quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fanny e Alexander \/\/\/



Não me entendam mal. Bergson é mesmo um grande diretor. Sua atenção para os detalhes é apaixonante. Numa cena, por exemplo, Alexander está na cozinha tomando chocolate quente. Nos cantos, empregadas preparam uma massa e sua irmã fofoca algo num outro canto, algo que nunca saberemos. Poucos diretores fariam isso e isso é tão simpático. Dá um ar acolhedor de realidade. E praticamente em todo filme há esses detalhes. Um tio tarado beija a mão da empregada enquanto todos dançam ou o Alexander entediado vai pensar em baixo duma mesa. Só grandes diretores fazem isso. Só que, como você imaginou, há um grande mas. Bergson não apenas dirigia seus filmes, mas os escrevia também. Ele tem alguns talentos como escritor. Seus personagens, em especial os femininos, são vivos e envolventes, ele não escorrega nos clichês. Mas sua metafísica é pobre e pode ser resumida num “viva a putaria!”. Seus filmes poderiam ser melhores, se seu defeito fosse apenas esse, mas ele é ambicioso demais. Seus filmes pretendem ser dramáticos, cômicos, aventurescos, infantis, profundos, tudo ao mesmo tempo e, para isso, seu talento de escritor e sua metafísica não chegam. E, além disso, tem o final. Já disseram que o final costuma ser o calcanhar de Aquiles de quase toda obra literária, e é verdade. Esse final aqui foi realmente estranho. Aliás, e antes de mais nada: SPOILER SPOILER SPOILER, algo me deixa curioso, pois o filme é meio autobiográfico e fico pensando se aquele fim é real, porque se foi aquilo mesmo, então é meio claro para mim que a mãe do Bergson assassinou o padastro, pois há tantos elementos ali que não dá pra crer que tudo foi uma grande coincidência.

Para não dizerem que sou assim ranzinza, termino falando bem. Uma coisa que gosto em filmes, são diretores que resolvem filmar o cenário. E Bergson faz isso com maestria. Nos sentimos vivendo na Suécia do início do século XX, correndo por suas vielas, morando em casarões, passando frio ao ir pra missa. Enfim, ganha uma nota média, mas não por ser um filme médio, e sim por que há elementos geniais e elementos detestáveis que atuam em força contrária e acabam produzindo algo que merecia nota 10 e 0 ao mesmo tempo, mas como sou aristotélico e não posso me permitir essas coisas, dou um prosaico 6.

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