É incrível, mas cinco de meus amigos e parentes são favoráveis a tal lei seca brasileira. Apenas duas é contra. É, não tem jeito, somos latinos. E latino – seja europeu, seja americano – é assim mesmo: ou é fascista ou é comunista.
É muito fácil que tudo descambe para o autoritarismo por essas bandas: basta que alguém surja com a tal boa-vontade.
Quem não se assustaria com os números que descrevem a violência do trânsito brasileiro? Em países sérios o problema seria discutido, analisado, estudado, até que se chegasse na melhor e mais viável solução.
No Brasil, não. Basta que alguém acene, demonstre boa-vontade e pronto. Quem for contra é porque está de má-vontade, obviamente, trata-se de um canalha sem perdão ou recuperação.
Há algum estudo que mostre que uma causa importante da violência no trânsito brasileiro seja o consumo de pequenas quantidades de álcool? Não, mas e daí? Se quem propôs o projeto da lei seca tinha boa-vontade, se ele desejava solucionar um problema genuíno, quem se importará com os resultados, não é mesmo?
Como vovó já dizia: de boas intenções o inferno está cheio. E o inferno é o Brasil.
É algo que me deixa estupefato, mas dessas cinco pessoas favoráveis a lei seca, uma já dirigiu bêbada (muito além dos limites da antiga legislação), a outra já se deixou levar por um bêbado (este de cima, mesmo) e duvido muito (mas muito mesmo) que dois dos outros três tenha, algum dia, se recusado a andar num veículo que seria dirigido por alguém que tivesse bebido dois copos de cerveja. Não só aceitariam, como ridicularizariam uma pessoa que se recusasse a ser levada por alguém muito levemente alcoolizada (medrosa!, paranóica!, chata!).
No Brasil é assim mesmo, o que se defende na arena pública não é o que se faz na arena privada. Na arena privada, seres racionais que ainda somos, por mais surpreendente que isso possa parecer, raciocinamos em termos de riscos, perdas e ganhos. Na pública, analisamos tudo pelo prisma do bem, do belo e do justo. Raciocina-se assim: dirigir sem nenhuma gosta de álcool no sangue é melhor que dirigir com algumas pouquinhas. Logo que proibamos absolutamente o álcool. Algo semelhante a: Felipe Massa dirige melhor do que você, logo só ele pode dirigir.
Por isso é tão fácil o autoritarismo por aqui. O brasileiro está sempre disposto a ceder um pouquinho de sua liberdade individual em nome de algum bem abstrato na esfera pública.
Violência nos estádios? Proíba-se a bebida! E o mesmo sujeito que sempre foi no estádio e sempre bebeu no estádio, te aplaudirá.
Corrupção? Que se quebre o sigilo telefônico de quem quer que seja!
Imagina se descobrissem que a polícia recebeu permissão para quebrar o sigilo telefônico de quem quer que seja num país sério! Seria demissão, atrás de demissão, investigação em cima de investigação. No Brasil, nenhuma punição ocorrerá. Pelo contrário. Serão aplaudidos por jornalistas e pela população. Eis um bom homem. Foi por uma boa causa. É tudo o que importa.
Não me espantaria nada se algum dia, um deputado brasileiro, com o coração transbordando de boa-vontade, sugira a morte de todo mundo com mais de dezoito anos. É para acabarmos de vez com a pedofilia, gente! Você, por um acaso, é a favor da pedofilia? Com um pouquinho só de publicidade, as pessoas organizariam passeatas e fariam suicídios coletivos.
É muito fácil que tudo descambe para o autoritarismo por essas bandas: basta que alguém surja com a tal boa-vontade.
Quem não se assustaria com os números que descrevem a violência do trânsito brasileiro? Em países sérios o problema seria discutido, analisado, estudado, até que se chegasse na melhor e mais viável solução.
No Brasil, não. Basta que alguém acene, demonstre boa-vontade e pronto. Quem for contra é porque está de má-vontade, obviamente, trata-se de um canalha sem perdão ou recuperação.
Há algum estudo que mostre que uma causa importante da violência no trânsito brasileiro seja o consumo de pequenas quantidades de álcool? Não, mas e daí? Se quem propôs o projeto da lei seca tinha boa-vontade, se ele desejava solucionar um problema genuíno, quem se importará com os resultados, não é mesmo?
Como vovó já dizia: de boas intenções o inferno está cheio. E o inferno é o Brasil.
É algo que me deixa estupefato, mas dessas cinco pessoas favoráveis a lei seca, uma já dirigiu bêbada (muito além dos limites da antiga legislação), a outra já se deixou levar por um bêbado (este de cima, mesmo) e duvido muito (mas muito mesmo) que dois dos outros três tenha, algum dia, se recusado a andar num veículo que seria dirigido por alguém que tivesse bebido dois copos de cerveja. Não só aceitariam, como ridicularizariam uma pessoa que se recusasse a ser levada por alguém muito levemente alcoolizada (medrosa!, paranóica!, chata!).
No Brasil é assim mesmo, o que se defende na arena pública não é o que se faz na arena privada. Na arena privada, seres racionais que ainda somos, por mais surpreendente que isso possa parecer, raciocinamos em termos de riscos, perdas e ganhos. Na pública, analisamos tudo pelo prisma do bem, do belo e do justo. Raciocina-se assim: dirigir sem nenhuma gosta de álcool no sangue é melhor que dirigir com algumas pouquinhas. Logo que proibamos absolutamente o álcool. Algo semelhante a: Felipe Massa dirige melhor do que você, logo só ele pode dirigir.
Por isso é tão fácil o autoritarismo por aqui. O brasileiro está sempre disposto a ceder um pouquinho de sua liberdade individual em nome de algum bem abstrato na esfera pública.
Violência nos estádios? Proíba-se a bebida! E o mesmo sujeito que sempre foi no estádio e sempre bebeu no estádio, te aplaudirá.
Corrupção? Que se quebre o sigilo telefônico de quem quer que seja!
Imagina se descobrissem que a polícia recebeu permissão para quebrar o sigilo telefônico de quem quer que seja num país sério! Seria demissão, atrás de demissão, investigação em cima de investigação. No Brasil, nenhuma punição ocorrerá. Pelo contrário. Serão aplaudidos por jornalistas e pela população. Eis um bom homem. Foi por uma boa causa. É tudo o que importa.
Não me espantaria nada se algum dia, um deputado brasileiro, com o coração transbordando de boa-vontade, sugira a morte de todo mundo com mais de dezoito anos. É para acabarmos de vez com a pedofilia, gente! Você, por um acaso, é a favor da pedofilia? Com um pouquinho só de publicidade, as pessoas organizariam passeatas e fariam suicídios coletivos.
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