terça-feira, 11 de março de 2008

Uma estupidez sem tamanho esses sete novos pecados capitais. Parecem sugeridos por candidatas a miss universo procurando ser politicamente corretas e não por supostos eminentes teólogos com noções básicas de filosofia ética.

Observemos a lista antiga: gula, inveja, preguiça, luxúria, ira, cobiça e orgulho. São paixões que motivam ações (ou inações, no caso da preguiça). As ações motivadas por tais paixões seriam más. É uma lista legal e instigante pois o significado de tais paixões são claros e, ao mesmo tempo, cobrem uma grande gama de ações diferentes que seria impossível esgotar. Eles são específicos e gerais na medida certa.

Agora analisemos os sete novos pecados capitais: Engenharia genética, experimentos em humanos (aqui o alvo principal é a pesquisa com células-troncos), poluir o meio-ambiente, causar injustiça social, pedofilia, tornar-se obscenamente rico, tomar ou traficar drogas (as listas variam e eu não consegui achar um site oficial – em alguns lugares fala-se também do aborto como pecado capital). Esses novos pecados não são paixões ou princípios que guiaria uma ação, mas são as próprias ações e aí está a fraqueza deles. Não é uma lista em que se deduz pecados, mas uma que os aponta. Poderia ser, ao menos, mais específica que a anterior, não deixando nenhum espaço para qualquer ambigüidade, mas nem isso, já que as ações proibidas são condenadas por alto. Por exemplo: o que é tomar drogas? Álcool está proibido então? E o tabaco? E a cafeína? E as drogas médicas, também? Ah, é só as drogas proibidas? Então na Holanda não é pecado? Mas pode isso, algo não ser pecado na Holanda e ser pecado no Brasil? E o que é poluir o meio-ambiente? Se minha cidade não tem um tratamento de esgoto adequado eu sou culpado por isso? Eu deveria parar de cagar? Ou só o prefeito que é culpado? Ou os vereadores também? Eu deveria me mobilizar mais para ser ecologicamente correto? Mas o quanto eu deveria me mobilizar? Usar carro é poluir o meio ambiente? Posso usá-lo quantas vezes por semanas?E soltar puns? E engenharia genética? Como é o esquema? É só se eu for o engenheiro modificando os alimentos ou se eu consumi-lo também? E se eu consumir sem saber? Devo pesquisar antes se o óleo de soja que estou comprando é feito com soja geneticamente modificada? Se eu não pesquisar vou para o inferno? Mas eu tenho que pesquisar quanto? Só olhar a embalagem está bem ou eu tenho que pesquisar na Internet, telefonar, contratar cientistas para examinar o material? E o que é ser obscenamente rico? Quem tem cem mil sobrando é obscenamente rico? E um milhão? E dez milhões? Se eu ganhar dez milhões na mega-sena devo recusar? E o Vaticano, ele não seria obscenamente rico? E o dono da Coca-Cola, deveria dividir a empresa em milhares para deixar de ser obscenamente rico? Mas isto não causaria desemprego e conseqüentemente injustiça social? Aliás, o que é causar injustiça social? A lista é ruim por ser geral demais. E a lista é ruim por ser específica demais também. Como aponta ações e não motivações, dá espaço para ações absurdas que, uma vez não listadas não seriam pecados mortais, e que portanto, seriam O.K. Por exemplo, pedofilia é pecado mortal - mas não tem nada falando sobre cropofilia, certo? Nem sobre necrofilia, zoofilia ou Estupro - tudo liberado, quem cala consente. Da mesma forma, não posso tomar drogas, mas posso, por exemplo, cortar minha mão fora, aliás, posso cortar a sua mão fora. Posso também ser um vândalo, posso ser um hacker, seqüestrador, posso ameaçar os mais fracos, divorciar, posso ver pornografia, aliás, pior, posso ver reality shows... A liberdade é o silêncio das leis.

Puts, sério mesmo, essa lista é muito ruim. Qualquer um com noções básicas de ética pode ver isto. Aliás, até quem as não tem pode ver. Como será que os melhores teólogos e um papa com fama de grande intelectual podem não terem visto isso? É risível, uma piada pronta.

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