quarta-feira, 4 de março de 2009

Pausa para defesa das monarquias

Claro, o republicanismo é mais sensato, mais racional, mais certinho que a monarquia. Mas não é natural. Sim, a natureza humana não é racional, sensata, certinha. É como se Deus nos tivesse dado a razão apenas para não a usarmos. Porque, pensa só, um dia eu e você estaremos a sete palmos em baixo da terra e o que fazemos quanto a isso? Nada! Ficamos aqui a sonhar com uma família, um emprego estável. Nossa aventura maior é sair com os amigos e tomar umas bebidazinhas. Isso é sensato e é bem republicano, mas não é natural. A morte nos impulsiona a coisas maiores. Queremos uma forma bonita de morrer, não uma confortável. Queremos nos sacrificar. É por isso, só por isso, o sucesso do comunismo ou do fascismo. Ninguém acredita de verdade em utopias. Todos sabemos que ainda que o comunismo desse certo e o Estado fosse abolido, algumas pessoas perderiam os pais na infância, outras seriam tímidas a ponto de não conseguir se relacionar com o próximo e sofreriam com isso, que enchentes e terremotos continuariam matando e todas essas pequenas coisas que tornam a vida assim-assim. Li por aí na internet que um autor comunista (não me lembro quem. Trotski? Gramsci?) disse que quando o comunismo finalmente prevalecesse então todos seriam gênios, cada gari de rua seria um Da Vinci. Bem, ninguém pode acreditar seriamente numa estupidez dessas. Então porque o comunismo faz sucesso ainda hoje? Por conta do sacrifício. A idéia romântica de não dedicar pateticamente a si mesmo, mas a algo maior, mais importante, mais decisivo. A vantagem da monarquia sob o comunismo é que ela é mais estável, mais charmosa e menos sangrenta. Sabe, porque você pensa na morte e não fala logo em seguida “céus, preciso arrumar um emprego estável!” mas antes um “Céus! Preciso conquistar Assunção!” O legal da monarquia é que não é necessária uma justificativa séria e racional igual no comunismo. O comunismo é isso, um monte de pessoas que no fundo só queriam conquistar Assunção, mas como aprenderam com o republicanismo a universalidade da racionalidade, então escrevem tratados enormes sobre a superioridade moral das pessoas que querem conquistar Assunção, de como conquistar Assunção é uma necessidade histórica, que quem não quer conquistar Assunção é um porco e merece ser assassinado. Na monarquia, não, é só um eu quero conquistar Assunção e pronto e acabou, se você não gostou que defenda Assunção ou então tente retomá-la de mim. E o melhor, o monarquista, ao falhar em tomar Assunção, não faz disso uma tragédia sobre a incapacidade do ser humano para o bem (como um Hitler a incendiar a Alemanha ao perceber a inevitabilidade da derrota), de nossa mediocridade, ele enfia o rabo entre as pernas sem reclamar por nenhuma justiça divina ou algo maior.

Nenhum comentário: