Quinta-feira última estava na rodoviária do Rio de Janeiro. Com algum tempo para gastar, visitei as bancas de revista do lugar. Uma das chamadas de capa da Piauí me chamou a atenção. Dizia: “Viva o comunismo!”. Abri, procurei no índice, fui às páginas indicadas. Não li a matéria toda, só dei uma passada de olho, mas não havia ironia ali. A matéria de fato era pró-comunista. Como disse, não li muita coisa, mas li um pequeno texto ao pé de uma ilustração que ocupava uma folha inteira; o texto dizia algo como “Se o comunismo estiver errado, então a sociedade humana não é melhor do que a das abelhas ou formigas. Seria a vitória dos pequenos prazeres, dos filhinhos e filhinhas de papai, do hedonismo barato”. Algo assim.
É curioso porque quando se lê o que vai acima, tem-se a seguinte sensação: já vi isso antes. Sim, claro, são os teólogos do século XIX, em diante, desesperados diante das evidências de que já não temos mais razões para crermos em Deus. Então apelaram para a moral; “se Deus não existir, então tudo é permitido”. É o tipo de argumento que só faz sentido para o crente; ateus e agnósticos dão de ombros. O que eles poderiam discutir é: tudo é mesmo permitido? É o que fazemos diante dessa argumentação – uma vez que o comunismo já provou ser um sistema economicamente ineficaz e eticamente desumano, resta a pergunta: isto é a vitória do hedonismo barato? Não valemos mais que formigas?
O argumento desse escritor é um bom representante da divinização da política. O sujeito procura no Estado os elementos que apontariam o fim último do homem, não o encontra e então lamenta: sem determinações morais do estado o homem não vale nada, da mesma maneira que para nossos bisavôs sem Deus o homem não valia nada.
Sou um meio-termo entre libertário e conservador. Como todo libertário acho que o estado deve ser o menor possível, tanto no campo da moral como no campo econômico. Mas deixo o libertarianismo de lado e começo pelo mais difícil. Sou conservador porque creio que a parte que o estado se faz mais necessária é a moral. Por exemplo, todo Estado necessita regular os assassinatos. E já que a intervenção moral se faz necessária, fica a questão: que moral? E a resposta democrática é: a tradição. No caso brasileiro, especialmente a tradição católica. Toda outra opção seria a tirania de valores de minorias sobre os valores da maioria.
Meu lado libertário é mais fácil de defender, porque, no fundo, não há ninguém que não seja um libertário. Mesmo um comunista. Apesar de achar que o estado tem mais obrigações morais que econômicas, me incomoda muito mais, e não só a mim como a todo mundo, quando o prolongamento indevido do estado ocorre no campo da moral. Muito mais que quando ocorre na economia. Quando ocorre nessa última é um erro, no primeiro é um mal. Uma sucessão de erros econômicos até pode motivar alguém a mudar de país, mas basta uma arbitrariedade moral indevida para nos motivar a tanto.
Por exemplo, se alguém respondesse ao escritor da Piauí dizendo que a solução seria um estado religioso, o escritor arregalaria os olhos e diria algo como “mas isso seria um retrocesso!” Responderíamos, “ Como se o comunismo não fosse!” Então ele se desesperaria e diria, “Não, não, tudo menos isso, um estado religioso não! O hedonismo barato antes disso!” É que é fácil agüentar as imposições morais com as quais concordamos. Difícil é suportar uma que não nos é simpática; quando isso ocorre todo mundo é libertário.
Em tempo, o capitalismo democrático não é a vitória do hedonismo barato, da falta de valores morais. É antes o reconhecimento de que valores são tão importantes que não cabe ao estado impor seus valores à população, e nem mesmo cabe à maioria da população impor seus valores ao restante, mas antes, que cada um tem o direito de escolher seus valores e dar uma banana aos valores da maioria e do estado. Somos sim, melhores que as formigas, pois ainda temos valores. Como disse, no capitalismo democrático os valores são determinados pelo indivíduo. Se o autor da Piauí não os achou, é que por um vício de pensamento da nossa era, procurou os valores no lugar errado.
É curioso porque quando se lê o que vai acima, tem-se a seguinte sensação: já vi isso antes. Sim, claro, são os teólogos do século XIX, em diante, desesperados diante das evidências de que já não temos mais razões para crermos em Deus. Então apelaram para a moral; “se Deus não existir, então tudo é permitido”. É o tipo de argumento que só faz sentido para o crente; ateus e agnósticos dão de ombros. O que eles poderiam discutir é: tudo é mesmo permitido? É o que fazemos diante dessa argumentação – uma vez que o comunismo já provou ser um sistema economicamente ineficaz e eticamente desumano, resta a pergunta: isto é a vitória do hedonismo barato? Não valemos mais que formigas?
O argumento desse escritor é um bom representante da divinização da política. O sujeito procura no Estado os elementos que apontariam o fim último do homem, não o encontra e então lamenta: sem determinações morais do estado o homem não vale nada, da mesma maneira que para nossos bisavôs sem Deus o homem não valia nada.
Sou um meio-termo entre libertário e conservador. Como todo libertário acho que o estado deve ser o menor possível, tanto no campo da moral como no campo econômico. Mas deixo o libertarianismo de lado e começo pelo mais difícil. Sou conservador porque creio que a parte que o estado se faz mais necessária é a moral. Por exemplo, todo Estado necessita regular os assassinatos. E já que a intervenção moral se faz necessária, fica a questão: que moral? E a resposta democrática é: a tradição. No caso brasileiro, especialmente a tradição católica. Toda outra opção seria a tirania de valores de minorias sobre os valores da maioria.
Meu lado libertário é mais fácil de defender, porque, no fundo, não há ninguém que não seja um libertário. Mesmo um comunista. Apesar de achar que o estado tem mais obrigações morais que econômicas, me incomoda muito mais, e não só a mim como a todo mundo, quando o prolongamento indevido do estado ocorre no campo da moral. Muito mais que quando ocorre na economia. Quando ocorre nessa última é um erro, no primeiro é um mal. Uma sucessão de erros econômicos até pode motivar alguém a mudar de país, mas basta uma arbitrariedade moral indevida para nos motivar a tanto.
Por exemplo, se alguém respondesse ao escritor da Piauí dizendo que a solução seria um estado religioso, o escritor arregalaria os olhos e diria algo como “mas isso seria um retrocesso!” Responderíamos, “ Como se o comunismo não fosse!” Então ele se desesperaria e diria, “Não, não, tudo menos isso, um estado religioso não! O hedonismo barato antes disso!” É que é fácil agüentar as imposições morais com as quais concordamos. Difícil é suportar uma que não nos é simpática; quando isso ocorre todo mundo é libertário.
Em tempo, o capitalismo democrático não é a vitória do hedonismo barato, da falta de valores morais. É antes o reconhecimento de que valores são tão importantes que não cabe ao estado impor seus valores à população, e nem mesmo cabe à maioria da população impor seus valores ao restante, mas antes, que cada um tem o direito de escolher seus valores e dar uma banana aos valores da maioria e do estado. Somos sim, melhores que as formigas, pois ainda temos valores. Como disse, no capitalismo democrático os valores são determinados pelo indivíduo. Se o autor da Piauí não os achou, é que por um vício de pensamento da nossa era, procurou os valores no lugar errado.
Assim sendo, quando abandonamos as abstrações teóricas e nos voltamos para a realidade, vemos que capitalismo e moral não só são compatíveis, mas que a sociedade capitalista resulta sempre uma sociedade mais moral que a comunista. É que a sociedade comunista, ao tentar, pela força, impor valores alheios à moral do povo e destruir os valores antigos, acaba apenas por destruir verdadeiramente os velhos valores e fazer com que o povo finja os novos, sem incorporá-los. Porque valores não são impostos pela força, ou são reconhecidos como legítimos ou não são. Enquanto isto, a democracia, ao aceitar os valores da maioria num campo mínimo e os valores dos indivíduos no restante, acaba por resultar num regime não só menos tirânico, mas também mais moral.
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