quarta-feira, 23 de abril de 2008

Mistério dentro de mistério - ou do porquê deveria parar de ler V.

A esperança de que alguém pudesse desvendar o mistério apresentado no último post me obrigou a parar de atualizar o blog. Sabia que à medida que o post fosse ficando para trás, menores seriam as chances de alguém lê-lo e, portanto, ajudar-me a solucionar o mistério. Uma nova pista, porém, foi apresentada na caixa de comentários obrigando-me a refletir em algo que ocorreu há mais de dez anos. É a nova esperança que nasce com tal pista que me permite seguir escrevendo.

Na virada de 1995 para 96, meu irmão caçula decidiu seguir a moda do verão e raspou sua cabeça, máquina zero. Tinha ele então apenas seis anos e um grave acidente se seguiu. Muitos tentaram, mas nenhuma explicação científica estabeleceu-se como definitiva. O fato é que nenhum fio de cabelo cresceu mais de sua cabeça e esta passou a brilhar cerca de cinco vezes mais que o sol. Uma infância traumática seguiu-se de maneira tragicamente necessária. Apelidos como Carequinha, Balde, Puro Brilho ou Primo It às Avessas eram lhe atribuídos incessantemente. Sua simples presença atrapalhava em muito a visão dos outros e por essa mesma razão ele foi proibido de andar em qualquer veículo motorizado (2000) e de ir ao estádio (2001) sob pena de pesadas multas. Também foi-lhe imposto o uso obrigatório de chapéus e perucas para minimizar sua luz. Mas não foi só o campo da lei que teve de se adaptar a esses novos fatos. Astrônomos travam uma intensa batalha para decidir se um corpo tão pequeno como uma cabeça humana pode ser considerado um astro; se sim, então, por possuir luz própria, a cabeça de meu irmão seria uma estrela. Fenômenos inexplicados como o Raio de Força Carequística (algo como um campo de força que atua num raio de três metros de sua careca e impede que qualquer fio de cabelo se aproxime), o Terremoto de Luz (uma simples gingada de cabeça do meu irmão pode matar milhares de pessoas na Coréia do Sul devido a efeitos ópticos circunflexos e retroativos da luz de sua potente cabecinha) e o Mal de Karekaisman (crises de bobeira aguda associadas a alta produção de brilho) são estudados por milhares de cientistas.
Meu irmão, porém, não aceita o fato dele ser o homem mais careca do mundo e eu, seu irmão mais velho, o mais cabeludo de todos os tempos. E, portanto, passou absurdamente a me designar como o homem mais careca do mundo - justo eu que sou impedido de entrar em qualquer restaurante, cujo cabelo permite os indígenas se cobrirem no rigoroso inverno da Terra do Fogo. Mas, claro, o coração generoso que bate entre minhas costelas me permite tolerar e perdoar os devaneios de meu irmão.
Vários tratamentos cirúrgicos e químicos foram tentados no esforço de dirimir os efeitos do brilho intenso da careca de meu irmão, sendo o transplante de cabelos apenas um deles. Foi então que se verificou a estranha epiderme que cobria o crânio do meu irmão. Ela rejeitava os fios de cabelo por mim doados. Após alguns estudos os dermatologistas estavam de acordo: tal tipo de epiderme era inteiramente nova na raça humana e foi logo batizada de “Couro Carecudo”. Isso, é claro, humilhou meu jovem irmão. Ele passou a me acusar de conspiração, sua raiva foi crescendo e pela primeira vez o fenômeno do Raio de Força Carequística se manifestou. A partir de então foi que começou o comportamento negacionista do meu irmão, atribuindo a mim tudo o que lhe ocorria.
Qual não é minha surpresa, então, quando abro a caixa do post abaixo e vejo o seguinte comentário:

“Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Transplante de Cabelo, I hope you enjoy. The address is http://transplante-de-cabelo.blogspot.com. A hug.”

O link não dá para parte alguma. Procurei no google por “transplate de cabelo” +blogspot e encontrei uma entrada para o endereço do link acima, mas novamente não dava para parte alguma. Uma coisa me chamou a atenção: os trechos do blog no google estavam em português e discorria sobre a maravilhosa técnica de transplantar cabelos. O que seria de se esperar num blog chamado “transplante de cabelos”. Mas por que o comentário foi feito em inglês então? Por que fazer um blog sobre transplante de cabelo (e não um site, por exemplo)? Por que um blog sobre transplante de cabelos gostaria de associar-se ao Fresh Fish Filet? Por que adicionaria o referido blog em sua “blogroll”? E por que apagaria o seu blog logo depois de me mandar estas mensagens? Sem dúvida o meu invejoso irmão estaria por trás de todas essas coisas...

Foi quando atentei para um detalhe: o comentário era referente a um post sobre o mistério: o que um garçom e um militar pode precisar, mas um estudante da UERJ não? Seria transplante de cabelo? Não, não faz muito sentido. Mas tal comentário parece abrir um novo campo de investigações.

O mistério se alarga. Continuo aceitando sugestões para o mistério.

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