sábado, 9 de fevereiro de 2008

Deixem-me falar mais um pouquinho do “Arquipélago Gulag”. É que tem uma parte que me lembrou o Brasil. É do capítulo “A lei-criança” e fala sobre processos que ocorreram no início da Revolução Russa. Eis:



“Este processo, um dos primeiros e dos mais precoces, tratou da liberdade de expressão. No seu número de 24 de março de 1918, este conhecido jornal dos “professores” inseriu um artigo de Sávinkov, “Em viagem”. Com muito gosto teriam detido o próprio Sávinkov, mas ele estava em viagem, o maldito, e onde encontrá-lo? Assim, fecharam o jornal e levaram ao banco dos réus o velho redator P. V. Iégorov, convidando-o a explicar-se: como se atrevera? Já tinham decorrido quatro meses da Nova Era, já era hora de se acostumar!
Iégorov, ingenuamente, justificou-se dizendo que o artigo era da autoria de “um destacado líder político, cujas opiniões tinham um interesse geral, independentemente de a redação as compartilhar ou não”. Além disso, não via qualquer calúnia nas afirmações de Sávinkov segundo as quais “não se devia esquecer que Lênin, Natanson e Cia. tinham regressado à Rússia através de Berlim, ou seja, que as autoridades alemãs colaboraram com eles para o regresso à pátria”, porque na realidade assim fora: a Alemanha do Kaiser, em guerra, ajudou Lênin a regressar.
Krilenko [procurador e autor da compilação de processos do início da Revolução Russa da qual Soljenítsin extrai informações para esta parte de seu livro] exclama que não pretende acusá-lo por calúnia (e por que não?...), o jornal é processado por tentativa de influir nos espíritos! (Mas acaso um jornal pode ousar ter tais objetivos?!)”



Não lembra a perseguição que sofre a mídia dita oposicionista no Brasil? Procure na internet críticas contra a Veja e a Globo, por exemplo, e o que encontrará pode se dividir em dois grupos: 1) A Globo, a editora Abril, o Roberto Marinho têm ligações com a CIA, com a oligarquia brasileira, com grupos racistas da África do Sul (juro que vi isso em algum lugar...). 2) Tais veículos não publicam tais e tais fatos. Eles escolhem a informação a ser publicada.

Ou seja: 1) a Mídia possui desejos escusos e 2) Ela te manipula para realizá-los. Mas onde estão as acusações de calúnia? Não há. Ninguém as acusa de serem mentirosas. Hoje em dia ninguém duvida do mensalão, que o dossiê contra Alckimin era fajuto, nada disso. O que se critica é que a mídia não publique as falcatruas da oposição. O que se quer é que toda vez que a Veja publicar uma denúncia contra o Governo ela deva procurar algo para a oposição também! Melhor, ela tem de publicar denúncias contra todos os governos do Brasil, e quiçá, de toda história universal, para assim não ser injusta com ninguém, não sugerir que haja um governo que seja mais corrupto que outro. Não, porque sugerir que o governo de A é mais corrupto que o de B é ser parcial. Quer dizer, a menos que você seja um de nós, aí pode dizer a merda que quiser. Nunca vi ninguém reclamar das denúncias da Carta Capital“mas por que vocês não publicam as falcatruas do PT?”

O que os opositores da Veja e da Globo não podem suportar é que estes veículos possam influir nos espíritos. Logo gritam Manipulação! Manipulação! Já se o veículo midiático for de esquerda então trata-se de pura e desinteressada educação, algo nobre, louvável. O caso do tratamento da mídia ao caso do Dossiê da eleição de 2006 é emblemático. Qual a crítica que a Globo recebeu? Ela inventou a notícia? Ela manipulou dados? Não, ela publicou uma foto. Mas a foto era montagem? Não, era real! Era a foto com o dinheiro apreendido no caso. Mas por que ela não deveria mostrar? Para não influir nos espíritos, ora essa.

Resta apenas perguntar com um ar apatetado: “Mas acaso um jornal pode ousar a ter tais objetivos?”.

Em tempo, não estou sugerindo que o Brasil e a URSS sejam a mesma coisa. Lá o jornal foi fechado e o editor foi preso. Aqui nem mesmo se abriu um processo. Mas tentativas de intimidação existiram. Jornalistas da Veja foram detidos. E o pior, se fossem presos seriam com o aplauso de nossos intelectuais.
E isso é muito triste. Vamos chorar
Agrrrrrrrrrrrrrrrr
Pipipipipipipipi
Unhééééé Unhéé Unhéé Unhéé
Até mais. Obrigado.

Nenhum comentário: