quarta-feira, 8 de julho de 2009

Melhores Álbuns - 1998




Minha primeira reação ao ouvir este álbum foi: que merda é essa? Parece não haver encaixe entre os vocais e a música. Parece que o cantor pegou uma música em japonês e traduziu diretamente para o inglês sem se importar muito em encaixa-la na música. Que ele não pensou muito em combinar o tom da voz com o tom da música. Algo completamente amador e sem noção mesmo. Mas com o tempo vai se percebendo um certo clima que aquelas músicas evocam, descobre-se que aquela voz desafinada e infantil é essencial para a música também. E percebe-se as letras também.

As letras são um caso a parte. Quem se dispõe a ler as bobajadas que escrevo sobre música, já deve ter percebido que não ligo muito para letras. Mas é impossível não mencioná-las aqui. As letras junto com as formas estranhas das músicas formam um todo fantástico.

A maior influência para o álbum não veio de uma outra banda ou álbum, mas de um livro: O diário de Anne Frank. Isso explica muita coisa. Explica como o álbum pode ser tremendamente sério e infantil ao mesmo tempo. Explica as referências constantes a morte, também um certo clima de lembranças. As músicas centradas sempre nos vocais agudos e no violão solitário de Mangum evocam a imagem de uma criança condenada a morte, completamente desprotegida, inocente, frágil até o ponto do ridículo e surpreendentemente corajosa.

Já disseram muitas vezes que a morte é o maior, senão o único, tema da arte. Não sei bem a verdade disso. Mas esse é o álbum de música que melhor tratou do tema. Tratou a morte por todos os ângulos. Temos o problema do sentido da vida perante a própria morte

And one day we will die
And our ashes will fly from the aeroplane over the sea
But for now we are young
Let us lay in the sun
And count every beautiful thing we can see

O problema de entender a morte dos outros:

She goes and now she knows she'll never be afraid
To watch the morning paper blow
Into a hole where no one can escape

Ou as lembranças que os vivos tem dos mortos:

And in my dreams you're alive and you're crying,
As your mouth moves in mine, soft and sweet.
Rings of flowers round your eyes and I love you,
For the rest of your life (when you're ready).

Algumas referências diretas a Anne Frank:

The only girl I've ever loved
Was born with roses in her eyes
But then they buried her alive
One evening 1945
With just her sister at her side
And only weeks before the guns
All came and rained on everyone


E termina assim:

And when we break we'll wait for our miracle.
God is a place where some holy spectacle lies.
And when we break we'll wait for our miracle.
God is a place you will wait for the rest of your life.

E, pronto. Mangum coloca seu violão no chão e vai embora do estúdio. Sim, OK Computer é meu álbum predileto, mas é no In The Aeroplane Over the Sea que estão as melhores letras que conheço.

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