terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Poema para meus netos

Também eu trago histórias para contar.
Meus netos ouvirão sobre como seu avô dormiu durante quinze horas seguidas,
sobre certo dia em que ele acordou às onze, almoçou e dormiu logo depois.
Ouvirão sobre como consegui dormir na escuridão do Hades,
que já dormi enquanto um trio elétrico passava,
em baixo de três cobertores,
em cima de um muro,
numa praça, dividindo o jornal com um mendigo alcoólatra,
num castelo, sob um colchão d’água e lençóis de cetim,
na floresta abraçado a um filhote de urso manso, peludo, órfão e vivo,
que dormi enquanto boiava nas ondas do mar Atlântico!
Eu dormia enquanto Tróia ardia em chamas!
Sim, pois estou entre aqueles que foram arrastados pelo maldito Ulisses da terra dos Lotófagos.
Sou filho de uma mulher humana que não pode resistir aos encantos de Morpheu que se disfarçou então de Bicho-Preguiça...
E então meus netinhos verão seu avô dormir de repente,
pois sofrerei de narcolepsia depois de velho.
E rezarão todos os netos,
implorarão a Deus por uma vida tão venturosa quanto a de seu avô.
E o Senhor, em sua Bondade e Misericórdia, não haverá de recusar!

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