domingo, 26 de abril de 2009

O futebol como o esporte do menino criado com vó

Conheço um pobre menino, hoje com uns quinze anos, que é criado pela mãe, pela tia e pela avó. Surpreendentemente não é gay, mas, com certeza, ninguém passa por uma experiência assim impune. Foi através desse menino que entendi a expressão “menino criado com vó”, que não sei se é mineira ou brasileira. Elas (especialmente a tia e a avó, claro) criaram o menino todo errado. Deixam-no fazer o que não pode e não o deixam fazer o que pode. Por exemplo, se o menino volta todo molhado e sujo de barro porque não pararam de jogar bola na chuva, o pobre coitado é castigado. Se reclama que não gosta da salada, então deixam passar e o menino come lá o arroz, feijão e carne. Tudo errado.

O futebol é assim, um menino criado com vó. O Cruzeiro x Atlético-MG de hoje só veio provar isso. Originalmente nem ia comentar o jogo. A idéia veio no primeiro gol do Cruzeiro, mais propriamente na comemoração. Mas porra, o Cruzeiro foi marcando um gol atrás do outro e o jogo terminou 5x0. Pela segunda vez. Já está ficando sem graça, sério. É tipo Cruzeiro x América, você zoa os americanos por educação, porque seria muito triste para alguém perder um clássico de goleada e não ser nem zoado. Então zoemos os atleticanos por educação. Fregueses! Já são onze jogos sem perder! Pior, dez vitórias e um empate! E sabe o que é pior? Que vocês não nos conseguirão vencer no próximo jogo. Era obrigação moral suas, vencer o próximo jogo. Mas nem isso. São doze partidas invictas com certeza. E, além de tudo, há sempre a possibilidade de editar meus posts. Qualquer coisa apago essa última parte. Pronto, voltemos ao ponto.

O ponto é que o futebol vem se tornado um menino criado com vó. Vocês vêem a comemoração de Kléber. Ele marca o gol e comemora imitando uma galinha, depois faz um sinal de menino chorando, porque o atleticano é um menino chorão. É punido com cartão amarelo. Depois é o Ramires que é expulso. O que ele fez? Um jogador atleticano genérico entra no Ramires e enquanto ambos vão indo para o chão, o jogador atleticano aproveita para deixar as marcas da chuteira na perna do Ramires, e Ramires revida dando coices. E ambos são expulsos. Para completar, temos um lance que o juiz queria dar um cartão amarelo para mais um jogador genérico do Atlético-MG. O jogador dá as costas pro juiz. Ele chama o jogador pra tomar o cartão amarelo e o jogador vira, fala alguma coisa em óbvio desrespeito ao árbitro, e vira de novo, o árbitro contenta em dar o amarelo com ele virando novamente as costas e segue o jogo.

Vejam, não sou nenhum atleticano chorão. O árbitro fez o que qualquer árbitro faria. Não estou xingando o árbitro, mas o sistema de leis que ele aplica. Não faz sentido expulsar alguém pela comemoração. Se ainda fosse a comemoração do quinto gol, podia até ser algo polêmico. Mas até então era o primeiro gol, no primeiro tempo do primeiro jogo. Os atleticanos que respondessem na bola. Agora juiz é a tia do recreio que fica falando para os meninos maneirarem na brincadeira antes que alguém machuque? Coisa de tia ou avó criando o filho dos outros.

Depois, que coisa mais normal do que revidar uma entrada maldosa? Se fosse árbitro, sempre puniria apenas quem descambou o negócio para violência. E se eu fosse técnico, faria o contrário. Colocaria o maior cabeça-de-bagre marcando o craque adversário. Objetivo do cabeça-de-bagre do meu time: ser expulso com o craque adversário. Cuspiria na mão e passaria no jogador. Entraria dando chutinhos, especialmente em lances mortos, com o árbitro desatento. E o mais importante, se o jogador adversário fizesse uma falta no cabeça-de-bagre, então ele levantaria como se tivesse recebido a maior humilhação da vida e brigaria com o adversário como se estivesse disposto a um duelo de morte com tamanho filho da puta. O juiz, confuso, expulsaria ambos. Metade do bicho para o cabeça-de-bagre, diretores. Isso não faz o menor sentido. É o tipo de punição que uma tia solteirona irritada daria para uma briga entre sobrinhos. Não tem nada a ver com justiça, nem com justiça esportiva.

Por fim, a decisão do juiz é irrevogável e tem de ser respeitada. Alguém me explica esse alvoroço em cima do juiz reclamando da marcação de um penalty ? Para mim deveria ser expulso qualquer jogador que viesse para cima do árbitro numa hora dessas. Ainda que fosse perguntar as horas, porra, vai perguntar as horas em outra hora que na marcação do penalty. Devia ser igual rugby, o jogador não poderia nem olhar para os olhos do árbitro. Mandou virar de frente então é para virar de frente. É cabeça baixa e sim senhor. Mas menino criado com vó é assim mesmo, se a maioria das represálias que sofre é injusta, e ele sabe que é injusta, o menino acaba por não respeitar nenhuma autoridade que venha lhe dar as represálias justas.

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