(Soa frio, sente engulhos e tonteira) – Sim, b-b-b-bastante.
- E o seu curso? Como está?

Então desabo no chão e começo a ter um treco, babo sangue da língua que mordi, começo a ficar roxo. Uma hora depois, já no hospital, médicos porão a mão no ombro do meu pai que estará rezando compenetrado e dirão um “Sinto muito, fizemos tudo o que podíamos”.

Não posso suportar esse tipo de conversa. Imagine duas crianças se encontrando depois de alguns meses separados – uma delas mudou de casa e agora está num bairro distante.

- E aí Zezinho, curtindo o bairro novo?
- Muito aprazível.
- E a escola nova?
- Excelente, bons alunos, bons professores.

Não dá! Impossível! Na realidade, ao se encontrarem ficarão um pouco sem graça um do outro por alguns instantes, sem saber o que falar. Depois de alguns segundos, um dos dois romperá o gelo assim, sem nenhum intróito nem nada:

- Ganhei um vídeo game novo.

E pronto, já estarão falando animadamente sobre vídeo games e logo depois estarão jogando futebol com uma bola imaginária.

domingo, 11 de maio de 2008

Tinha medo do filme dos Simpsons ser apenas mais um episódio da série. Talvez essa tenha sido a principal razão para não vê-lo no cinema. Mas é um ótimo episódio, provavelemente um dos melhores episódios de um dos melhores seriados de todos os tempos.

E por que a nota não é assim tão alta?

Gostei do filme enquanto via, mas algo me incomodava. Descobri então o problema, e ele é bem óbvio.

Os Simpsons está sendo exibido na TV desde 1989, são quase vinte anos de seriado, quase vinte anos com os mesmos personagens, as mesmas situações, a mesma cidade, o mesmo tipo de humor. É bem difícil criar algo novo e surpreendente nessas condições. Por melhores que sejam as piadas, elas dificilmente te surpreendem.

É por isso que atualmente prefiro south park aos Simpsons.

Os Simpsons deveria renascer. Como eles começaram em 1989, a trama poderia se passar agora em 2008 com Bart e Lisa já com quase trinta anos, o vovô já morto, o Homer indo sempre parar em hospitais, com menções ocasionais a personagens secundários, novos personagens, estas coisas.

Allen também anda se repetindo, todos sabem. Lançou sua vigésima-nona adaptação de Crime e Castigo. Por mim tudo bem, pois Allen é bom pracarái e mesmo um de seus piores filmes está acima da média. O problema não é que ele repita os temas, pois como ele lança um trabalho novo a cada ano ele se repete bem menos que um seriado semanal. O problema é do filme mesmo, há algo de relapso nele, como se Allen tivesse com pressa de concluí-lo logo e começar algo novo. Mas a trama é legal.

Não sei como concluir esse texto, então digo apenas que se o campeonato brasileiro terminasse agora o Cruzeiro dividiria o título com o Coritiba. Até mais, abraços.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O universo é um dos piores lugares que há.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Quando entro na internet as primeiras páginas que costumo abrir são a do meu e-mail, do orkut ou do wunderblogs. And now it is dead. Um dia triste.

domingo, 4 de maio de 2008

Algumas poucas palavras sobre os filmes ao lado:

Eastern Promises – Uma história péssima e muito bem dirigida.

Michael Clayton – Quando lançaram “O pianista” fiquei com preguiça de assisti-lo. Alguns críticos diziam ser “apenas mais um filme sobre o holocausto”. Eu também já havia me enchido de filmes sobre o holocausto e filmes que te faz sentir impotente e com raiva. Assisti quando ele já estava quase saindo de cartaz e gostei um tantão. Uma ótima experiência essa de ver suas baixas expectativas frustradas. Foi o mesmo que ocorreu com este. Ir para o cinema esperando apenas ver um filme-de-pequenas-pessoas-lutando-contra-grandes-empresas e acabar vendo um filme adulto sobre a básica luta entre o bem e o mal foi legal. Talvez tenha gostado mais do que ele mereça, mas certamente não é um filminho qualquer.

Não estou aqui – É tipo um clip grande fantasiado de filme. Mas como é um clip gigante de Bob Dylan a gente perdoa.

O Triunfo da Vontade. A melhor filmagem de parada militar de todos os tempos. Mas ainda assim uma filmagem de parada militar.

Paranoid Park – Já escrevi em algum lugar por aqui. Procurem, seus vagabundos!

La Môme – Ah sei lá. Não curti não. As músicas delas são legais de se ouvir por uns dez minutos. Depois me cansa. E não me simpatizei muito com a pessoa também não. Outra coisa que não entendo é enfeiar uma atriz bonita para fazer papel de uma feia. Por que não escolher já uma atriz feia? Sei lá, mas impliquei com isso também.

XXY – Tem bons momentos, principalmente quando o tema central ainda não foi apresentado. É como o Paranoid Park, não fosse o tema central, o filme seria muito mais legal.

A caça ao leão com arco – Caramba! Tem uma cena em que os africanos matam uma hiena junto a um rio. A flecha envenenada atinge a hiena, ela dá uma última olhada no rio, desviando seu olhar dos africanos. Ela parecia saber que ia morrer e se despedia da vida, contrariada, mas resignada, muito sinistro, me arrepio de lembrar. O leão morrendo também é uma cena e tanto. Lembra a aventura final de Crusoé, quando ele viaja à noite por uma Europa infestada de lobos. Quando os homens lutam contra animais não dá para deixar de perceber o quão sobrenatural é a inteligência humana. E, poxa, quem é que nunca sonhou em caçar leões com arco e flecha? Merecia uma nota melhor.

Once – Muito Coldplay para o meu gosto.

Todos contra Zucker – Esperava ver uma espécie de filme menor de Allen e acabei vendo um filme brasileiro falado em alemão. Me fez lembrar o Mainardi, quando disse “Eu sempre digo que o Brasil é o país do futuro. A gente não vai melhorar. São os outros que vão piorar.”

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Só para mineiros.

Thiago, meu apêmate, lembrou que o dia de hoje é doidimai, véi.
A melhor explicação que já vi para o porquê dizerem tanto que nunca haverá outro Pelé foi dada por Paulo Vinicius Coelho. Segue trecho de uma matéria da Piauí de fevereiro:

"PVC sustenta que, com a televisão, a epopéia chegou ao fim. "Aquele grande jogador cujas jogadas geniais você só conhecia pelas descrições e não pelo olho, isso acabou". Numa crônica para o Lance, escreveu "Os ídolos eram exaltados em suas qualidades, porque os defeitos não estavam escancarados todos os dias. Não há Deus que resiista à superexposição da sua condição humana." É como se os jogadores do passado fossem essencialmente atores de teatro, e os novos, astros do cinema. Quem ia ao espetáculo teatral via algo fugaz, que desparecia, e a beleza estava aí, pois permitia a fabulação. Com o ator de cinema, isso acaba. A jogada fica registrada para sempre e eventualmente não resistirá ao teste da realidade. O grande Rivaldo com sua fala difícil, sua falta de carisma, morreu pelo cinema. "Na época do Nelson Rodrigues, ele seria um mito", observa PVC."

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Conversando com o presidente

- A gente não pode permitir que um companheiro da qualidade do Cid seja mostrado a nível nacional apenas porque atendeu a um pedido da mulher para levar sua mãe. Sei o que é isso e você tem a minha solidariedade.

- Concordo, senhor presidente. Pura perseguição. Minha mãe vive pedindo para o meu pai “Benzinho, leva minha mãe na a Feira de Artesanato”, “Leva a gente (minha mãe, tias, vovó – vejam bem, muito mais pessoas que o governador do Ceará) ali no shopping”. E meu pai sempre leva. Que mal tem? Fico me perguntando, isso é crime? Em que parte do código civil está escrito que não se deve levar a sogra da gente para dar um passeio? Poxa, isso aí é pura discriminação com a sogra.

-Certamente se, em vez de sua sogra, você tivesse levado um empresário no avião, não teria tido problemas.

- Poxa, presidente, não vamos exagerar. Imagine se você chegar um dia em casa e dona Marisa toda sorridente lhe pede para levar um empresário para casa dele? Estranho né? Você tem que perguntar quem é o empresário, que ele estava fazendo sozinho na casa com a excelentíssima. Já pensou, depois o cara está comendo a patroa, e você ainda dando carona para o filho da mãe? Garanto que se você der carona para o dono da Ricardo Eletro falarão muito mais que esse caso aí.

- o que estou dizendo é que as pessoas [os jornalistas] precisam dar a informação e deixar o povo julgar. (...) O que eu acho estranho é que poder-se-ia ter dado a notícia: a sogra do governador viajou com ele. Não. Fazem disso uma tese".

- Ah! Isso eu também concordo. Onde já se viu jornalista ter opinião? E o pior, querer transmitir sua opinião para o público? Isso é um absurdo! E digo mais, senhor presidente. Temos que controlar a informação também. Vai que algum jornalista mais espertinho queira passar informações como o fato de ser crime o uso da máquina pública para favorecer particulares? Temos que ser espertos, presidente. Esse povo da mídea é muito folgado.

- "[não é correto o Estado] aparecer cinco dias consecutivos na televisão por causa da sua sogra". (...) “Tem coisa muito mais importante - não que a sogra não seja importante - que você faz e que nunca apareceu nacionalmente”.

(Aplausos) – Agora o senhor disse tudo. A imprensa só quer saber do lado negativo dos políticos, não dá nenhuma forcinha para gente. Por exemplo, o Hitler. Todo mundo fala de holocausto, não sei mais o quê. Por que ninguém lembra que ele consertou a economia alemã, acabou com a hiperinflação? A mídea é assim mesmo, senhor presidente. O único jeito é arrumar uma maneira de controlá-la melhor.