quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Stalker (1979)
Tinha a intenção de ir resenhando todos os filmes que vi recentemente. Mas como não fazia isso de imediato, as idéias embotavam, a inspiração sumia e acabava enrolando mais ainda e, o pior, não resenhava os filmes que via depois destes, pois, organizado que sou, queria resenhar aqueles primeiros. Resultado: não resenharei nem aqueles nem estes. Para o erro não se repetir vou tentar resenhar os filmes na medida que os vejo. Eis o primeiro:
Stalker (1979)
Cotação: \/\/\/\
Resenha sem spoiler:
Pontos positivos: Profundidade filosófica, atuação de Kaidanovsky como o Stalker, trabalho de arte e final.
Pontos negativos: Frieza, lento demais, (desnecessariamente) longo.
Resenha longa e com spoiler:
O que mais impressiona em Stalker é a profundidade filosófica. Para dizer tudo de uma vez, não conheço filme mais profundo. Como Tarkovsky gostava de dizer, é um filme sobre fé. Há três personagens principais: o Escritor (representando, de algum modo, as artes e filosofia), o Professor (um cientista) e o Stalker (representando a religião). O que realmente me impressionou é que nenhum deles é raso, todos têm seus pontos muito bem defendidos. Um exemplo: o Stalker começa a explicar ao Escritor e ao Professor as armadilhas mortais da Zona. Então alguém pergunta se o critério para a Zona não os matar é serem boas pessoas. E a resposta de Stalker é algo como: isso é um mistério, creio que não seja exatamente esse o critério, ela parece antes ter preferência pelos infelizes. Fino, muito fino. Só por aí já dá para termos noção de que não estamos diante de qualquer coisa. Como ele consegue fazer tudo parecer sobrenatural, quando nenhum milagre ocorre, é outro ponto a ser destacado.
Mas toda essa profundidade é equilibrada por uma frieza absurda. É, de algum modo, um filme anti-envolvente. Não é nem mesmo que o diretor não esteja interessado se estamos nos envolvendo com o filme, ele deseja justamente o contrário. Enfim, o filme é como ler um tratado de Aristóteles, a Crítica da Razão Pura, Frege ou algum outro autor filosófico sóbrio e árido. Essa frieza só não é glacial pela atuação apaixonada de Kaidanovsky como Stalker. Sua cena final é marcante.
Exemplos dessa frieza: durante quase todo filme, vemos os três andarem pela zona e escaparem das supostas armadilhas do território. Mas em nenhum momento essas armadilhas são explicadas, nem mesmo o que elas representam, com agem. É tudo abstrato demais. Vemos, por exemplo, os três diante de um túnel sombrio. Eles supostamente tiram na sorte quem o atravessará primeiro. O escolhido é o Escritor. Quanto tempo ele demora até chegar do outro lado? Não contei, mas imagino que uns cinco minutos. Por cinco minutos os vemos lentamente andando pelo túnel. Era intenção do diretor fazer essa cena tensa? Assustadora? Não creio e se foi, falhou completamente. Ela é só chata. Desconfio que a real intenção de Tarkovsky era dar alguns minutos de folga para o telespectador, para que ele pudesse desligar um pouco do filme. Quem já tentou ler uma árida obra filosófica sabe o quanto essas pausas são necessárias. Depois que eles conseguem passar, o Stalker fica felizão, pois ali era o ponto mais mortal da zona a ponto do túnel ter sido batizado como “máquina de triturar carne”. Mas ficamos sabendo disso depois, ou seja, durante a cena não há tensão. Isso é durante o filme todo. Lentamente os 3 escapam das armadilhas das quais nunca sabemos a natureza e seu significado. Dava, ao menos, para o diretor encurtar tudo isso, tirar alguma seqüência, porque, afinal de contas, o filme tem mais de duas horas e meia.
O final, no entanto, compensa tamanha chatice. Se não fosse por ele, a nota desse filme seria beeeeem mais baixa. É ali que o debate filosófico mais intenso ocorre e o filme se justifica. O diálogo fala por si e é irretocável.
Comentário sintético porra-louca: É um bom filme, vale a pena. Mas seria melhor se o Steven Spielberg de Indiana Jones contribuísse com alguma ação nas armadilhas da Zona.
Recomendação:
Assistam num dia em que estiverem especialmente pacientes e filosóficos.
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Um comentário:
Ainda não vi. Já baixei e tal...
Então nem vou ler o que você escreveu, por enquanto.
Mas a nota tá até boa hem?
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