quinta-feira, 15 de outubro de 2009

E se somássemos à atual tabela do campeonato brasileiro a tabela de pontuação dos últimos nove jogos (o número de jogos restantes), que resultado teríamos? Como não tenho acesso a essa tabela e muita preguiça de criá-la, somei com a dos últimos 10 jogos, dei uma margem de erro de três pontos (o jogo excedente pode ter sido uma vitória, mas pode também ter sido uma derrota). E o resultado foi:

1 Palmeiras 71-68
2 São Paulo 65-62
3 Flamengo 63-60
4 Cruzeiro 62-59
5 Atlético-MG 62-59
6 Internacional 59-56
7 Goiás 57-54
8 Vitória 57-54
9 Corinthians 56-53
10 Grêmio 54-51
11 Santos 54-51
12 Barueri 52-49
13 Avaí 50-47
14 Coritiba 49-46
15 Atlético-PR 48-45
16 Botafogo 43-40
17 Santo André 40-37
18 Nautico 40-37
19 Sport 37-34
20 Fluminense 35-32

Agora é aguardar para ver a confiabilidade de tal método selvagem de estatística.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Juan sofreu um ataque cardíaco.
Yoshito caiu de um penhasco.
Norman teve câncer.
Noordin foi morto pela polícia da Indonésia.
Ertgrul teve falência renal.
Paulo morreu jogando bola.
Pavel sofreu uma hemorragia cerebral.
Talvez Shoichi tenha se matado.
Stephen morreu dormindo.

Mas este blog ainda não.
Pensei um pouco sobre ele e cheguei à seguinte conclusão: os posts de que me orgulho são os mais bobos. Esforçar-me-ei, então, em ser bobo. Mas ser bobo é difícil que só. Não esperem muitos posts.

domingo, 4 de outubro de 2009

Fui reprovado no processo seletivo para o doutorado da UFMG. Meu principal plano para o ano que vem é começar a dar aulas. Procurarei emprego assim que concluir minha dissertação (mas caso alguém já deseje me empregar é só deixar alguma nota aqui nos comentários), logo depois do feriado de Nossa Senhora.

Assim sendo, é bem provável que não escreva mais trabalhos para faculdade ano que vem. Talvez sinta falta. Estou pensando seriamente em acabar com esse blog e começar um novo, sobre meus estudos. Sei lá, cansei de escrever sobre atualidades, música ou cinema. Queria escrever sobre Elias ou Isaías. Acho que será mais legal, embora ninguém lerá.

Depois do feriado resolvo isso. Caso resolva mesmo mudar de blog vos avisarei e deixarei aqui meu novo endereço. Abraços e até a próxima.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sunset Blvd (1950)

Cotação: \/\/\/\/\

Pontos fortes
: Roteiro, humor, personagens malucos, clima ainda mais maluco, cenas impactantes

Ponto fraco
: Final exagerado demais

Sobre as cenas impactantes (com spoillers): Há uma clara preferência do diretor pelas cenas impactantes e aquela extensão do final foi só para fazer a cena final, claro. É uma cena clássica, mas é meio teatral demais, não? Até mesmo para o clima de loucura do filme todo.

Les 400 coups (1959)


Cotação
: \/\/\/\/

Pontos fortes (sem spoillers): realismo com que trata a fase ali dos 11-13 anos. Impressionante as cenas nos colégios. Me senti de volta a esse período.

Ponto fracos
(sem spoillers): O fim dramático demais e um clima por demais existencial

Pontos fracos
(com spoillers): Seria um filme excelente se concentrássemos ali no começo até o meio. O problema é que tudo começa a degringolar demais, as coisas dão errado demais. Talvez se tivesse um toque de comédia, poderíamos suportar o que vai acontecendo. Sem essa comédia o clima é de pesadelo, irreal demais. De certo modo, se o começo retrata a pré-adolescência de maneira real, o fim trata mais da imaginação dramática das crianças, causada pela sensação de incapacidade e de falta de proteção.

Mas a verdade é que, desde o começo, há um sinal claro de que tudo iria ruir. É aquela cena em que o menino pega a mãe beijando um amante. Se ele se importasse com aquilo, ou se ao menos ele usasse aquilo contra a mãe, conseguindo alguns favores. Seria mais humano. Mas o clima existencialista demais não o deixa. Ele dá de ombros, como se visse a mãe na feira comprando legumes.

Notorious (1946)

Cotação: \/\/\/\/\/

Pontos fortes
(sem spoillers): Quando se vê os filmes do Hitchcok, é comum ter a sensação que-que-é-isso-que-está-acontecendo-na-minha-frente-caralho!!! que só o bom cinema pode proporcionar. Há vários momentos assim no filme. É também uma bela história de amor. Surpreendente e verossímel. E o filme também me deu uma saudade danada do Rio (o filme se passa lá), especialmente da Cinelândia.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O mundo não aceita Zelaya fora do poder e Honduras não aceita Zelaya no poder. Como isso acabará? Ora, com mortes. Muitas mortes.

Civilização é coisa do passado.

sábado, 19 de setembro de 2009

12 angry men (1957)


Cotação: \/\/\/\/\/


Resenha sem spoillers:
Pontos positivos: Roteiro, atuação, envolvente.

Resenha dos pontos positivos (com spoillers):

Não apostava muito nesse filme. Ele se passa quase todo dentro duma sala, isso não é cinema. Doze homens julgam um caso de homicídio. É muito personagem. E, dito assim, a história não promete.
Não promete, mas cumpre. É um filme fantástico, com cenas marcantes e tudo. Como aquela em que Henri Fonda mostra a faca que comprou ou quando ele imita o velho deficiente andando pelo seu apartamento. E principalmente aquela em que o outro lá rasga a foto de seu filho.
Tendo a ser favorável à pena de morte para casos de homicídios. É algo que nunca parei para estudar, mas tendo a achar, por mais bizarro que isso possa parecer, que a pena de morte para casos de homicídios é o único meio de valorizarmos radicalmente (que é como deve ser valorizada) a vida humana. Este filme, no entanto, é um libelo contra a pena de morte. Seu principal argumento é: vejam como os seres humanos baseiam seus julgamentos. Queremos crer num júri imparcial e preocupado, mas as pessoas reais que comporão os júris reais não são assim. Estão preocupadas com o jogo de baiseball que ocorrerão logo mais, condenam por preconceito, vão na onda da multidão, trazem traumas no inconsciente que podem condenar ou libertar um réu completamente alheio a esses traumas. É um argumento poderoso. Quando o filme começa não há como duvidar da culpa do réu. Essa também é uma das forças do roteiro. Há um caso claro que aos poucos vai sendo obscurecido por Fonda. Há um júri convencido da culpa que aos poucos vai se “desconvencendo”. Quando o filme começa, por exemplo, ninguém pode acreditar que dois daqueles personagens se “desconvencerão”. Mas se “desconvencem”. E é real. É muito bom o filme.

Resenha dos pontos negativos (com spoillers):
Há um episódio clássico do South Park onde nos é apresentada a “Defesa Chewbacca”. Funciona assim, há um julgamento e é a vez do advogado falar. Ele pede pela prova 1. Trata-se de um quadro didático coberto. Ele tira o pano, vemos nele o Chewbacca. O advogado começa: “este é o Chewbacca...” e vai descrevendo o monstro, tal tamanho, veio de tal planeta, etc. No fim ele diz “Vocês devem estar pensando, por que esse advogado idiota está falando do Chewbacca? O que isso tem a ver com o caso? Nada, é claro. Mas lembre-se, vocês estão aqui para discutir se o réu é culpado ou não, e não para discutir se o advogado é um idiota ou não. Se condenarem meu cliente, o condenarão só porque ele tem um advogado ineficiente, e não porque ele é de fato culpado. Mas isso não só é um absurdo, mas desumano”. O advogado ganhava todas as causas. É assim com o filme. Fonda mostra que péssimo trabalho fez o advogado do cliente. Que se ele tivesse um advogado melhor, ele poderia ter rebatido melhor as acusações. Mas isso não é provar que alguém é inocente, nem mesmo anular as provas da acusação.

Detalhe importante: Se o filme tem um defeito tão grave e ainda assim ganhou uma nota boa, vocês podem imaginar como os pontos positivos são fortes.

Conselho não-cinematográfico para vida: Se você for réu num julgamento e Henri Fonda estiver no júri, contrate o pior advogado que seu dinheiro possa comprar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Dr. Strangelove: or how i learned stop worrying and love the bomb


Cotação \/\/\/\/

Pontos positivos, sem spoilers :
Peter Sellers, especialmente como dr. Strangelove, alguma das piadas, roteiro envolvente, diversão.

Ponto negativo seguido de toda uma discussão pseudo e afetada, sem spoiler:

Já se disse (não lembro quem) que vivemos uma época especialmente cômica. Nossos melhores escritores e cineastas têm, ao menos, uma forte veia cômica. Conseqüência natural da diminuição do homem.

Ao mesmo tempo, porém, recusamo-nos a aceitar isso. A comédia quase sempre tem um lugar discreto no cânone.

Por que valoriza-se mais o drama e a tragédia que a comédia? Por que isso ocorre, mesmo em nossa época essencialmente cômica? Por que, entre os autores do cânone, há pouco espaço para os cômicos?

Cr5eio que vários fatores dão a resposta. Mas uma dessas respostas me interessa em especial aqui. É difícil introduzir os tais “ossos” universais na comédia. É bem mais comum fazer comédia com a sua época ou seus conterrâneos. Temas universais não são cômicos. Logo, falta a comédia esse caráter universal e atemporal tão almejado pelos artistas.

Esse é o principal defeito de Dr. Strangelove. Ele envelheceu mal. Ainda continua engraçado, mas apenas porque a guerra fria não está tão distante de nós. Fora desse contexto o filme perde sua força. E depois desses quarenta e tantos anos, ele já perdeu algo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Melhores Álbuns - 1973



Já disse por aqui que Stevie Wonder possui ótimas canções e outras um tanto breguetes (pelo menos para esses ouvidos rockeiros formados nos anos noventa), meio música de motel. Nesse álbum, não podia deixar de ser, há das duas espécies. Mas tudo se integra tão perfeitamente no álbum que já não sei mais quais são as partes boas e quais as bregas. Enfim, foi um álbum que me ajudou a rever alguns conceitos sobre o que é bom e o que não é. Recomendo.

domingo, 13 de setembro de 2009

A sombra de uma dúvida (1943)




Cotação: \/\/\/\/\/

Resenha sem spoiler:
Pontos positivos: enredo, personagens, simplicidade, riqueza de detalhes, modo como mistura humor e tensão, diversão.

Dica de internet:
Procurando uma foto do filme, encontrei esse blog com esse post: http://hal0000.blogspot.com/2009/06/shadow-of-doubt-1943.html
Aí está uma resenha (com spoilers) do filme que eu jamais saberia fazer. Ele fala lá sobre outros filmes também. Vale a pena uma olhadinha.

Comentário sociológico desimportante e bobo:
Ver filmes antigos, anteriores aos anos 60, é observar como ficamos um tanto bocós. Primeiro os cigarros, charutos e cachimbos. As pessoas fumavam o tempo todo, um na cara do outro e ninguém parecia incomodado. Eu lembro que quando era criança era assim também. Ninguém ficava reclamando do cigarro. Mas a propaganda anti-tabagista é tão forte que provocou uma repulsa nas pessoas. Eu mesmo já sofro um pouco com isso. Não era assim, antigamente. Esse nojinho é algo totalmente novo. Outro ponto é quando o tio Charlie chega em Santa Rosa distribuindo presentes. Ele é o vilão da história, mas naquele momento ele está sendo falsamente amável. Para o menino, um revólver de brinquedo. Para a dona da casa, pele. Todos adoram e comentam sobre a prodigalidade e bondade do tio Charlie. Bons tempos não voltam mais.

A mensagem do filme também é algo que já não podemos encontrar facilmente. O mundo é um lugar perigoso e a ingenuidade, muitas vezes, contribui para o perigo e ajuda o mal. Não se pode ignorar o mal e fingir que não há nada de errado com o mundo. Tudo isso vemos hoje em dia, é verdade. Mas os filmes atuais apresentam como solução o: não sejamos ingênuos! Sejamos cínicos! Só que o cinismo não detém o mal também. Ás vezes é preciso lutar. O filme é de 1943, mas passa em 1941, um ano depois e um ano antes de Pearl Harbor.

sábado, 12 de setembro de 2009

Depois que comecei a ver filmes via internet, sinto quase nenhuma vontade de ir ao cinema. Talvez vá nos novos de Tarantino e Lars von Trier. Talvez não. Antigamente via um filme por semana. E se não havia nada, ia mesmo assim, ver algum filme independente australiano, ou coisa que o valha. Não vale a pena. Na net os clássicos estão a nossa mão e são, quase sempre, bem melhores que os tais filmes independentes.

Então fico me perguntando por que alguém vê os filmes atuais se eles são as porcarias que são? Dou uma olhada na minha lista dos últimos filmes que vi. Tem lá um filme de 2008 que vi com meu irmão que o pegou na locadora e, depois desse, o mais recente é de 1989 que vi com um amigo meu. Os dois têm as notas mais baixas do conjunto. Coincidência?

Mas ver filmes antigos é como ler livros antigos. É muito difícil arrumar alguém com quem comentá-los. Se as pessoas já o viram, viram há tanto tempo que não dá para conversar direito. Eis o porquê das pessoas gostarem tanto de ver os filmes mais novos.

Contudo, ainda são uma porcaria. Mas conversar sobre filmes é algo legal. Eis um verdadeiro dilema.

Talvez você, meu caro leitor, minha nobre leitora, não conheçam o Criticker. Este site funciona da seguinte maneira: você vai dando notas para os filmes que vocês já viram, e quando você menos espera, ele começa a tentar acertar a nota que você dará para um filme. É muito prático, nem tanto preciso, mas todavia interessante.

E o melhor de tudo: não precisamos mais ir ao cinema para comentar os filmes em cartazes! Vejam vocês as minhas notas para todos os filmes que estão passando agora (lembrando que a nota máxima é 5):


Up - altas aventuras 4,5
Amantes 4
Horas de verão 4
Arraste-me para o inferno 3,5
Almoço em agosto 3,5
Bem-vindo 3,5
Uma prova de amor 3
A partida: 3
Gomorra 3
À deriva 3
Harry Potter e o enigma do príncipe 3
Se beber, não case 3
A onda: 2,5
Tinha que ser você 2,5
A órfã: 2,5
Brüno: 2,5
Era do gelo 3: 2,5
A pedra mágica: 2,5
A garota de Mônaco 2
High School Band: 2
O sequestro do metro 123: 1,5
A verdade nua e crua: 1,5
Falando grego 1
Gigante: 1
Força G : 1

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Stalker (1979)



Tinha a intenção de ir resenhando todos os filmes que vi recentemente. Mas como não fazia isso de imediato, as idéias embotavam, a inspiração sumia e acabava enrolando mais ainda e, o pior, não resenhava os filmes que via depois destes, pois, organizado que sou, queria resenhar aqueles primeiros. Resultado: não resenharei nem aqueles nem estes. Para o erro não se repetir vou tentar resenhar os filmes na medida que os vejo. Eis o primeiro:

Stalker (1979)

Cotação: \/\/\/\

Resenha sem spoiler:
Pontos positivos: Profundidade filosófica, atuação de Kaidanovsky como o Stalker, trabalho de arte e final.
Pontos negativos: Frieza, lento demais, (desnecessariamente) longo.

Resenha longa e com spoiler:
O que mais impressiona em Stalker é a profundidade filosófica. Para dizer tudo de uma vez, não conheço filme mais profundo. Como Tarkovsky gostava de dizer, é um filme sobre fé. Há três personagens principais: o Escritor (representando, de algum modo, as artes e filosofia), o Professor (um cientista) e o Stalker (representando a religião). O que realmente me impressionou é que nenhum deles é raso, todos têm seus pontos muito bem defendidos. Um exemplo: o Stalker começa a explicar ao Escritor e ao Professor as armadilhas mortais da Zona. Então alguém pergunta se o critério para a Zona não os matar é serem boas pessoas. E a resposta de Stalker é algo como: isso é um mistério, creio que não seja exatamente esse o critério, ela parece antes ter preferência pelos infelizes. Fino, muito fino. Só por aí já dá para termos noção de que não estamos diante de qualquer coisa. Como ele consegue fazer tudo parecer sobrenatural, quando nenhum milagre ocorre, é outro ponto a ser destacado.

Mas toda essa profundidade é equilibrada por uma frieza absurda. É, de algum modo, um filme anti-envolvente. Não é nem mesmo que o diretor não esteja interessado se estamos nos envolvendo com o filme, ele deseja justamente o contrário. Enfim, o filme é como ler um tratado de Aristóteles, a Crítica da Razão Pura, Frege ou algum outro autor filosófico sóbrio e árido. Essa frieza só não é glacial pela atuação apaixonada de Kaidanovsky como Stalker. Sua cena final é marcante.

Exemplos dessa frieza: durante quase todo filme, vemos os três andarem pela zona e escaparem das supostas armadilhas do território. Mas em nenhum momento essas armadilhas são explicadas, nem mesmo o que elas representam, com agem. É tudo abstrato demais. Vemos, por exemplo, os três diante de um túnel sombrio. Eles supostamente tiram na sorte quem o atravessará primeiro. O escolhido é o Escritor. Quanto tempo ele demora até chegar do outro lado? Não contei, mas imagino que uns cinco minutos. Por cinco minutos os vemos lentamente andando pelo túnel. Era intenção do diretor fazer essa cena tensa? Assustadora? Não creio e se foi, falhou completamente. Ela é só chata. Desconfio que a real intenção de Tarkovsky era dar alguns minutos de folga para o telespectador, para que ele pudesse desligar um pouco do filme. Quem já tentou ler uma árida obra filosófica sabe o quanto essas pausas são necessárias. Depois que eles conseguem passar, o Stalker fica felizão, pois ali era o ponto mais mortal da zona a ponto do túnel ter sido batizado como “máquina de triturar carne”. Mas ficamos sabendo disso depois, ou seja, durante a cena não há tensão. Isso é durante o filme todo. Lentamente os 3 escapam das armadilhas das quais nunca sabemos a natureza e seu significado. Dava, ao menos, para o diretor encurtar tudo isso, tirar alguma seqüência, porque, afinal de contas, o filme tem mais de duas horas e meia.

O final, no entanto, compensa tamanha chatice. Se não fosse por ele, a nota desse filme seria beeeeem mais baixa. É ali que o debate filosófico mais intenso ocorre e o filme se justifica. O diálogo fala por si e é irretocável.

Comentário sintético porra-louca: É um bom filme, vale a pena. Mas seria melhor se o Steven Spielberg de Indiana Jones contribuísse com alguma ação nas armadilhas da Zona.

Recomendação:

Assistam num dia em que estiverem especialmente pacientes e filosóficos.

domingo, 23 de agosto de 2009

Os cowboys de Leningrado vão para América (1989) - \

O filme tem setenta e oito minutos. E é longo. Entre um terço e metade do filme é a banda tocando. E a banda é ruim. Tem uma ou outra cena engraçada, mas não vale a pena. É a história de uma banda russa que vai tentar ganhar a vida na América. É um road movie, cada hora eles param num clube e tocam o que o publico pedir, musica cubana, brega, etc. Tudo para acabar num casamento no México. Apesar de uma ou outra idéia original, o filme não consegue fugir dos clichês. Quando entram num bar de motoqueiros, por exemplo, o que tocam? Born to be wild. Podia ser uma piada, mas não é. Afinal, como sempre, a banda toca a música toda. Uns cinco minutos. Talvez o filme desse um curta melhorzinho, se cortássemos as músicas e tal. E os personagens? Uma tristeza. Com exceção do empresário, o clássico capitalista impiedoso, todos são indistinguíveis. É um filme da virada dos anos oitenta para os noventa, Leningrado, América... claro que tem uma mensagem política aí. Talvez a idéia de que os russos não seriam mais livres, que quem ganharia de verdade seriam uns poucos. E que no fim a Rússia acabaria no México. Talvez esteja vendo chifre em cabeça de cavalo, seja só um filme meio idiota sem mensagem alguma. Na verdade, tenho preguiça de entender. Já perdi tempo suficiente com esse filme.

sábado, 22 de agosto de 2009

Melhores Álbuns - 1967



Quando descobri esse álbum ainda morava no Rio. Fiquei hipnotizado pela tristeza de Cohen. Por uns dois meses não conseguia escutar outra coisa. É claro, porque você pensa “vamos escutar esse cd de novo?” e daí você se lembra que o álbum abre com Suzanne, como resistir? O Thiago, meu apêmate, de vez em quando vinha até a batente da porta do meu quarto e comentava “Sai dessa fossa, João. Fica assim não, isso passa.” A tristeza de Cohen é bem-comportada, resignada. Uma tristeza de velho, dum sábio. Uma música simples tocada num violão dedilhado, a voz num meio-termo entre canto e fala, tão suave que parece que vai se dissipar no ar, ao mesmo tempo, firme e clara, cantando letras geniais sobre mulheres ou Cristo. É tudo tão humano. Não poderia haver nome melhor para um álbum; As Canções do Leonardo Cohen.

Sobre a Teologia da Prosperidade

Direi agora o que o relativismo e o politicamente correto impedem mesmo o papa de dizê-lo. A teologia da prosperidade é claramente um retrocesso em relação ao cristianismo.

A teologia da prosperidade se baseia num acordo, ou melhor, num desafio que o crente lança a Deus. Eu passo a acreditar em Deus se esse, por sua vez, me ajudar na vida terrena.

Ocorre que essa não é a lógica das religiões com um Deus transcendental, como é o caso do cristianismo. É a lógica das religiões primitivas, anteriores a descoberta do campo transcendental. Eu rezo, sacrifico, faço uns rituais, me ajoelho, dou graças a Deus por tudo, em troca ele me ajuda, faz chover, me dá forças, fecha meu corpo.

Cristo não promete nada disso. Pelo contrário. “Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga’”. É o demônio que promete as coisas e, não por acaso, um de seus epítetos é “o príncipe deste mundo”. Como todos sabem, o reino de Deus não é deste mundo.

Essa mistura da teologia da prosperidade entre o campo do transcendente e do imanente não é sem conseqüências práticas. Primeiramente, isso leva a um encantamento do mundo, se creio que Deus irá me ajudar, tudo passa a ser visto como intervenção divina. Se estou com pressa e o sinal abre para mim é porque Jesus me ajudou. Se começa a chover e esqueci um guarda-chuva é porque estou com encosto. Não há problema no mundo que uma sessão de descarrego com 318 pastores da Universal não resolva.

Outra conseqüência é uma mistura da religião e política. Se Deus me ajuda por um trato, por que ele não ajudaria uma nação por esse mesmo trato? Para realizar tal trato basta elegermos um pastor para um cargo político. Esse cenário poderia ser problemático, pois indicaria um conflito prático das ordens sagradas e seculares. Mas isso seria o caso se os religiosos em questão acreditassem na verdade transcendente de sua mensagem. Como não crêem, agarram-se ao poder como qualquer político mequetrefe e utilizam de sua autoridade religiosa para manterem seu poder político e de seu poder político para manterem sua autoridade religiosa. Aliam-se com quem estiver no poder e são uma espécie de PMDB espiritual. Os pastores de hoje não se diferenciam dos religiosos de um país bárbaro qualquer da antiguidade a apoiarem um rei que, em troca, lhe garante privilégios e riquezas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Aguirre - a Cólera dos Deuses (1972) \/\/\/\/\/



É evidente que a natureza ocupa o lugar central nos filmes de Herzog. E ela é sempre grandiosa, invencível, terrível e impiedosa. O que impressiona nos filmes de Herzog, contudo, não é tanto a natureza, mas seu principal antagonista: o homem, uma criaturazinha frágil, mas louca, verdadeiramente insensata e inacreditavelmente corajosa. Em sua ânsia por encontrar Eldorado e domar a floresta, Aguirre desafia não só a natureza, doenças e fome mas também SPOILER SPOILER SPOILER os índios invisíveis da floresta e seu superior hierárquico. Com não mais de quarentas homens, Aguirre é capaz de desafiar a coroa espanhola. Aguirre é louco, sem dúvida alguma. Para mim, isso ficou claro quando a mulher de Pedro de Ursua o desafia, chegando mesmo a segurá-lo pelo braço. Ele releva cavalheirescamente e a ignora – ainda que pudesse esmagar ela e Pedro, então ferido, sem dificuldades. Ao virar-se, contudo, há um cavalo na sua frente e ele não só grita com muita raiva para o cavalo “SAIA DA MINHA FRENTE”, como o empurra brusca e inesperadamente, a ponto do cavalo cair da barca para o rio. Cara, não tem como essa cena ter sido prevista, eu acho. Um momento mágico do cinema. Você vê um filme como esse e pensa o ser humano é muito grande, muito terrível, caramba! Eu não sabia ser grande e terrível assim. E ao mesmo tempo, que miséria ele é. É tudo misturado. Aguirre é um personagem marcante pois ao mesmo tempo os respeitamos e lhe temos piedade. Talvez não o amamos, mas certamente admiramos e odiamos o filhodap. É um personagem insequecível e ver esse filme é obrigatório.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Melhores Álbuns - 1984




O rock and roll é algo difícil de explicar. Tem a ver com juventude. Não por acaso, bandas com cinqüenta anos de idade têm em seus dez primeiros discos suas obras-primas. Não por acaso, seus verdadeiros fãs são os jovens. Se a música é como um meio de transporte que te leva a certas paisagens emocionais, o rock nos leva a paisagens emocionais da juventude. E quais são essas emoções? Vontade, inquietude, tédio, bom humor, angústia, expectativa e frustração. Faz um certo tempo, comentando sobre The Replacements, um amigo definiu assim o som deles: rock. Na época não dei muita importância. Mas é isso mesmo: rock. E, por isso mesmo, uma viagem a essas paisagens jovens, carregadas de vontade, inquietude, tédio, bom humor, angústia, expectativa e frustração. E uma certa raiva. E tudo muito alto. Se é bom? Só o melhor rock que alguém pode escutar na vida. E Let It Be é, reconhecidamente, o melhor álbum deles.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estou com uma preguiça danada de comentar política nesse blog, por isso o número reduzido de posts ultimamente. A razão é simples, vivemos numa época muito idiota, extremamente idiota, e comentar política é comentar idiotices. É como ver um filme ruim só para comentar sua ruindade. Tem lá sua graça, mas enche. É preciso um certo tipo de humor, não é algo para se fazer toda hora. Por exemplo, essa coisa toda do pacto colombiano com os americanos. Quer polêmica mais idiota? Qualquer um sabe que o caso todo começou quando se descobriu que a Venezuela vende armas para a Farc. Numa tentativa desesperada de cobrir esse fato no noticiário, o imbecil-mor, e por isso mesmo o político atual mais importante da América Latina, Chávez, que um mês antes assinara um gigantesco acordo militar com a Rússia, “revelou” ao mundo um acordo, ou melhor, a renovação de um antigo acordo entre EUA e Colômbia. O plano de Chávez era risível, digno de sua estupidez... e deu certo. Meu interesse em política não é comentar idiotices, mas porque vivemos numa época em que uma idiotice tamanha como essa dá certo. Por que os jornais publicam esse tipo de notícia? Por que todos querem dar seu pitaco sobre o caso? É muito absurdo. Vejam, se o caso fosse entre as prefeituras de Itajubá e Varginha, o caso já seria bizarro, mas envolve um continente inteiro, ou melhor, envolvem o mundo inteiro. Por que a nossa época é tão imbecil? Eis uma pergunta difícil de responder.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fanny e Alexander \/\/\/



Não me entendam mal. Bergson é mesmo um grande diretor. Sua atenção para os detalhes é apaixonante. Numa cena, por exemplo, Alexander está na cozinha tomando chocolate quente. Nos cantos, empregadas preparam uma massa e sua irmã fofoca algo num outro canto, algo que nunca saberemos. Poucos diretores fariam isso e isso é tão simpático. Dá um ar acolhedor de realidade. E praticamente em todo filme há esses detalhes. Um tio tarado beija a mão da empregada enquanto todos dançam ou o Alexander entediado vai pensar em baixo duma mesa. Só grandes diretores fazem isso. Só que, como você imaginou, há um grande mas. Bergson não apenas dirigia seus filmes, mas os escrevia também. Ele tem alguns talentos como escritor. Seus personagens, em especial os femininos, são vivos e envolventes, ele não escorrega nos clichês. Mas sua metafísica é pobre e pode ser resumida num “viva a putaria!”. Seus filmes poderiam ser melhores, se seu defeito fosse apenas esse, mas ele é ambicioso demais. Seus filmes pretendem ser dramáticos, cômicos, aventurescos, infantis, profundos, tudo ao mesmo tempo e, para isso, seu talento de escritor e sua metafísica não chegam. E, além disso, tem o final. Já disseram que o final costuma ser o calcanhar de Aquiles de quase toda obra literária, e é verdade. Esse final aqui foi realmente estranho. Aliás, e antes de mais nada: SPOILER SPOILER SPOILER, algo me deixa curioso, pois o filme é meio autobiográfico e fico pensando se aquele fim é real, porque se foi aquilo mesmo, então é meio claro para mim que a mãe do Bergson assassinou o padastro, pois há tantos elementos ali que não dá pra crer que tudo foi uma grande coincidência.

Para não dizerem que sou assim ranzinza, termino falando bem. Uma coisa que gosto em filmes, são diretores que resolvem filmar o cenário. E Bergson faz isso com maestria. Nos sentimos vivendo na Suécia do início do século XX, correndo por suas vielas, morando em casarões, passando frio ao ir pra missa. Enfim, ganha uma nota média, mas não por ser um filme médio, e sim por que há elementos geniais e elementos detestáveis que atuam em força contrária e acabam produzindo algo que merecia nota 10 e 0 ao mesmo tempo, mas como sou aristotélico e não posso me permitir essas coisas, dou um prosaico 6.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pra mim esse papo de cerveja era só figura de linguagem. Mas é verdade. Aconteceu. Ora, quando estamos diante de um caso simbólico, um símbolo deve propor uma solução simbólica. Realidade hoje é o reino dos símbolos. No reino dos fatos, o Irã caminha tranqüilamente rumo a bomba nuclear. Mas fatos, verdades... tudo isso é um mundo ultrapassado, um mundo estranho ao nosso mundo de símbolos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

João Paulo, um Aristóteles cruzeirense?

Este ano o Cruzeiro montou um bom time, mesclando raça e catiguria, quase conquistou a Libertadores e agora, com essa vitória contra o Santo André fora de casa, tenho fé, dará a volta por cima no Brasileirão. Time para isso ele tem. E ainda há o Cartola (Pra cima deles, Moriba!). Tudo isso me obrigou a acompanhar o futebol mais de perto e, claro, meu fanatismo de menino de 12 a 15 anos tem voltado cada vez com mais força.

Ah... que saudades de 2004, 2005 e 2006! Nesses anos o time do Cruzeiro era bem mais ou menos o que garantia campanhas medíocres. Nada melhor para nos desinteressar por futebol. Melhor do que campanhas péssimas, pois nessas há o risco do rebaixamento, os jogos são importantes e acabamos acompanhando do mesmo jeito, e o que é pior (leia com o sotaque do Neto), acompanhando um time ruim.

Já tinha desaprendido. Tirava onda, falava que fanatismo é coisa de atleticano e eu, como bom cruzeirense, apenas acompanhava a distância o meu time, sabendo o resultado das partidas, quando ficava sabendo, um dia depois dos jogos.

A verdade é que não gosto de acompanhar futebol por que tenho um quê de hooligan. Não desses que andam em grupos de cem para bater em três desinfelizes, mas que briga sozinho contra as pessoas. Brigar não é muito preciso, talvez apanhar seja mais acurado, mas isso é outro papo.

Pior ainda, com minha queda para a filosofia não posso deixar de pensar sobre isso. Um hooligan filósofo. Entendem por que eu não deveria me interessar por futebol?

Me aproprio aqui de um comentário do Matheus. Saindo do Mineirão depois da derrota contra o Estudiantes, esse ficou pensando sobre o que responderia a um atleticano caso esse viesse encher o saco naquele momento. A resposta dele era algo como “Vai tomar no cu seu, filho da pulta. Sabe o cu? Aquele lugar que sua mãe adora enfiar um cabo de vassoura? Aquele lugar onde meto minha pistola na sua namorada? Então nessa porra de lugar seu viado desgraçado. Vai tomar no meio do seu cu”. E claro, tudo isso deve ser seguido de porrada, porque ficar só na ameaça é paia.

É mais ou menos esse o desejo de todo torcedor quando se vê na burrada de entrar numa discussão futebolística contra um torcedor rival. A discussão futebolística é algo engraçado, pois é o único debate em que não se deseja convencer o outro, mas humilhá-lo. Por alguma razão ficou instituído no Brasil, e talvez no mundo, afinal de contas os hooligans são um fenômeno mundial, que há uma relação direta entre torcer por um time e o caráter da pessoa. Se, por exemplo, o Cruzeiro ganha de 5x0 do Atlético-MG, como vem acontecendo nos últimos tempos, não há um só cruzeirense no mundo que não se sentirá melhor que um atleticano. Não é só que ele torce por um time melhor que o outro. Afinal, que graça teria isso, torcer por um time melhor? Você é melhor, simplesmente isso. Mais homem, mais potente, mais corajoso, mais cruel, habilidoso, vivo, esperto, etc. É claro que é uma idiotice, mas é inevitável.

Por essa razão as discussões futebolísticas não são apenas do tipo “Meu time é melhor que o seu”. Por isso, aliás, não há o mínimo de sensatez no debate e será algo extremamente raro você ver, por exemplo, um cruzeirense dizer para um atleticano algo como “Esse lateral seus, hein? É bom jogador. Não é muito habilidoso, mas marca muito bem e é veloz e inteligente. Continuando assim será um bom nome para a copa de 2014, quem sabe.” Uma análise desapaixonada do futebol é tão absurda que mesmo os jornalistas esportivos, que em tese deveriam ser neutros e imparciais, estão cada vez mais desistindo dessa neutralidade e já é muito comum os jornais e programas esportivos terem o “representante do time A” e o “representante do time B”, quando o lógico seria apenas comentadores neutros e imparciais. Eu dizia que não há sensatez no futebol e os debates não são do tipo o- meu-time-é-melhor-que-o-teu. Ao invés disso temos “Sua torcida é a mais fraca do Brasil”, “Eita, rapaz, não distrai não, você já torce pro X, já é meio caminho andado para a pederastia”. “Seu time é ridículo, eu tenho dó de você” E por ai vai.

Ora, se vamos deixar o futebol de lado e partir para o pessoal, então resolveremos esse caso da maneira como resolvemos os casos pessoais, isto é, na porrada.

É inevitável, vejam, não estou me excluindo. Só que não gosto disso, pois ao mesmo tempo em que não consigo ficar de fora, não consigo deixar de achar algo extremamente estúpido e, portanto, não deixo de me achar inevitavelmente estúpido.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um jornalista pergunta algo como:

- A CPI da Petrobrás pode terminar em pizza temperada com pré-sal?

E nosso digníssimo presidente respondeu

- Depende. Todos eles são bons pizzaiolos.

Parabéns para vocês que reelegeram isso como nosso presidente. Ele honra o país como ninguém.
Vejam aqui o plano que Chavez e Zelaya armam para a desestabilização política de Honduras:

http://www.elheraldo.hn/Ediciones/2009/07/16/Noticias/En-marcha-conspiracion-chavista-contra-Honduras

Uma parte chama atenção:

“El plan Chávez contempla que sean miembros de panfillas, a quienes se pagó entre 300 y 500 lempiras, los que encabecen las manifestaciones.

Sua misión será sublevarse a la autoridad hasta la provocación de disparos.

Una vez surjan los primeros disparos, los grupos irregulares infiltrados dispararán contra los mismos manifestantes, con el fin de fabricar una masacre que desestabilice y provoque una anarquia en el país

Alguma dúvida de que lado ficar depois dessa?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Melhores Álbuns - 1982




O The Fall foi uma das poucas coisas boas que ocorreram no começo da década de 80, em minha desimportante e desinformada opinião. Em meio a batidas eletrônicas hoje um tanto datadas e o som um tanto chato e não-melódico do pós-punk, The Fall, especialmente nesse álbum, apresenta-se como um fio que liga o rock do final dos anos 70 com o rock da virada da década de 80 para 90. O som é bem cru, mas há melodia e o vocal meio cantado meio falado com sotaque inglês carregado, sempre com um certo toque de arrogância de quem, deliberadamente, procura o confronto, é pura alegria. A influência deles para as bandas da década de 90 é evidente. É bem verdade que o The Fall está longe não ter sido influenciado pelo pós-punk. Mas já há algo neles que apontam para outra direção. Destaque para a música que abre o álbum “The Classical”, uma das melhores faixas de todos os tempos. As poucas faixas lentas me parecem hoje um tanto chatas e sem propósito, mas quando eles resolvem tocar algo barulhento (graças ao bom Deus, na maioria das vezes), pouca coisa se compara

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Melhores Álbuns - 1998




Minha primeira reação ao ouvir este álbum foi: que merda é essa? Parece não haver encaixe entre os vocais e a música. Parece que o cantor pegou uma música em japonês e traduziu diretamente para o inglês sem se importar muito em encaixa-la na música. Que ele não pensou muito em combinar o tom da voz com o tom da música. Algo completamente amador e sem noção mesmo. Mas com o tempo vai se percebendo um certo clima que aquelas músicas evocam, descobre-se que aquela voz desafinada e infantil é essencial para a música também. E percebe-se as letras também.

As letras são um caso a parte. Quem se dispõe a ler as bobajadas que escrevo sobre música, já deve ter percebido que não ligo muito para letras. Mas é impossível não mencioná-las aqui. As letras junto com as formas estranhas das músicas formam um todo fantástico.

A maior influência para o álbum não veio de uma outra banda ou álbum, mas de um livro: O diário de Anne Frank. Isso explica muita coisa. Explica como o álbum pode ser tremendamente sério e infantil ao mesmo tempo. Explica as referências constantes a morte, também um certo clima de lembranças. As músicas centradas sempre nos vocais agudos e no violão solitário de Mangum evocam a imagem de uma criança condenada a morte, completamente desprotegida, inocente, frágil até o ponto do ridículo e surpreendentemente corajosa.

Já disseram muitas vezes que a morte é o maior, senão o único, tema da arte. Não sei bem a verdade disso. Mas esse é o álbum de música que melhor tratou do tema. Tratou a morte por todos os ângulos. Temos o problema do sentido da vida perante a própria morte

And one day we will die
And our ashes will fly from the aeroplane over the sea
But for now we are young
Let us lay in the sun
And count every beautiful thing we can see

O problema de entender a morte dos outros:

She goes and now she knows she'll never be afraid
To watch the morning paper blow
Into a hole where no one can escape

Ou as lembranças que os vivos tem dos mortos:

And in my dreams you're alive and you're crying,
As your mouth moves in mine, soft and sweet.
Rings of flowers round your eyes and I love you,
For the rest of your life (when you're ready).

Algumas referências diretas a Anne Frank:

The only girl I've ever loved
Was born with roses in her eyes
But then they buried her alive
One evening 1945
With just her sister at her side
And only weeks before the guns
All came and rained on everyone


E termina assim:

And when we break we'll wait for our miracle.
God is a place where some holy spectacle lies.
And when we break we'll wait for our miracle.
God is a place you will wait for the rest of your life.

E, pronto. Mangum coloca seu violão no chão e vai embora do estúdio. Sim, OK Computer é meu álbum predileto, mas é no In The Aeroplane Over the Sea que estão as melhores letras que conheço.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Por esses dias descobri o blog de Mister X. E o que ele acha de pérolas da imbecilidade no mundo é algo assustador. Vou postando aqui uma ou outra dessas idiotices.

A primeira é uma tese de doutorado que defende uma suposta atração homossexual entre Bentinho e Escobar. Mister X já comenta muito bem o caso em seu post, e não saberia o que acrescentar. Eis:


http://74.125.95.132/search?q=cache:7-O4oV9K7aAJ:sitemason.vanderbilt.edu/files/bVDoas/Miskolci.doc+dom+casmurro+homossexual&cd=1&hl=en&ct=clnk&gl=us
Quer seja ou não golpe a deposição de Zelaya, uma coisa é indiscutível, a vergonhosa atuação brasileira no caso. Lula não reconhece o governo interino. Só que Lula reconhece os maiores facínoras do mundo. Apóia governos genocidas na África, queria fazer uma embaixada na Coréia do Norte, apóia incondicionalmente o ditador iraniano... mas não reconhece o governo interino da Honduras. Ah, isso não! Para tudo há limites! Vê-se, portanto, o quanto é furada a tese de que Lula se aproxima dessa corja por pragmatismo. Se fosse pragmatismo aproximaria de qualquer ditador. Mas Lula escolhe bem quando ele será pragmático, quando ele será rigoroso. Aquele ali matou quatrocentos mil negros no Sudão? Tudo bem, não sou um negro no Sudão mesmo. Mas depor pacificamente protoditadores que são meus amigos? Isso é imperdoável, não converso mais. Sério mesmo, me bate nojinho dessa gente.
Estou gostando de escrever sobre Honduras, pois é um assunto mais complicado que o normal. Normalmente as polêmicas atuais me parecem tão idiotas que tenho preguiça de entrar. Mas essa é legal. Por exemplo, não seria melhor que o país optasse pelos procedimentos legais para tirar o protoditador do poder? A princípio, claro! Mas analisemos melhor. O que o judiciário poderia fazer? Como o referendo era inconstitucional, ele poderia expedir um mandato de prisão contra Zelaya e contra seus ajudantes. Já imaginou a confusão que isso causaria? Certamente iria haver policiais dispostos a cumprir o mandato e outros dispostos a proteger o presidente. O mais provável é que tudo desembocasse numa guerra civil. Seria mais democrático, mais legal, sem dúvida. Mas alguém prefere isso mesmo? Essa deposição foi tão limpa, sem sangue. Sou um conservador a Carlyle. Mais importante que questionar sobre os direitos dos homens é questionar sobre quais são as capacidades do homem.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Tenho uma teoria. Na verdade acabei de inventar, analisando as reações aos últimos acontecimentos de Honduras. É o seguinte: ocorre algo agora, por exemplo, a deposição do presidente de Honduras, e rapidamente se formará dois grupos: os bem-pensantes que analisarão o caso como se ele ocorresse há quarenta anos atrás e um grupinho desprezado e amaldiçoado que terá uma versão mais atual dos fatos. Daqui a quarenta anos ocorrerá algo novo e os bem-pensantes de então analisarão esse caso futuro com as teorias daquele grupinho antes amaldiçoado mas que então será bem-aceito e haverá um novo grupinho com idéias mais interessantes, mas desprezados. Por essa razão, Chamberlain pensou que Adolf Hitler era Guilherme II e crê-se hoje que os verdadeiros inimigos da democracia latino-americana são as Forças Armadas, não esse movimento esquerdista-patético liderado por Chávez e Evo.

Sim, sou mais um bocó que não saberia distinguir Honduras de Costa Rica num mapa e que fica dando palpite azedo. Mas, vão por mim, América Latina é tudo a mesma e aborrecida coisa. Aposto com quem quiser que, não havendo envolvimento estrangeiro na questão, a democracia hondurenha sairá fortalecida desse impasse.

Segue um link detalhando o caso: http://faustasblog.com/?p=13712 . Um pequeno resumo: Zelaya queria fazer um referendo para permitir sua própria reeleição. Foi declarado inconstitucional pelo judiciário. Levou adiante seu projeto. Mas quem vai imprimir as cédulas? A Suprema Corte avisou que, como o referendo era ilegal, era também ilegal a impressão das cédulas. A Venezuela de Chávez imprimiu as cédulas. As cédulas vieram à Honduras. Zelaya ordena ao exército a distribuição das cédulas. A Suprema Corte ordena o contrário. Apoiadores do presidente distribuem as cédulas. O parlamento faz uma lei proibindo a realização de referendos 180 dias antes de uma eleição, como era o caso. Entra-se com um pedido de Impeachment e logo depois Zelaya é deposto. E o mais importante: os militares seguiram ordens do Congresso e da Suprema Corte, não resolveram por si sós depor o presidente. Logo depois o congresso nomeou outro presidente. O povo hondurenho apoiou as medidas.

Só não vê quem está cegado pelo debate intelectual do século passado. O verdadeiro infrator da ordem é Zelaya.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Quando um líder político cai e outro sobe em seu lugar, deve-se reconhecer o novo presidente ou não? Segundo o mundo moderno a resposta é: depende. Depende, se o político que caiu é nosso amigo, então não se deve reconhecer. Se o político que surgiu é nosso amigo então tudo bem. Assim, Lula apóia o ditador iraniano logo de cara, não se importando muito se a eleição foi fraudada ou não. Ao mesmo tempo diz não reconhecer o novo governo de Honduras. Mesmo Obama, meu Deus!, fez o mesmo caminho. Cadê o povo que fala que cada país deve cuidar de seus próprios problemas? Que intervenção estrangeira (ainda que seja apenas um “tsc tsc tsc”) é o maior crime, não, “maior” é pouco, é o único crime possível?

Para nos orientarmos em questões internacionais basta olharmos para Chávez e seguir o caminho contrário. Ele está sempre errado. É muito fácil e cômodo. Se há algo positivo em sua eternização no poder é essa comodidade. Se ele está tão nervoso com o golpe, então o golpe é bom. E então analizamos os fatos e vemos que nosso guia fuincionou outra vez. O presidente de Honduras estava organizando um pebliscito declarado ilegal pelo legislativo e executivo. Não arredou o pé, queria porque queria. As Forças Armadas então o levou para fora do país. Não dá nem pra falar em golpe, pois poucas horas depois já havia um presidente legítimo, escolhido pelo legislativo. Mais, a ação ocorreu dentro da Constituição de Honduras; foi uma ação extrema, porém democrática. É claro, tudo pode degringolar. Mas se não houvesse intervenção, então tudo degringolaria com certeza, a exemplo do que ocorre na Venezuela ou Bolívia.

A única coisa que me espanta é saber que ainda há homens com coragem no mundo. Ainda que sejam uns hodurenhos um tanto irrelevantes, dá certa esperança.

domingo, 28 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 2008



Acho meio bizarro esse ser o primeiro álbum desta banda. Ao mesmo tempo em que as músicas são bastante complexas, elas são tocadas e cantadas com toda a naturalidade do mundo. Parece requerer uma banda muito entrosada para isso. Em várias passagens os músicos todos ou quase todos cantam, dando a impressão de ser um coral de igreja. A comparação é boa, pois a banda passa um clima de cidade do interior norte-americana coberta de neve e que tem no coral da igreja a grande atividade. Apesar das guitarras elétricas aparecerem aqui e ali, o álbum tem um quê de intemporal. Parece uma mistura de rock com músicas dos séculos passados. Eles mesmos descrevem suas músicas como “jams pops com harmonia barroca”. Talvez o rock esteja fazendo as pazes com a tradição musical e cada vez mais é incorporado por esta. Talvez não. Não sei se o álbum aponta para o passado ou para o futuro. Sei que gosto muito dele.

sábado, 27 de junho de 2009

Michael Jackson foi uma espécie de Stevie Wonder dos anos oitenta. Tinhas umas músicas bregas misturadas com umas músicas legais. Mas as músicas bregas do Stevie me parecem mais aceitáveis e as mais legais do Wonder são mais legais que a do Michael. Sei lá, nunca curti muito o Michael não. Mas para não dizerem que eu não falo de atualidades, vou comentar aqui o fim da exigência de diploma para jornalistas. É claro que sou a favor. Os jornais que contratem quem quiserem para escrever e as pessoas que comprem os jornais com os jornalistas quem mais forem do seu agrado – com diploma ou sem. De qualquer outro modo é uma afronta à liberdade de expressão. “Ah, mas então o que eu vou fazer com meu diploma de jornalismo?” Que tal enfiar no [censurado]? Se a faculdade de jornalismo vale para alguma coisa, é claro que as empresas preferirão contratar jornalistas formados. Mas se a faculdade de jornalismo é tão ruim a ponto de não haver diferença entre um jornalista diplomado e outro sem, então é óbvio que não faz sentido instituir uma lei que obrigue as empresas a contratar apenas jornalistas diplomados. Se concordamos que não há relação entre ser bom jornalista e ter mais de um metro e oitenta de altura, por que exigiríamos jornalistas com mais de um metro e oitenta de altura? Se não há relação entre ser bom jornalista e ter um diploma, por que exigiríamos o diploma? “Ah! Mas você só fala isso porque não é jornalista?” Que nada! Não vejo problema com algo parecido na filosofia. Que seja desnecessário qualquer diploma pra dar aula em faculdades ou escolas. O único critério justo é se a pessoa sabe mesmo filosofia ou não. Seria ótimo, aliás. Desse modo, o autodidata Olavo de Carvalho poderia dar aulas de filosofia nas faculdades e, não tenho dúvida, seria bem melhor do que a maioria dos atuais professores diplomados em filosofia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1971





São quase setenta e quatro minutos de músicas em sete faixas. Estamos em setenta e um, não dá para dizer que o progressivo não passou por aqui. As músicas têm um caráter experimental evidente, os solos de guitarra são abundantes. Mas eu te garanto: é legal. É rock. Nada de firula, “Tago Mago é uma raridade do começo dos anos setenta, um álbum duplo sem uma nota desperdiçada” (Ned Raggett). A extensão das músicas consegue criar um clima ensolarado, forte, algo violento. As batidas são fortes, contagiosamente dançantes. Há nelas um prenúncio do que seria a música eletrônica (especialmente em “Halleluhwah”). Há um claro elemento sexual nos ritmos e nos vocais, em especial na faixa “Oh Yeah”, onde os sons parecem descrever primeiramente um bom amasso, depois sexo e depois gozo. Apesar de grandes, as canções não se perdem em momento algum, qualquer uma delas poderia tocar numa boa estação de rock.

Quer dizer... Originalmente esse é um álbum duplo. O que acabo de descrever aqui foi o primeiro álbum, porque no segundo... Bem, no segundo tudo o que posso dizer é que os caras exageraram no ácido. Com exceção da última faixa, o que há ali é barulho. Mas a primeira metade é tão boa que perdôo a maluquice da segunda parte.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1974




Brian Eno é, sem dúvida, um dos personagens mais importantes e mais influentes da música pop. Vemo-lo no começo de carreira como membro da banda Roxy Music. Entusiasta da então nascente música eletrônica, Eno era o responsável pelos teclados, sintetizadores e pelo acabamento final das canções do grupo. Hoje em dia ele ainda grava seus álbuns e é, talvez mais do que nunca, uma influência decisiva para boa parte das bandas alternativas. Deve-se confessar, contudo, que sua influência é nefasta. Eno é fundador de todo um gênero musical: a música ambiente. Isso mesmo que você leu. Um de seus álbuns chama-se Music for Airports. É, portanto, uma espécie de pai de bandas e artistas que nunca consegui entender como se pode gostar sinceramente deles. Além de pioneiro da música eletrônica e criador de todo um gênero musical, Eno elevou a arte de produção de álbuns a patamares nunca antes vistos. Vários artistas o procuraram com a intenção de gravar um “álbum Eno”. Já trabalhou com David Bowie, David Byrne, U2 e outros.

Here Come the Warm Jets é seu primeiro álbum solo. É sem dúvida um álbum de rock. Mas vemos aqui o Eno eletrônico e experimental do Roxy Music, e também o Eno futuro produtor. É um rock de estúdio, podemos chamar assim. Um pai ou avô do OK Computer. Mas o Eno ambiente está longe daqui, graças a Deus. Pode ouvir sem medo. É um álbum muito bom e criativo, Eno mostra que sabe cantar com vontade e alegria, os efeitos eletrônicos não são datados e enriquece suas canções – que já seriam ótimas sem tais - com toda espécie de detalhes. Eno pode ser bem estranho às vezes, mas é, sem dúvida genial. Esse álbum foi gravado em 73/74, tem efeitos eletrônicos, é experimental, em algumas músicas ele abusa mesmo da estranheza, mas em momento algum o álbum é datado. E, bizarramente, é um álbum muito fácil de gostar e apreciar. Todas as músicas são boas e tem seu charme. Eno sabia o que estava fazendo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

É claro que Lula continua falando merda. Eu é que já não tenho saco para acompanhá-lo. Se querem mesmo saber da última, procure a declaração dele em que compara os protestos no Irã ao xororô depois de um Flamengo x Vasco. Ao invés disso, vou citar Nietzsche:

“Mas o que Heráclito queria evitar, também nós queremos evitar: o ruído e charlatanismo democrático dos efésios, a sua politicagem, as notícias do “Império” (quero dizer a Pérsia, já se entende), porque nós, os filósofos, necessitamos de algum descanso. Nós veneramos tudo o que é tranqüilo, frio, nobre, longínquo, passado, tudo aquilo cujo aspecto não obrigue a alma a defender-se e guarnecer-se, tudo aquilo a que se pode falar, sem elevar a voz.”

Sim! É isso mesmo Nietzsche. Tenho que concordar com você dessa vez. Aliás, para ser completamente sincero, um dos motivos que não gosto muito de você é que você vive elevando o seu próprio tom de voz. Seus defensores então! Gritam no megafone. Mas não ligue para mim, Nietzsche. Continue, por favor:

“Basta ouvir o timbre de uma voz: cada espírito tem o seu timbre. (...) Vede este outro que fala rouco: será por ter constipado o cérebro à força de pensar?”

Mas deixemos de lado o Lula. No fim, ele é apenas o presidente do Brasil, que importância verdadeira pode ter? Realmente assustador é o discurso do presidente norte-americano. Vejam só o que Obama disse sobre os protestos no Irã:

“ ”

Saudades de Bush.

Into the Wild 3.5/5

Há dois elementos heterogêneos no personagem central que aparecem permanentemente unidos. Um deles é interessante, o outro, ruim. Um deles impulsiona o lado bom do filme, o outro o mau.

Como nas piadas, começo pela notícia boa. O que há de interessante na figura de Cristopher McCandless é o seu lado profético, seu desejo de vazio, de paisagens inumanas, sua busca pelo Alaska, pelo seu deserto. No filme há uma metáfora para caracterizá-lo: ele era como um cristal; sua pureza (e, portanto, sua beleza, seu interesse) e sua fragilidade tinham a mesma causa, brotavam como que da essência dele. Ele é forte, decidido, grandioso, sério, sonhador. Há uma força interior que o motiva, que o impulsiona, muito maior que a minha ou da maioria das pessoas. Tudo isso o levará a uma pequena, mas verdadeira tragédia.

Mas como ignorar o lado bobo de Cristopher McCandless? Esse lado pode ser resumido numa única sentença: ele viveu no fim do século XX. Ele viveu após os hippies, os esportes radicais, o desejo pelo contato excitante com a natureza. Apesar de haver uma força que o impele e que ele não pode controlar, ele próprio não é forte o bastante. Ele está abaixo dessa força, ele não a compreende, ele está desorientado. McCandless deixa o lar após descobrir uma grande falha de seu pai. Só alguém com uma grande força moral poderia fazer isso. Em choque começa a percorrer os EUA e passa a desejar o Alaska, um lugar grande e vazio, sem ninguém por perto. Nessa busca, porém, encontra várias pessoas, e quase todas elas não são melhores que seu pai. A única exceção, me parece, é o velho do final. Não obstante, faz amizade com elas, demonstra interesse. Em nenhum momento vê-se um julgamento, nem mesmo interior, nada. Cadê a severidade inicial? É um profeta sem um Deus, sem uma causa. A humanidade não lhe irrita o suficiente, nem tem um espírito metafísico, nem crê em um deus que o permitirá amar a humanidade, que o permitirá voltar do deserto como um santo e não como um simples misantropo. Pelo contrário, o deserto parece ser seu fim, não um instrumento purificador. No fim das contas, parece apenas que ele é alguém que gosta de estar em contato com a natureza e que foi para o Alaska por diversão e, talvez, maltratar um pouco a família. Nada contra, mas é um motivo meio bobo para um filme, não?

Sejamos justos, em nenhum momento confundimos Cristopher com os hippies e desajustados que ele encontra pelo caminho. Ele parece sempre superior a eles. Ele os escuta, ouve seus conselhos. Mas o que ele tem para dizer aos hippies, aos desajustados? Nada. Em que consiste essa superioridade? Não se sabe. Que mensagem ele quer nos dizer? Não se ouve. Ele parece simpatizar com essas pessoas. Por que ele é tão severo com sua família e tão amigo dessas pessoas? Cristopher não tem a universalidade do profeta, condena as ações desigualmente e seu critério é apenas o tanto que tais ações lhe afetem. Se não o afetar, ele não está nem aí. Enfim, ele é uma pessoa comum, com seu egoísmo comum. Não é um profeta.

Assim vemos Cristopher trabalhar duro como peão numa fazenda para ganhar um dinheirinho e, quando o consegue, simplesmente o dispensa. Uau!, pensamos, que força! que vontade! que personalidade! Mas logo à frente o vemos num caiaque desafiando a correnteza de um rio. Dá a louca nele: quero conhecer o México. Ele vai. Mas o que faz lá? Não se sabe, foi ver a paisagem, decerto. Depois vemos ele no Alaska. Há de fato espiritualidade ali? Vemos ele passar dificuldades, fome, morrer. É sem dúvida alguém com uma grande disciplina, uma grande força de vontade. Mas em nenhum momento aparece Javé, em nenhum momento uma voz lhe pergunta: “O que você está fazendo aqui, Elias?” Há uma pretensão em fazer daquilo uma jornada espiritual, mas o que nos é mostrado não passa de um passeio turístico mal-sucedido.

domingo, 14 de junho de 2009

Lembram-se daquele povo que se alimentava de luz? Por onde anda agora? Ah! seus céticos! Eu acredito, é claro. Há tanta coisa esquisita no mundo. Mais uma não me espantaria. E depois eles eram sempre tão magros, deve ser verdade. Porque luz não engorda, vocês sabem, luz é light. Será que é gostoso comer luz? Deve ser quentinho, ao menos. Talvez caramelada ou com sal, ou salpicada de uvas passas, ou misturada com rum branco, gelo e limão (alguns filisteus misturam com vodka, não entendem nada), luz defumada fatiadinha com queijo provolone, champignon e salaminho numa pizza, salada de fruta e luz, bolinho de luz (a especialidade da vovó). Eu sempre filava o sanduíche de luz, aspargo, alface e maionese que um colega meu trazia para o recreio. Mas o tradicional mesmo é o suco de luz com clorofila. Eu prefiro a luz incandescente, acho o gosto da fosforescente meio artificial, sei lá. Não se come luz no Ramadã. Uma pena, pois isto impediu os mulçumanos de serem fosôfagos. Uma coisa boa da fosofagia é que é fácil. Se você estiver com fome, basta ir até o quintal de sua casa, deitar no chão, abrir a boca e comer o sol. E o melhor de tudo é poder pegar um bronze enquanto almoça.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 2005



Uma vez, pesquisando coisas sobre o Animal Collective na internet, descobri que o Panda Bear, um dos líderes da banda, era formado em religião. Estranho, não, um roqueiro formado em religião? Qual foi então minha reação? Surpresa? Espanto? Nada disso, foi um eu já sabia! Ouvindo esse álbum, relacionava-os com místicos medievais dizendo “Eu quero tudo! Eu gosto de tudo! EU AMO TUDO! Eu quero mais tudo!” As músicas são de uma energia e alegria impressionantes, e há vários momentos em que eles parecem querer colocar todos os sons possíveis, tudo de uma vez, numa explosão um tanto mística. Talvez o álbum todo possa ser sintetizado numa frase gritada em The Purple Bottle: Silence is a bore! Não é à toa que a capa desse álbum contém um tanto de crianças. À sua maneira, esse álbum é também uma criança sempre correndo, sempre fazendo algo, agitada de uma maneira incompreensível e inacreditável. Se você olhar a estrutura do álbum verá lá, são nove músicas, mas a terceira, a quinta, a sétima e a oitava faixas são como intervalos. Não que sejam más músicas (pelo contrário, são prazerosas como uma boa dormida), mas são intervalos em que se descansa, como crianças que dormem logo que ficam quietas. É que o corpo não agüenta tanta alegria, tanta emoção, tanta novidade... é preciso descansar também, dormir; por que amanhã tem mais.

É comum ouvirmos grandes álbuns com músicas melancólicas ou mesmo depressivas. Há também várias grandes bandas agitadas, com som animado. Alguns outros são mesmo histéricos. Mas verdadeiramente feliz? Só conheço o Animal Collective, nesse álbum e no posterior, o também ótimo Strawberry Jam. Nesse ele canta o amor, no outro a infância. Mas a comparação com a criançada ainda se mantém, pois o amor deixa todo mundo meio criança, não? É como se descobríssemos o mundo de novo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Melhores Álbuns - 1985




“Inclassificável”; eita palavrinha para aparecer em resenhas de álbuns. Mas creio que se houvesse uma lei que permitiria o seu uso apenas uma única vez em resenhas, ela seria usada para caracterizar o Sr. Waits.

Por que convenhamos... o que é isso? Isso não é rock, não é jazz, não é tango, não é folk, não é blues. Talvez o mais próximo de uma classificação possível seja “música de bêbado”. Parece que estamos num filme antigo, em techinocolor ou preto em branco e entramos numa taberna. Há uma briga ao fundo, na sinuca, e, ao lado, um bando de marinheiros canta músicas; as felizes são cantadas em coro, as tristes por um único marinheiro, e as músicas que eles cantam são as desse álbum. E de que ano é isso? O título do post indica a data certa, mas se não o soubessemos como advinhar? Não há nenhuma dica... poderia ser de 65, 85, 2009, poderia ser de 2085 e há algumas músicas que, se transferidas para uma versão acústica, poderiam passar tranqüliamente por uma coletânea de canções búlgaras do século XVII. De certo modo é como se o álbum tivesse criado uma nova categoria de música que não foi seguida por ninguém mais, toda uma infinidade de sons a percorrer e que nunca serão percorridos. O mais legal é que, apesar de toda esquisitice, o álbum é bem acessível. Dá até para dizer que as músicas foram feitas para se cantar junto.

A maioria das músicas desse álbum é genial, mas vou ter que destacar uma em especial, que é uma de minhas preferidas de todos os tempos: Tango till they’re sore.
Há uma certa idiotia geral contaminando cada pedaço do espaço público no Brasil. É tanta idiotia que, sinceramente, não consigo acompanhar. Não tenho nem a velocidade nem a força necessária.

Isso é bem exemplificado pelas últimas falas do infeliz Minc. Tudo começou quando esse boçal subiu num caminhão para discursar e chamou os agricultores brasileiros de “vigaristas”. Isso gerou uma onda de protestos da chamada bancada ruralista no congresso. A isso ele respondeu:

“O fato de os ruralistas estarem preocupados com a minha permanência do ministério me faz achar que estou no caminho certo”

E logo depois zurrou isso:

“Que me conste, o Brasil é comandado pelo presidente Lula, e não pelos ruralistas. Alias, se tivesse sendo comandado pelos ruralistas, não ia ter Bolsa Família, ia ter Bolsa Latifundiário”

Minc é simplesmente um sem-noção, um cego, alguém que entendeu tudo errado a vida inteira e agora está velho demais para mudar ou mesmo reconhecer o erro. Ao comprar briga com um setor de vital importância para a economia do Brasil, e comprar briga não contra um comportamento desse setor, mas contra a natureza mesmo desse setor composto por “vigaristas”, por bússolas que apontam para o sul, egoístas interesseiros e, vileza das vilezas!, não apoiadores do programa bolsa-família e do governo Lula, Minc apenas demonstra como a cegueira ideológica pode fazer alguém ultrapassar os limites da estupidez humana, tornando-se assim uma espécie de super-idiota, alguém cuja burrice só pode ser explicada por super-poderes ao contrário.

Vejam, o debate entre agricultores e ecologistas sobre a limitação do que pode ser desmatado na Amazônia e sobre que condições isso deve ser feito é um debate seriíssimo, dificílimo e importantíssimo tanto para a agricultura, economia e ecologia do país. Merecia, portanto, um defensor do lado do meio ambiente mais preparado.

Quando se desqualifica o adversário, como fez Minc, dizendo que a contrariedade de tal setor é sinal de acerto, você está negando o debate. Você está dizendo, com todas as letras e acentos, “Eu estou certo, vocês estão errado. Calem-se e cumpram minhas ordens.” O viés autoritário é expresso pelo “o Brasil é comandado por Lula”. Não é não. O Brasil é presidido por Lula, o que é bem diferente. Quem governa o Brasil são as leis. Isso aqui ainda é uma democracia, senhor-tão-amigo-da-natureza-que-virei-uma-anta.

Isso é péssimo, pois o assunto merecia uma discussão melhor. E é péssimo para a própria causa de Minc, pois o senado aprovou a regularização das terras, ao contrário que queria o Minc. É o que acontece quando se é um idiota completo, um estúpido de primeira grandeza: perde-se, perde-se e perde-se. Se não se entende como funciona o jogo, se não se sai de sua ideologiazinha em que se auto-diviniza e se demoniza os adversários, em direção a complexidade da realidade, ao fato dos dois lados possuírem suas razões, que o assunto deve ser devidamente discutido e analisado, é óbvio que o sonhador seguirá seu caminho distraído até bater com o nariz num poste ou despencar num abismo.

E o elogio a quem merece, ainda que elogiar político é pedir pra queimar a língua. Num governo de idiotas, para idiotas e pelos idiotas, o simples bom senso brilha como o Sol. Se hoje a decisão de quem botar na presidência do país coubesse apenas a mim, seríamos governados pela senadora Kátia Abreu dos Democratas. Não acompanho assim o noticiário, mas ela sempre parece estar no lugar certo, com o discurso certo. Não foi diferente agora. Num discurso que vi pela tv ela nos disse que se Minc saísse do governo não se sentiria falta dele, mas que se o setor agropecuário abandonasse o país estaríamos todos lascados.

Eis o simples bom-senso que no meio de tanta idiotice fica até parecendo algo genial. Eis uma pessoa que entendeu o papel do político numa democracia-liberal. Sua função é a de representante, não a de comandante, como imagina o pobre do Minc. Não é que Minc ou Kátia Abreu sejam menos importantes que o setor agropecuário ou qualquer outro agrupamento social. É simplesmente que a importância que Minc e Kátia Abreu possuem derivam única e exclusivamente do setor agropecuário ou de um outro grupo social. Sem a importância do representado por trás, eles não são mais que simples cidadãos, ou, se com algum poder, tiranos. Portanto, um ataque contra a natureza de um grupo social da importância dos agropecuários é simplesmente uma má compreensão do papel do político, do papel do povo, do papel da democracia.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Arg... A última idiotice proferida por esse ser lulesco que governa o país (sério mesmo, acho que faríamos mais negócio se uma lula de verdade governasse esse país) não é só uma palhaçada, uma estupidez, mas é mesmo algo nojento, repugnante. Ainda bem que o Reinaldo já tratou do tema, porque essa declaração é daquelas que se ficamos muito tempo debruçados sobre ela, escrevendo um texto sobre, o fedor desprendido de sua podridão moral seria capaz de fazer qualquer um ter uma crise convulsiva seguida de vômito e paralisia das funções vitais. Segue texto do Reinaldo de Azevedo:



“ 'Um país que acha petróleo a 6 mil metros de profundidade pode achar um avião a 2 mil'.

"Quem disse a pérola acima? Luiz Inácio Lula da Silva, ele mesmo, lá da cidade da Guatemala. Como se vê, aproveita-se de uma tragédia para fazer uma peroração nacionalista.

"Daqui a pouco, Lula vai se jactar do fato de que nenhum outro país gasta tanto dinheiro como o Brasil para combater a dengue. Não sei se vocês atentam para a ironia da coisa. Ele já se orgulha de o Bolsa Família crescer em vez de diminuir. Assim, quanto mais dengue e mais miséria, mais Lula estufa o peito. Eis um homem que vê nas tragédias uma janela de oportunidades. Santo Deus!

" 'Ah, mas a sua popularidade é de 180% segundo o Instituto DataEstupidus…' E daí? Isso não faz de um erro um acerto. A frase é de um oportunismo asqueroso e vulgar.

" Assim como ele gosta de sujar a mão de óleo em plataforma da Petrobras, deveria ir lá imprimir as digitais nos destroços: 'Nunca antes nestepaiz se cuidou tão bem de uma tragédia aérea'.

"Se Lula não existisse, não precisaria ser inventado".

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Vamos ao trabalho. Isso não tem fim. Todo dia aparece petista dizendo abobrinha. Ocorreu hoje no Piauí. Uma barragem se rompeu e destruiu um vilarejo matando sete pessoas. O governador Wellington Dias, do PT, colocou a culpa no aquecimento global. “Não pode ser normal chover 149 milímetros em algumas horas quando a média anual nessa região é de 700 milímetros” disse o infeliz.

Meu Deus, que preguiça. Mas isso tem que ser combatido, pois é uma idiotice freqüentemente proferida.

Quem fala uma merda dessa, assim para todo mundo ouvir, não é apenas um idiota, mas sofre de algum tipo de perturbação mental e de charlatanismo congênito e incurável. Daqui a pouco aparecerá alguém dizendo algo como “Os mais velhos hão de lembrar, na década de 70, antes do aquecimento global, a temperatura era sempre constante. Fazia vinte e cinco graus todos os dias, todas as horas, a todo momento. Mais ainda, caia uma chuvinha fina, constante e eterna, pois a chuva também era sempre constante e média. Foi o Aquecimento Global que inventou as variações de temperatura! Depois esses malditos-capitalistas-que-querem-destruir-o-mundo inventou que havia variação de temperatura desde sempre. Livros como “Vidas Secas” e “O Quinze” são farsas montadas na década de noventa, pois não havia antes da década de 70 fenômenos como a seca! Não havia irregularidades climáticas! Também é farsa a tese de que a Terra passou por períodos conhecidos como era do gelo! Dançando na chuva é uma montagem mal-feita! Todo mundo sabe disso!”

Na boa, vão catar coquinho.

Qualquer ser minimamente inteligente sabe que irregularidades no clima sempre existiram. Assim sendo, uma pessoa séria e que acredite na tese do aquecimento global antropogênico, deverá sempre se perguntar diante de um evento climático anormal, como, por exemplo, essas chuvas da região norte-nordeste: será que este é um evento causado pelo aquecimento global ou será que não tem nenhuma relação?

Bem, assim seria o caso se o aquecimento global antropogênico fosse uma tese científica. Mas o aquecimento global antropogênico não é uma tese científica. É uma tese meramente política. Chega-se a essa conclusão ao observar casos como esses. Se a tese do aquecimento global antropogênico fosse científica, quando um político qualquer falasse uma merda dessas, a comunidade científica iria chiar: “Por acaso, doutor Wellington, o senhor é um cientista e a gente não sabia? Mostre-nos seus artigos científicos. Como chegou a essa conclusão, assim, de maneira tão inequívoca, de que essas chuvas tem como causa o aquecimento global?”

É engraçado, quando digo que não creio na tese do aquecimento global antropogênico, as pessoas me olham estranho, como se eu fosse um inimigo da humanidade e comentam invariavelmente “Você está falando merda. Você não é cientista. Com que autoridade pode criticá-la?.”Deixo para lá o fato de que vários cientistas negam o aquecimento global antropogênico. O que acho engraçado é que eu não posso dar minha singela opinião sobre a farsa do aquecimento global numa mesa de bar, mas um idiota como esse governador retapanguas do Piauí fala uma merda dessas na imprensa, depois de uma tragédia, e não aparece ninguém para perguntar: “você por acaso é um cientista? Então cale essa maldita boca!”

E os cientistas não aparecem por uma única razão. É do interesse deles que suas teses caiam assim no gosto popular a ponto de idiotas depravados acharem super cool e intelectual praticarem essa meteorologia selvagem. E é do interesse deles porque não estão interessados na verdade nem na ciência, pois, se estivessem, essa meteorologia selvagem seria prejudicial a suas teses. É do interesse deles, pois isso convém ao seu projeto político.

Enquanto isso a diretora da Empergi nos informa que a represa tinha “seis fissuras em suas paredes que todos os anos eram preenchidas com concreto”.

O aquecimento global é bom porque isenta os políticos da responsabilidade, mas é melhor ainda porque transfere essa mesma responsabilidade para algo intangível. Afinal de contas, o que o governador do Piauí pode fazer quanto ao aquecimento global, não é mesmo? Já quanto às fissuras na parede de uma represa... Essas coisas concretas, antigamente, eram o trabalho e a preocupação dos políticos. Hoje em dia eles existem para palpitar sobre coisas que estão completamente além de sua capacidade.

Melhores Álbuns - 1970




Ah! O álcool! Esse grande benfeitor, esse grande amigo da humanidade. Bebendo-o abaixamos nossas exigências, tanto em relação ao outros como com nós mesmos, e isso permite uma socialização melhor, mais azeitada, maior diversão. Este álbum é o Velvet durante uma boa noite de biritinha. Lembro-me que talvez a maior decepção musical que tive foi ao ouvir o primeiro disco do Velvet, aquele da famosa capa com a banana de 67. Esperava muito e no entanto achei-o sem sal, chato, construído a base da inteligência fria, sem emoção alguma para ser uma boa banda de rock. É até hoje minha impressão dessa banda tão aclamada por todos. Esse álbum, no entanto, me faz ver que o errado na história sou eu e não o mundo (o que é um fato bem estranho e peculiar, não acham?). Uma banda capaz de fabricar essa maravilha não pode ser ruim como acho. Mas talvez seja só umas biritinhas a mais que eles tomaram. Na verdade havia uma intenção declarada de fazer um álbum carregado de sucessos radiofônicos (daí seu título). Conseguiram. Em suma, é um álbum feliz, sem grandes expectativas e pretensões intelectuais, provando que poderiam fazer muito bem o que a malta queria, sem se venderem no processo. Destaque para as três canções iniciais: Who loves the sun, Sweet Jane e Rock & Roll, e também para a última: Oh! Sweet Nuthin.

domingo, 31 de maio de 2009

Para vocês, seus IDIOTAS!

Vira e mexe penso em evidenciar o quanto Lula e o PT são IDIOTAS, mas sempre que surge uma situação concreta fico com preguiça. Porque a IDIOTICE deles é tão óbvia, tão concreta, que o trabalho de criticá-los é mecânico, repetitivo, burro, sem graça. Eu começo a escrever e penso “isso é tão óbvio, BURRO, IMBECIL, qualquer IDIOTA, qualquer CRIANÇA com mais de três anos pode ver que o Lula e o PT são IDIOTAS, não faz sentido ficar escrevendo essas coisas”. Mas aí vejo que Lula tem aprovação recorde, que mesmo os intelectuais e a elite o aprovam, e concluo que vivo numa nação IDIOTA, numa época IDIOTA, desesperada, irremediável, definitivamente IDIOTA. Que é preciso explicar tim tim por tim tim a todos vocês, seus IDIOTAS, explicar porque Lula é IDIOTA, porque ele não serve nem para ser ascensorista do seu prédio, quanto mais presidente de uma república, ainda que seja uma republiqueta bananeira como a nossa.

Bem, vamos lá. Olhem a última IDIOTICE que o Lula falou:

“Uma das razões pelas quais a escola pública foi se deteriorando é porque grande parte da classe média se afastou dela. Para não brigar [por qualidade], decidiu colocar os filhos na escola particular. E pagar na mensalidade de 3º ano primário o mesmo preço de uma universidade particular”.

Sei que se quisesse mesmo convencê-los, eu não deveria ficar chamando vocês de “idiotas”, mas, caramba!, se eu tenho que explicar por que isso aí acima é uma IDIOTICE sem tamanho, então, meus caros IDIOTAS, me desculpem, mas vocês não são as pessoas mais inteligentes que conheço. Se sou obrigado a descer num nível tão grotesco, a rastejar nesse mangue de IDIOTICE, tudo bem, eu farei o que for pedido de mim, mas o farei gritando. IDIOTAS! Assim, ao menos, me divirto um pouco escrevendo essas obviedades.

Vejam só quantas IDIOTICES o Lula proferiu usando apenas três frases:

1 – O famoso Lulinha, aquele mesmo que era monitor de zoológico e depois da eleição de 2002 se tornou um empresário milionário (Coincidência? Uma cilada do destino?) estudou em escola particular. Já surgiu gente por aí afirmando que outros filhos do presidente estudaram em escola particular. Porque a imprensa brasileira, como vocês sabem, essa “mídia golpista”, “implacável opositora do sacrossanto governo Lula”, não faz o seu papel e investiga quantos e quais são os filhos dele que estudaram em escola particular, então temos que confiar em internautas anônimos. Então ficamos assim, o dono daquela locadora na esquina da sua rua, que não tem poder político algum, tem que tirar seus filhos da escola privada e se esforçar politicamente pela melhora da educação pública. Já Lula, que na época que seus filhos estudavam, já tinha algum poder político, esse não, esse pode colocar seus filhos em escola particular mesmo e não brigar politicamente. Chamemos a coisa pelo nome. Isso não é só ESTUPIDEZ, é também HIPOCRISIA.

2 – Só um completo IDIOTA, alguém prestes a ter um infarto, não por ter gordura acumulada no coração, mas por ter a vaidade típica dos ESTÚPIDOS arrematados entupindo as suas veias, e, ao mesmo tempo, completamente desprovido de preocupação com o próximo, de amor pelos seus filhos, alguém cego pelo seu EGOÍSMO de CANALHA arrematado e resoluto, poderia escolher a educação de seu filho baseado não em critérios educacionais, mas em critérios políticos, em ideais abstratos e obviamente TOSCOS de justiça social, fazendo assim seu pobre e infeliz filho pagar por suas crenças políticas MONGOLÓIDES. É bóbvio que a educação de seu filho não deve ser o preço de seu orgulho MESQUINHO, BAIXO e RIDÌCULO de ativistinha político, de cidadão responsável, BICHA e preocupado com o futuro da nação.

3 – A fala, ou melhor dizendo, o ZURRO do presidente só faz sentido se partimos do princípio que seria bom que todos estudassem em escola pública. Mas não seria bom não. É bom que haja concorrentes ao estado, é bom que a educação seja variada, é bom que a sociedade ainda saiba se organizar e criar escolas, enfim, é muito bom que o estado não tenha o monopólio da educação. Principalmente se esse estado for petista, uma vez que todo petista é alguém já naturalmente inclinado a molestação infantil ideológica.

4 – A classe média até queria, mas não pode colocar hoje seus filhos na escola pública porque elas são péssimas e tem greves bienais. E agora tem de agüentar o dedo na cara desse grande MENTECAPTO, como se ela, a vítima, fosse a culpada. Sr. Presidente, por favor, enfie esse dedo no seu presidencial TOBAS.

5 – Falei de greves, né? Pois é, greves. A grande vilã, a principal responsável pela GRANDE PORCARIA, pela LATRINA IMUNDA que é nosso ensino público. Mas disso nosso querido presidente não fala nada, não é mesmo? Não quer destruir, com a verdade, seu passado mítico de grevista.

6 –Agora o dono da locadora da esquina de sua casa é que é o culpado pela má qualidade do ensino, o presidente é completamente isento de responsabilidades, ainda que o dono da locadora da esquina de sua rua não tenha nenhum meio de conseguir alterar a qualidade do ensino das escolas públicas e o nosso excelentíssimo IDIOTA seja o cabeça do estado, o chefe dessa PORRA toda.

7 E por fim, o total DESPREZO que este ilustre político demonstra pelos pobres. É como se ele dissesse: “Sim, eu já estou sete anos no poder e a educação pública brasileira continua a mesma BOSTA de sempre, mas também, ia mexer nisso para quê não é mesmo? Só tem POBRE FUDIDO estudando nessas MERDAS de escolas públicas, se ao menos a classe média estudasse lá. Então deixa estar, afinal de contas pobre tem mais é que se FUDER mesmo”.

Mas é claro, o caso passará como uma anedota menor e sem importância do DESASTROSO governo Lula. Em qualquer país minimamente sério, a imprensa estaria sufocando o presidente com perguntas, charges, piadas, editoriais, colunas e comentários. Até ele cair de joelhos e dizer quase chorando “Desculpem-me pela IDIOTICE que disse. Prometo que tentarei me controlar, ainda que todos saibamos que é muito difícil para mim terminar um dia sem proferir ao menos uma ESTUPIDEZ sem tamanho”.

Mas como a nossa imprensa é golpista, de direita e implacável, deixará o caso passar em branco.

sábado, 30 de maio de 2009

Melhores Álbuns - 1969




Existem dois tipos de banda: as de estúdio e as de palco. Os Rolling Stones é certamente uma banda de palco. Eles parecem não ter muita paciência para o estúdio, é quase como se eles fechassem um álbum com as primeiras músicas que fizessem. O resultado é sempre um álbum com muita música boa, muita música feita nas coxas e canções tão heterogêneas que ninguém conseguiria diferenciar um álbum de inéditas de uma compilação de grandes sucessos. Este também parece ser o caso desse álbum. Há de tudo aqui: blues triste (Love in vain e You Got the Silver), blues alegre (Country Honk) Música grandiosa e com coros (Gimme Shelter e You can’t always get what you want), rock-rolling-stones-do-tipo-empolgado (Live with me), rock-rolling-stones-do-tipo-empolgado-e-ao-mesmo-tempo-melancólico (Let it Bleed e Monkey Man), tem até uma música ruinzinha - talvez esteja sendo crítico demais, porque não é tão ruim assim também (Midnight Gambler).

O problema de discos assim, tão heterogêneos, é que eles cansam com o tempo. As músicas são tão díspares que não faz sentido ouvi-las todas juntas continuamente. E aí surge uma questão: não é o caso desse álbum. Podemos ouvi-lo vez sobre vez e ainda assim é um grande discos, as músicas parecem fazer sentidos ali, todas juntas, naquela ordem. Por essa mesma razão deve-se descartar a idéia de que esse álbum é um simples agregado de bons singles. Qual será a unidade, o laço que une todas as canções?

A resposta está na música que abre e na que fecha o álbum, não por acaso as duas músicas complexas, cheia de coros e instrumentos, não por acaso as duas mais famosas desse álbum. A primeira é Gimme Shelter e caracteriza-se pelo clima apocalíptico. A última é You can’t always get what you want e há nela algo angelical, religioso e ao mesmo tempo triunfante. Impossível não pensar no terror do dia do Juízo Final e no júbilo final de estar entre os eleitos. Mas aqui, ao invés da seriedade e do rigor do julgamento do deus cristão, seremos todos julgados pela famosa fórmula “sexo, drogas & rock and roll”. Se é verdade que o rock é também uma religião, este aqui é o livro dos Salmos. Ou talvez a revelação segundo São João. Isto depende do seu estado de espírito.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Frases do ano

“Se trabalhasse a metade, renderia o dobro”

Reinaldo de Azevedo sobre Celso Amorim.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Melhores Álbuns - 1988



Diz a lenda (li isto há tanto tempo que apostaria que as informações abaixo são falsas) que, depois de alguns anos, quando esse álbum já era consagrado, foi perguntado para o produtor desse álbum o que ele achava. “Foi o disco de banda colegial mais caro que já produzi” foi a resposta. Não, ele não gostava desse álbum. Mas não pode ser dito que ele não o compreendeu. Sim, trata-se de uma banda de colégio. Pode-se não gostar disso. Eu adoro. É justamente por ser só uma banda de colégio tocando que é grande. Depois de toda a cena dos anos oitenta, já era a hora de alguém vir com um som simples e direto mostrar como se faz música criativa de verdade. Com suas letras em espanhol, seus temas ora bíblicos, ora sobre super-heróis, monstros, paqueras e outras coisas, suas referências às paisagens solares do Caribe e de Porto Rico, sua produção lo-fi, sua melodia pop-grudenta, suas guitarras que só não são mais altas que as batidas da bateria que por sua vez só não são mais altas que os berros de Francis, este álbum é diversão pura, transpirando espontaneidade e loucura. Um dos meus favoritos de sempre.

sábado, 23 de maio de 2009

Gosto da idéia daquele anti-semita egípcio doido, que o Brasil de Lula apóia, diga-se e passagem, ganhar a eleição lá para diretor geral da Unesco ou algo assim. Na ONU, um bando de países que desrespeitam os direitos humanos governa a seção para propagar tais direitos pelo mundo. Não é uma maravilha? Acho ótimo que seja assim. O pequeníssimo poder que esses cretinos recebem com tais cargos é um preço mais do que justo para a exposição de uma fraude: o governo mundial. Sei que os bem intencionados quando falam em governo mundial sonham com um mundo democrático, mais justo, igualitário, fraterno, onde os direitos humanos e a liberdade floresçam por toda Terra. Mas governo mundial no mundo é isso aí, a Líbia presidindo comissão de direitos humanos, enquanto um egípcio que ficou no poder mais de vinte anos é o responsável por espalhar os valores democráticos por aí. E o pior de tudo: se houvesse um governo mundial não haveria para onde fugir. É óbvio que o tal Império Americano é uma escolha muito, mas muito menos pior.

Come, yankees, come! (Em inglês, né gente? Não sou um entusiasta da obesidade norte-americana, muito embora não tenha nada contra não. Aliás acho essa patrulha pela vida saudável um aborrecimento tão grande que sempre como uns 5 torresmos e tomo duas doses de cachaça quando vêm com esse papo para riba de mim.)

domingo, 17 de maio de 2009

Melhores Álbuns - 1991



1991 foi o ano do Nirvana. Nevermind é um grande álbum, um dos mais importantes da história e eu o adoro. É realmente um álbum muito bom. Tanto que estava aí na listinha de melhor álbum de 91 até o último minuto. Até que o ano de 91 foi sorteado e fiquei pensando, pensando. Nevermind é muito bom, mas havia um álbum melhor.

Os Pixies tiveram uma breve existência entre 87 e 91. Seu primeiro álbum foi em 88 e, a partir de então, eles lançaram um álbum novo a cada ano. Foram quatro álbuns. Todos ultra bons, ultra elogiados. Mas é bem provável que o menos elogiado seja esse Trompe le Monde. Não sei o porquê. Para mim, é junto com o Surfer rosa, o melhor. De certo modo essa dupla é um tanto arquétipa. O Surfer Rosa, o de estréia, é mais espontâneo, natural. Este, que é o último, é mais trabalhado, sofisticado, variado. E mais violento. Frank Black grita aqui como em nenhum outro lugar, as guitarras estão mais trabalhadas. E mais romântico e sensível, de alguma forma. A música Sad Punk simboliza esse clima do álbum todo. É o Pixies no auge da forma. Foi uma banda sem declínio, sem dúvida. Dá a impressão de que podiam fazer o que quisessem com a guitarra, inclusive tocar as músicas dos outros melhor que a versão original, como é o caso de Head on do Jesus and Mary Chain. Adoro esse álbum. Por isso dou de ombros para o mundo inteiro. Não posso mentir, esse é o meu álbum de 91.

Mas do jeito que o Kurt era fã dos Pixies, garanto que nem mesmo ele pode discordar de mim.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Não é que agora estou achando bonito escrever sem justificar. O Blogger que retirou essa opção de mim! Maldito blogger amarrando mixaria...
Maconha. Que palavra feia! Maconha. Sou contra a legalização da maconha apenas porque se ela fosse legalizada ficaríamos um mês ou mais ouvindo e participando de discussões onde a palavra “maconha” seria recorrente. E depois corria o risco dela se popularizar e então ouviríamos “maconha” com a mesma freqüência que “cerveja”. “Cerveja” é uma palavra bonita. Cerveja. Maconha. Maconha me lembra inconha. Tem uma cidade no Espírito Santo que se chama Inconha. Se o nome da cidade é inconha, quem sou eu para contestar? Descobri isso numa dessas viagens ao litoral capixaba que nós mineiros tanto gostamos. O que é um mistério, porque o Rio de Janeiro está a mesma distância mas preferimos Guarapari, Vila Velha, Piúma ou Inconha. Um primo meu certa vez namorou uma capixaba. “Certa vez” é ótimo porque fica parecendo algo que ocorreu há dez anos, mas eles devem ter terminado a menos de um ano. Se não me engano essa menina era de Vitória. E lá havia preconceito contra mineiros. Mineiro é brega, sem educação, houve o som no talo, é chato, é bêbado, é desonesto, pilantra, viado, corno, filho da puta. O que é um dos preconceitos com mais boa razão que conheço. Também não gosto de mineiros. Mudei pro Rio e conheci cariocas, mas também não gostei deles (com exceção de uma). Não gosto de pessoas em geral. Pessoas são chatas, são sempre um problema. Somos todos como o agrimensor K. chegando numa cidadezinha e perturbando a ordem. Deslocamos as empregadas que agora tem que dormir no chão, outros nos oferece um emprego bobo e inútil num colégio, apenas para nos fazer um favor. Ficamos sem graça, sorrisinhos amarelos, mas nada podemos fazer. Pessoas são chatas, eu dizia. Se você é uma pessoa, me desculpe, mas alguém tinha que dizer isso na sua cara. Aprume -se! Tome jeito! Ninguém mais suporta você! Pessoas, por exemplo, ocupam espaço. Quer coisa mais irritante que ocupar espaço? Imagina, você compra uma passagem noturna num ônibus para uma viagem estadual. Você entra todo distraído no ônibus e, quando menos espera, tem uma pessoa do seu lado! Uma pessoa que ocupa espaço! Podia ser tanto uma idéia ou o ar! Dizem que o ar ocupa espaço, deve ser verdade, mas ele é educado e se retira para você passar. Pessoas não, porque pessoas, além de ocuparem espaço, são sólidas! Se ao menos fossem gasosas como o ar! Eu gosto do ar. Gosto de sair de casas de show lotadas, um pouco suado, e então sentir o ar gelado batendo. Ou então sair de casa de noite e sentir o ar frio da madrugada. Muito legal fazer isso, principalmente em roça. Aquele filme, o Beleza Americana, tem uma cena muito boa em que se fala da beleza do ar antes da tempestade. De fato é muito bonito o ar. Ele é invisível e ainda consegue ser bonito, ao contrário da maioria das pessoas, que são visíveis e feias. Por isso não consigo entender pessoas que pedem um pastel de queijo e reclamam dizendo que aquilo que foi oferecido, na verdade, é um pastel de ar. Deveriam estar felizes, gratas! Eles são pessoas, meu Deus! Quem são eles para reclamar do ar!? Meu pai, que é o Anaxímenes de Mileto nas horas vagas, me disse uma vez, quando era pequeno, que Deus era o ar. Estava em todo lugar e ninguém o via. Todos o ignoravam e sem ele ninguém vivia. Sim, Deus é como o ar. Deus criou o ar a sua imagem e semelhança.

Melhores Álbuns - 1975



A história é conhecida: Bob Dylan toma um pé na bunda de sua esposa e tenta superar isso gravando esse álbum. O álbum, porém, não possui a auto-indulgência que costuma caracterizar tais tipos de álbum. Não é um álbum feliz, mas está longe de ser desesperado ou niilista. Parece antes representar o primeiro sorriso depois de um período de amargura (e se lembrarmos que os discos imediatamente anteriores a este não foram bem aceitos pela crítica, esse período de amargura é ainda mais significativo). Se é bom? Bem... é meu álbum favorito dos anos setenta. E sim, entre os que conheço, é meu álbum favorito do Dylan.

Li certa vez num blog uma classificação dos tipos de fãs de Dylan através do álbum preferido. Infelizmente não me lembro mais de nenhuma dessas classificações, com exceção de uma.Se o Blood on Tracks é seu Dylan favorito então você é um não-fã de Dylan, alguém que gosta de uma coisa ou outra, aqui e ali. Há uma certa razão nisso. Não sou um dylanmaníaco. Por exemplo, não consigo entender toda a empolgação com o Highway 61 revisited, quase sempre apontado como o melhor Dylan. Mas gosto muito do Blonde on Blonde. Sou mais para um fã condicional de Dylan. Li outra vez em algum site, que depois de escrever sua canção mais famosa “Like a Rolling Stone”(música do acima citado Highway 61 Revisited), Dylan se achou como compositor. Pela primeira vez na vida ficou completamente satisfeito com uma de suas canções. Segundo ele próprio, Dylan tinha mais interesse em literatura que na música e queria ser lembrado como um Shakespeare com violão e, através dessa música, ele havia conseguido isso (quer dizer, faz tempo que li isso, não tenho certeza; mas vamos fingir que isso é verdade senão o texto pára). Isso é o que me irrita no Dylan, sua tendência em transformar música em literatura. Blood on Tracks é um álbum para não-fãs de Dylan porque é um álbum que essa característica está, senão ausente, ao menos bem mais resumida que no normal. Além disso, Dylan despensa as grandes bandas que sempre o acompanhava em sua fase elétrica, tocando com um número bem menor de músicos. E é isso que me espanta. Dylan é tão genial, mas tão genial que quando ele se põe fora de seu elemento, mesmo quando resolve ser um não-Dylan, então alguém que não é tão fã assim de Dylan, como eu, tem de dar o braço a torcer e concordar: trata-se de um dos maiores álbuns da história do rock.

E além de tudo tem um dos melhores xingamentos da história do rock também, em Idiot Wind:

“Idiot wind, blowing every time you move your teeth,
You're an idiot, babe.
It's a wonder that you still know how to breathe.”

Mas minhas músicas preferidas mesmo são as solos, You’re gonna make me lonesome when you go e Shelter from the storm. Essa última é minha canção de amor favorita. Um pedacinho dela:

Suddenly i turned around and she was standin' there
With silver bracelets on her wrists and flowers in her hair.
She walked up to me so gracefully and took my crown of thorns.
"come in," she said,
"i'll give you shelter from the storm."