quinta-feira, 30 de agosto de 2007
domingo, 26 de agosto de 2007
O sonho de qualquer sistema econômico é criar condições para que o maior número possível de pessoas tenha poder financeiro o suficiente para se alimentar adequadamente, para terem acesso a diferentes formas de lazer e cultura, para serem relativamente educadas com capacidade de discernirem sozinhas quais atos – e principalmente os atos políticos - são bons ou maus, para estarem livre das arbitrariedades da classe dominante, para serem capazes de trocar de patrões, se necessário. Enfim, o sonho de qualquer sistema econômico é ter uma classe média o mais numerosa possível.
Se alguém no século XVIII dissesse que seria possível a situação econômica de um povo tal como é a do povo norte-americano nos dias de hoje, seria tachado de maluco e utópico.
O ódio à classe média é o ódio ao sucesso inegável do capitalismo.
Se alguém no século XVIII dissesse que seria possível a situação econômica de um povo tal como é a do povo norte-americano nos dias de hoje, seria tachado de maluco e utópico.
O ódio à classe média é o ódio ao sucesso inegável do capitalismo.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Estou lendo “Amor e exílio” de Isaac Singer. Na verdade, trata-se de uma junção dos relatos biográficos “Um menino à procura de Deus”, “Um jovem à procura de amor” e “Perdido na América”. Ando reclamando bastante de ser brasileiro e de ter nascido no fim do século XX, mas, é claro, há coisas piores, como ser judeu nas décadas de 20 e 30. E vejam bem, Isaac Singer saiu da Europa logo no começo dos anos trinta. Lendo isso fui procurar algumas informações, principalmente sobre Bogdan Chmielnitzki, que é muito citado neste livro e que se tornou o tema do primeiro livro de Singer: "Satanás em Goray". Encontrei essa página sobre os judeus na Polônia da idade média até o começo do século XIX: http://www.geocities.com/Heartland/Valley/1046/9710/971029_j.html . Estou com um espírito de tradutor no meu corpo, então aproveitem:
“Pela metade do século XVII, a posição econômica e social dos judeus poloneses parecia firmemente estabelecida. Os judeus estavam bem representados nas grandes feiras em que o comércio polonês era centrado. De particular importância para a crescente e poderosa nobreza polonesa foi o papel representado pelos judeus economicamente astutos, que freqüentemente serviam aos nobres como conselheiros e como administradores de seus estados. A estabilidade econômica foi acompanhada por um significativo desenvolvimento político e social. Já em 1551, o Rei Sigismund Augustus garantiu aos judeus o direito de elegerem seus rabbi-chefe e juízes aos quais foram dados poderes para administrarem a justiça da comunidade judia em todas as questões de acordo com os princípios de Halakha. No século XVII o Conselho das Quatro Terras (Grande Polônia, Pequena Polônia, Podolia e Volhynia) foi estabelecido pelos líderes das comunidades judias como um tipo de “Parlamento” e “Corte Suprema” dos judeus poloneses. Para os líderes dos estados poloneses, o concílio servia como um instrumento efetivo para a coleta de impostos nas comunidades judias. Na década de 40 deste século, a vida judia na Polônia era próspera, cimentada numa aliança benéfica e mútua entre os judeus e as classes governantes polonesas. E assim, não é nenhuma surpresa que a Polônia era descrita em termos muito favoráveis na literatura judia do período. A tradução de “Polônia” para o hebreu (“Polin” ou “Polanya”) foi entendida como uma dica das características especiais da vida dos judeus por lá, uma vez que “Po Lan Yah” é em hebreu “Aqui descansa Deus” ! Mas, como temos visto, um significativo nível de animosidade popular contra os judeus já estava presente, e no ano de 1648 esta hostilidade foi dramaticamente elevada como um resultado de uma rebelião nacionalista. Os judeus poloneses sofreram um massacre horribilíssimo.
A rebelião se deu na Ucrânia, onde os cossacos, um bando de servos e cavaleiros robustos e guerreiros, lideraram uma revolta contra os líderes poloneses.Os poloneses e os ucranianos não compartilhavam uma língua comum, e ainda que ambos fossem cristãos, o catolicismo dos poloneses confrontava com a ortodoxia russa dos ucranianos. De qualquer forma, o líder da rebelião de 1648-9 (conhecida como a revolta cossaca), foi Bogdan Chmielnitzki, um homem que é ainda visto por muitos como um herói popular nacionalista e ucraniano. Chmielnitzki e seus cavaleiros cossacos ressentidos com os judeus, viam estes como aliados desprezíveis da tirania política polaca e da opressão econômica. Comunidades judias inteiras foram brutalmente massacradas pelas hordas cossacas. Uma testemunha ocular desses massacres, Rabbi Nathan Hanover, descreveu os horrores...
'Os cossacos se revoltaram contra os judeus com uma crueldade terrível... Alguns deles tiveram suas peles arrancadas e suas carnes foram atiradas aos cães. As mãos e os pés de outros eram decepados e os judeus eram atirados nas estradas, onde carroças os atropelavam e os cavalos marchavam sobre eles... muitos foram enterrados vivos. Crianças eram assassinadas nos seios de suas mães e muitas crianças foram rasgadas ao meio, como peixes... não houve uma morte não natural no mundo que eles não lhes infligiram.' (N. Hanover, Yeven Metzulah, Tel Aviv, 1966, pp.31-2)
Eu percebo que isto é um retrato horrível, que pode ser bem difícil de ler. Mas penso que é importante lê-lo, em ordem para entender o horror daqueles dias. Claramente os cossacos agiram com um profundo sentimento de ódio, e não se pode duvidar que o massacre produziu uma redução no número de judeus poloneses. Centenas de milhares de judeus pereceram nas mãos dos bandos cossacos, e não menos que setecentas kehillot (comunidades) foram destruídas! Neste período de desespero, certamente muitas questões difíceis devem ter surgido. Como seria possível reconstruir ou restaurar algum nível de estabilidade social? Num nível teológico, como era possível que Deus permitisse que Seu povo sofresse tais crueldades?(...)
No ano de 1665, Shabbetai Zvi, um judeu sefardita da Smirnia na Anatólia (hoje Turquia), proclamou-se messias em Jerusalém. Com a ajuda de seu principal discípulo, uma figura carismática chamada Nathan de Gaza (que dizia ser um profeta), o movimento messiânico se espalhou como fogo selvagem através do mundo judeu. Rumores dos poderes miraculosos do Messias abundaram, dez mil judeus rapidamente fizeram preparações para abandonarem seus lares na Diáspora, para assim eles poderem ser miraculosamente transportados “na asas das águias” até Eretz Yisrael! Muitos fecharam suas lojas e iniciaram jejuns especiais e outros tipos extremos de purificações. Aqui vai uma descrição destes eventos bizarros, tomados da “História da Império Turco” de Sir Paul Rycaut (que é um relato de primeira mão do período):
'Alguns judeus se enterraram em seus jardins, cobrindo seus corpos nus com terra até a cabeça, permanecendo em suas camas de sujeira até seus corpos endurecerem com o frio e a umidade. Outros derretiam cera em seus ombros, outros rolavam na neve e atiravam seus corpos na mais fria estação do inverno no mar, nas águas congeladas... Todo o negócio foi deixado de lado, ninguém trabalhava ou abria suas lojas, a menos que se limpasse de suas lojas qualquer merchandise sobre qualquer preço*...'
Bem! Um pouco difícil de acreditar, né? Eu admito que é difícil de imaginar as pessoas fazendo coisas como essas, mas acho que isto tudo testemunha a fé completa e absoluta que esses judeus tinham na vinda do messias, e as medidas extremas necessárias para se purificarem antes da grande Redenção. Creio que isto reflete o quão profundamente os judeus necessitavam ser redimidos neste período de dificuldades. Numa palavra, o “Messias veio”, porque os judeus desejavam desesperadamente que um Messias os salvasse. E assim, o mundo judeu ficou profundamente dividido entre os seguidores de Shabbetai Zvi, e aqueles que o consideravam um impostor. O sultão turco ficou muito preocupado com os efeitos desestabilizadores desta figura messiânica, e por isso prendeu Shabbetai Zvi. No início, Shabbetai manteve sua corte na prisão, dividindo o mundo entre seus fiéis seguidores*, até que ele foi obrigado a escolher entre se converter ao Islã ou encarar a execução pelas mãos dos arqueiros reais. E desse modo, Shabbetai Zvi se converteu ao Islã, e o mundo judeu, ainda cambaleante dos horríveis massacres de 1648-49, agora encarava uma tremenda crise espiritual.”
* Trechos em que duvido um pouco da minha tradução. Aliás duvido da tradução inteira, mas como é de graça, você não pode reclamar.
“Pela metade do século XVII, a posição econômica e social dos judeus poloneses parecia firmemente estabelecida. Os judeus estavam bem representados nas grandes feiras em que o comércio polonês era centrado. De particular importância para a crescente e poderosa nobreza polonesa foi o papel representado pelos judeus economicamente astutos, que freqüentemente serviam aos nobres como conselheiros e como administradores de seus estados. A estabilidade econômica foi acompanhada por um significativo desenvolvimento político e social. Já em 1551, o Rei Sigismund Augustus garantiu aos judeus o direito de elegerem seus rabbi-chefe e juízes aos quais foram dados poderes para administrarem a justiça da comunidade judia em todas as questões de acordo com os princípios de Halakha. No século XVII o Conselho das Quatro Terras (Grande Polônia, Pequena Polônia, Podolia e Volhynia) foi estabelecido pelos líderes das comunidades judias como um tipo de “Parlamento” e “Corte Suprema” dos judeus poloneses. Para os líderes dos estados poloneses, o concílio servia como um instrumento efetivo para a coleta de impostos nas comunidades judias. Na década de 40 deste século, a vida judia na Polônia era próspera, cimentada numa aliança benéfica e mútua entre os judeus e as classes governantes polonesas. E assim, não é nenhuma surpresa que a Polônia era descrita em termos muito favoráveis na literatura judia do período. A tradução de “Polônia” para o hebreu (“Polin” ou “Polanya”) foi entendida como uma dica das características especiais da vida dos judeus por lá, uma vez que “Po Lan Yah” é em hebreu “Aqui descansa Deus” ! Mas, como temos visto, um significativo nível de animosidade popular contra os judeus já estava presente, e no ano de 1648 esta hostilidade foi dramaticamente elevada como um resultado de uma rebelião nacionalista. Os judeus poloneses sofreram um massacre horribilíssimo.
A rebelião se deu na Ucrânia, onde os cossacos, um bando de servos e cavaleiros robustos e guerreiros, lideraram uma revolta contra os líderes poloneses.Os poloneses e os ucranianos não compartilhavam uma língua comum, e ainda que ambos fossem cristãos, o catolicismo dos poloneses confrontava com a ortodoxia russa dos ucranianos. De qualquer forma, o líder da rebelião de 1648-9 (conhecida como a revolta cossaca), foi Bogdan Chmielnitzki, um homem que é ainda visto por muitos como um herói popular nacionalista e ucraniano. Chmielnitzki e seus cavaleiros cossacos ressentidos com os judeus, viam estes como aliados desprezíveis da tirania política polaca e da opressão econômica. Comunidades judias inteiras foram brutalmente massacradas pelas hordas cossacas. Uma testemunha ocular desses massacres, Rabbi Nathan Hanover, descreveu os horrores...
'Os cossacos se revoltaram contra os judeus com uma crueldade terrível... Alguns deles tiveram suas peles arrancadas e suas carnes foram atiradas aos cães. As mãos e os pés de outros eram decepados e os judeus eram atirados nas estradas, onde carroças os atropelavam e os cavalos marchavam sobre eles... muitos foram enterrados vivos. Crianças eram assassinadas nos seios de suas mães e muitas crianças foram rasgadas ao meio, como peixes... não houve uma morte não natural no mundo que eles não lhes infligiram.' (N. Hanover, Yeven Metzulah, Tel Aviv, 1966, pp.31-2)
Eu percebo que isto é um retrato horrível, que pode ser bem difícil de ler. Mas penso que é importante lê-lo, em ordem para entender o horror daqueles dias. Claramente os cossacos agiram com um profundo sentimento de ódio, e não se pode duvidar que o massacre produziu uma redução no número de judeus poloneses. Centenas de milhares de judeus pereceram nas mãos dos bandos cossacos, e não menos que setecentas kehillot (comunidades) foram destruídas! Neste período de desespero, certamente muitas questões difíceis devem ter surgido. Como seria possível reconstruir ou restaurar algum nível de estabilidade social? Num nível teológico, como era possível que Deus permitisse que Seu povo sofresse tais crueldades?(...)
No ano de 1665, Shabbetai Zvi, um judeu sefardita da Smirnia na Anatólia (hoje Turquia), proclamou-se messias em Jerusalém. Com a ajuda de seu principal discípulo, uma figura carismática chamada Nathan de Gaza (que dizia ser um profeta), o movimento messiânico se espalhou como fogo selvagem através do mundo judeu. Rumores dos poderes miraculosos do Messias abundaram, dez mil judeus rapidamente fizeram preparações para abandonarem seus lares na Diáspora, para assim eles poderem ser miraculosamente transportados “na asas das águias” até Eretz Yisrael! Muitos fecharam suas lojas e iniciaram jejuns especiais e outros tipos extremos de purificações. Aqui vai uma descrição destes eventos bizarros, tomados da “História da Império Turco” de Sir Paul Rycaut (que é um relato de primeira mão do período):
'Alguns judeus se enterraram em seus jardins, cobrindo seus corpos nus com terra até a cabeça, permanecendo em suas camas de sujeira até seus corpos endurecerem com o frio e a umidade. Outros derretiam cera em seus ombros, outros rolavam na neve e atiravam seus corpos na mais fria estação do inverno no mar, nas águas congeladas... Todo o negócio foi deixado de lado, ninguém trabalhava ou abria suas lojas, a menos que se limpasse de suas lojas qualquer merchandise sobre qualquer preço*...'
Bem! Um pouco difícil de acreditar, né? Eu admito que é difícil de imaginar as pessoas fazendo coisas como essas, mas acho que isto tudo testemunha a fé completa e absoluta que esses judeus tinham na vinda do messias, e as medidas extremas necessárias para se purificarem antes da grande Redenção. Creio que isto reflete o quão profundamente os judeus necessitavam ser redimidos neste período de dificuldades. Numa palavra, o “Messias veio”, porque os judeus desejavam desesperadamente que um Messias os salvasse. E assim, o mundo judeu ficou profundamente dividido entre os seguidores de Shabbetai Zvi, e aqueles que o consideravam um impostor. O sultão turco ficou muito preocupado com os efeitos desestabilizadores desta figura messiânica, e por isso prendeu Shabbetai Zvi. No início, Shabbetai manteve sua corte na prisão, dividindo o mundo entre seus fiéis seguidores*, até que ele foi obrigado a escolher entre se converter ao Islã ou encarar a execução pelas mãos dos arqueiros reais. E desse modo, Shabbetai Zvi se converteu ao Islã, e o mundo judeu, ainda cambaleante dos horríveis massacres de 1648-49, agora encarava uma tremenda crise espiritual.”
* Trechos em que duvido um pouco da minha tradução. Aliás duvido da tradução inteira, mas como é de graça, você não pode reclamar.
Um poquinho de polêmica barata
Então João, pronto para mais uma entrevista?
Só se for agora.
Por que você entrou e depois saiu do curso de Ciências Sociais?
Há! Quer que eu brigue com quase todos os meus amigos, né? Tudo bem, vamos lá. De um modo geral sai do curso pela mesma razão que entrei: instinto. Não sabia explicar na época, não sei se saberia explicar hoje. Mas vou tentar. Entrei porque queria fazer algo realmente importante. Sei que as pessoas que fazem engenharia computacional acham seu trabalho importante, mas não o é. Há cem anos não existiam computadores. Sempre tive, para usar uma expressão desgastada, consciência histórica. Se não existia há cem anos então não tem importância alguma. Mas aí, quando entrei no curso descobri que as ciências sociais até tinham cem anos, mas não tinham duzentos. E se não tem duzentos anos não tem importância.
Espera aí. Você está dizendo que saiu das Ciências Sociais só porque o curso não tinha duzentos anos?
É, foi o que eu disse. Mas é mentira, claro. Quando saí sentia um impulso tão forte nesta direção que qualquer resistência era irrelevante. O fato é que as ciências sociais são importantes, mas de uma maneira negativa. Ela nos ajuda a compreender a tragédia que foi o século XX. Fenômenos como o nazismo e o comunismo seriam impensáveis sem a sociologia. Foram as ciências sociais que deram os instrumentos para o estado manipular a massa, esquadrinhá-la, descobrir seus desejos mais baixos e realizá-los a preços altos. Aliás, foi ela que inventou a massa, ela potencializou o poder, ela legitima o que quiser, ela efetiva o que for ilegitimável. A neutralidade axiológica de Weber – ele que é tido como a direita da sociologia - resume muito bem este trabalho. Encontremos o meio de manipular as massas e não nos perguntemos pelos valores. Isso explica a sociologia e o século XX.
Mas também há uma sociologia liberal...
Mentira! (Bate na mesa) Calúnia! Sociologia e liberalismo são dois termos incompatíveis. A ausência de sociólogos liberais não é nenhuma coincidência inexplicável. FHC, o sociólogo, foi tachado de neo-liberal, ele que fez a relação arrecadação de impostos/PIB subir de 25% para mais de 30%. Lula não é um sociólogo, mas está cercado por eles, e por isso já estamos chegando em gloriosos 35%.
Mas por que não haveria uma sociologia liberal? Que idéia maluca é essa?
O que faz um sociólogo ou um cientista político além de oferecer estratégias aos homens políticos? A maioria segue tal profissão na esperança de virarem uma espécie de guru e iluminar o mundo político com sua força intelectual cheia de bondade e pureza. Claro, acabam invariavelmente servindo aos desejos dos políticos e se preocupando com o impacto que tal medida teria na popularidade destes e em medidas para melhorar tal impacto. Em suma, um sociólogo apenas serve ao estado e não é desejo deste ver suas forças diminuídas. Portanto não há sociologia liberal.
Quer ver? Fico pensando num recenseador entrando na casa de um cavalheiro do século XVII perguntando a renda e a escolaridade deste. Seria expulso a bengaladas. O que interessa ao governo minha raça? Minhas crenças religiosas? Minha profissão? Isto para não falar em outras pesquisas, sempre com o fomento de algum órgão público, perguntando quantas vezes o casal dá no coro por semana. É claro com estudiosos como esses o governos consegue legitimar qualquer coisa.
Mas voltemos a Weber, me empolguei agora. Ele, a direita da sociologia. Confesso não saber quase nada sobre ele, mas me lembro de sua fórmula: o estado como um monopólio do uso legítimo da força. Que idéia de jerico! O estado não detêm esse monopólio, ou pelo menos não deveria. Sua observância estrita diz que sou impedido de reagir violentamente se me sentir ameaçado, o que é absurdo. Também impede os pais de educarem seus filhos com o cajado. Poderíamos tentar consertar dizendo que o estado tem o monopólio do poder de legitimizar um uso da violência, mas isto é falso também, não tem esse monopólio não. Por um acaso o estado é um semi-deus cujas decisões sobre o uso da violência são inquestionáveis? Deve ser por isso que as pessoas escrevem estado com letra maiúscula. Veja bem, há agora um projeto de lei ou este projeto já foi aprovado, não sei e na verdade isto não tem importância alguma, estamos no Brasil meu bem,, enfim, como ia dizendo, há um projeto que proíbe um pai de educar seu filho a chineladas. Tentem imaginar uma proposta destas discutida nos séculos XVII e XVIII, época do absolutismo, e entenderão sobre o que falo. Se Luiz XIV tivesse essa idéia estúpida a Revolução Francesa teria se iniciado mais cedo. Fora do âmbito estritamente político, o governante não possui legitimidade nenhuma. É claro que Luiz XIV desejaria ampliar os seus poderes, mas não podia, não tinha esta legitimidade, ainda não tinha nascido um jumento com a brilhante idéia de lhe oferecer tal legitimidade. Weber fez isto por Hitler e Stálin. O absolutismo se caracteriza pela concentração do poder político na mão de um indivíduo, já o totalitarismo se caracteriza pela concentração de todo poder na mão de um indivíduo. O absolutismo é ruim, o totalitarismo é monstruoso e o que os separa é a sociologia.
Sua tese é ridícula. Como assim? Os governantes de antigamente viviam interferindo na vida privada das pessoas. Oscar Wilde foi preso por ser homossexual.
Bem, vejam bem a diferença. Este poder de julgar questões morais, não políticas, só aparentemente era controlado pelo estado, mas pertencia muito antes aos costumes, ao senso comum do povo e suas crenças religiosas.
E faz diferença? Faz diferença para o homossexual ser preso no governo da rainha Vitória ou no governo de Fidel Castro?
Claro. Por que os países cristãos criminalizavam o homossexualismo? Porque ele atentava contra a religião dominante. Era uma arbitrariedade, claro, mas uma arbitrariedade nascida da tradição, que queiram ou não, ajudou a construir a civilização ocidental. Já Fidel Castro o proíbe porque ele não acha legal. É claro, em ambos os casos são arbitrariedade, ambos são ruins. Mas, se tiver que escolher, prefiro a arbitrariedade da tradição, que pelo menos nos já as conhecemos. Sabe-se lá que arbitrariedades vão passar pela cabeça de um ditador.
Mas o mais importante aqui é ver que antigamente o Estado não tinha legitimidade nenhuma em questões puramente éticas, era apenas mandatário de uma outra fonte de legitimidade. E é sempre bom fragmentar o poder, devemos fragmentá-lo sempre que possível. E qual foi a experiência do século XX, a experiência das ciências sociais? A concentração do poder pelo Estado, nada mais. O estado tem o poder político, moral, e se vivermos num paiseco da América do Sul ou num regime comunista, tem o poder econômico também. Esses dias vi na televisão um sociólogo, não sei quem, falando muito espantado que havia pessoas no Brasil que se consideravam primeiros devotos de Nossa Senhora da Aparecida e só depois brasileiros. Nada mais natural, mas ele ficou espantado de ver o “povo” dividido por dois poderes. Ele não pode suportar a idéia de um poder concorrente com o Estado.
Por exemplo, um dos grandes problemas das democracias atuais, incluindo a brasileira, é: Como fazer para que ela não descambe em ditadura da maioria? Ora, deve haver cláusulas que sejam livres do poder político, livres do ondular da opinião pública. Mas como fazer isso se não há nenhuma outra instância de poder relevante além do estado? É claro, isso só pode dar em merda.
Bem,agora que você já irradiou sua luz intelectual cheia de bondade e pureza, acho que já está bom. Você já deve ter conseguido destruir suas amizades das Ciências Sociais.
Pô, que isso, não me levem a mal não, gente. É brincadeira.
Só se for agora.
Por que você entrou e depois saiu do curso de Ciências Sociais?
Há! Quer que eu brigue com quase todos os meus amigos, né? Tudo bem, vamos lá. De um modo geral sai do curso pela mesma razão que entrei: instinto. Não sabia explicar na época, não sei se saberia explicar hoje. Mas vou tentar. Entrei porque queria fazer algo realmente importante. Sei que as pessoas que fazem engenharia computacional acham seu trabalho importante, mas não o é. Há cem anos não existiam computadores. Sempre tive, para usar uma expressão desgastada, consciência histórica. Se não existia há cem anos então não tem importância alguma. Mas aí, quando entrei no curso descobri que as ciências sociais até tinham cem anos, mas não tinham duzentos. E se não tem duzentos anos não tem importância.
Espera aí. Você está dizendo que saiu das Ciências Sociais só porque o curso não tinha duzentos anos?
É, foi o que eu disse. Mas é mentira, claro. Quando saí sentia um impulso tão forte nesta direção que qualquer resistência era irrelevante. O fato é que as ciências sociais são importantes, mas de uma maneira negativa. Ela nos ajuda a compreender a tragédia que foi o século XX. Fenômenos como o nazismo e o comunismo seriam impensáveis sem a sociologia. Foram as ciências sociais que deram os instrumentos para o estado manipular a massa, esquadrinhá-la, descobrir seus desejos mais baixos e realizá-los a preços altos. Aliás, foi ela que inventou a massa, ela potencializou o poder, ela legitima o que quiser, ela efetiva o que for ilegitimável. A neutralidade axiológica de Weber – ele que é tido como a direita da sociologia - resume muito bem este trabalho. Encontremos o meio de manipular as massas e não nos perguntemos pelos valores. Isso explica a sociologia e o século XX.
Mas também há uma sociologia liberal...
Mentira! (Bate na mesa) Calúnia! Sociologia e liberalismo são dois termos incompatíveis. A ausência de sociólogos liberais não é nenhuma coincidência inexplicável. FHC, o sociólogo, foi tachado de neo-liberal, ele que fez a relação arrecadação de impostos/PIB subir de 25% para mais de 30%. Lula não é um sociólogo, mas está cercado por eles, e por isso já estamos chegando em gloriosos 35%.
Mas por que não haveria uma sociologia liberal? Que idéia maluca é essa?
O que faz um sociólogo ou um cientista político além de oferecer estratégias aos homens políticos? A maioria segue tal profissão na esperança de virarem uma espécie de guru e iluminar o mundo político com sua força intelectual cheia de bondade e pureza. Claro, acabam invariavelmente servindo aos desejos dos políticos e se preocupando com o impacto que tal medida teria na popularidade destes e em medidas para melhorar tal impacto. Em suma, um sociólogo apenas serve ao estado e não é desejo deste ver suas forças diminuídas. Portanto não há sociologia liberal.
Quer ver? Fico pensando num recenseador entrando na casa de um cavalheiro do século XVII perguntando a renda e a escolaridade deste. Seria expulso a bengaladas. O que interessa ao governo minha raça? Minhas crenças religiosas? Minha profissão? Isto para não falar em outras pesquisas, sempre com o fomento de algum órgão público, perguntando quantas vezes o casal dá no coro por semana. É claro com estudiosos como esses o governos consegue legitimar qualquer coisa.
Mas voltemos a Weber, me empolguei agora. Ele, a direita da sociologia. Confesso não saber quase nada sobre ele, mas me lembro de sua fórmula: o estado como um monopólio do uso legítimo da força. Que idéia de jerico! O estado não detêm esse monopólio, ou pelo menos não deveria. Sua observância estrita diz que sou impedido de reagir violentamente se me sentir ameaçado, o que é absurdo. Também impede os pais de educarem seus filhos com o cajado. Poderíamos tentar consertar dizendo que o estado tem o monopólio do poder de legitimizar um uso da violência, mas isto é falso também, não tem esse monopólio não. Por um acaso o estado é um semi-deus cujas decisões sobre o uso da violência são inquestionáveis? Deve ser por isso que as pessoas escrevem estado com letra maiúscula. Veja bem, há agora um projeto de lei ou este projeto já foi aprovado, não sei e na verdade isto não tem importância alguma, estamos no Brasil meu bem,, enfim, como ia dizendo, há um projeto que proíbe um pai de educar seu filho a chineladas. Tentem imaginar uma proposta destas discutida nos séculos XVII e XVIII, época do absolutismo, e entenderão sobre o que falo. Se Luiz XIV tivesse essa idéia estúpida a Revolução Francesa teria se iniciado mais cedo. Fora do âmbito estritamente político, o governante não possui legitimidade nenhuma. É claro que Luiz XIV desejaria ampliar os seus poderes, mas não podia, não tinha esta legitimidade, ainda não tinha nascido um jumento com a brilhante idéia de lhe oferecer tal legitimidade. Weber fez isto por Hitler e Stálin. O absolutismo se caracteriza pela concentração do poder político na mão de um indivíduo, já o totalitarismo se caracteriza pela concentração de todo poder na mão de um indivíduo. O absolutismo é ruim, o totalitarismo é monstruoso e o que os separa é a sociologia.
Sua tese é ridícula. Como assim? Os governantes de antigamente viviam interferindo na vida privada das pessoas. Oscar Wilde foi preso por ser homossexual.
Bem, vejam bem a diferença. Este poder de julgar questões morais, não políticas, só aparentemente era controlado pelo estado, mas pertencia muito antes aos costumes, ao senso comum do povo e suas crenças religiosas.
E faz diferença? Faz diferença para o homossexual ser preso no governo da rainha Vitória ou no governo de Fidel Castro?
Claro. Por que os países cristãos criminalizavam o homossexualismo? Porque ele atentava contra a religião dominante. Era uma arbitrariedade, claro, mas uma arbitrariedade nascida da tradição, que queiram ou não, ajudou a construir a civilização ocidental. Já Fidel Castro o proíbe porque ele não acha legal. É claro, em ambos os casos são arbitrariedade, ambos são ruins. Mas, se tiver que escolher, prefiro a arbitrariedade da tradição, que pelo menos nos já as conhecemos. Sabe-se lá que arbitrariedades vão passar pela cabeça de um ditador.
Mas o mais importante aqui é ver que antigamente o Estado não tinha legitimidade nenhuma em questões puramente éticas, era apenas mandatário de uma outra fonte de legitimidade. E é sempre bom fragmentar o poder, devemos fragmentá-lo sempre que possível. E qual foi a experiência do século XX, a experiência das ciências sociais? A concentração do poder pelo Estado, nada mais. O estado tem o poder político, moral, e se vivermos num paiseco da América do Sul ou num regime comunista, tem o poder econômico também. Esses dias vi na televisão um sociólogo, não sei quem, falando muito espantado que havia pessoas no Brasil que se consideravam primeiros devotos de Nossa Senhora da Aparecida e só depois brasileiros. Nada mais natural, mas ele ficou espantado de ver o “povo” dividido por dois poderes. Ele não pode suportar a idéia de um poder concorrente com o Estado.
Por exemplo, um dos grandes problemas das democracias atuais, incluindo a brasileira, é: Como fazer para que ela não descambe em ditadura da maioria? Ora, deve haver cláusulas que sejam livres do poder político, livres do ondular da opinião pública. Mas como fazer isso se não há nenhuma outra instância de poder relevante além do estado? É claro, isso só pode dar em merda.
Bem,agora que você já irradiou sua luz intelectual cheia de bondade e pureza, acho que já está bom. Você já deve ter conseguido destruir suas amizades das Ciências Sociais.
Pô, que isso, não me levem a mal não, gente. É brincadeira.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Resolvi traduzir algumas piadas que circulavam nos antigos países comunistas. Achei-as em um artigo da Prospect e no Wikipedia. Só as melhorzinhas:
Duas crianças berlinenses falam uma com perto do muro. A garotinha do lado ocidental diz enquanto come uma banana: “Olha – eu tenho uma banana”. O garoto no lado oriental não queria ficar por baixo e diz, cheio de orgulho “nós temos o socialismo”. A garota responde “Ehhhh... nós teremos o socialismo em breve”. E o garoto, triunfante “E então vocês nunca mais terão bananas!”
O professor pergunta na escola: “Qual é a coisa mais importante no socialismo?” Um aluno pensa um pouco e diz “É o homem”. O professor “É uma boa resposta, ganhou nota B”. O aluno porém fica insatisfeito e pergunta “Se eu tivesse dito qual era o nome do homem você me daria nota A?”
Informante: Como você se sente sobre a situação política
Pedestre: Bem, eu estava pensando...
Informante: Basta! Você está preso!
Dois amigos estão andando na rua, então um pergunta para o outro “O que você pensa do Rakosi?” O outro responde “Siga-me”. Eles entram num beco “Agora me diga o que você acha de Rakosi”. “Não, aqui não. Não é seguro”. Eles começam a subir uns degraus que levam ao porão de uma construção. “Ok, agora você pode me dizer o que você acha de nosso presidente”. “Bem” disse o outro,olhando nervosamente para os lados “na verdade eu gosto dele”.
Três prisioneiros num gulag conversam sobre o motivo de terem sido presos: “Eu estou aqui porque sempre chegava cinco minutos atrasados no trabalho e me acusaram de sabotagem”.O segundo: “Eu estou aqui porque sempre chegava cinco minutos mais cedo no trabalho e me acusaram de espionagem.” E o terceiro “Eu estou aqui porque sempre chegava na hora certa no meu trabalho. E então eles me acusaram de comprar um relógio ocidental”.
Uma dona de casa diz para outra “Ouvi falar que vai ter neve amanhã”. E a outra “Mas eu não entrei em nenhuma fila para isso”.
O capitalismo está na beira de um abismo e parece que em breve o comunismo o ultrapassará.
Por que o indivíduo está posto no centro do socialismo? Para que se possa chutá-lo de todos os lados.
Quando ocorreu a primeira eleição russa? Quando Deus colocou Eva na frente de Adão e disse: “Vá em frente, escolha sua mulher”.
”Ei, Hymee, como está seu irmão Joseph?” “Ele está vivendo em Praga, construindo o socialismo” “Você não tinha uma irmã? A Judith, o que ela está fazendo?” “Ela está bem também – vive em Budapeste, está criando um futuro comunista.” “E seu irmão mais velho, o Bernie?” “Oh, ele se mudou para Israel". “E ele está construindo o socialismo lá também?” “Você tá doido? Por que ele faria isto em seu próprio país?”
Porque a Tchecoslováquia é o país mais neutro do mundo? Porque ela não interfere nem mesmo em seus assuntos internos.
Os russos são nossos irmãos ou nossos amigos? Nossos irmãos – podemos escolher nossos amigos
Já estamos no comunismo completo? Nós já passamos mesmo pelo socialismo e chegamos no comunismo completo?
Porra, não! Isto ainda vai ficar muito pior.
Um homem está na fila por comida em Moscou. Depois de muito tempo ele consegue. Ele vira para seu amigo e diz “É isto. Vou matar o Gorbachev”. Duas horas depois ele volta. “E aí? Conseguiu?” “Nada. Havia uma fila ainda maior lá”.
Duas crianças berlinenses falam uma com perto do muro. A garotinha do lado ocidental diz enquanto come uma banana: “Olha – eu tenho uma banana”. O garoto no lado oriental não queria ficar por baixo e diz, cheio de orgulho “nós temos o socialismo”. A garota responde “Ehhhh... nós teremos o socialismo em breve”. E o garoto, triunfante “E então vocês nunca mais terão bananas!”
O professor pergunta na escola: “Qual é a coisa mais importante no socialismo?” Um aluno pensa um pouco e diz “É o homem”. O professor “É uma boa resposta, ganhou nota B”. O aluno porém fica insatisfeito e pergunta “Se eu tivesse dito qual era o nome do homem você me daria nota A?”
Informante: Como você se sente sobre a situação política
Pedestre: Bem, eu estava pensando...
Informante: Basta! Você está preso!
Dois amigos estão andando na rua, então um pergunta para o outro “O que você pensa do Rakosi?” O outro responde “Siga-me”. Eles entram num beco “Agora me diga o que você acha de Rakosi”. “Não, aqui não. Não é seguro”. Eles começam a subir uns degraus que levam ao porão de uma construção. “Ok, agora você pode me dizer o que você acha de nosso presidente”. “Bem” disse o outro,olhando nervosamente para os lados “na verdade eu gosto dele”.
Três prisioneiros num gulag conversam sobre o motivo de terem sido presos: “Eu estou aqui porque sempre chegava cinco minutos atrasados no trabalho e me acusaram de sabotagem”.O segundo: “Eu estou aqui porque sempre chegava cinco minutos mais cedo no trabalho e me acusaram de espionagem.” E o terceiro “Eu estou aqui porque sempre chegava na hora certa no meu trabalho. E então eles me acusaram de comprar um relógio ocidental”.
Uma dona de casa diz para outra “Ouvi falar que vai ter neve amanhã”. E a outra “Mas eu não entrei em nenhuma fila para isso”.
O capitalismo está na beira de um abismo e parece que em breve o comunismo o ultrapassará.
Por que o indivíduo está posto no centro do socialismo? Para que se possa chutá-lo de todos os lados.
Quando ocorreu a primeira eleição russa? Quando Deus colocou Eva na frente de Adão e disse: “Vá em frente, escolha sua mulher”.
”Ei, Hymee, como está seu irmão Joseph?” “Ele está vivendo em Praga, construindo o socialismo” “Você não tinha uma irmã? A Judith, o que ela está fazendo?” “Ela está bem também – vive em Budapeste, está criando um futuro comunista.” “E seu irmão mais velho, o Bernie?” “Oh, ele se mudou para Israel". “E ele está construindo o socialismo lá também?” “Você tá doido? Por que ele faria isto em seu próprio país?”
Porque a Tchecoslováquia é o país mais neutro do mundo? Porque ela não interfere nem mesmo em seus assuntos internos.
Os russos são nossos irmãos ou nossos amigos? Nossos irmãos – podemos escolher nossos amigos
Já estamos no comunismo completo? Nós já passamos mesmo pelo socialismo e chegamos no comunismo completo?
Porra, não! Isto ainda vai ficar muito pior.
Um homem está na fila por comida em Moscou. Depois de muito tempo ele consegue. Ele vira para seu amigo e diz “É isto. Vou matar o Gorbachev”. Duas horas depois ele volta. “E aí? Conseguiu?” “Nada. Havia uma fila ainda maior lá”.
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"Todo dia, toda hora, em algum lugar, alguém está falando nas tribunas, nos púlpitos, nos palanques ou nos meios de comunicação, sobre o que o povo quer, e que, por mero acaso, coincide com o que o sujeito pensa." Percival Puggina
Que tal uma pequena entrevista para ocuparmos o espaço vazio?
Seria uma boa.
Se você pudesse ser um animal, qual seria?
[Risos] Que tipo de pergunta é essa? Sei lá... um urso. Deve ser legal ser pesado daquele jeito e ainda conseguir subir em árvores, comer trutas, mel. Mas queria ser urso mesmo só para hibernar. O sono é a experiência mais intensa que alguém pode ter.
Qual ano você queria que passasse mais devagar?
O ano 2000. Era verdadeiramente feliz naquela época, tinha 17 anos. Ainda era alguém simples. O futuro era algo tão distante que não me preocupava, como a morte não me preocupa hoje. Não me envergonhava de ainda ser sustentado pelos meus pais e nem pesadelava em ter que trabalhar (bebe um gole de iogurte). Não que hoje não seja alguém feliz, mas algo de histérico penetrou em mim. Vejo meus colegas e penso a mesma coisa. Algo aconteceu nesses últimos tempos. Talvez um reflexo inconsciente do onze de setembro. Nós, os jovens de hoje em dia, não temos futuro. Somos um bando de histéricos. É impossível ser feliz sendo histérico. Vejo meus amigos quase enloquecendo, dizendo com fúria “cara, estou a três semanas sem beijar na boca”. Porra, e daí? Por que não se candidata a mártir involuntário da castidade ou algo assim? Penso nos Bandar-logs de Kippling “O que os Bandar-Logs pensam hoje toda a jângal pensará um dia”. Somos os Bandar-logs e tomaremos o poder, mas é claro, não será para sempre. Somos irresponsáveis demais para se levar a sério uma hipótese como essa. Nossos filhos terão a dura missão de reconstruir o que destruirmos. Isto é, se tivermos filhos em meio a tantas pílulas e casos de aborto. Provavelmente serei sustentado pelos meus filhos, aliás. Eles pensarão, que velho mais irresponsável e estarão absolutamente certos. Mas eu já sou só um velho, o pior tipo de velho, o que pensa que é jovem, um velho ranzinza dizendo “bons tempos aqueles em que eu não existia”.
Você acha que o Brasil tem jeito?
Jeito de boiola, só se for. O Brasil é um país meio gay, já reparou? Essa obsessão com o Carnaval nunca me enganou. Sabe esses gays caricatos, eternos personagens desses programas humorísticos de sábado à noite? Quais são as características deles? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo. Quais as características do brasileiro médio? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo.
E a internet?
Maior invenção do século, não, maior invenção desde a escrita. A internet é absurda, estou atualmente jogando xadrez com portugueses, espanhóis, japoneses, americanos. Acabei de perder para um cubano. Você pode ler um monte de gente boa de graça, baixar qualquer disco que imaginar. O google que é uma espécie de sábio da montanha, com a vantagem de que ao invés de termos de aprender alpinismo para falar com ele, basta clicarmos “www.google.com”. Se pudesse passaria todo o tempo em que estou acordado na internet. É uma época de aventuras a nossa. De repente bate aquele saudosismo de épocas passadas, nos vemos como marinheiros do século XVI, descobrindo terras novas, comendo comidas estranhas, transando com indígenas. Nada disso iguala nossa época, podemos abrir várias janelas e então escolhemos ouvirmos só as pessoas mais interessantes. Está bem, talvez não seja tão bom quanto o século XVI, mas pelo menos há uma cama confortável nos esperando ao fim do dia.
Seria uma boa.
Se você pudesse ser um animal, qual seria?
[Risos] Que tipo de pergunta é essa? Sei lá... um urso. Deve ser legal ser pesado daquele jeito e ainda conseguir subir em árvores, comer trutas, mel. Mas queria ser urso mesmo só para hibernar. O sono é a experiência mais intensa que alguém pode ter.
Qual ano você queria que passasse mais devagar?
O ano 2000. Era verdadeiramente feliz naquela época, tinha 17 anos. Ainda era alguém simples. O futuro era algo tão distante que não me preocupava, como a morte não me preocupa hoje. Não me envergonhava de ainda ser sustentado pelos meus pais e nem pesadelava em ter que trabalhar (bebe um gole de iogurte). Não que hoje não seja alguém feliz, mas algo de histérico penetrou em mim. Vejo meus colegas e penso a mesma coisa. Algo aconteceu nesses últimos tempos. Talvez um reflexo inconsciente do onze de setembro. Nós, os jovens de hoje em dia, não temos futuro. Somos um bando de histéricos. É impossível ser feliz sendo histérico. Vejo meus amigos quase enloquecendo, dizendo com fúria “cara, estou a três semanas sem beijar na boca”. Porra, e daí? Por que não se candidata a mártir involuntário da castidade ou algo assim? Penso nos Bandar-logs de Kippling “O que os Bandar-Logs pensam hoje toda a jângal pensará um dia”. Somos os Bandar-logs e tomaremos o poder, mas é claro, não será para sempre. Somos irresponsáveis demais para se levar a sério uma hipótese como essa. Nossos filhos terão a dura missão de reconstruir o que destruirmos. Isto é, se tivermos filhos em meio a tantas pílulas e casos de aborto. Provavelmente serei sustentado pelos meus filhos, aliás. Eles pensarão, que velho mais irresponsável e estarão absolutamente certos. Mas eu já sou só um velho, o pior tipo de velho, o que pensa que é jovem, um velho ranzinza dizendo “bons tempos aqueles em que eu não existia”.
Você acha que o Brasil tem jeito?
Jeito de boiola, só se for. O Brasil é um país meio gay, já reparou? Essa obsessão com o Carnaval nunca me enganou. Sabe esses gays caricatos, eternos personagens desses programas humorísticos de sábado à noite? Quais são as características deles? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo. Quais as características do brasileiro médio? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo.
E a internet?
Maior invenção do século, não, maior invenção desde a escrita. A internet é absurda, estou atualmente jogando xadrez com portugueses, espanhóis, japoneses, americanos. Acabei de perder para um cubano. Você pode ler um monte de gente boa de graça, baixar qualquer disco que imaginar. O google que é uma espécie de sábio da montanha, com a vantagem de que ao invés de termos de aprender alpinismo para falar com ele, basta clicarmos “www.google.com”. Se pudesse passaria todo o tempo em que estou acordado na internet. É uma época de aventuras a nossa. De repente bate aquele saudosismo de épocas passadas, nos vemos como marinheiros do século XVI, descobrindo terras novas, comendo comidas estranhas, transando com indígenas. Nada disso iguala nossa época, podemos abrir várias janelas e então escolhemos ouvirmos só as pessoas mais interessantes. Está bem, talvez não seja tão bom quanto o século XVI, mas pelo menos há uma cama confortável nos esperando ao fim do dia.
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