O povão não está interessado em grandes idéias ou ideais. Ele quer saber se tem pão na mesa. Tinha pão antes de Hitler? Não. E depois de Hitler? Tem pão e manteiga, quiçá até presunto. Provavelmente, a maior parte do povo alemão devia pensar “Tenho nenhuma opinião quanto os judeus não. Se esses caras tão sabidos estão falando que os judeus têm culpa, então alguma coisa eles devem ter feito, embora eu não faço a menor idéia do que seja”. Outro pensava “É isso mesmo! Os judeus mataram Cristo! Eles merecem uma punição”. Uma outra parte repetia irrefletidamente o que outras pessoas diziam, como os estudantes universitários igualando Bush e Bin Laden. Outros pensavam “Eles estão apenas agrupando-os num local que é melhor que a habitação de muita gente. Nem acho que é certo, mas não é tão grave. O que importa é que agora todo mundo tá comendo”. O povão não sabia o que era um campo de concentração. Achavam que estavam transferindo os judeus para ajudarem nos esforço de guerra, e não para matá-los sistematicamente. Uma minoria apoiaria as idéias de Hitler quanto aos judeus.
domingo, 30 de dezembro de 2007
O povão não está interessado em grandes idéias ou ideais. Ele quer saber se tem pão na mesa. Tinha pão antes de Hitler? Não. E depois de Hitler? Tem pão e manteiga, quiçá até presunto. Provavelmente, a maior parte do povo alemão devia pensar “Tenho nenhuma opinião quanto os judeus não. Se esses caras tão sabidos estão falando que os judeus têm culpa, então alguma coisa eles devem ter feito, embora eu não faço a menor idéia do que seja”. Outro pensava “É isso mesmo! Os judeus mataram Cristo! Eles merecem uma punição”. Uma outra parte repetia irrefletidamente o que outras pessoas diziam, como os estudantes universitários igualando Bush e Bin Laden. Outros pensavam “Eles estão apenas agrupando-os num local que é melhor que a habitação de muita gente. Nem acho que é certo, mas não é tão grave. O que importa é que agora todo mundo tá comendo”. O povão não sabia o que era um campo de concentração. Achavam que estavam transferindo os judeus para ajudarem nos esforço de guerra, e não para matá-los sistematicamente. Uma minoria apoiaria as idéias de Hitler quanto aos judeus.
sábado, 29 de dezembro de 2007
As limitações do cinema
Enquanto via esse filme pensava nas limitações do cinema. É uma boa história, não percebi nenhum furo, você se envolve, se diverte, não é chato nem nada. Mas tem a parte política, né? Trata-se de um filme político, sobretudo. A idéia é que apesar dos erros da esquerda ela teria boas idéias e essas sobreviveriam aos esquerdistas. Boas idéias, tais como sabotar quase toda a rede de televisão européia ou invadir propriedades alheias, enfim. O problema todo é a superficialidade. Se fosse um livro, tenho certeza que as idéias estariam mais desenvolvidas. Mas é só um filme. As idéias não são desenvolvidas. A meu ver acertadamente, pois um filme onde se fica discutindo idéias é meio absurdo. Então fica naquela, quem é esquerdista até gosta e se identifica com as personagens. Quem não é acha engraçado, no máximo. Enfim, a direita pelo menos poderia ser representada por um verdadeiro direitista e não por uma caricatura esquerdista da direita.
O império dos sonhos – 0.5
Gostei do Cidade dos Sonhos. Ao lembrar a beleza daquele filme é impossível não concordar com o talento de Lynch. É muito bonito, você se envolve, a esquisitice do filme te intriga, você quer entendê-lo. Já o Império dos Sonhos é filmado inteiramente com uma câmera digital. Como me disse o Matheus, você tem a impressão de ver um filme gigante no youtube. A maioria das cenas se passa a noite, no escuro, as imagens não são nítidas. Trata-se de um filme B de horror com uma história sem nexo. Não me envolvi, entediei-me horrores. Junto com a precariedade das imagens há a pretensão da história. São jogadas várias peças e você deve montar o quebra-cabeça. Em certo momento alguém pergunta as horas: nove e quarenta e cinco da noite. Você se lembra da velha do começo do filme falando algo sobre nove e quarenta e cinco e sobre meia-noite. Mas o que era mesmo? Não me lembro. Se fosse um livro eu voltava atrás e descobria. Mas estou num cinema, isso é impossível. A pretensão de Lynch é tão grande que ele quer que eu vá no cinema ver seu filme umas dez vezes. Ele quer estudiosos do filme, criando interpretações para aquilo tudo. O Cidade dos Sonhos pelo menos era bonito, e menos selvagem, me parece. Este é feio, confuso e pretensioso. Blé.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Os dez livros que me deram mais prazer em 2007
Duas jovens mas velhas amigas trocam correspondências no começo do século XIX, narrando suas vidas de recém-casadas. Ambas são felizes a seus modos e permanecem assim durante 80% do romance. E o desgramado do Balzac transforma uma história assim em algo que você começa a ler e não consegue mais parar.
9 – Leibniz´s theory of relations – Massimo Mugnai
Como se trata da lista dos dez livros que mais gostei de ler, e não dez livros que recomendo, incluo este. Recomendo mesmo só para quem estuda Leibniz ou se interessa pela questão da fundamentação ontológica das relações. De qualquer forma, foi uma grande prazer encontrar uma interpretação de Leibniz que aproximou-se tanto da verdade, ou seja, que aproximou-se tanto da minha interpretação.
8 - Os Buddenbrooks – Thomas Mann
Para falar a verdade tem umas partes em que fiquei entediado. Mas em suas melhores partes, meu Deus, que livro bom. A terceira e a quarta parte valem o livro. E no fim tem uma descrição de um dia na vida de um jovem de quinze anos que serve, simultaneamente, para destruir e realimentar nossas saudades desse tempo.
7 – A Marca Humana – Philip Roth
Vale a pena mesmo pelo começo e por uma discussão, lá pelo meio do livro, entre Coleman Silk e Delphine Roux sobre duas visões conflitantes de universidade e do mundo. Mas diferentemente dos Buddenbrooks não há nenhuma parte entediante. Pau dentro do começo ao fim.
6 – São Tomás de Aquino – Chesterton
Coisa fina. Tenho que ler mais coisas como essas, escritores falando diretamente de filosofia. Aqui Chesterton defende uma superioridade de Aristóteles sobre Platão e da doutrina católica tomista e medival sobre a teologia dos patriarcas da Igreja. E ainda tem umas anedotas bastante divertidas sobre a vida desse moço.
5 – O castelo – Kafka
É uma pena esse livro ser inacabado. Com uma premissa que um bom escritor dificilmente conseguiria construir uma novela que não fosse entediante, Kafka faz um romance que, incompleto, possui mais de trezentas páginas e dói terminá-lo. Para mim é melhor que “O processo”. Pronto, falei.
4 - O significado de significado – Hilary Putnam
Peter Burge expõe o mesmo problema de um ângulo mais interessante e dá uma resposta melhor que a de Putnam sobre o problema em “O individualismo e o mental”. No entanto Burge nem aparece na minha lista, por quê? Simples, Burge é chato e Putnam é legal. Foi este o livro de filosofia mais importante do ano para mim só porque me mostrou que é possível escrever filosofia de maneira divertida, clara e profunda.
3 – Amor e exílio - Isaac Singer
Talvez nunca tenha me identificado tanto quanto com um personagem quanto com o próprio Isaac Singer nesses escritos autobiográficos que descrevem a infância até os trintas anos deste. Não sei se o livro é tão bom assim, mas poucas vezes li algo com tanta intensidade.
2 - Os frutos da terra – Gide
Eita, esse livro me tirou de órbita, viu? Que vontade de viajar e viver como um andarilho que me deu. Se algum dia enlouquecer e fizer isso a culpa é do Gide. Caralho, como esse livro é bom. As partes iniciais são inacreditáveis de bom, inspiração pura. Você lê aqueles poemas e não quer mais nada da vida. Depois cai um pouco. Aí tem os textinhos finais, excepcionais, fantásticos, mágicos. Fim da primeira parte. A segunda parte é meio Frankstein, tenta conciliar o epicurismo da primeira parte (escrita quase 30 anos antes) com o catolicismo posterior do autor. Acaba numa espécie de espinosismo, meio confuso, achei. O livro deixa de ser principalmente poético e se torna mais ensaístico. Mas é bom, há trechos excelentes nessa segunda parte também.
1 Ana Karenina – Tolstói
São de setecentas a mil e poucas páginas de prazer delirante. Você lê, lê, lê e não se cansa. Quer mais. Quando acaba dá vontade de chorar, de começar de novo. Como pode? Não sei. É inacreditável mesmo. E Liêvin é outro personagem com quem me identifiquei. Talvez tenha sido com esse livro, lido ainda em janeiro de 2007, que comecei a pensar em morar na roça.
sábado, 22 de dezembro de 2007
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
A vida dos outros (2006) - 3.5
Zodíaco (2007) – 7.5
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Poema para meus netos
Meus netos ouvirão sobre como seu avô dormiu durante quinze horas seguidas,
sobre certo dia em que ele acordou às onze, almoçou e dormiu logo depois.
Ouvirão sobre como consegui dormir na escuridão do Hades,
que já dormi enquanto um trio elétrico passava,
em baixo de três cobertores,
em cima de um muro,
numa praça, dividindo o jornal com um mendigo alcoólatra,
num castelo, sob um colchão d’água e lençóis de cetim,
na floresta abraçado a um filhote de urso manso, peludo, órfão e vivo,
que dormi enquanto boiava nas ondas do mar Atlântico!
Eu dormia enquanto Tróia ardia em chamas!
Sim, pois estou entre aqueles que foram arrastados pelo maldito Ulisses da terra dos Lotófagos.
Sou filho de uma mulher humana que não pode resistir aos encantos de Morpheu que se disfarçou então de Bicho-Preguiça...
E então meus netinhos verão seu avô dormir de repente,
pois sofrerei de narcolepsia depois de velho.
E rezarão todos os netos,
implorarão a Deus por uma vida tão venturosa quanto a de seu avô.
E o Senhor, em sua Bondade e Misericórdia, não haverá de recusar!
domingo, 9 de dezembro de 2007
Participaram da Copa do Egito oito países divididos em dois grupos de quatro. Os campeões de cada grupo enfrentar-se-iam na final. Haveria também disputa de terceiro e quarto lugares.
Grupo A
Egito
China
Elam
Maia
Grupo B
Hititas
Babilônia
Grécia Micênica
Assírios
Os jogos:
Primeira Rodada
Grupo A
Egito 12 x 1 China
A maior goleada de copas do mundo de então. E logo na abertura! Esta é a maior goleada até hoje numa abertura de Copa do Mundo. Este placar elástico só foi superado na copa de 808 no jogo Império Bizantino 16 x Lombárdia 0.
Elam 0x 2 Maia
Uma grande zebra! A estreante Maia derrota os já tradicionais Elam num jogo mágico! Atuação memorável do goleiro maia Tikal.
Grupo B
Hititas 2 x 7Babilônia
Rapaz, esta copa foi, sem dúvida, uma das mais surpreendentes. Até o início da copa os Hititas eram considerados os principais rivais do Egito para a conquista da taça e foi escalada como cabeça-de-chave de seu grupo. Já a Babilônia, embora tradicionalíssima vinha fazendo feio nas últimas copas e portanto estava desprestigiada. E no entanto! Uma goleada para os babilônios.
Grécia Micênica 6 x 1 Assírios
A primeira rodada terminou com uma média de 7,75 gols por partida, altíssima, mesmo para os padrões da época.
Segunda Rodada:
Egito 5 x 1Elam
China 4 x 3 Maia
Com esses resultados o Egito praticamente assegura uma vaga na final. Os maias precisam vencer os anfitriões por oito ou mais gols de diferença!
Hititas 2 x 4 Grécia Micênica
Babilônia 1 x 3 Assírios
E os Hititas, então cabeça-de-chave, são os primeiros a serem eliminados no grupo B. A Grécia Micênica depende de um empate contra a Babilônia para assegurar sua classificação. Já a Babilônia tem de vencer por pelo menos dois gols de diferença. Os assírios precisam de uma combinação astronômica de resultados.
Terceira rodada
Egito 3 x 0 Maia
China 4 x 11 Elam
O Egito se classifica sem dificuldades, como era o esperado. O Elam se classifica inesperadamente para a disputa do terceiro lugar. A China notabiliza-se pela pior defesa da história dos mundiais: Média de 8,6 gols sofridos por partida.
Hititas 5 x 2 Assírios
Babilônia 2 x 4Grécia Micênica
A Grécia se classifica e a Babilônia, apesar da derrota, consegue uma vaga para a disputa da terceira posição.
Classificação dos grupos:
1Egito 9p 3v 0e 0d 20gf 2gc +18sg
2 Elam 3p 1v 0e 2d 12gf 11gc +1sg
3Maia 3p 1v 0e 2d 5gf 7gc -2sg
4China 3p 1v 0 e 2d 9gf 26gc -17sg
1Grécia Micênica 9p 3v 0e 0d 14gf 5gc +9gf
2Babilônia 3p 1v 0 e 2d 10gp 9gc +1gf
3Hititas 3p 1v 0e 2d 9gf 13gc -4gf
4Assírios 3p 1v 0e 2d 6gf 12 gc -6gf
Disputa do terceiro lugar:
Elam 4x 4 Babilônia
A Babilônia abriu dois a zero, o Elam empatou. A Babilônia abriu 4x2 e o Elam empatou novamente! O resultado provoca um segundo jogo! Haja coração!
Segundo jogo da disputa do terceiro lugar (jogado horas depois do primeiro, para não atrasar a final que ocorreria no dia seguinte):
Elam 8x4 Babilônia
E depois de cento e oitenta minutos jogando no deserto o Elam vence pelo cansaço.O selecionado babilônico começou melhor e abriu 3x 1 logo no começo da partida. Mas essa correria inicial aniquilou o time e possibilitou a virada e goleada elamita. Além da terceira posição o Elam termina como melhor ataque da competição, ao lado do campeão Egito. O curioso, porém, é que eles marcaram apenas um gol nas duas primeiras partidas, para depois fazerem 23 gols em 3 jogos!.
Final:
Egito 4 x 1Grécia Micênica
O Egito faz valer o fator casa e fatura a Copa mundial! Veja aí os dados finais:
1Egito 4v 0e 0d 24gf 3gc +21sg
2Grécia Micênica 3v 0e 1d 15gf 9gc +6sg
3Elam 2v 1e 2d 24gf 19gc +5sg
4Babilônia 1v 1e 3d 18gp 21gc -3sg
5Maia 3p 1v 0e 2d 5gf 7gc -2sg
6Hititas 3p 1v 0e 2d 9gf 13gc -4gf
7Assírios 3p 1v 0e 2d 6gf 12 gc -6gf
8China 3p 1v 0 e 2d 9gf 26gc -17sg
Artilheiro: Anshan (Elam) 7 gols (4 contra a China, 1 contra a Babilônia no primeiro jogo e 2 no segundo)
Melhor ataque: Egito e Elam: 24 gols (o Egito, porém, jogou uma partida a menos)
Melhor defesa: Egito 3 gols sofridos
Pior ataque: Maia: 5 gols
Pior defesa: China: 26 gols sofridos. Média de gols por partida: 7,333 gols
“Parece-me de há muito que a alegria é mais rara, mais difícil e mais bela do que a tristeza. E quando fiz essa descoberta, a mais importante sem dúvida que se possa fazer nesta vida, a alegria tornou-se para mim não somente (o que ela era) uma necessidade natural – mas essencialmente uma obrigação moral. Afigurou-se-me que o melhor e mais seguro meio de espalhar a felicidade em torno de si era dar a imagem dela, e resolvi ser feliz.”
Imaginem então como é a parte original...
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Enfim, era só isso. Obrigado, volte sempre.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Viagem a Darjeeling (2007) - 9.3
sábado, 24 de novembro de 2007
O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (2007) - Nota: 8.1
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
domingo, 18 de novembro de 2007
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Para que vocês tenham idéia do meu sofrimento
Professor: “É preciso ir buscar o impensável do pensamento” – olhos arregalados, expressão de quem está extasiado com suas próprias palavras – “compreende?”
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Gabriel, um colega meu dos tempos de escola, dizia que, se presidente do Brasil, suas duas primeiras ações seriam 1) dissolver o exército brasileiro 2) declarar guerra aos Estados Unidos. Seu objetivo era que os norte-americanos conquistassem o nosso território com o menor custo possível de vidas humanas. Acho que uns cem anos como colônia dos Estados Unidos devem bastar. Sim, devemos engolir o nosso orgulho e reconhecer que este é o plano político tupiniquim mais sensato, ou melhor, o nosso único plano político sensato.
Gabriel, você tem um eleitor.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Seria mais ou menos como cumprimentar um canibal. Quer dizer, cumprimentar um canibal envolve certo risco de vida que não existe na relação vegetariano – carnívoro. Seria então como cumprimentar um canibal que jura só comer carne de japonês, por ser mais saborosa. Não dá para encarar como simples exotismo. Isto é monstruoso e ponto.
Aulinhas de inglês, vocês sabem, aquele papo furado todo. Há quatro ou três anos tive uma aula em que fomos estimulados a fazer um debate sobre vegetarianismo. Apresentei como argumento que the meat is so delicious that would be a stupidity not to eat it. Mas não aceitaram o argumento, não sei porquê. Ora, acho que a carne de certos animais é tão gostosa que o prazer que ela me proporcionará é maior do que o valor da vida do animal em questão.
Sim, dou pouco valor à vida dos animais. Sou um especicista irremediável. Mas valorizo um pouquinho sim. Lembro de um jantar onde, já satisfeito, queria jogar fora uns pedaços de carne que sobraram no meu prato. Meu pai, porém, me proibiu. Disse que um animal morreu para que eu me alimentasse dele e eu agora jogaria sua carne fora, desprezaria o seu sacrifício. Bem, talvez ele só estivesse puto por eu querer desperdiçar a parte mais cara da janta. Anyway, aceitei o argumento e levo-o no coração até hoje.
Agora me deixem desvalorizar a vida animal um pouco. Um dos livros que mais me marcou foi “A vigésima quinta hora” de Virgil Gheorghiu. Chama-se assim, pois o autor entende que estamos na vigésima quinta hora do dia, ou seja, o dia já acabou, não há nada a fazer além de assistir e chorar. Por aí você imagina o tom apocalíptico do livro. Ele foi escrito em 1949 mas a história do livro só vai acabar em 1951, com o início de uma terceira guerra mundial. Em certo momento o autor explica seu pessimismo: a civilização estaria apoiada sobre três colunas: o amor à verdade herdado dos gregos, o governo sob leis herdado dos romanos e a valorização incondicional da vida humana herdada do cristianismo. A história do século XX foi a ruína destes três pilares e conseqüentemente da civilização. Sempre que penso nisso não posso deixar de concordar com o autor. E é aí que começo minha crítica ao vegetarianismo. Ele é um efeito colateral da desvalorização da vida humana. Ele inexiste em períodos de saúde da civilização. Se disséssemos a alguém do século XVII que matar uma galinha equivaleria a matar um ser humano ele riria, porque esta é a única coisa sensata a se fazer diante de tal declaração. Os vegetarianos talvez se defenderão dizendo que não se trata de uma desvalorização da vida humana, mas de uma valorização da vida animal. Besteira. A vida animal não vale muita coisa. Os animais são pura natureza e a morte faz parte da natureza. Ninguém sofre com a morte de um animal. No entanto, se o jornal noticia o assassinato de um homem que nunca vimos mais gordo temos um evento lamentável. Reconhecemos no homem algo superior, que não deveria morrer. Esse algo maior não está na natureza, não está nos animais. É essa crença em algo maior que chamo, com Gheorghiu, creio eu, de valorização incondicional da vida humana. Não venha querer transferir essa valorização para a vida animal: é simplesmente forçar a barra. Ninguém sensato lamenta o veado capturado pelo leão, porque isso é natural. No entanto, todos lamentariam um ser humano capturado por um leão, ainda que tal seja também natural. A resposta, como já apontei, é que o lamentável aqui está num outro plano que o natural, plano esse em que os animais ficam do lado de fora, chupando o dedo da pata. O que os vegetarianos fazem ao dizer que devemos parar de comer carne é algo como “nós seres humanos não valemos mais que os animais, logo, visto que não nos matamos, não os devemos matar”. O problema é que se você tira o valor incondicional da vida humana, a conseqüência lógica não é o vegetarianismo, mas a legitimação do assassinato.
Há ainda outro ponto: imaginamos que todos os leões do mundo parem de comer carne. Isso acarretaria no aumento de número de zebras e veados e, provavelmente, num decorrente desequilíbrio ecológico. Agora imaginem se 6.000.000.000 de pessoas parassem de comer carne. Iria ser o caos ecológico absoluto. A morte dos animais para alimentação sempre esteve entranhada no equilíbrio ecológico do planeta, e a nossa alimentação não está de maneira alguma excluída desse processo.
E ainda temos o problema econômico: milhões de trabalhos estão ligados diretamente no consumo de carne.
Enfim, como meu bife com prazer e em paz com a consciência.
sábado, 10 de novembro de 2007
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
E só para registrar:
“O lula é um peemedebista.” Diogo Mainardi.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Agora pensem em Interpol, Strokes, White Stripes, Sigur Rós, Libertines, Kaiser Chiefs, Arcade Fire
É impressão minha ou há uma mudança de perfil entre os músicos das bandas de rock dos anos 90 e as do começo do milênio? Acho que seria amigo dos músicos dos anos 90, mas não do dos anos 2000. Os noventistas eram mais relaxados, vestiam roupas que todo mundo veste e quase não se diferenciavam das pessoas comuns. Não queriam ser um grupo identificável, como são os emos e os rappers hoje, ou já foram os punks e os góticos. Já os bimilenaristas fazem exatamente isso, se vestem de um determinado modo, são uma espécie de emos pretensiosos. Nos anos 90, a pretensão era a última coisa com que os roqueiros queriam estar ligados. Tenho a sensação que os músicos dos anos 90 tocavam por prazer, e os dos anos 2000 tocam por pretensão artística.
Não. Ainda está confuso, deixem-me explicar melhor. Pensem, por exemplo, no Radiohead. Sem dúvida, musicalmente, uma das bandas mais pretensiosas dos anos 90 e 2000. Porém, você olha para o Tom Yorke e ele parece ser um cara gente fina que cumprimenta, ainda que apenas de longe, os fãs na rua. Se eu contasse uma piada meio sem graça para ele tenho a impressão que sorriria por educação. Agora pensem nos Strokes. Os caras tocam um rock garageiro, sem muita pretensão. E, no entanto são muito mais posudos que os músicos do Radiohead. Se contassem uma piada sem graça provavelmente fariam um comentário sarcástico. Enfim, Strokes são rockstars. Dificilmente diríamos o mesmo do Radiohead.
- Mas João Paulo, que importância tem isso? O que importa é se a música é boa ou não.
- Sim, eu sei. É verdade. Foi só um comentário aleatório
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Bem, enfim, um post de merda, mas com um link bom. Provavelmente a melhor coisa que já fiz neste blog.
sábado, 27 de outubro de 2007
Em que conto uma história e tento explicá-la contando outra história
- Ó sim, senhor sabe-tudo, senhor como-é-simples-a-reposta-de-1+1, Ó sim, é dois, ué... Seu hipócrita! Seu opressor! Querendo sufocar nossa liberdade nossa criatividade com verdades inventadas para calar a boca do povo humilde, trabalhador, desse povo que trabalha tanto que não tem tempo de pensar por si próprio e então vem vocês com essas respostas prontas “ué, é dois”. Ora meu senhor...
- Sim, meus senhores, -interrompeu um outro, ainda mais veemente - mas este aí não é nosso único opressor. Infelizmente vários de nossos professores têm essa mesma mentalidade mesquinha, tacanha, cruel. Meu filho tem a infelicidade de ser aluno de uma professora da estirpe desse aí... Respondeu que 1+1 era onze numa prova e recebeu um zero. Meus senhores, quando é que aprenderemos a ouvir o próximo, a sermos mais tolerantes, a enxergamos um mundo mais colorido e feliz, e não apenas o certo e o errado, o preto e o branco. Sim, pois...
- È importante lembrarmos aqui – retomou o primeiro - de nosso povos ancestrais que não conheciam a matemática nem nada. Para eles, desapegados do material, pouco se davam quanto era um mais um. A matemática é o instrumento capitalista para regulamentar e ordenar os povos.
- Quando vejo o senhor falando – retomou o segundo se aproveitando de um breve respirar do primeiro – “ué, dois” com toda a sua empáfia, sou penetrado por ódio, sim, por ódio, pois olho para o senhor e lembro-me de toda a opressão que nosso povo sofreu na mão de pessoas como você. A questão de quanto é 1+1 é bastante complexa, bastante perigosa, ainda vou para casa estudar os laudos, mas não posso aceitar que dois seja a resposta. Dois é o continuísmo com tudo o que está aí, nos governando há quinhentos anos. Eu proponho que votemos esta questão e que a resposta do meu brilhante, porém censurado filho seja aceita. Onze é a voz das crianças, onze é a voz do futuro, onze é um mundo novo que se nos descortina, onze é a alegria de descobrir e encarar o novo. Enfim, o onze é tudo de bom.
A questão foi à votação, discursaram alguns defensores do dois, outros do onze. Conversas das lideranças dos partidos nos bastidores foram armadas e chegou-se a um consenso que seis virgula cinco era uma resposta melhor, que atenderia as duas posições. A questão foi então a julgamento e a maioria decidiu que era mais acertado mesmo o seis e meio, que não era necessário todo esse radicalismo. Houve alguns que se manteve firmes no dois, mas foram tratados por todos, daí em diante, com absoluto desdém, como políticos muito ruins, cabeças-duras intratáveis.
Imaginem um grupo de crianças, todas encapotadas, subindo despreocupadamente uma montanha coberta de neve e puxando um trenó. Elas atingem a altura desejada e deixam-se levar, felizes, pelo trenó. Enquanto descem, não há o que fazer, é impossível parar o trenó. É necessário que desçam. Mas a questão é que elas não querem parar o trenó, elas querem a necessidade. Elas sobem despreocupadas, certas da necessidade da recompensa de seus esforços e descem felizes por suas vontades estarem de acordo com as regras que regem o mundo.
João Paulo: Explique-se.
BS: Bem, você sabe, a civilização traz conhecimento, o conhecimento traz poder, o poder tende naturalmente a se expandir, e, em conseqüência expande-se a civilização. O poder não é ruim, em geral é bom. Tome, por exemplo, o Império Romano. Civilização: expandiu-se naturalmente. Seu aumento do poder consistia em que? Mais conhecimento, mais civilização. Quando os bárbaros o destruíram não pode ser mantida nenhuma unidade. Não havia poder para isso, não havia conhecimento e não havia civilização. A união e o decorrente fortalecimento do poder tende a civilizar as partes bárbaras. Mais, é preciso poder para garantir a liberdade. Os romanos eram mais livres que os bárbaros.
JP: É, você tem razão.
BS: O problema, parece-me, é que o conhecimento é neutro: pode ser usado para o bem e para o mal. O nazismo e o comunismo só foram possíveis dado um acúmulo de conhecimento. Nenhum bárbaro conseguiria o poder de Stálin ou Hitler. O conhecimento é fruto da civilização, mas pode a destruir também. E então, quanto mais poder, pior. Não faço a menor idéia de como controlar isso.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
domingo, 21 de outubro de 2007
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Por Sarkozy, contra o DEM
Ora, isto foi também um pouco o que o PT fez; saiu de uma posição esquerdista para o centro, hasteando bandeiras que antes queimava. Qual o resultado disto então? Políticos profissionais que fazem o que o povo pedir. Não há espaço para projetos nítidos, implementações de políticas coerentes e menos ainda para a coragem de ser, por vezes, impopular. Ao invés disto temos apenas office-boys do povão, esta massa sem cabeça que não sabe nem a hora que está com fome e que quer decidir sobre complexas questões econômicas. É isto mesmo a democracia, né? Esse reino da mediocridade e da estupidez. Este cenário onde estadistas se expressam por meio de metáforas futebolísticas.
Até admito que pode ser tentador defender esse modelo medíocre de democracia, estas políticas baseadas em pesquisas de opinião, afinal, o século XX nos mostrou que não é divertido brincar com extremos e este modelo é, de fato, a melhor maneira de fugir dos tais extremos. Mas vejamos uma dificuldade típica deste sistema. Alguém do povo ou então um empresário incompetente está enfrentando uma dificuldadezinha qualquer e pensa “hm, o governo bem que podia me ajudar”. Ele então reúne um grupinho de pessoas que está enfrentando o mesmo problema que ele e combina ações e petições. O governo, este office-boy temente de perder o emprego para a oposição (que na prática não lhe é oposta a nada, seria mais acurada chamá-la de concorrência), acaba por aceitar tais pedidos. O grupinho passa então a chamar aquelas esmolas de direitos. E isto ocorrendo em vários lugares, em vários ramos. O governo, é claro, aumenta os impostos, inventa mil maneiras de aumentar seu poderio econômico. Tudo para satisfazer sua freguesia.
É possível um liberalismo neste cenário? Conseguir trazer de volta princípios liberais depois que o esquerdismo sentou no trono é muito difícil. Como fazer para as pessoas perceberem que seus “direitos” são os responsáveis diretos por crescimentos econômico medíocres, por uma carga tributária absurda? Poder-se-ia pensar que a relação entre benefícios-impostos seria balanceada pelo eleitor que pensaria “impostos demais, hora de votar num direitista” ou “benefícios de menos, hora para um esquerdista”. Mas isto não ocorre. Expliquemos isto pela última eleição. Alckimin dizia que era a hora de cortar impostos. Existe algum brasileiro que discordaria desta posição? Mas aí ocorria o óbvio, Lula perguntava: “E que gastos você pretende cortar? Você pretende cortar o Bolsa-Família? Você pretende privatizar estatais ou universidades?” Alckimin, baseado nesta concepção mesquinha de democracia, recuava, dizia que bastava gerir melhor que os gastos diminuiriam e, logo logo, poderíamos cortar os impostos. Nem mesmo o povo, com sua habitual parvoíce, pôde acreditar. O que ocorre? Ninguém discorda que é preciso cortar impostos. “Mas que gastos são esses que você pretende cortar? É o meu salário?” pergunta desconfiado o eleitor. E então o que era um ponto pacífico se dissolve. O resultado é claro: o estado não consegue diminuir, só pode aumentar e, assim sendo, nossa liberdade não pode aumentar, apenas diminuir. Cada vez mais e mais. E o pior de tudo: quanto mais o Estado aumenta, mais sem direção ele fica, cada vez mais e mais controlado pelos inconstantes, irrefletidos e superficiais desejos de uma massa ignorante e amorfa.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Aristóteles, Metafísica, Livro II, Parte I
Ninguém pode escontrar a Verdade.
Eis tudo.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Por exemplo, ando vendo uma quantidade inacreditável de episódios do Bob Esponja e de um desenho (não sei o nome) que passa no SBT sobre uma garota que tem super poderes e lida com um mundo secreto cheio de monstros, dragões, vilões e burocratas do mundo encantado. Tenho também comido mais biscoitos (escrevo este post comendo Trakinas e tomando coca sem gás) e danetes, tenho estado mais solitário, mais feliz e despreocupado.
O principal, porém, é que nunca estive tão desocupado, tão vagabundo, tão preguiçoso. Creio atualmente que uma vida realmente boa e bela só aceita, se muito, as obrigações auto-impostas. O professor passa textos para ler e eu esperneio, não leio, leio de qualquer jeito, com um dos olhos no computador, na Internet, pensando no meu momento de folga. O trabalho nunca me pareceu tão vulgar. Esses dias tirei um extrato da minha conta corrente e pude observar todos aqueles centavos retirados pelo banco de minha parca fortuna e imediatamente pensei que os banqueiros, tão empoados, tão importantes, não eram menos vulgares que os flanelinhas “aí tio, deixa eu ficar de olho no seu dinheirinho aí? Qualquer dois real paga.” Porém, se o trabalho sempre me pareceu vulgar, trabalhar com filosofia me parecia menos vulgar que o normal. Quão inocente eu era! Poucas coisas são mais vulgares que ler um livro de filosofia, não porque você está interessado naquilo, mas só porque alguém mandou. E iniciar uma pesquisa, escrever um artigo, dar uma aula, só para cumprir com suas obrigações acadêmicas? Meu Deus, isso me parece tão tosco!
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Tropa de Elite – (2007) – nota: 8.3
Já a segunda metade do filme é muito boa. Deixa de ser jornalismo puro, há uma intenção, uma história ali. Não é a história do Capitão Nascimento. O Capitão nascimento é na verdade a parteira do grande personagem do filme: Matias.
O filme é na verdade uma história sobre corrupções, como pessoas boas acabam por se corromper pelo meio em que vivem. O grande mérito do filme é a sacada de inverter o clichê. Esta é a justificativa dos bandidos, ninguém pensou em aplicá-las aos policias. A pergunta do filme parece ser: quem não é produto do meio? E por sermos todos produtos do meio agora não podemos mais julgar ninguém?
Recentemente Millôr disse uma frase, acho que era assim: “Cada vez mais tenho a impressão de que vivo num mundo onde ser feliz é considerado reacionário”. Na chamada época helênica, as escolas filosóficas disputavam qual filosofia proporcionava aos seus adeptos a maior felicidade. Proporcionar a felicidade sempre foi visto como algo bom, muitas vezes como o único objetivo a ser alcançado. A esquerda, no entanto, inventou uma filosofia que quer se destacar pela tristeza que ela proporciona. Não me lembro mais quem disse que o marxismo captura as pessoas não por sua verdade, mas pelo seu caráter demoníaco e pessimista. Depois do marxismo surgiram várias doutrinas, quase sempre esquerdistas, que possuem o mesmo apelo.
Um esquerdista não pode ser feliz. Um esquerdista é, por essência, um revolucionário. Ele vê nossa situação e o tanto que ela se distancia do ideal, e começa a ter ânsia de mudar tudo. Esta vontade é de fato linda, comovente e tem algo de sagrado. Um comunista é tão revoltado que se dependesse dele não haveria religião, carnaval, novelas, futebol ou qualquer outra coisa que distraísse o povo da revolução. É como se ele dissesse: ninguém tem o direito de ser feliz antes do comunismo, antes do meu ideal. O esquerdista parece não ter capacidade de ver as conquistas da humanidade, e mais importante ainda, parece não ter uma boa capacidade de auto-análise. Ele parece não ser capaz de ver a matéria com que somos feitos. Se ele se conhecesse um pouquinho diria “ei, até que o mundo não está tão mal assim não”. Se ele se conhecesse de verdade diria “apenas um milagre, ou melhor, apenas vários milagres explicam um mundo tão bom”.
A foto mais chocante que já vi está publicada no Livro Negro do Comunismo. Não tinha mais que 5x5 centímetros, era preta e branca e quase não dava para ver nenhum detalhe. Uma legenda ajuda a entendê-la: trata-se de um tenente ou capitão polonês, suspenso de ponta-cabeça, um de seus pés amarrados num galho alto e forte de uma árvore, nu, capado e com um cabo de vassoura enfiado no ânus. E, no entanto, a verdadeira causa da atmosfera demoníaca dessa foto é a turba de revolucionários russos que cerca o pobre polonês. A foto era pequena, mas conclui-se que provavelmente havia uma centena ou mais de homens no local do crime, alguns deles gargalhando. É claro, não se trata de uma coincidência ou de uma providência satânica em que cem psicopatas se encontram por acaso. Esses cem eram pessoas comuns. Esses cem eram aqueles que se julgavam melhor que o mundo e digno de transformá-lo.
O direitista é antes de tudo um anti-revolucionário, ele vê todas as conquistas e pensa “Caramba! Como foi que meus antepassados conseguiram?”. Não raro fica tão embasbacado com estas conquistas que precisa de uns tabefes de esquerdistas iluministas para perceber que há ainda muito a ser feito. Um direitista não quer mudar o mundo. Quer, ao contrário, estar à altura dele, quer mudar a si mesmo, quer fazer parte do que há de melhor. Eles estão atentos às conquistas da humanidade e podem perceber o quanto seria fácil perdê-las. Eles estão sempre com um pé atrás, sempre coçando a cabeça, sempre se dizendo “é, pode até ser que melhore, mas já está tão bom, para que arriscar?” Mais que isso, eles estão sempre a nos perguntar “Como pessoas que capam e empalam outras pessoas, pelo simples prazer de humilhar seus inimigos, podem querer falar de justiça, de igualdade, de liberdade?”.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Uma homenagem ao verdadeiro herói do dia
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Vênus – 2006 – Nota: 7.3
Se você está fazendo um filme, você é Deus. E um Deus cartesiano. Ou seja, você tem não apenas o poder de criar os cenários, os personagens, as cenas, mas também tem o poder de criar valores morais. Você decide o que é bom e o que é ruim. Eu, aqui, do lado da poltrona, estou esperando a sua catequese. É claro, posso até gostar do filme sem comprar sua moral. Mas só posso gostar de um filme – em especial filmes que não são comédias – que tenha uma moral. No caso deste filme, fiquei com a impressão que o diretor queria apenas narrar uma história fazendo de tudo para fugir da questão moral. O problema é que a história do filme só é interessante por conta do seu problema moral. Essa assepsia torna o filme bastante insosso. No fim das contas não sei se a história é sobre um velho patético e triste ou sobre um velho heróico e feliz. É bem provável que o diretor queria mostrar equanimente os dois lados. Porém, se essa neutralidade é um porre no jornalismo, no cinema é um pecado mortal.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
The Pursuit of happyness (À procura da felicidade) – 2006 – Nota: 8.0
No geral é um bom filme com algumas grandes cenas. Fica a dica.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Em Memórias de duas jovens esposas de Balzac há um personagem que é preso pelas forças russas durante as guerras napoleônicas e é solto anos depois, mas tem que voltar por sua própria conta para França e fica vagando pelo leste europeu por quatro anos. Parece que tal foi inspirado numa pessoa real. Fiquei pensando sobre este caso e como ele explica a ruindade das artes feitas no Brasil. Nossa história é o cúmulo do desinteressante e do caricato, serve no máximo como cenário para comédias. E no entanto todos querem ser sérios. Pense no estado atual do Brasil, por exemplo. Tudo perdidamente ruim e desgraçado, mas é de uma ruindade e de uma desgraça incapazes de drama. O sublime e o Lula são incompatíves. Outro exemplo, a ditadura militar no cinema. Mais da metade dos filmes nacionais se passam na virada dos anos 60 e 70. Mostra-se a ditadura como se fosse o inferno na Terra, mas a verdade é que foi uma ditadura bem chinfrim. Devem ter morrido mais pessoas em filmes brasileiros sobre tal período que pessoas reais pelas mãos da ditadura. Mas o que se pode fazer? Vai filmar que outro período, pensa só, o único concorrente da ditadura é o Cangaço.
domingo, 30 de setembro de 2007
“O que seria um quarto para nós, Nathanael? Um abrigo numa paisagem.”
Tenho lido livros estranhos e perigosos de viajantes vagabundos e me enamorado mais e mais da idéia.
Num outro livro, em certo momento, o personagem principal se emprega como marujo. Fico pensando se isso é possível hoje. As vezes tenho a impressão de que nos especializamos tanto que até para conseguir um emprego de carregar e descarregar caminhões é preciso experiência.
O problema do trabalho é o tempo. Não é tão ruim descarregar e carregar caminhões. Mas deve ser muito ruim acordar e ter a consciência que se perderá todo um dia carregando e descarregando caminhões.
O problema é que sou um retardado prático, incapaz de instalar um dvd numa tv.
“A delibitação e degeneração da raça humana ele atribui à sua progressiva predileção por interiores e ao interesse decrescente pela arte de sair e ficar fora”.
Desde os catorze anos mudo de vida a cada dois anos. Deveria também mudar meu nome nessas ocasiões.
Um animal selvagem passa toda sua existência sem um nome e não sente falta alguma disso.
Seria legal viajar a pé da Turquia até o Japão, ainda que a viagem terminasse num banho de rio em algum país do Sudeste Asiático.
Por agora é como viajar. Tem seu certo charme, mas falta quanto mesmo para chegar?
Fazer da viagem um passeio, dizia meu padrinho. Será?
Cansei-me da acadêmia. Um trabalho penoso e inútil. Chegou a hora de mudar. Mas quanto mais velho se fica mais difícil mudar.
As pessoas querem empregos fixos. Eu sempre tive medo deles. Dez anos num mesmo emprego, para mim, são dez anos jogados fora. A academia me atraía pois era possível mudar. Dois anos com Leibniz, dois anos com Aristóteles, dois com Kant, dois com Frege, dois com São Tomás. Mas no fundo é o mesmo trabalho difícil e inútil.
Bom mesmo é ser fazendeiro. Meu lado prático planeja o seguinte: trabalhar, juntar dinheiro, construir uma fazenda e então mandar o mundo se fuder. Serei igual aqueles velhos americanos sentados numa cadeira de balanço à porta de suas chácaras ostentando uma velha espingarda de madeira e atirando em todo mundo que desrespeitar minha plaquinha “Keep out of my property, punk”.
Peraí, mas não era para ser o oposto? Sim, era. Agora não sei mais.
Árvores passando, vacas pastando, mulheres e filhos andando à beira da estrada. Quando e onde pararemos para o lanche?
Que fazer além de ler livros, escutar músicas, apreciar paisagem?
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Mulher, teu rosto me destruiu
Nunca me esquecerei do que me ocorreu nesta terça-feira última. Se tenho deixado de escrever aqui é por passar meu tempo meditando sobre o fato e não porque meu computador enguiçou.
Tudo isto demorou um segundo, talvez dois. A intensidade do medo que senti, no entanto, fez daquilo um experiência mística. E como toda experiência deste tipo é inútil tentar descrevê-la, mas que você me perdõe. O que há de tão desesperador nesse rosto é que ele tira a humanidade da pessoa. Aquilo pareceu-me o pior destino que conheci, ela a mais desgraçada das almas. Uma maldição, um suplício extremo e intolerável que se faz real a cada segundo – ter um rosto tão medonho que não só causa asco, mas pavor. E ela andava toda pimpona no metrô, cabeça erguida. Não pude deixar de admirá-la. Há heroísmo nisso. Foi como ver um santo agindo, Jó rezando e chorando, uma criança sendo torturada sem soltar um ai, impávida. Ela pareceu-me exibir mais força que um ser humano pode ter.
E ela não fazia nada além de respirar.
sábado, 22 de setembro de 2007
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Daqui a pouco partirei para UERJ, tomarei um ônibus cheio e dividirei um banco com alguém completamente desconhecido. Estarei desarmado. Há nessa confiança absoluta uma excessiva preguiça e covardia. “Estou sempre pronto para gritar femininamente Polícia! Polícia!” é o que pareço dizer. Como se ser corajoso e bom fosse um trabalho a ser remunerado e não uma simples obrigação moral.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Por que não ler Chomski? Por que ler Burke?
Osama Bin Laden
“O sicofanta – que a soldo da oligarquia inglesa representou o romântico laudator temporis acti contra a Revolução Francesa assim como, a soldo dos colonos norte-americanos no começo dos problemas americanos, representara o liberal contra a oligarquia inglesa – era uma burguês completamente vulgar”
Karl Marx sobre Burke
domingo, 9 de setembro de 2007
Ah, e esses diretores e atores americanos esquerdinhas e bacanas? Queriam que os EUA saíssem o mais rápido possível do Vietnã, querem que saiam agora do Iraque. Vêem a si mesmos como pessoas polêmicas e corajosas, crítico dos Estados Unidos, amigos dos povos oprimidos. Depois de 1973, quando os Estados unidos deixaram o Vietnã, até 1978, quando as forças vietnamitas invadiram o Camboja, passando pela tomada de Saigon em 1975, calcula-se que morreram o triplo de pessoas que do período de invasão americana (1965-1973). Mas, vejam só, nenhum desses mortos eram americanos. Então, who cares? Nunca vi um único filme sobre tais episódios.
sábado, 8 de setembro de 2007
“Feel so good inside myself, don't wanna move
Vários tentaram provar a existência de Deus pela existência do universo, quando a existência do universo é justamente a prova da inexistência de Deus. Um Deus perfeito é feliz e portanto não precisa de ação ou de obras. Se Deus construiu o mundo então não era feliz e logo não era perfeito.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
UERJ
Duas questões flutuam em minha mente:
sábado, 1 de setembro de 2007
Minha rua
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
domingo, 26 de agosto de 2007
Se alguém no século XVIII dissesse que seria possível a situação econômica de um povo tal como é a do povo norte-americano nos dias de hoje, seria tachado de maluco e utópico.
O ódio à classe média é o ódio ao sucesso inegável do capitalismo.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
“Pela metade do século XVII, a posição econômica e social dos judeus poloneses parecia firmemente estabelecida. Os judeus estavam bem representados nas grandes feiras em que o comércio polonês era centrado. De particular importância para a crescente e poderosa nobreza polonesa foi o papel representado pelos judeus economicamente astutos, que freqüentemente serviam aos nobres como conselheiros e como administradores de seus estados. A estabilidade econômica foi acompanhada por um significativo desenvolvimento político e social. Já em 1551, o Rei Sigismund Augustus garantiu aos judeus o direito de elegerem seus rabbi-chefe e juízes aos quais foram dados poderes para administrarem a justiça da comunidade judia em todas as questões de acordo com os princípios de Halakha. No século XVII o Conselho das Quatro Terras (Grande Polônia, Pequena Polônia, Podolia e Volhynia) foi estabelecido pelos líderes das comunidades judias como um tipo de “Parlamento” e “Corte Suprema” dos judeus poloneses. Para os líderes dos estados poloneses, o concílio servia como um instrumento efetivo para a coleta de impostos nas comunidades judias. Na década de 40 deste século, a vida judia na Polônia era próspera, cimentada numa aliança benéfica e mútua entre os judeus e as classes governantes polonesas. E assim, não é nenhuma surpresa que a Polônia era descrita em termos muito favoráveis na literatura judia do período. A tradução de “Polônia” para o hebreu (“Polin” ou “Polanya”) foi entendida como uma dica das características especiais da vida dos judeus por lá, uma vez que “Po Lan Yah” é em hebreu “Aqui descansa Deus” ! Mas, como temos visto, um significativo nível de animosidade popular contra os judeus já estava presente, e no ano de 1648 esta hostilidade foi dramaticamente elevada como um resultado de uma rebelião nacionalista. Os judeus poloneses sofreram um massacre horribilíssimo.
A rebelião se deu na Ucrânia, onde os cossacos, um bando de servos e cavaleiros robustos e guerreiros, lideraram uma revolta contra os líderes poloneses.Os poloneses e os ucranianos não compartilhavam uma língua comum, e ainda que ambos fossem cristãos, o catolicismo dos poloneses confrontava com a ortodoxia russa dos ucranianos. De qualquer forma, o líder da rebelião de 1648-9 (conhecida como a revolta cossaca), foi Bogdan Chmielnitzki, um homem que é ainda visto por muitos como um herói popular nacionalista e ucraniano. Chmielnitzki e seus cavaleiros cossacos ressentidos com os judeus, viam estes como aliados desprezíveis da tirania política polaca e da opressão econômica. Comunidades judias inteiras foram brutalmente massacradas pelas hordas cossacas. Uma testemunha ocular desses massacres, Rabbi Nathan Hanover, descreveu os horrores...
'Os cossacos se revoltaram contra os judeus com uma crueldade terrível... Alguns deles tiveram suas peles arrancadas e suas carnes foram atiradas aos cães. As mãos e os pés de outros eram decepados e os judeus eram atirados nas estradas, onde carroças os atropelavam e os cavalos marchavam sobre eles... muitos foram enterrados vivos. Crianças eram assassinadas nos seios de suas mães e muitas crianças foram rasgadas ao meio, como peixes... não houve uma morte não natural no mundo que eles não lhes infligiram.' (N. Hanover, Yeven Metzulah, Tel Aviv, 1966, pp.31-2)
Eu percebo que isto é um retrato horrível, que pode ser bem difícil de ler. Mas penso que é importante lê-lo, em ordem para entender o horror daqueles dias. Claramente os cossacos agiram com um profundo sentimento de ódio, e não se pode duvidar que o massacre produziu uma redução no número de judeus poloneses. Centenas de milhares de judeus pereceram nas mãos dos bandos cossacos, e não menos que setecentas kehillot (comunidades) foram destruídas! Neste período de desespero, certamente muitas questões difíceis devem ter surgido. Como seria possível reconstruir ou restaurar algum nível de estabilidade social? Num nível teológico, como era possível que Deus permitisse que Seu povo sofresse tais crueldades?(...)
No ano de 1665, Shabbetai Zvi, um judeu sefardita da Smirnia na Anatólia (hoje Turquia), proclamou-se messias em Jerusalém. Com a ajuda de seu principal discípulo, uma figura carismática chamada Nathan de Gaza (que dizia ser um profeta), o movimento messiânico se espalhou como fogo selvagem através do mundo judeu. Rumores dos poderes miraculosos do Messias abundaram, dez mil judeus rapidamente fizeram preparações para abandonarem seus lares na Diáspora, para assim eles poderem ser miraculosamente transportados “na asas das águias” até Eretz Yisrael! Muitos fecharam suas lojas e iniciaram jejuns especiais e outros tipos extremos de purificações. Aqui vai uma descrição destes eventos bizarros, tomados da “História da Império Turco” de Sir Paul Rycaut (que é um relato de primeira mão do período):
'Alguns judeus se enterraram em seus jardins, cobrindo seus corpos nus com terra até a cabeça, permanecendo em suas camas de sujeira até seus corpos endurecerem com o frio e a umidade. Outros derretiam cera em seus ombros, outros rolavam na neve e atiravam seus corpos na mais fria estação do inverno no mar, nas águas congeladas... Todo o negócio foi deixado de lado, ninguém trabalhava ou abria suas lojas, a menos que se limpasse de suas lojas qualquer merchandise sobre qualquer preço*...'
Bem! Um pouco difícil de acreditar, né? Eu admito que é difícil de imaginar as pessoas fazendo coisas como essas, mas acho que isto tudo testemunha a fé completa e absoluta que esses judeus tinham na vinda do messias, e as medidas extremas necessárias para se purificarem antes da grande Redenção. Creio que isto reflete o quão profundamente os judeus necessitavam ser redimidos neste período de dificuldades. Numa palavra, o “Messias veio”, porque os judeus desejavam desesperadamente que um Messias os salvasse. E assim, o mundo judeu ficou profundamente dividido entre os seguidores de Shabbetai Zvi, e aqueles que o consideravam um impostor. O sultão turco ficou muito preocupado com os efeitos desestabilizadores desta figura messiânica, e por isso prendeu Shabbetai Zvi. No início, Shabbetai manteve sua corte na prisão, dividindo o mundo entre seus fiéis seguidores*, até que ele foi obrigado a escolher entre se converter ao Islã ou encarar a execução pelas mãos dos arqueiros reais. E desse modo, Shabbetai Zvi se converteu ao Islã, e o mundo judeu, ainda cambaleante dos horríveis massacres de 1648-49, agora encarava uma tremenda crise espiritual.”
* Trechos em que duvido um pouco da minha tradução. Aliás duvido da tradução inteira, mas como é de graça, você não pode reclamar.
Um poquinho de polêmica barata
Só se for agora.
Por que você entrou e depois saiu do curso de Ciências Sociais?
Há! Quer que eu brigue com quase todos os meus amigos, né? Tudo bem, vamos lá. De um modo geral sai do curso pela mesma razão que entrei: instinto. Não sabia explicar na época, não sei se saberia explicar hoje. Mas vou tentar. Entrei porque queria fazer algo realmente importante. Sei que as pessoas que fazem engenharia computacional acham seu trabalho importante, mas não o é. Há cem anos não existiam computadores. Sempre tive, para usar uma expressão desgastada, consciência histórica. Se não existia há cem anos então não tem importância alguma. Mas aí, quando entrei no curso descobri que as ciências sociais até tinham cem anos, mas não tinham duzentos. E se não tem duzentos anos não tem importância.
Espera aí. Você está dizendo que saiu das Ciências Sociais só porque o curso não tinha duzentos anos?
É, foi o que eu disse. Mas é mentira, claro. Quando saí sentia um impulso tão forte nesta direção que qualquer resistência era irrelevante. O fato é que as ciências sociais são importantes, mas de uma maneira negativa. Ela nos ajuda a compreender a tragédia que foi o século XX. Fenômenos como o nazismo e o comunismo seriam impensáveis sem a sociologia. Foram as ciências sociais que deram os instrumentos para o estado manipular a massa, esquadrinhá-la, descobrir seus desejos mais baixos e realizá-los a preços altos. Aliás, foi ela que inventou a massa, ela potencializou o poder, ela legitima o que quiser, ela efetiva o que for ilegitimável. A neutralidade axiológica de Weber – ele que é tido como a direita da sociologia - resume muito bem este trabalho. Encontremos o meio de manipular as massas e não nos perguntemos pelos valores. Isso explica a sociologia e o século XX.
Mas também há uma sociologia liberal...
Mentira! (Bate na mesa) Calúnia! Sociologia e liberalismo são dois termos incompatíveis. A ausência de sociólogos liberais não é nenhuma coincidência inexplicável. FHC, o sociólogo, foi tachado de neo-liberal, ele que fez a relação arrecadação de impostos/PIB subir de 25% para mais de 30%. Lula não é um sociólogo, mas está cercado por eles, e por isso já estamos chegando em gloriosos 35%.
Mas por que não haveria uma sociologia liberal? Que idéia maluca é essa?
O que faz um sociólogo ou um cientista político além de oferecer estratégias aos homens políticos? A maioria segue tal profissão na esperança de virarem uma espécie de guru e iluminar o mundo político com sua força intelectual cheia de bondade e pureza. Claro, acabam invariavelmente servindo aos desejos dos políticos e se preocupando com o impacto que tal medida teria na popularidade destes e em medidas para melhorar tal impacto. Em suma, um sociólogo apenas serve ao estado e não é desejo deste ver suas forças diminuídas. Portanto não há sociologia liberal.
Quer ver? Fico pensando num recenseador entrando na casa de um cavalheiro do século XVII perguntando a renda e a escolaridade deste. Seria expulso a bengaladas. O que interessa ao governo minha raça? Minhas crenças religiosas? Minha profissão? Isto para não falar em outras pesquisas, sempre com o fomento de algum órgão público, perguntando quantas vezes o casal dá no coro por semana. É claro com estudiosos como esses o governos consegue legitimar qualquer coisa.
Mas voltemos a Weber, me empolguei agora. Ele, a direita da sociologia. Confesso não saber quase nada sobre ele, mas me lembro de sua fórmula: o estado como um monopólio do uso legítimo da força. Que idéia de jerico! O estado não detêm esse monopólio, ou pelo menos não deveria. Sua observância estrita diz que sou impedido de reagir violentamente se me sentir ameaçado, o que é absurdo. Também impede os pais de educarem seus filhos com o cajado. Poderíamos tentar consertar dizendo que o estado tem o monopólio do poder de legitimizar um uso da violência, mas isto é falso também, não tem esse monopólio não. Por um acaso o estado é um semi-deus cujas decisões sobre o uso da violência são inquestionáveis? Deve ser por isso que as pessoas escrevem estado com letra maiúscula. Veja bem, há agora um projeto de lei ou este projeto já foi aprovado, não sei e na verdade isto não tem importância alguma, estamos no Brasil meu bem,, enfim, como ia dizendo, há um projeto que proíbe um pai de educar seu filho a chineladas. Tentem imaginar uma proposta destas discutida nos séculos XVII e XVIII, época do absolutismo, e entenderão sobre o que falo. Se Luiz XIV tivesse essa idéia estúpida a Revolução Francesa teria se iniciado mais cedo. Fora do âmbito estritamente político, o governante não possui legitimidade nenhuma. É claro que Luiz XIV desejaria ampliar os seus poderes, mas não podia, não tinha esta legitimidade, ainda não tinha nascido um jumento com a brilhante idéia de lhe oferecer tal legitimidade. Weber fez isto por Hitler e Stálin. O absolutismo se caracteriza pela concentração do poder político na mão de um indivíduo, já o totalitarismo se caracteriza pela concentração de todo poder na mão de um indivíduo. O absolutismo é ruim, o totalitarismo é monstruoso e o que os separa é a sociologia.
Sua tese é ridícula. Como assim? Os governantes de antigamente viviam interferindo na vida privada das pessoas. Oscar Wilde foi preso por ser homossexual.
Bem, vejam bem a diferença. Este poder de julgar questões morais, não políticas, só aparentemente era controlado pelo estado, mas pertencia muito antes aos costumes, ao senso comum do povo e suas crenças religiosas.
E faz diferença? Faz diferença para o homossexual ser preso no governo da rainha Vitória ou no governo de Fidel Castro?
Claro. Por que os países cristãos criminalizavam o homossexualismo? Porque ele atentava contra a religião dominante. Era uma arbitrariedade, claro, mas uma arbitrariedade nascida da tradição, que queiram ou não, ajudou a construir a civilização ocidental. Já Fidel Castro o proíbe porque ele não acha legal. É claro, em ambos os casos são arbitrariedade, ambos são ruins. Mas, se tiver que escolher, prefiro a arbitrariedade da tradição, que pelo menos nos já as conhecemos. Sabe-se lá que arbitrariedades vão passar pela cabeça de um ditador.
Mas o mais importante aqui é ver que antigamente o Estado não tinha legitimidade nenhuma em questões puramente éticas, era apenas mandatário de uma outra fonte de legitimidade. E é sempre bom fragmentar o poder, devemos fragmentá-lo sempre que possível. E qual foi a experiência do século XX, a experiência das ciências sociais? A concentração do poder pelo Estado, nada mais. O estado tem o poder político, moral, e se vivermos num paiseco da América do Sul ou num regime comunista, tem o poder econômico também. Esses dias vi na televisão um sociólogo, não sei quem, falando muito espantado que havia pessoas no Brasil que se consideravam primeiros devotos de Nossa Senhora da Aparecida e só depois brasileiros. Nada mais natural, mas ele ficou espantado de ver o “povo” dividido por dois poderes. Ele não pode suportar a idéia de um poder concorrente com o Estado.
Por exemplo, um dos grandes problemas das democracias atuais, incluindo a brasileira, é: Como fazer para que ela não descambe em ditadura da maioria? Ora, deve haver cláusulas que sejam livres do poder político, livres do ondular da opinião pública. Mas como fazer isso se não há nenhuma outra instância de poder relevante além do estado? É claro, isso só pode dar em merda.
Bem,agora que você já irradiou sua luz intelectual cheia de bondade e pureza, acho que já está bom. Você já deve ter conseguido destruir suas amizades das Ciências Sociais.
Pô, que isso, não me levem a mal não, gente. É brincadeira.