domingo, 23 de agosto de 2009

Os cowboys de Leningrado vão para América (1989) - \

O filme tem setenta e oito minutos. E é longo. Entre um terço e metade do filme é a banda tocando. E a banda é ruim. Tem uma ou outra cena engraçada, mas não vale a pena. É a história de uma banda russa que vai tentar ganhar a vida na América. É um road movie, cada hora eles param num clube e tocam o que o publico pedir, musica cubana, brega, etc. Tudo para acabar num casamento no México. Apesar de uma ou outra idéia original, o filme não consegue fugir dos clichês. Quando entram num bar de motoqueiros, por exemplo, o que tocam? Born to be wild. Podia ser uma piada, mas não é. Afinal, como sempre, a banda toca a música toda. Uns cinco minutos. Talvez o filme desse um curta melhorzinho, se cortássemos as músicas e tal. E os personagens? Uma tristeza. Com exceção do empresário, o clássico capitalista impiedoso, todos são indistinguíveis. É um filme da virada dos anos oitenta para os noventa, Leningrado, América... claro que tem uma mensagem política aí. Talvez a idéia de que os russos não seriam mais livres, que quem ganharia de verdade seriam uns poucos. E que no fim a Rússia acabaria no México. Talvez esteja vendo chifre em cabeça de cavalo, seja só um filme meio idiota sem mensagem alguma. Na verdade, tenho preguiça de entender. Já perdi tempo suficiente com esse filme.

sábado, 22 de agosto de 2009

Melhores Álbuns - 1967



Quando descobri esse álbum ainda morava no Rio. Fiquei hipnotizado pela tristeza de Cohen. Por uns dois meses não conseguia escutar outra coisa. É claro, porque você pensa “vamos escutar esse cd de novo?” e daí você se lembra que o álbum abre com Suzanne, como resistir? O Thiago, meu apêmate, de vez em quando vinha até a batente da porta do meu quarto e comentava “Sai dessa fossa, João. Fica assim não, isso passa.” A tristeza de Cohen é bem-comportada, resignada. Uma tristeza de velho, dum sábio. Uma música simples tocada num violão dedilhado, a voz num meio-termo entre canto e fala, tão suave que parece que vai se dissipar no ar, ao mesmo tempo, firme e clara, cantando letras geniais sobre mulheres ou Cristo. É tudo tão humano. Não poderia haver nome melhor para um álbum; As Canções do Leonardo Cohen.

Sobre a Teologia da Prosperidade

Direi agora o que o relativismo e o politicamente correto impedem mesmo o papa de dizê-lo. A teologia da prosperidade é claramente um retrocesso em relação ao cristianismo.

A teologia da prosperidade se baseia num acordo, ou melhor, num desafio que o crente lança a Deus. Eu passo a acreditar em Deus se esse, por sua vez, me ajudar na vida terrena.

Ocorre que essa não é a lógica das religiões com um Deus transcendental, como é o caso do cristianismo. É a lógica das religiões primitivas, anteriores a descoberta do campo transcendental. Eu rezo, sacrifico, faço uns rituais, me ajoelho, dou graças a Deus por tudo, em troca ele me ajuda, faz chover, me dá forças, fecha meu corpo.

Cristo não promete nada disso. Pelo contrário. “Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga’”. É o demônio que promete as coisas e, não por acaso, um de seus epítetos é “o príncipe deste mundo”. Como todos sabem, o reino de Deus não é deste mundo.

Essa mistura da teologia da prosperidade entre o campo do transcendente e do imanente não é sem conseqüências práticas. Primeiramente, isso leva a um encantamento do mundo, se creio que Deus irá me ajudar, tudo passa a ser visto como intervenção divina. Se estou com pressa e o sinal abre para mim é porque Jesus me ajudou. Se começa a chover e esqueci um guarda-chuva é porque estou com encosto. Não há problema no mundo que uma sessão de descarrego com 318 pastores da Universal não resolva.

Outra conseqüência é uma mistura da religião e política. Se Deus me ajuda por um trato, por que ele não ajudaria uma nação por esse mesmo trato? Para realizar tal trato basta elegermos um pastor para um cargo político. Esse cenário poderia ser problemático, pois indicaria um conflito prático das ordens sagradas e seculares. Mas isso seria o caso se os religiosos em questão acreditassem na verdade transcendente de sua mensagem. Como não crêem, agarram-se ao poder como qualquer político mequetrefe e utilizam de sua autoridade religiosa para manterem seu poder político e de seu poder político para manterem sua autoridade religiosa. Aliam-se com quem estiver no poder e são uma espécie de PMDB espiritual. Os pastores de hoje não se diferenciam dos religiosos de um país bárbaro qualquer da antiguidade a apoiarem um rei que, em troca, lhe garante privilégios e riquezas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Aguirre - a Cólera dos Deuses (1972) \/\/\/\/\/



É evidente que a natureza ocupa o lugar central nos filmes de Herzog. E ela é sempre grandiosa, invencível, terrível e impiedosa. O que impressiona nos filmes de Herzog, contudo, não é tanto a natureza, mas seu principal antagonista: o homem, uma criaturazinha frágil, mas louca, verdadeiramente insensata e inacreditavelmente corajosa. Em sua ânsia por encontrar Eldorado e domar a floresta, Aguirre desafia não só a natureza, doenças e fome mas também SPOILER SPOILER SPOILER os índios invisíveis da floresta e seu superior hierárquico. Com não mais de quarentas homens, Aguirre é capaz de desafiar a coroa espanhola. Aguirre é louco, sem dúvida alguma. Para mim, isso ficou claro quando a mulher de Pedro de Ursua o desafia, chegando mesmo a segurá-lo pelo braço. Ele releva cavalheirescamente e a ignora – ainda que pudesse esmagar ela e Pedro, então ferido, sem dificuldades. Ao virar-se, contudo, há um cavalo na sua frente e ele não só grita com muita raiva para o cavalo “SAIA DA MINHA FRENTE”, como o empurra brusca e inesperadamente, a ponto do cavalo cair da barca para o rio. Cara, não tem como essa cena ter sido prevista, eu acho. Um momento mágico do cinema. Você vê um filme como esse e pensa o ser humano é muito grande, muito terrível, caramba! Eu não sabia ser grande e terrível assim. E ao mesmo tempo, que miséria ele é. É tudo misturado. Aguirre é um personagem marcante pois ao mesmo tempo os respeitamos e lhe temos piedade. Talvez não o amamos, mas certamente admiramos e odiamos o filhodap. É um personagem insequecível e ver esse filme é obrigatório.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Melhores Álbuns - 1984




O rock and roll é algo difícil de explicar. Tem a ver com juventude. Não por acaso, bandas com cinqüenta anos de idade têm em seus dez primeiros discos suas obras-primas. Não por acaso, seus verdadeiros fãs são os jovens. Se a música é como um meio de transporte que te leva a certas paisagens emocionais, o rock nos leva a paisagens emocionais da juventude. E quais são essas emoções? Vontade, inquietude, tédio, bom humor, angústia, expectativa e frustração. Faz um certo tempo, comentando sobre The Replacements, um amigo definiu assim o som deles: rock. Na época não dei muita importância. Mas é isso mesmo: rock. E, por isso mesmo, uma viagem a essas paisagens jovens, carregadas de vontade, inquietude, tédio, bom humor, angústia, expectativa e frustração. E uma certa raiva. E tudo muito alto. Se é bom? Só o melhor rock que alguém pode escutar na vida. E Let It Be é, reconhecidamente, o melhor álbum deles.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estou com uma preguiça danada de comentar política nesse blog, por isso o número reduzido de posts ultimamente. A razão é simples, vivemos numa época muito idiota, extremamente idiota, e comentar política é comentar idiotices. É como ver um filme ruim só para comentar sua ruindade. Tem lá sua graça, mas enche. É preciso um certo tipo de humor, não é algo para se fazer toda hora. Por exemplo, essa coisa toda do pacto colombiano com os americanos. Quer polêmica mais idiota? Qualquer um sabe que o caso todo começou quando se descobriu que a Venezuela vende armas para a Farc. Numa tentativa desesperada de cobrir esse fato no noticiário, o imbecil-mor, e por isso mesmo o político atual mais importante da América Latina, Chávez, que um mês antes assinara um gigantesco acordo militar com a Rússia, “revelou” ao mundo um acordo, ou melhor, a renovação de um antigo acordo entre EUA e Colômbia. O plano de Chávez era risível, digno de sua estupidez... e deu certo. Meu interesse em política não é comentar idiotices, mas porque vivemos numa época em que uma idiotice tamanha como essa dá certo. Por que os jornais publicam esse tipo de notícia? Por que todos querem dar seu pitaco sobre o caso? É muito absurdo. Vejam, se o caso fosse entre as prefeituras de Itajubá e Varginha, o caso já seria bizarro, mas envolve um continente inteiro, ou melhor, envolvem o mundo inteiro. Por que a nossa época é tão imbecil? Eis uma pergunta difícil de responder.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fanny e Alexander \/\/\/



Não me entendam mal. Bergson é mesmo um grande diretor. Sua atenção para os detalhes é apaixonante. Numa cena, por exemplo, Alexander está na cozinha tomando chocolate quente. Nos cantos, empregadas preparam uma massa e sua irmã fofoca algo num outro canto, algo que nunca saberemos. Poucos diretores fariam isso e isso é tão simpático. Dá um ar acolhedor de realidade. E praticamente em todo filme há esses detalhes. Um tio tarado beija a mão da empregada enquanto todos dançam ou o Alexander entediado vai pensar em baixo duma mesa. Só grandes diretores fazem isso. Só que, como você imaginou, há um grande mas. Bergson não apenas dirigia seus filmes, mas os escrevia também. Ele tem alguns talentos como escritor. Seus personagens, em especial os femininos, são vivos e envolventes, ele não escorrega nos clichês. Mas sua metafísica é pobre e pode ser resumida num “viva a putaria!”. Seus filmes poderiam ser melhores, se seu defeito fosse apenas esse, mas ele é ambicioso demais. Seus filmes pretendem ser dramáticos, cômicos, aventurescos, infantis, profundos, tudo ao mesmo tempo e, para isso, seu talento de escritor e sua metafísica não chegam. E, além disso, tem o final. Já disseram que o final costuma ser o calcanhar de Aquiles de quase toda obra literária, e é verdade. Esse final aqui foi realmente estranho. Aliás, e antes de mais nada: SPOILER SPOILER SPOILER, algo me deixa curioso, pois o filme é meio autobiográfico e fico pensando se aquele fim é real, porque se foi aquilo mesmo, então é meio claro para mim que a mãe do Bergson assassinou o padastro, pois há tantos elementos ali que não dá pra crer que tudo foi uma grande coincidência.

Para não dizerem que sou assim ranzinza, termino falando bem. Uma coisa que gosto em filmes, são diretores que resolvem filmar o cenário. E Bergson faz isso com maestria. Nos sentimos vivendo na Suécia do início do século XX, correndo por suas vielas, morando em casarões, passando frio ao ir pra missa. Enfim, ganha uma nota média, mas não por ser um filme médio, e sim por que há elementos geniais e elementos detestáveis que atuam em força contrária e acabam produzindo algo que merecia nota 10 e 0 ao mesmo tempo, mas como sou aristotélico e não posso me permitir essas coisas, dou um prosaico 6.