sábado, 22 de março de 2008

O esquerdismo é a nova religião, o Estado o novo Deus e eu sou um herege. Quantas e quantas vezes estou de bobeira no ônibus ou conversando com um amigo ou amigo de um amigo e então um esquerdismo qualquer é lançado - “porque a desigualdade social é a verdadeira causa do crime”; “Quem os EUA pensam que são?”; – e fico ali sem saber o que dizer. Me sinto um pouco como um ateu no século XIII, época em que as pessoas davam graças a Deus porque a galinha botou ovo, tenho de ouvir tais exclamações e fazer aquela cara de paisagem.

Continuando o post anterior dou mais um exemplo bizarro de estado-dependência atual. Na época do referendo sobre o desarmamento, os pró-sim diziam que eu não devia ter armas pois minha segurança era dever do estado. Ou seja, o estado é o novo deus não só porque fazem dele um novo norte moral, mas porque lhe conferem superpoderes. Explico, eles defendem que o problema da violência existe pois o estado ainda não atingiu a perfeição. Assim, a política contra violência deveria seguir por dois caminhos: me proibir de ter armas e o aperfeiçoamento do estado. Caso as duas se cumprissem, pronto, não haveria com que me preocupar.

Cadê o senso de realidade das pessoas? Posso, por exemplo, esconder uma faca na minha bermuda, ir a rua e cortar o pescoço do primeiro distraído que me der às costas. O que o Estado pode fazer contra isso? O estado não tem superpoderes, lamento lhes informar e ainda que tivéssemos uma polícia exemplar os crimes continuariam ocorrendo – numa escala bem menor, é verdade – e caso ocorressem comigo teria o direito de me defender.

Mas isso fica ainda mais absurdo. Cheguei a ouvir pessoas que defendem que não, eu não tenho direito de me defender, só o Estado pode. Se um assassino quiser me matar devo resignar-me à vontade inescrutável do Estado. Daqui a pouco haverá pessoas formulando uma estadodicéia: como um Estado sumamente bom pode permitir a injustiça no mundo?

Caramba, se algo é bom então deve existir, seja pela ação do estado ou das pessoas. Se a proteção da minha vida é algo bom, que importa se foi produzida pelo estado ou por mim? Ninguém deveria temer uma boa ação só porque ela não nasce do Estado. Aliás, evitar o monopólio do Bem pelo Estado foi a lição mais assustadora que o século XX nos forneceu. (Isto me faz lembrar um caso relatado por Soljenitsin que cito de cabeça: no auge do stalinismo, em meio a uma daquelas fomes nacionais provocadas pela ineficiência natural de uma economia altamente centralizada, um grupo de mulheres resolveu distribuir comida às regiões russas mais açoitadas pela fome. Algum tempo depois o grupo foi disperso, as principais líderes presas – o estado não poderia aceitar que o bem se fizesse pelas mãos erradas).

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