Não queria lhes assustar, mas daqui a pouco começará o horário político. Por mim, que não vejo televisão e nem tenho rádio, tudo bem. Problemático seria se o youtube fosse obrigado a passar dois minutinhos de horário político antes de qualquer vídeo. Cale a boca, João. Não dê idéia errada. Enfim. O problema do horário político é que quando um político resolve fazer um ataque pessoal já vem logo pessoas chorando, dizendo que quer um debate de alto nível, com idéias, propostas, que não quer baixaria na TV... Não querem baixaria na TV! Que tipo de pessoa não quer baixaria na TV?, é mais ou menos como não querer queijo num misto. Meu Deus, como enrolo para chegar no essencial!, e o essencial é que no Brasil campanhas com propostas positivas é só um desfile de tautologias. Basta tentar contradizer o que os políticos dizem para ver. Eles falarão coisas como “Quero uma educação melhor” ou “Mais segurança para nossos cidadãos”. Não sabia que havia políticos defendendo uma educação pior ou menos segurança para os cidadãos. Simplesmente não há debate, temas polêmicos são cuidadosamente evitados, pois estes dividem o eleitorado e os programas são feitos para arrebanhar eleitores, não para perdê-los. Por essa razão dirão “quero uma educação melhor”, mas dificilmente (a menos que alguma pesquise indique que pelo menos 90% do eleitorado concorde com a idéia) “quero o fim da escola plural” ou “menos verba para o ensino superior e mais verba para o ensino básico”. O único momento onde a modorra é interrompida e alguma informação é passada é nos ataques pessoais. Ali ficamos sabendo das maracutaias em que tal candidato já esteve envolvido, de que crimes civis ele é acusado, se é mentiroso, autoritário, frouxo, inexperiente, atleticano e essas coisas difamatórias. É muito mais interessante, informativo e útil para o eleitorado decidir.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
sábado, 26 de abril de 2008
Responda rápido, sem pesquisar no google: qual é a capital do Mato Grosso do Sul?
Eu julgava saber todas as capitais dos estados brasileiros, mas ontem me deparei com essa questão e não soube responder. Depois de rápida pesquisa vi que é mais fácil alguém saber a capital do Acre que a do Mato Grosso do Sul. Não, não é Cuiabá. Cuiabá tem 500 mil habitantes, a capital do Mato Grosso do Sul é maior, tem mais de 700 mil. E no entanto você se lembrou de Cuiabá, não da capital do Mato Grosso do Sul. É um fenômeno interessante. O Mato Grosso do Sul e sua capital não são as regiões mais irrelevantes do país. Porém, justamente por isso, tornam-se ainda mais irrelevantes. É como se eles fossem irrelevantes até para a irrelevância.
Eu julgava saber todas as capitais dos estados brasileiros, mas ontem me deparei com essa questão e não soube responder. Depois de rápida pesquisa vi que é mais fácil alguém saber a capital do Acre que a do Mato Grosso do Sul. Não, não é Cuiabá. Cuiabá tem 500 mil habitantes, a capital do Mato Grosso do Sul é maior, tem mais de 700 mil. E no entanto você se lembrou de Cuiabá, não da capital do Mato Grosso do Sul. É um fenômeno interessante. O Mato Grosso do Sul e sua capital não são as regiões mais irrelevantes do país. Porém, justamente por isso, tornam-se ainda mais irrelevantes. É como se eles fossem irrelevantes até para a irrelevância.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Mistério dentro de mistério - ou do porquê deveria parar de ler V.
A esperança de que alguém pudesse desvendar o mistério apresentado no último post me obrigou a parar de atualizar o blog. Sabia que à medida que o post fosse ficando para trás, menores seriam as chances de alguém lê-lo e, portanto, ajudar-me a solucionar o mistério. Uma nova pista, porém, foi apresentada na caixa de comentários obrigando-me a refletir em algo que ocorreu há mais de dez anos. É a nova esperança que nasce com tal pista que me permite seguir escrevendo.
Na virada de 1995 para 96, meu irmão caçula decidiu seguir a moda do verão e raspou sua cabeça, máquina zero. Tinha ele então apenas seis anos e um grave acidente se seguiu. Muitos tentaram, mas nenhuma explicação científica estabeleceu-se como definitiva. O fato é que nenhum fio de cabelo cresceu mais de sua cabeça e esta passou a brilhar cerca de cinco vezes mais que o sol. Uma infância traumática seguiu-se de maneira tragicamente necessária. Apelidos como Carequinha, Balde, Puro Brilho ou Primo It às Avessas eram lhe atribuídos incessantemente. Sua simples presença atrapalhava em muito a visão dos outros e por essa mesma razão ele foi proibido de andar em qualquer veículo motorizado (2000) e de ir ao estádio (2001) sob pena de pesadas multas. Também foi-lhe imposto o uso obrigatório de chapéus e perucas para minimizar sua luz. Mas não foi só o campo da lei que teve de se adaptar a esses novos fatos. Astrônomos travam uma intensa batalha para decidir se um corpo tão pequeno como uma cabeça humana pode ser considerado um astro; se sim, então, por possuir luz própria, a cabeça de meu irmão seria uma estrela. Fenômenos inexplicados como o Raio de Força Carequística (algo como um campo de força que atua num raio de três metros de sua careca e impede que qualquer fio de cabelo se aproxime), o Terremoto de Luz (uma simples gingada de cabeça do meu irmão pode matar milhares de pessoas na Coréia do Sul devido a efeitos ópticos circunflexos e retroativos da luz de sua potente cabecinha) e o Mal de Karekaisman (crises de bobeira aguda associadas a alta produção de brilho) são estudados por milhares de cientistas.
Meu irmão, porém, não aceita o fato dele ser o homem mais careca do mundo e eu, seu irmão mais velho, o mais cabeludo de todos os tempos. E, portanto, passou absurdamente a me designar como o homem mais careca do mundo - justo eu que sou impedido de entrar em qualquer restaurante, cujo cabelo permite os indígenas se cobrirem no rigoroso inverno da Terra do Fogo. Mas, claro, o coração generoso que bate entre minhas costelas me permite tolerar e perdoar os devaneios de meu irmão.
Vários tratamentos cirúrgicos e químicos foram tentados no esforço de dirimir os efeitos do brilho intenso da careca de meu irmão, sendo o transplante de cabelos apenas um deles. Foi então que se verificou a estranha epiderme que cobria o crânio do meu irmão. Ela rejeitava os fios de cabelo por mim doados. Após alguns estudos os dermatologistas estavam de acordo: tal tipo de epiderme era inteiramente nova na raça humana e foi logo batizada de “Couro Carecudo”. Isso, é claro, humilhou meu jovem irmão. Ele passou a me acusar de conspiração, sua raiva foi crescendo e pela primeira vez o fenômeno do Raio de Força Carequística se manifestou. A partir de então foi que começou o comportamento negacionista do meu irmão, atribuindo a mim tudo o que lhe ocorria.
Qual não é minha surpresa, então, quando abro a caixa do post abaixo e vejo o seguinte comentário:
“Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Transplante de Cabelo, I hope you enjoy. The address is http://transplante-de-cabelo.blogspot.com. A hug.”
O link não dá para parte alguma. Procurei no google por “transplate de cabelo” +blogspot e encontrei uma entrada para o endereço do link acima, mas novamente não dava para parte alguma. Uma coisa me chamou a atenção: os trechos do blog no google estavam em português e discorria sobre a maravilhosa técnica de transplantar cabelos. O que seria de se esperar num blog chamado “transplante de cabelos”. Mas por que o comentário foi feito em inglês então? Por que fazer um blog sobre transplante de cabelo (e não um site, por exemplo)? Por que um blog sobre transplante de cabelos gostaria de associar-se ao Fresh Fish Filet? Por que adicionaria o referido blog em sua “blogroll”? E por que apagaria o seu blog logo depois de me mandar estas mensagens? Sem dúvida o meu invejoso irmão estaria por trás de todas essas coisas...
Foi quando atentei para um detalhe: o comentário era referente a um post sobre o mistério: o que um garçom e um militar pode precisar, mas um estudante da UERJ não? Seria transplante de cabelo? Não, não faz muito sentido. Mas tal comentário parece abrir um novo campo de investigações.
O mistério se alarga. Continuo aceitando sugestões para o mistério.
Na virada de 1995 para 96, meu irmão caçula decidiu seguir a moda do verão e raspou sua cabeça, máquina zero. Tinha ele então apenas seis anos e um grave acidente se seguiu. Muitos tentaram, mas nenhuma explicação científica estabeleceu-se como definitiva. O fato é que nenhum fio de cabelo cresceu mais de sua cabeça e esta passou a brilhar cerca de cinco vezes mais que o sol. Uma infância traumática seguiu-se de maneira tragicamente necessária. Apelidos como Carequinha, Balde, Puro Brilho ou Primo It às Avessas eram lhe atribuídos incessantemente. Sua simples presença atrapalhava em muito a visão dos outros e por essa mesma razão ele foi proibido de andar em qualquer veículo motorizado (2000) e de ir ao estádio (2001) sob pena de pesadas multas. Também foi-lhe imposto o uso obrigatório de chapéus e perucas para minimizar sua luz. Mas não foi só o campo da lei que teve de se adaptar a esses novos fatos. Astrônomos travam uma intensa batalha para decidir se um corpo tão pequeno como uma cabeça humana pode ser considerado um astro; se sim, então, por possuir luz própria, a cabeça de meu irmão seria uma estrela. Fenômenos inexplicados como o Raio de Força Carequística (algo como um campo de força que atua num raio de três metros de sua careca e impede que qualquer fio de cabelo se aproxime), o Terremoto de Luz (uma simples gingada de cabeça do meu irmão pode matar milhares de pessoas na Coréia do Sul devido a efeitos ópticos circunflexos e retroativos da luz de sua potente cabecinha) e o Mal de Karekaisman (crises de bobeira aguda associadas a alta produção de brilho) são estudados por milhares de cientistas.
Meu irmão, porém, não aceita o fato dele ser o homem mais careca do mundo e eu, seu irmão mais velho, o mais cabeludo de todos os tempos. E, portanto, passou absurdamente a me designar como o homem mais careca do mundo - justo eu que sou impedido de entrar em qualquer restaurante, cujo cabelo permite os indígenas se cobrirem no rigoroso inverno da Terra do Fogo. Mas, claro, o coração generoso que bate entre minhas costelas me permite tolerar e perdoar os devaneios de meu irmão.
Vários tratamentos cirúrgicos e químicos foram tentados no esforço de dirimir os efeitos do brilho intenso da careca de meu irmão, sendo o transplante de cabelos apenas um deles. Foi então que se verificou a estranha epiderme que cobria o crânio do meu irmão. Ela rejeitava os fios de cabelo por mim doados. Após alguns estudos os dermatologistas estavam de acordo: tal tipo de epiderme era inteiramente nova na raça humana e foi logo batizada de “Couro Carecudo”. Isso, é claro, humilhou meu jovem irmão. Ele passou a me acusar de conspiração, sua raiva foi crescendo e pela primeira vez o fenômeno do Raio de Força Carequística se manifestou. A partir de então foi que começou o comportamento negacionista do meu irmão, atribuindo a mim tudo o que lhe ocorria.
Qual não é minha surpresa, então, quando abro a caixa do post abaixo e vejo o seguinte comentário:
“Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Transplante de Cabelo, I hope you enjoy. The address is http://transplante-de-cabelo.blogspot.com. A hug.”
O link não dá para parte alguma. Procurei no google por “transplate de cabelo” +blogspot e encontrei uma entrada para o endereço do link acima, mas novamente não dava para parte alguma. Uma coisa me chamou a atenção: os trechos do blog no google estavam em português e discorria sobre a maravilhosa técnica de transplantar cabelos. O que seria de se esperar num blog chamado “transplante de cabelos”. Mas por que o comentário foi feito em inglês então? Por que fazer um blog sobre transplante de cabelo (e não um site, por exemplo)? Por que um blog sobre transplante de cabelos gostaria de associar-se ao Fresh Fish Filet? Por que adicionaria o referido blog em sua “blogroll”? E por que apagaria o seu blog logo depois de me mandar estas mensagens? Sem dúvida o meu invejoso irmão estaria por trás de todas essas coisas...
Foi quando atentei para um detalhe: o comentário era referente a um post sobre o mistério: o que um garçom e um militar pode precisar, mas um estudante da UERJ não? Seria transplante de cabelo? Não, não faz muito sentido. Mas tal comentário parece abrir um novo campo de investigações.
O mistério se alarga. Continuo aceitando sugestões para o mistério.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Andando pelos corredores da UERJ ouvi a seguinte fala:
"Tudo bem, você não precisa. Mas um militar ou um garçom pode precisar"
E de modo imperdoável segui meu caminho sem tentar entender o contexto da frase. Agora não consigo pensar em outro assunto. Que tipo de coisa um garçom ou um militar precisam, mas que não é todo mundo que precisa? Pelo amor de Cristo, envie-me sugestões de soluções para o mistério.
"Tudo bem, você não precisa. Mas um militar ou um garçom pode precisar"
E de modo imperdoável segui meu caminho sem tentar entender o contexto da frase. Agora não consigo pensar em outro assunto. Que tipo de coisa um garçom ou um militar precisam, mas que não é todo mundo que precisa? Pelo amor de Cristo, envie-me sugestões de soluções para o mistério.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Mudar de cidade traz algumas pequenas lições. Uma delas é a percepção do quão ridículo é o torcedor.
1998 foi meu último ano como verdadeiro torcedor. Fui no Mineirão nuns 8 jogos do campeonato brasileiro.O Cruzeiro começou mal, empatando um monte de jogos. Assisti a uns 3 dessa fase inicial, sofrendo porque via que o time era bom, mas era azarado que só. O time atacava o tempo todo metia umas três bolas na trave, o juiz anulava um gol legítimo, o goleiro adversário pegava uma bola impossível e o adversário dava um chute a gol e era gol. Não dava nem pra falar que o ataque ou o goleiro era ruim, que o juiz roubou, era só azar mesmo. O time só começou a recuperar no finalzinho, mas aí já era tarde. No final o Cruzeiro tinha de ganhar os últimos sete jogos para se classificar. E foi o que fez, com direito a 5x0 sobre o Juventude na rodada final (eu estava lá). Nas quartas desclassificamos o Palmeiras lá no Parque Antártica com direito a gol decisivo no último minuto, revivendo a Copa do Brasil de dois anos atrás. Pegamos a Portuguesa na semi-final, foi uma vitória tranqüila, sem sustos. Parecia que finalmente ganharíamos o título brasileiro que nos faltava, o time era bom e tinha arrancado na hora exata. Mas perdemos a final para o Corinthians, o que foi justo, já que eles foram melhor não só durante todo o campeonato como na final também. Naquele ano ainda fomos vice da copa Mercosul e da copa do Brasil. Apesar da arrancada final, o time de 98 foi essencialmente bom e azarado.
O que me fez desinteressar pelo esporte? Não foi a seqüência azarada, mas simplesmente porque comecei a andar com uma turma que não ligava muito para futebol. Só fui acompanhar o futebol de perto novamente no mágico ano de 2003, mas nunca com a mesma empolgação de então. Lembro, por exemplo, que quando era moleque, entre 11 e 14 anos, era moda na minha escola vestir a camisa de seu clube por baixo do uniforme, deixando à mostra as beiradas. Só fiz isso uma única vez, quando meu time perdeu alguma partida importante, talvez um clássico, talvez uma final (as quartas de final contra a Portuguesa de 96? Talvez, talvez...).
Esse fim de semana tinha combinado de encontrar um amigo meu nas escadas da Lapa. Cheguei adiantado uns 10 minutos, ele 10 atrasado. Nessa espera, enquanto respirava o ácido amoníaco que exalava daquele lugar imundo, o Vasco fez um gol sobre o Fluminense na semi-final da Taça Rio e pouco depois um menino de uns 16, 17 anos passou na minha frente gritando “Fluzão é fregueish” com um olhar meio feroz e de repente começou a correr. Quando você está do lado de fora, é um estrangeiro, essa rivalidade deixa de fazer sentido, você olha para cenas assim e pensa meu Deus, pra quê? Ele estava gritando para quem? Ele queria que algum pó-de-arroz ouvisse? Queria caçar briga? Para quê o olhar feroz? Ele me parecia um menino pacífico, não brigaria por futebol não. Quer dizer, acho. No dia seguinte, foi a vez do Botafogo ganhar do Flamengo e depois de umas duas horas, ouvi alguém gritando na rua“Mengoooooooo! Mengooooooooo!” E depois passou um carro tocando a todo volume o hino do Flamengo. Fui a janela quando o carro já virava a esquina, mas pude ver uma pedestre levantar o punho, como a demonstrar solidariedade, como a dizer ”É isso aí! Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. E eu me pergunto: Para quê ? O que me irrita nisso tudo é que os torcedores fazem essas idiotices achando de verdade que estão cometendo um ato ético, de coragem, nobre mesmo. Imaginam-se no final de algum filme bónito, lágrimas mal-contidas nos olhos, pose digna, música triste, fotografia meio azul. Meu Deus, o que eu tinha na cabeça ao ir pro colégio com a camisa do Cruzeiro depois de uma derrota importante? O que tem esses flamenguistas gritando o seu clube depois de perderem? Será que achamos que os outros deveriam vir, dar tapinhas nas costas e dizer “parabéns, cara! Você é fiel ao seu time na derrota.”Será que achamos que isso é algum feito digno de nota? Será que achamos que somos heróis só porque não trocamos de time quando este perde? Meu deus, quão idiota é um torcedor! E o jovem vascaíno? Seu olhar feroz mostrava que ele acreditava não estar apenas fazendo pilhéria do adversário, acreditava dizer uma verdade profunda, metafísica mesmo, indubitável, um credo. E, cara, isso é só futebol, um joguinho besta, um tanto decadente, não significa nada demais.
1998 foi meu último ano como verdadeiro torcedor. Fui no Mineirão nuns 8 jogos do campeonato brasileiro.O Cruzeiro começou mal, empatando um monte de jogos. Assisti a uns 3 dessa fase inicial, sofrendo porque via que o time era bom, mas era azarado que só. O time atacava o tempo todo metia umas três bolas na trave, o juiz anulava um gol legítimo, o goleiro adversário pegava uma bola impossível e o adversário dava um chute a gol e era gol. Não dava nem pra falar que o ataque ou o goleiro era ruim, que o juiz roubou, era só azar mesmo. O time só começou a recuperar no finalzinho, mas aí já era tarde. No final o Cruzeiro tinha de ganhar os últimos sete jogos para se classificar. E foi o que fez, com direito a 5x0 sobre o Juventude na rodada final (eu estava lá). Nas quartas desclassificamos o Palmeiras lá no Parque Antártica com direito a gol decisivo no último minuto, revivendo a Copa do Brasil de dois anos atrás. Pegamos a Portuguesa na semi-final, foi uma vitória tranqüila, sem sustos. Parecia que finalmente ganharíamos o título brasileiro que nos faltava, o time era bom e tinha arrancado na hora exata. Mas perdemos a final para o Corinthians, o que foi justo, já que eles foram melhor não só durante todo o campeonato como na final também. Naquele ano ainda fomos vice da copa Mercosul e da copa do Brasil. Apesar da arrancada final, o time de 98 foi essencialmente bom e azarado.
O que me fez desinteressar pelo esporte? Não foi a seqüência azarada, mas simplesmente porque comecei a andar com uma turma que não ligava muito para futebol. Só fui acompanhar o futebol de perto novamente no mágico ano de 2003, mas nunca com a mesma empolgação de então. Lembro, por exemplo, que quando era moleque, entre 11 e 14 anos, era moda na minha escola vestir a camisa de seu clube por baixo do uniforme, deixando à mostra as beiradas. Só fiz isso uma única vez, quando meu time perdeu alguma partida importante, talvez um clássico, talvez uma final (as quartas de final contra a Portuguesa de 96? Talvez, talvez...).
Esse fim de semana tinha combinado de encontrar um amigo meu nas escadas da Lapa. Cheguei adiantado uns 10 minutos, ele 10 atrasado. Nessa espera, enquanto respirava o ácido amoníaco que exalava daquele lugar imundo, o Vasco fez um gol sobre o Fluminense na semi-final da Taça Rio e pouco depois um menino de uns 16, 17 anos passou na minha frente gritando “Fluzão é fregueish” com um olhar meio feroz e de repente começou a correr. Quando você está do lado de fora, é um estrangeiro, essa rivalidade deixa de fazer sentido, você olha para cenas assim e pensa meu Deus, pra quê? Ele estava gritando para quem? Ele queria que algum pó-de-arroz ouvisse? Queria caçar briga? Para quê o olhar feroz? Ele me parecia um menino pacífico, não brigaria por futebol não. Quer dizer, acho. No dia seguinte, foi a vez do Botafogo ganhar do Flamengo e depois de umas duas horas, ouvi alguém gritando na rua“Mengoooooooo! Mengooooooooo!” E depois passou um carro tocando a todo volume o hino do Flamengo. Fui a janela quando o carro já virava a esquina, mas pude ver uma pedestre levantar o punho, como a demonstrar solidariedade, como a dizer ”É isso aí! Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. E eu me pergunto: Para quê ? O que me irrita nisso tudo é que os torcedores fazem essas idiotices achando de verdade que estão cometendo um ato ético, de coragem, nobre mesmo. Imaginam-se no final de algum filme bónito, lágrimas mal-contidas nos olhos, pose digna, música triste, fotografia meio azul. Meu Deus, o que eu tinha na cabeça ao ir pro colégio com a camisa do Cruzeiro depois de uma derrota importante? O que tem esses flamenguistas gritando o seu clube depois de perderem? Será que achamos que os outros deveriam vir, dar tapinhas nas costas e dizer “parabéns, cara! Você é fiel ao seu time na derrota.”Será que achamos que isso é algum feito digno de nota? Será que achamos que somos heróis só porque não trocamos de time quando este perde? Meu deus, quão idiota é um torcedor! E o jovem vascaíno? Seu olhar feroz mostrava que ele acreditava não estar apenas fazendo pilhéria do adversário, acreditava dizer uma verdade profunda, metafísica mesmo, indubitável, um credo. E, cara, isso é só futebol, um joguinho besta, um tanto decadente, não significa nada demais.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
sábado, 5 de abril de 2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Passagens memoráveis da filosofia
Spinoza, Ética, Parte IV
Quem vive sob a direção da Razão esforça-se, quanto pode, por compensar pelo amor, ou seja, pela generosidade, o ódio, a ira, o desprezo, etc., de outrem para consigo mesmo.
Proposição 46
Quem vive sob a direção da Razão esforça-se, quanto pode, por compensar pelo amor, ou seja, pela generosidade, o ódio, a ira, o desprezo, etc., de outrem para consigo mesmo.
Demonstração
Todas as afecções de ódio são más (pelo corolário 1 da proposição precedente), e, por conseguinte, aquele que vive sob a direção da Razão esforçar-se-á, quanto puder, por conseguir não ser dominado pelas afecções de ódio (pela proposição 19 desta parte), e conseqüentemente (pela proposição 37 desta parte) esforçar-se- á também por que outrem não sofra as mesmas afecções. Mas o ódio é aumentado pelo ódio recíproco, e, ao contrário, pode ser extinto pelo amor (pela proposição 43 da parte III) de tal maneira que o ódio se converta em amor (pela proposição 44 da parte III). Logo, aquele que vive sob a direção da Razão esforçar-se-á por compensar o ódio, etc., de outrem pelo amor, isto é, pela generosidade (ver a definição desta no escólio da proposição 59 da parte III). Q.e.d.
Escólio
Exceto, é claro, quando o outrem são os motoristas de ônibus, bando-de-filhos-das-putas-tem-mais-é-que-morrer-mesmo.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Na década de 1830 ocorreu uma importante discussão sobre a institucionalização da ciência na sociedade e no parlamento inglês. Os principais oponentes de tal proposta eram os conservadores. A razão alegada por eles foi a seguinte: se precisamos de profissionais que nos dêem verdades, então é porque desconhecemos tais verdades. Logo, não saberemos avaliar se aquilo que o cientista nos apresenta é verdadeiro ou não. A ciência não deveria ser institucionalizada, pois seria o emprego mais fácil de fraudar do mundo.
Os conservadores perderam essa guerra, a ciência foi institucionalizada e a principal razão para isso é que, sob o amadorismo científico, apenas quem tivesse grana e tempo livre poderia fazer ciência, o que constituía um número muito pequeno de pessoa e, portanto, insatisfatório para o progresso científico nacional então desejado.
Porém, os conservadores nunca foram refutados em seu ponto. De fato, se pensarmos bem, veremos que isso explica muita coisa do mundo acadêmico.
Os conservadores perderam essa guerra, a ciência foi institucionalizada e a principal razão para isso é que, sob o amadorismo científico, apenas quem tivesse grana e tempo livre poderia fazer ciência, o que constituía um número muito pequeno de pessoa e, portanto, insatisfatório para o progresso científico nacional então desejado.
Porém, os conservadores nunca foram refutados em seu ponto. De fato, se pensarmos bem, veremos que isso explica muita coisa do mundo acadêmico.
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