quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Que tal uma pequena entrevista para ocuparmos o espaço vazio?
Seria uma boa.

Se você pudesse ser um animal, qual seria?

[Risos] Que tipo de pergunta é essa? Sei lá... um urso. Deve ser legal ser pesado daquele jeito e ainda conseguir subir em árvores, comer trutas, mel. Mas queria ser urso mesmo só para hibernar. O sono é a experiência mais intensa que alguém pode ter.

Qual ano você queria que passasse mais devagar?

O ano 2000. Era verdadeiramente feliz naquela época, tinha 17 anos. Ainda era alguém simples. O futuro era algo tão distante que não me preocupava, como a morte não me preocupa hoje. Não me envergonhava de ainda ser sustentado pelos meus pais e nem pesadelava em ter que trabalhar (bebe um gole de iogurte). Não que hoje não seja alguém feliz, mas algo de histérico penetrou em mim. Vejo meus colegas e penso a mesma coisa. Algo aconteceu nesses últimos tempos. Talvez um reflexo inconsciente do onze de setembro. Nós, os jovens de hoje em dia, não temos futuro. Somos um bando de histéricos. É impossível ser feliz sendo histérico. Vejo meus amigos quase enloquecendo, dizendo com fúria “cara, estou a três semanas sem beijar na boca”. Porra, e daí? Por que não se candidata a mártir involuntário da castidade ou algo assim? Penso nos Bandar-logs de Kippling “O que os Bandar-Logs pensam hoje toda a jângal pensará um dia”. Somos os Bandar-logs e tomaremos o poder, mas é claro, não será para sempre. Somos irresponsáveis demais para se levar a sério uma hipótese como essa. Nossos filhos terão a dura missão de reconstruir o que destruirmos. Isto é, se tivermos filhos em meio a tantas pílulas e casos de aborto. Provavelmente serei sustentado pelos meus filhos, aliás. Eles pensarão, que velho mais irresponsável e estarão absolutamente certos. Mas eu já sou só um velho, o pior tipo de velho, o que pensa que é jovem, um velho ranzinza dizendo “bons tempos aqueles em que eu não existia”.

Você acha que o Brasil tem jeito?
Jeito de boiola, só se for. O Brasil é um país meio gay, já reparou? Essa obsessão com o Carnaval nunca me enganou. Sabe esses gays caricatos, eternos personagens desses programas humorísticos de sábado à noite? Quais são as características deles? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo. Quais as características do brasileiro médio? Histéricos, festeiros, com horror a violência, gostam de apanhar, de serem dominados, vivem posando de vítima, corruptos, sensitivos, vaidosos, emocionais, escandalosos, teatrais, só pensam em sexo.

E a internet?
Maior invenção do século, não, maior invenção desde a escrita. A internet é absurda, estou atualmente jogando xadrez com portugueses, espanhóis, japoneses, americanos. Acabei de perder para um cubano. Você pode ler um monte de gente boa de graça, baixar qualquer disco que imaginar. O google que é uma espécie de sábio da montanha, com a vantagem de que ao invés de termos de aprender alpinismo para falar com ele, basta clicarmos “www.google.com”. Se pudesse passaria todo o tempo em que estou acordado na internet. É uma época de aventuras a nossa. De repente bate aquele saudosismo de épocas passadas, nos vemos como marinheiros do século XVI, descobrindo terras novas, comendo comidas estranhas, transando com indígenas. Nada disso iguala nossa época, podemos abrir várias janelas e então escolhemos ouvirmos só as pessoas mais interessantes. Está bem, talvez não seja tão bom quanto o século XVI, mas pelo menos há uma cama confortável nos esperando ao fim do dia.

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