Direi agora o que o relativismo e o politicamente correto impedem mesmo o papa de dizê-lo. A teologia da prosperidade é claramente um retrocesso em relação ao cristianismo.
A teologia da prosperidade se baseia num acordo, ou melhor, num desafio que o crente lança a Deus. Eu passo a acreditar em Deus se esse, por sua vez, me ajudar na vida terrena.
Ocorre que essa não é a lógica das religiões com um Deus transcendental, como é o caso do cristianismo. É a lógica das religiões primitivas, anteriores a descoberta do campo transcendental. Eu rezo, sacrifico, faço uns rituais, me ajoelho, dou graças a Deus por tudo, em troca ele me ajuda, faz chover, me dá forças, fecha meu corpo.
Cristo não promete nada disso. Pelo contrário. “Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga’”. É o demônio que promete as coisas e, não por acaso, um de seus epítetos é “o príncipe deste mundo”. Como todos sabem, o reino de Deus não é deste mundo.
Essa mistura da teologia da prosperidade entre o campo do transcendente e do imanente não é sem conseqüências práticas. Primeiramente, isso leva a um encantamento do mundo, se creio que Deus irá me ajudar, tudo passa a ser visto como intervenção divina. Se estou com pressa e o sinal abre para mim é porque Jesus me ajudou. Se começa a chover e esqueci um guarda-chuva é porque estou com encosto. Não há problema no mundo que uma sessão de descarrego com 318 pastores da Universal não resolva.
Outra conseqüência é uma mistura da religião e política. Se Deus me ajuda por um trato, por que ele não ajudaria uma nação por esse mesmo trato? Para realizar tal trato basta elegermos um pastor para um cargo político. Esse cenário poderia ser problemático, pois indicaria um conflito prático das ordens sagradas e seculares. Mas isso seria o caso se os religiosos em questão acreditassem na verdade transcendente de sua mensagem. Como não crêem, agarram-se ao poder como qualquer político mequetrefe e utilizam de sua autoridade religiosa para manterem seu poder político e de seu poder político para manterem sua autoridade religiosa. Aliam-se com quem estiver no poder e são uma espécie de PMDB espiritual. Os pastores de hoje não se diferenciam dos religiosos de um país bárbaro qualquer da antiguidade a apoiarem um rei que, em troca, lhe garante privilégios e riquezas.
sábado, 22 de agosto de 2009
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