quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ápice

É com júbilo e grande ansiedade que escuto o rufar dos tambores. É chegado meu grande momento, o momento em que justifico minha existência, o momento pelo qual meu nome será lembrado pela eternidade; não pela resolução de um problema teórico e abstrato que tenha atormentado a mente de uns dez homens ao longo de milhares de anos, mas por um problema prático, concreto e que atormentou a vida de milhões de homens nos últimos anos. Descobri a solução para o conflito entre Israel e a Palestina.

Não esperem nada complicado. O que impressiona em minha solução é a simplicidade. Nossa época não a percebeu simplesmente porque é cheia de frufru, de uiuiui; sua vista turva, suas pernas chacoalham assim que começa a raciocinar viril e claramente, acaba por desfalecer antes de chegar à conclusão.

Analisemos, pois, o conflito. De um lado temos Israel, potência militar, economia desenvolvida, população rica, bem-alimentada e culta. Do outro temos a Palestina, país subdesenvolvido tanto econômica quanto socialmente e que dispara trinta mísseis e foguetes para deixar quatro feridos.

Em qualquer tempo que não o nosso, um general israelense que não conseguisse terminar esse conflito em sessenta minutos seria tido por todos como fraco e incompetente. E, no entanto, o tal conflito já se arrasta por sessenta anos...

Pois bem, a lição introdutória é:

Guerra não é xadrez. Guerra não é futebol. Guerra não termina empatada. Guerra termina com a vitória de um dos lados. No conflito em questão parece não haver dúvidas de qual lado deve vencer. Israel esmagaria a Palestina ainda que uma catástrofe destruísse 90% do país.

Eis então minha solução, que de inovadora não tem nada. Israel invade de verdade a Palestina. Teríamos então de dez a cem vezes o número de mortes atuais. Depois dos já referidos sessenta minutos, a Palestina cai conquistada. É certo que ainda haverá resistência, mas a Palestina fazendo parte de Israel, poderá ser vigiada e controlada por leis israelenses. Depois de uma política massiva de antiterrorismo, essa resistência se partiria, a exemplo do que ocorreu no Iraque. Com o tempo, os palestinos acabariam por se conformar com a presença massiva dos judeus. A exemplo da Grã Bretanha com suas quatro nações, Israel deveria fazer o mesmo, estabelecendo as nações da Palestina e de Gaza (o velho truque de dividir seus inimigos). Em cinco anos Israel já poderá organizar eleições para um parlamento na Palestina e em Gaza. Dessa vez, porém, nada de eleições livres onde o Hamas e outras organizações terroristas possam competir. Apenas partidos e candidatos aprovados pelo governo de Israel. Mais um pouco de tempo, uns cinqüenta anos talvez, e Israel poderia abrir um pouco a política das nações palestinas e permitir a participação de partidos estranhos, que talvez até pleiteiem independência, desde que pacíficos, constitucionais e não tenham chance alguma de vitória eleitoral.

Como Ortega y Gasset observou, nossa época nega a guerra, ao mesmo tempo em que não consegue propor nada para substituí-la. Acham que a guerra é só um capricho de homens malvadões e que não têm nenhuma função social. Baseadas nessa crença ridícula, as pessoas esperam que o problema que originou a guerra acabe por sumir magicamente. No fim, é claro, não conseguem eliminar a guerra, mas apenas transformá-la em um conflito pateticamente sem fim. Pois bem, uma guerra boa e franca seria benéfica para os dois lados. Israel conseguiria finalmente controlar o conflito e ditar suas leis. Já a Palestina, terminada de vez sua guerra, poderia finalmente seguir sua vida. Dominados por Israel, os palestinos só teriam a ganhar. Seus líderes políticos seriam melhores, mais bem preparados, mais inteligentes e conseqüentemente sua situação econômica e social seria melhor; os terroristas já não teriam poder algum e não usariam crianças nem como escudos nem como soldados nem como bandeiras; a Palestina teria uma moeda mais forte; seria mais seguro para o investimento estrangeiro; os direitos humanos seriam mais respeitados; dominariam melhor a tecnologia de seu tempo. Duzentos anos depois, garanto que os soldados palestinos saberiam até como disparar mísseis e foguetes corretamente. Poderiam então exigir como homens sua liberdade, e não apenas espernear infantilmente por ela, como faz hoje. A liberdade seria então concedida através de negociações. A Palestina já não seria governada por essas crenças políticas vitimistas e atrasadas, tão típicas de países do terceiro mundo, mas por uma visão mais de acordo com a realidade. Em suma, já não veriam com simpatia alguma os terroristas.

*

Os tambores param de rufar, o silêncio que se segue é mais sonoro que fogos de artifício. De repente, percebo que faço parte da história da humanidade. Um momento de alegria solene invade minha alma. Essas idéias simples, claras e fáceis são minha contribuição para a humanidade. É bem pouco, mas quando não se tem nada, o pouco já é algo. Tento lembrar de todos aqueles a quem devo agradecer no meu discurso enquanto subo a escadaria da posteridade.

Ps. Quem desejar me premiar (mas, por favor, money, que esse negócio de honra pública não enche a barriga de ninguém) é só entrar em contato através da caixa de comentários.

3 comentários:

Anônimo disse...

Certamente tu é um daqueles reacionários masoquistas que adora ser xingado, então vou me abster de te dar prazer.

Só digo que a arrogância casada com a burrice é uma merda. Tomara que tu nunca chegue em lugar nenhum, e não chegará ;)

m. reis disse...

ahahahahahahaha

meu amigo, esse daí de cima viu, pops?! pode ficar tranqüilo que ninguém vai te descer a porrada na rua. só eu... e mesmo assim em casa, no calor de um quarto escuro.

:D

João Teixeira disse...

Eu não disse? Eu não disse? É o meu ápice! Depois de anos fazendo polêmica barata e de má qualidade finalmente o primeiro comentário agressivo! E o melhor, de alguém que não conheço! Será o único comentário dessa espécie que não apagarei, exibirei-lo com orgulho, como um guerreiro com sua primeira cicatriz! Estou dizendo, a glória aí vêm! Escuto seus passos.