segunda-feira, 14 de abril de 2008

Mudar de cidade traz algumas pequenas lições. Uma delas é a percepção do quão ridículo é o torcedor.

1998 foi meu último ano como verdadeiro torcedor. Fui no Mineirão nuns 8 jogos do campeonato brasileiro.O Cruzeiro começou mal, empatando um monte de jogos. Assisti a uns 3 dessa fase inicial, sofrendo porque via que o time era bom, mas era azarado que só. O time atacava o tempo todo metia umas três bolas na trave, o juiz anulava um gol legítimo, o goleiro adversário pegava uma bola impossível e o adversário dava um chute a gol e era gol. Não dava nem pra falar que o ataque ou o goleiro era ruim, que o juiz roubou, era só azar mesmo. O time só começou a recuperar no finalzinho, mas aí já era tarde. No final o Cruzeiro tinha de ganhar os últimos sete jogos para se classificar. E foi o que fez, com direito a 5x0 sobre o Juventude na rodada final (eu estava lá). Nas quartas desclassificamos o Palmeiras lá no Parque Antártica com direito a gol decisivo no último minuto, revivendo a Copa do Brasil de dois anos atrás. Pegamos a Portuguesa na semi-final, foi uma vitória tranqüila, sem sustos. Parecia que finalmente ganharíamos o título brasileiro que nos faltava, o time era bom e tinha arrancado na hora exata. Mas perdemos a final para o Corinthians, o que foi justo, já que eles foram melhor não só durante todo o campeonato como na final também. Naquele ano ainda fomos vice da copa Mercosul e da copa do Brasil. Apesar da arrancada final, o time de 98 foi essencialmente bom e azarado.

O que me fez desinteressar pelo esporte? Não foi a seqüência azarada, mas simplesmente porque comecei a andar com uma turma que não ligava muito para futebol. Só fui acompanhar o futebol de perto novamente no mágico ano de 2003, mas nunca com a mesma empolgação de então. Lembro, por exemplo, que quando era moleque, entre 11 e 14 anos, era moda na minha escola vestir a camisa de seu clube por baixo do uniforme, deixando à mostra as beiradas. Só fiz isso uma única vez, quando meu time perdeu alguma partida importante, talvez um clássico, talvez uma final (as quartas de final contra a Portuguesa de 96? Talvez, talvez...).

Esse fim de semana tinha combinado de encontrar um amigo meu nas escadas da Lapa. Cheguei adiantado uns 10 minutos, ele 10 atrasado. Nessa espera, enquanto respirava o ácido amoníaco que exalava daquele lugar imundo, o Vasco fez um gol sobre o Fluminense na semi-final da Taça Rio e pouco depois um menino de uns 16, 17 anos passou na minha frente gritando “Fluzão é fregueish” com um olhar meio feroz e de repente começou a correr. Quando você está do lado de fora, é um estrangeiro, essa rivalidade deixa de fazer sentido, você olha para cenas assim e pensa meu Deus, pra quê? Ele estava gritando para quem? Ele queria que algum pó-de-arroz ouvisse? Queria caçar briga? Para quê o olhar feroz? Ele me parecia um menino pacífico, não brigaria por futebol não. Quer dizer, acho. No dia seguinte, foi a vez do Botafogo ganhar do Flamengo e depois de umas duas horas, ouvi alguém gritando na rua“Mengoooooooo! Mengooooooooo!” E depois passou um carro tocando a todo volume o hino do Flamengo. Fui a janela quando o carro já virava a esquina, mas pude ver uma pedestre levantar o punho, como a demonstrar solidariedade, como a dizer ”É isso aí! Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. E eu me pergunto: Para quê ? O que me irrita nisso tudo é que os torcedores fazem essas idiotices achando de verdade que estão cometendo um ato ético, de coragem, nobre mesmo. Imaginam-se no final de algum filme bónito, lágrimas mal-contidas nos olhos, pose digna, música triste, fotografia meio azul. Meu Deus, o que eu tinha na cabeça ao ir pro colégio com a camisa do Cruzeiro depois de uma derrota importante? O que tem esses flamenguistas gritando o seu clube depois de perderem? Será que achamos que os outros deveriam vir, dar tapinhas nas costas e dizer “parabéns, cara! Você é fiel ao seu time na derrota.”Será que achamos que isso é algum feito digno de nota? Será que achamos que somos heróis só porque não trocamos de time quando este perde? Meu deus, quão idiota é um torcedor! E o jovem vascaíno? Seu olhar feroz mostrava que ele acreditava não estar apenas fazendo pilhéria do adversário, acreditava dizer uma verdade profunda, metafísica mesmo, indubitável, um credo. E, cara, isso é só futebol, um joguinho besta, um tanto decadente, não significa nada demais.

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