segunda-feira, 23 de março de 2009

Melhores Discos - 1979


Música e política é uma má combinação. As boas bandas politizadas do rock são boas apesar de sua politização. A razão principal disto é que os roqueiros fazem música política da seguinte maneira: pensam em algo para protestar ou (mais raro) para louvar politicamente e fazem uma música sobre isso. Muitas vezes, também, discorrem abstratamente sobre temas políticos universais, como a paz, o dinheiro, o poder policial, essas coisas. Ora, o lugar adequado de se fazer tais são os livros, não a música.

Joy Division, no entanto, faz diferente. E por isso eles são uma rara exceção, pessoas que souberam misturar rock e política. O segredo deles: não representar temas políticos abstratamente, mas como a política reflete na vida das pessoas comuns. O século XX, o século do Joy Division, foi o século em que o povo tomou o poder para si, seja de maneira tolerante e construtiva (democracias liberais), seja de maneira tirânica e assassina (comunismo e nazi-fascismo). Mas como pode o Zé das Couves, alguém medíocre, sem nenhuma habilidade especial, que passa o dia trabalhando, sem poder desenvolver o pouco que tem, opinar politicamente? E o pior, obrigado a opinar também sobre religião, ética, enfim, se construir como um indivíduo completo? Como ele se sente? Perdido? Voluntarioso? Culpado? Tudo se passa no plano das consciências individuais – o plano próprio das artes – são as sensações políticas, e não as idéias que são aqui representadas. Os outros músicos políticos fazem protestos contra problemas específicos, pontuais, e por isso não podem deixar de ser datados. São como uma coleção de crônicas de um tempo antigo, é necessário milhares de notas explicativa para que os compreendamos. Eis um belo retrato da descartabilidade desse tipo de música. Com Joy Division, com esse álbum, as sensações permanecem e a música não envelhece. Um exemplo? Que tal o início do álbum, perfeito para os dias obâmicos que correm:

I’ve been waiting for a guide to come and take me by the hand
Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man?

Ou essas linhas:

“i did everything
Everything I want to do
i let them use you
For their own ends”

Ou isso aqui:

Oh, I don't know what made me,
What gave me the right,
To mess with your values,
And change wrong to right.

As descrições dos centros urbanos tecnológicos também são muito precisas:

“I walked through the city limits
Attracted by some force within it
Around the corner where a prophet lay
A wire fence where the children played”

Ou

“it’s getting fater, moving faster now, it’s getting out of hand
On the tenth floor, down the back stairs, it’s a no man land
Lights are flashing, cars are crashing, getting frequent now”

Mas o que marca no álbum mesmo, claro, é a música. O álbum antecipa a música do início da década de 80. Não sei quanto a você, mas para mim, esse período entre 1980-85 foi o pior da música pop. Mas amo esse álbum, um dos melhores de todos os tempos. E é um representante dos anos oitenta, sem dúvida. Mais que isso, é um dos seus pais. Suas guitarras distorcidas e inumanas, a batida repetitiva e como que eletrônica da bateria. Sim, parece a trilha sonora de um daqueles cenários futurísticos distópicos e apocalípticos tão ao gosto dos anos 80. Mas, Deus!, como é bom. Talvez porque ele não é totalmente isso, ele também é anos 70, punk, fácil, barulhento, agressivo, rítmico, jovem, sensual, sem experimentalismos cabeçudos.

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